sexta-feira, 28 de abril de 2023

(Im)Perfeito

Ps: Dedicado a todos, que assim como Rômulo, são amaldiçoados pelo perfeccionismo.

     Tá fora do tom. Uma nota. Um segundo. Um centímetro. Um milésimo. Tá torto. Tá errado. Tá bom. Bom não é o suficiente. Nunca foi e nunca será.

     Eu estou condenado a não ver beleza na vida. Simplesmente não consigo. Meus olhos são maquinas projetadas à encontrar defeitos e elimina-los.

     Perfeito. Tudo tem que estar perfeito. Minhas mãos tem que tocar as teclas brancas do piano com uma maestria jamais vista, superando até o original. Tem que estar perfeito. É assim que foi minha vida toda, uma busca sufocante e constante pela perfeição em tudo que faço.  Não posso ser bom, tenho que ser o melhor. Não há nada pior do que ser constantemente pressionado para ser o melhor, exatamente, eu não quero ser o melhor, eu preciso ser o melhor.

     Preciso porque meus pulmões se contraem sem ar diante da mediocridade. Ser mediano me consome, me corrói. Sentir que falhei, mesmo que minimamente, me faz beirar o colapso total. Não sei exatamente quando isso começou a ser o meu normal, quando uma falha passou a ser interpretada pelo meu próprio corpo como uma facada bem posicionada do lado esquerdo do peito, mas não consigo lutar contra, é maior que eu. A cobrança excessiva é parte de quem eu sou e, talvez, eu seja isso mesmo, uma reunião caótica de imperfeições, lutando contra sua própria natureza, para serem perfeitas.

-Meu Primeiro Fake

Paranóia

 É um dia como qualquer outro. A arquitetura da impenetrabilidade isola Rômulo

Castelo com seus pensamentos. O pianista passou a juventude acreditando que suas

realizações pessoais seriam provindas do sucesso musical, da apreciação inquestionável

ao som de seu piano. Depois de Marisa e das crianças, sua compreensão do que é

importante foi abalada. Suas raízes mais profundas o convidavam a amar, porém o amor

não era parte de sua lista de valores. O que deveria ser um passatempo corriqueiro de

repente foi ganhando importância em sua vida, mas Rômulo não poderia deixar que os

prazeres sociais sobrepusessem sua arte.

Assim, Rômulo encontra-se em sua fortaleza, confuso. Ele tenta concentrar-se nas

notas, porém seus pensamentos são automaticamente direcionados para Franz, algo o

diz que ele está negligenciando seu filho. A ansiedade tenta comunica-lo de que ele não

está fazendo o que deveria, mas Rômulo não quer ignorar suas raízes. Então, ele

continua a tocar, mesmo que de forma artificial e sem paixão. Se há uma certeza em sua

vida, é de que a música transmite os sentimentos do músico, ele sabe que não está feliz,

mas não admite para si mesmo.

Desta forma, ali mesmo em sua caverna, com a testa franzida e os dedos a

tamborilar, a agonia o abraça. A histeria expõe suas dúvidas, dúvidas que não

necessariamente ele se questiona conscientemente. Logo, o simples pensar não o leva à

felicidade. Daí vem a sua paranoia, daí vem sua dor fantasma.

-Linguini

Solidão, Solitude e Sofrimento

Solidão é isolamento. Solitude é isolamento voluntário. Sofrimento é o que Rômulo Castelo e sua

esposa, Marisa, demonstram de forma tão sutil que chega a ser profunda, logo no início de suas histórias.

Um cenário em que solidão e solitude se embaralham e, instintivamente, nos perguntamos: como não lidar

com isso?

A vida é mesmo muito confusa.

Enquanto Rômulo, intérprete clássico, se coloca em uma solitude que o separa do mundo, Marisa, mãe

e esposa, é colocada em uma posição solitária, sofrida. Percebo, então, no comportamento e no falar de

cada um deles, seus sentimentos. A esposa com um marido pianista, mas que, simplesmente, não

consegue escutar um dedilhar das teclas, não consegue sequer escutá-lo. O diálogo se embaralha junto ao

isolar distinto dos dois, as vozes se perdem.

