O telefone já era para ter tocado, mas quanto mais seus olhos pesavam sob aquele enorme aparelho de última geração, mas parecia que ele não ia tocar. Bufou e coçou sua nuca, ele tinha tomado banho e se arrumado há umas três horas e agora estava sentindo seu imenso corpo doer por estar sentado todo curvado naquela poltrona enquanto encarava seu celular abandonado na mesa de dentro da sala de estar. Ao lado do celular havia um par de ingressos para o concerto do Drake, primeira fila. Ele tinha economizado suas mesadas para comprar aquilo com antecedência e finalmente o dia tinha chego, ele estava empolgado, ou melhor, estava mesmo, no passado. Agora ele só estava nervoso mesmo, porque faltavam trinta minutos para o show começar e ele ainda não havia recebido um sinal de seu pai, e bom, ele prometeu que iam juntos daquela vez, ele prometeu. James levou as mãos até o rosto e o escondeu, respirando pesadamente. Por que ele ainda esperava? Por que ele ainda tinha esperanças? Era inútil. Seu pai nunca estava ali e não era por um show que ele viria. Resolveu esperar um pouco mais, afinal, poderia acontecer de o senhor Sullivan ter se atrasado por algum problema no escritório, algum sócio poderia ter o prendido em alguma reunião importante.
Mas aparentemente, tudo era mais importante que James.
Uma hora se passou e nem uma mensagem foi recebida, muito menos uma ligação! O garoto gargalhou baixinho e negou, se jogando contra o encosto da poltrona, ainda olhando para seu celular prateado que nem se quer acendia a tela. Há trinta minutos bem que verificou se tinha sinal, se seu WIFI estava bom, ele tentou achar problema nele ou no aparelho, talvez seu pai não achasse
concertos legais, não é? Talvez não gostasse de tumultos...
Então lembrou-se que na semana anterior levou sua atual esposa e filho para o concerto de um grupo celta. No mesmo lugar. Na mesma hora.
Talvez o problema fosse mesmo ele, certo?! Talvez fosse isso mesmo. Levantou-se e pegou os ingressos, seguindo para a sacada que estava escondida por leves cortinas em um tom bege. Morar no décimo andar era legal, ele achava, tinha uma boa vista. Abriu a porta e se direcionou até o parapeito, se encostando ali, vendo o quanto Dublin brilhava, tantas luzes, prédios... aquilo era um espetáculo gratuito. Com uma mão puxou sua carteira de cigarros do bolso, tirando um tubinho branco dali, junto com o isqueiro preto. Ele odiava aquilo, odiava ter que fazer aquilo, mas não conseguia parar e sem sua mãe ali, ele não tinha motivos para não fazer.
Acendeu, tragou e deixou que a fumaça saísse calmamente por suas narinas enquanto erguia os ingressos, lendo as informações que ali continham. Ele esperou tanto por aquele show... ele queria tanto ir... droga! Quando Drake viria na Irlanda novamente? Merda, por quê? Por que seu pai fazia aquilo? Ele não era bom o suficiente? Especial e interessante o suficiente? Não fazia sentido em sua cabeça, e James podia jurar, ele tentava entender, buscar alternativas que pudessem explicar todos aqueles descasos, mas sempre caía na mesma resposta: não era bom o suficiente.
O tubinho ficou preso entre seus lábios enquanto suas mãos trabalhavam em lentos movimentos, rasgando aqueles ingressos. Ele não queria olhar mais para aquilo. Em poucos segundos os pequenos pedacinhos de papel voavam, uns levados pelo vento, outros simplesmente caindo feito chuva. Sua atenção ficou naquilo, em observar os papéis indo embora junto com toda sua euforia de meses a esperar por aquele dia.
Uma mensagem chegou em seu celular, mas dessa vez ele quem não estava perto para atende-la.
“Senhor Sullivan (22h40): Não poderei ir, chame algum amigo. Me desculpe, fica para a próxima, sim?”
JACKSON
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