Dois personagens. Dois sofrimentos. Um atrás da perfeição, marcado por uma possível autocensura,

por um possível passado rígido e traumático. Assim, tornou-se um homem que cobra de seus alunos e

alunas o mesmo rigor que lhe foi exigido. Do outro lado da casa, uma mulher querendo sonhar, querendo

apenas sentir. Uma mãe que ama o filho, uma esposa em silêncio, aprisionada em noites iguais.

Pensando sobre a vida fora da literatura, quantas pessoas que se perdem nesse embaralhar de solidão e

solitude conhecemos? Quantas sequer percebem isso nas próprias vidas? Você percebe? Interessante como

personagens que, de início, podemos achar completamente distantes de nossa realidade são capazes de

nos fazeer questionar tantas coisas. Questionar quem são estes personagens no nosso cotidiano.

A vida é mesmo muito confusa.


- Lia Navarrette

TCHAIKOVSKY &; LISZT NO CHÁ DA TARDE

 TCHAIKOVSKY &; LISZT NO CHÁ DA TARDE

Silêncio atordoante.

As mãos do pianista, cortantes e maestras.

O quarto, o homem insone... o piano como uma ponte entre o sonho e tudo o que

é físico. A obsessiva vontade, tola e ingênua, daquele que é incapaz de compreender a

finitude de uma idealização. Toma-lhe as horas, despedaça-as então, com partituras

amareladas, brancas, de um horror quase supremo.

Cisne negro, perfeição sanguinolenta. O que há nesse palco, senão espinhos de

irrealização? Aplaudem sua loucura, seu manicômio de própria imposição. Rômulo

mata Remo e se afoga em seu torpor. Fundação latina de uma Roma feita de sangue.

O protagonista alienado de “Dor Fantasma”, romance o qual permanece como

um estranho homem perdido em minha ignorância, toma as minhas mãos e grita. Há

uma agonia similar àquela presente na Nina de Aronofsky. Martírio dos artistas,

perfeição em um isolamento eterno dentro da insalubridade de sua performance.

Desprazer prazeroso.

Desposa seu piano e ignora sua amante, mulher no papel, mãe de seu filho...,

ora, mas que filho? É, e sempre, apenas, será o progenitor de seu vício.

Na escola, como o broto de uma flor ainda a nascer, tinha em minha frente o

turbulento trabalho de escrever, de forma efetiva, real, pela primeira vez. Não apenas

palavras, sons..., mas um texto. Dei-me à loucura, estive em um estado de pânico

atemorizante, olhei nos olhos de minha professora, amassei o papel e joguei em seu

rosto como um protesto infantil e infame.

Rômulo não joga o papel, não há protesto, a música reina autoritária e o temor

não impera em seus sonhos.

O silêncio é o governador solitário de um terra áspera.

Liszt permanece como uma assombração tortuosa que lhe dita a maldição de seu

futuro. O descanso apenas aparecerá na morte.


Christine Daaé

Acordes da Memória

 Sara deixou o teatro depressa. Queria esquecer aquela noite. O sentimento de

vergonha e a sensação de ter sido inconveniente a perseguiam. Por que tentou falar com

Rômulo? Já conhece seu professor há um tempo, sabe de sua personalidade, do seu jeito nada

acolhedor. Poderia apenas ter assistido ao espetáculo, sem se mostrar presente.

Caminhou em direção ao ponto de ônibus, mas decidiu fazer o trajeto a pé. Estava

muito inquieta para ficar parada. Se movimentar a ajudaria a pensar, a afastar essas ideias de

arrependimento.

Rômulo era, sem sombra de dúvidas, um dos maiores pianistas que já existiu. Sara o

admirava, e desejava um dia atingir o nível de seu mestre. Sonhava em deter a atenção de

todos : saber que seu talento consegue lotar uma plateia, que uma multidão foi até o teatro só

para ver seus dedos construírem a canção.

Mas Sara sabia que, se pudesse, trocaria a atenção de todos pela dele. Sim, com

certeza trocaria. Afinal, fora ele quem a apresentara a música, quando ela ainda era pequena.

Fora ele quem a ensinara a tocar os primeiros acordes, a leitura de partituras, a teoria musical

e a importância da prática diária para se aprimorar. Ele a ensinara a amar a música.

Porém, com o tempo, essa relação foi se desgastando. E o pior : Sara não conseguia se

lembrar do que ocorrera para que ele se distanciasse dessa forma. Era como se houvesse uma

lacuna em sua memória, que a impedia de recordar do que tinha acontecido. Antes eram

próximos,unidos; agora, estavam tão distantes que nem mais sobre música conseguiam

conversar.

Era por isso que Sara se dedicava tanto ao piano. Sim, queria ter a atenção de todos,

ser reconhecida por aquilo que sabe fazer. Mas principalmente, queria, por intermédio da

música, ter de volta o afeto daquele que a apresentara a esse mundo de acordes, harmonias e

melodias. No fundo, ela sabia que apenas a música seria capaz de acordar sua memória.

Noite da grande paz dos teus olhos

Monótono

 Monótono, a melhor palavra para descrever minha experiência durante a última aula. Eu achei muito interessante a dinâmica proposta pelo professor, nós jovens que estamos ligados quase que 100% de nossos dias à internet, deveríamos ficar durante 27 minutos com as atenções direcionadas apenas a narrativa que seria lida.

            Para mim, o maior problema não seria ficar sem o celular e sim focar minha atenção apenas na história. Não sou um leitor assíduo, confesso que ficar preso a um livro já seria uma grande dificuldade, mas o fato de cada um ler uma página dificultou ainda mais. Cada um lia em um ritmo diferente, alguns baixo, outros engasgavam, inclusive eu. Fiquei bem nervoso para ler em voz alta, não é algo que eu estou acostumado. Meus batimentos estavam bem acelerados enquanto eu lia, mas apesar de umas engasgadas acho que consegui ler bem.
           Preciso admitir que em nenhum momento minha atenção ficou presa na história. Sei dizer o nome do protagonista, Rômulo. Só isso também, não me pergunte mais nada sobre. Confesso que bateu um medo do Felipe me perguntar ao sobre a história. Durante a leitura, eu ouvia a aula do professor maluco ao lado, ouvia sons de fora, analisava os prédios do Gragoatá e até dei uma piscada. Fiz de tudo menos prestar atenção na narrativa.
            Apesar de ter achado bem monótono, foi uma experiência válida. Me fez examinar minha própria dificuldade de manter a atenção, algo que eu acho que esteja bem presente em nossa geração. Isso me faz refletir sobre as mudanças que vão ocorrer na comunicação. Hoje muitos ouvem áudios e vídeos em velocidade aceleradas e não conseguem parar para ouvir uma história. Acredito que isso já é uma realidade que tende só a aumentar.

 

- Artubol da Lua

Mais Um Dia de Franz

 Hoje acordei e me deparei com minha mãe, ela parece tão abatida, quanto sofrimento para

ela, bem acho que é meu pai que quase não está presente, mesmo estando em casa, o

ouço raramente durante as refeições essa mesma que muitas vezes ele nem está.

Hoje tenho um jogo muito importante do campeonato na escola, apenas queria minha

família reunida para me apoiar. Minha mãe certamente estará lá, já que dedicou quase uma

década da sua vida exclusivamente à mim, porém gostaria de ter papai por perto hoje.

Início do jogo, estou confiante e logo faço o primeiro gol, em seguida o adversário empata.

Sentimos o baque, nesse momento o outro time estava superior foi questão de tempo até

virarem o placar. Droga, perdemos o jogo, meu mundo foi ao chão e eu apenas queria um

abraço do meu pai nesse momento.

- Sr Armani

Franz Era Um Menino Bom

 Franz era um menino bom. Sonhador, teimoso, amoroso e brincalhão. Na maior parte do tempo gostava de brincar de carrinho, assistir filmes com naves espaciais e deitar no colo da sua mãe até adormecer. Na escola era muito querido pelos colegas, era popular, falante e curioso, até os professores tinham certo carinho por ele. 

  Ao contrário de seu pai, Franz não prezava pela perfeição, não era melancólico como Rômulo. Gostava de MPB, música pop, dias de sol e tudo (absolutamente tudo) que não envolvesse estar trancado num cômodo. Ele tinha pavor da ideia de ficar sozinho por muito tempo, por isso estava sempre rodeado de amigos.

  Franz tinha medo de fechaduras e portas desde que reparou que seu pai passava horas trancado num cômodo sozinho e deixava toda a família para trás. Nessa época ele achava que as culpadas eram a porta, a fechadura e a camada de isolamento acústico do local. Tinha certeza de que se não fosse por isso, seu pai estaria sentado à mesa com ele e sua mãe no jantar. Quando ia dormir nunca fechava a porta, tinha medo de que se fechasse se tornasse igual ao seu pai e não pudesse mais sair. 

  Quando cresceu descobriu que o problema nunca foi a porta, o isolamento acústico ou a fechadura. Seu pai era daquele jeito mesmo e aparentemente não existia nada de interessante para ele em sua família. Franz começou a reparar que toda oportunidade que o pai tinha de se isolar ou fugir do convívio familiar ele aproveitava. O menino não conseguia lembrar de uma única vez que almoçou e jantou com o pai no mesmo dia, era como se fosse um esforço para ele estar na companhia da mulher e do filho.  

  Franz não se importava muito, afinal não tem como sentir saudade de algo que nunca teve, e pra dizer a verdade o menino achava o pai enigmático demais, mas era nítido o quanto sua mãe sofria com aquilo. 

  Franz jurou a si mesmo que caso formasse uma família, seria cem por cento dedicado a ela, jantaria junto com os filhos todos os dias e os ajudaria no dever de casa. Falaria que os ama como nunca teve a oportunidade de escutar, e os amaria como sua mãe lhe amava. E óbvio, levaria sua mãe consigo. 

-Apollo Creed

Casados e Simultaneamente Desconhecidos

 Marisa acordou bem cedo e antes mesmo de se olhar no espelho foi acordar seu

filho Franz, ao entrar no quarto a criança manhosa demorou um pouco a levantar, mas

logo em seguida foi tomar banho enquanto a mãe preparava o café da manhã, depois a

criança desceu as escadas com a blusa do avesso, Marisa riu e o ajudou a concertar.

Após o café da manhã e ter levado Franz na escola, foi trabalhar, Marisa ainda está se

acostumando já que existe uma brusca mudança em ficar nove anos sem emprego e

agora ter que trabalhar oito horas de segunda a sexta, e depois ainda ter que buscar o

filho na escola. Após um longo dia, Marisa chegou em casa com Franz e a rotina foi

parecida, só que dessa vez preparou o jantar e enquanto ajudava Franz após ele ter

derrubado um pouco de suco na mesa, Rômulo chega em casa, faz um simples

cumprimento e já sobe para a sala com isolamento acústico para tocar piano, quem é

Rômulo? É o marido de Marisa, no entanto, quem olha para eles acredita que são

somente dois desconhecidos. Ao acordar e ir dormir sem ouvir um “eu te amo”,

praticamente nem olharem um para o rosto do outro e não saberem dizer a última vez

que saíram juntos para passear, existe algo que fica subtendido no ar, que inclusive nós

conseguimos perceber, falta amor e a solidão de Marisa fica explícita. Durante a rotina

árdua de cuidar do filho e ir trabalhar, Marisa refletia sobre serem como desconhecidos

morando no mesmo teto, que não aguentava mais essa situação e se perguntava como

esse distanciamento afetaria a vida de Franz. Toda vez que Rômulo deitava ao seu lado

na cama, ela pensava em falar alguma coisa, tentar conversar, mas sentia e sabia que ele

não se importaria, que ele não sairia da sua bolha musical, então desistia e ia dormir

para acordar cedo novamente no outro dia, realizar a mesma rotina e quem sabe tentar

trocar mais do que duas palavras com Rômulo.


Marimar

Rômulos e Marisas

 Existe algo intrigante na combinação dos sons, o som do pé da cadeira se

arrastando ao acompanhar um micro ajuste de quem está sentado, a gritaria na sala ao

lado e os barulhos que circundam o prédio. Combinação sonora estranhamente

específica e que sem que eu perceba, lentamente me tira daquilo que deveria ser meu

foco: a leitura coletiva. Felizmente, o tecido da realidade puxa a minha consciência de

volta ao lugar onde deveria estar, permitindo que eu apreenda de todo o texto lido ao

menos duas personagens: Rômulo, que considerando a breve introdução que me foi

apresentada, pode ser descrito como um pianista obcecado pela perfeição, e sua esposa

Marisa, uma mulher socialmente oprimida.

Antes de tudo, destaco que é sempre válido almejar alcançar aquilo que sonha,

seja o seu sonho tocar a peça intocável de um compositor húngaro ou algo mais

convencional, como uma viagem para outro país. O incômodo que Rômulo me causou

não se encontra propriamente nesse aspecto, mas em seu desprezo direcionado a tudo

aquilo que não contribuí para seu objetivo maior, a inaptidão do pianista nas artes de

amar e compreender a trivialidade. Inaptidão que colide com a aptidão de Marisa nessas

competências, demonstrada principalmente pelo carinho direcionado ao filho do casal,

batizado com o primeiro nome do compositor húngaro Franz Liszt. Colisão que se

apresenta na forma de uma relação que seria definida perfeitamente como líquida por

Bauman: superficial e pautada pelo comodismo rotineiro.

Dentre os devaneios e reflexões trazidos por tal leitura, considerando as

impressões iniciais que obtive de cada personagem, reflito: há em todos nós um pouco

de Rômulo e Marisa, mas confesso que gostaria mais de habitar um mundo composto

por pessoas que possuem como face dominante o apreço pelas conexões humanas que

vivemos diariamente, do que o oposto.


-Alek Johnson

Uma Memória de Pai

 Franz, uma criança de oito anos, cresceu em um lar silencioso. Seu pai, Rômulo

Castelo, é um pianista que busca a perfeição em suas interpretações artísticas, mas, por

depositar todas as suas energias em sua paixão e trabalho, acaba desprezando sua

família e alunos. A relação de brincadeiras e amor entre pai e filho, tão essencial no

crescimento de uma criança, é impedida pelas horas em que Rômulo passa em sua sala

de estudos aprimorando suas técnicas no piano e ensaiando uma peça conhecida como

intocável entre muitos pianistas, Rondeau Fantastique, de Franz List.

Os primeiros anos de vida de Franz não foram fáceis. Sua mãe, Marisa, teve que sair do

emprego para que pudesse cuidar do filho em tempo integral e, ao mesmo tempo,

tentava suprir a ausência do pai. “Cadê o papai, mamãe?”, perguntava o menino; “Está

dando aula, Franzinho. Já, já ele chega”, respondia Marisa torcendo para que fosse

verdade.

Marisa é uma mulher solitária, que vive sozinha em um casamento. Nunca compreendia

a distância e ausência de seu marido, tanto na relação do casal quanto na relação com o

filho. Com receio de que suas dúvidas e questionamentos irritassem Rômulo, adaptou

toda sua rotina e de seu filho para que não o atrapalhassem. Organizou seus horários de

trabalho para que pudesse conciliar com as horas de brincadeira, banho e atenção ao

filho no período em que Rômulo não estivesse em casa. Sempre em busca do silêncio.

Assim o menino foi crescendo. Cada vez mais distante do pai, fruto de um casamento

solitário e sempre silencioso. Esse comportamento que tinha em casa acabou refletindo

em suas relações na escola, com seus familiares e nos espaços que frequentava, o que

fez que se tornasse um adolescente solitário, quieto, ansioso e sem muitos amigos.

Depois de muito tempo, Franz começou a entender a dor de sua mãe e a parou de tentar

um relacionamento com o pai, fazendo com que Rômulo se tornasse apenas um

fantasma em sua memória.

- Sargento Santiago

Lá Maior

 Meu sonho era viver da música. Quando pequena, projetei meu futuro me

apresentando em shows com ingressos esgotados, fãs apaixonados e efeitos visuais

insanos nos maiores festivais musicais do Brasil. Chico, meu irmão mais velho, dividia

esse sonho comigo. Seríamos a dupla perfeita. De repente, tudo acabou.

Na adolescência, fiz aula de canto, pois infelizmente não nasci com esse dom.

Foi meu primeiro contato real com a música depois de tantos anos sonhando.

Finalmente havia chegado o momento de me destacar como estrela e trilhar meu

caminho.

Em quatro semanas de estudo, não atingi nada. Não houve nenhum progresso.

Me recordo perfeitamente do olhar frio da professora após cada falha que eu cometia.

Após seis meses, ela se cansou. Disse que não nasci para viver da música. Meus agudos

pareciam carros freando e meus graves pareciam buzinas de ônibus. Meu ritmo era

totalmente dessincronizado com qualquer BPM, até mesmo com a ajuda do metrônomo.

A professora e meus colegas de turma não me aguentavam mais. Nem mesmo Auto-

Tune poderia me ajudar. Mas eu não desisti.

Hoje, a música é um hobby para mim. Ela ainda faz parte da minha vida como

sempre fez. Não me tornei a melhor cantora do Brasil, não me tornei a artista mais

renomada da América Latina, não me tornei uma vencedora de Grammy, como eu

sonhava. Talvez meu destino nunca foi ser a maior.

-Flash Casanova

Bolhas Conectadas

 Rômulo Castelo passa grande parte do seu tempo se preparando para realizar um dos

seus maiores sonhos. O pianista vive isolado de tudo e de todos em uma sala com

isolamento acústico. E falando a verdade, quem nunca se dedicou muito para realizar

um sonho? Hoje estamos na universidade de cada um sabe do seu próprio sacrifício para

estar nesse espaço atualmente.

Dona Marisa, esposa de Rômulo, que presenciou e confirmou aquela famosa frase: “na

saúde ou na doença...”. Ela é a mais distante do sonho do marido. Sem a companhia do

seu grande amor, vivendo praticamente um mundo paralelo dentro da sua realidade.

Muitos nessa vida vivenciaram o desprazer da solidão e, provavelmente, a grande

maioria dos leitores criam mais empatia por Marisa do que por Rômulo.

Porém, nesse “jogo” de bolhas existe um ser humano, o Franz, filho do casal. O nome

do garoto é em homenagem a Franz Liszt, a maior inspiração artística de Rômulo.

Nessas primeiras páginas do livro “Dor fantasma” é incrível que uma das ligações mais

fortes entre pai e filho é a homenagem a Franz Liszt. Imagino que a dona Marisa deve

ser o porto seguro desse menino, assim como muitos consideram na vida real a mãe

neste grande elo maternal.

Três vidas que se conectam, no entanto, ambos parecem tão distantes, dentro de suas

próprias bolhas. Marisa tem o duro papel de ser a grande articuladora dessa história,

sofre com a distância do marido, mantém tudo em ordem, é ela que liga diretamente pai

e filho em uma relação extremamente afastada... Marisa é a peça principal desta trama, a

grande maestra da família, assim como em nossa própria realidade as nossas mães são

as maestras de nossas vidas.

- Pérolas do Cléber Machado

Sobre A Insegurança

 Confesso que, durante a leitura do primeiro capítulo de “Dor Fantasma”, de Rafael Gallo,

uma das minhas impressões foi mais constante que as demais: a maneira como o personagem

principal, Rômulo, é um dos melhores no que faz e ainda assim é extremamente inseguro.

Rômulo é simplesmente o melhor intérprete de Liszt da atualidade, e também exerce o cargo

de professor de música. É esperado (ou desejado) que ele seja um profissional que tenha como

missão passar seu conhecimento a frente, ensinar músicos a serem ainda mais habilidosos. No

entanto, parece que essa função é, para o protagonista, apenas uma forma de oprimir seus alunos,

envergonhá-los ao fazer com que se sintam incapazes de serem tão bons quanto seu professor. É

absolutamente visível a camada de arrogância nesse comportamento, mas sob ela está implícita a

insegurança de alguém que tem medo de que outro seja tão competente quanto ele próprio.

Ademais, dentro de casa, o pianista se trancafia num quarto com isolamento acústico. Sua

relação com a esposa baseia-se na prestação de serviços desta. Ela cozinha, cuida do filho e da casa,

e seus assuntos pessoais não interessam em nada ao marido. Vê-se claramente o modo como a

mulher é inferiorizada nesse relacionamento. Apesar de podermos entender esse caso pela ótica do

machismo estrutural presente na sociedade, é possível ir além e observar o que fundamenta a

conduta do esposo: a insegurança de que seu cônjuge seja “melhor” ou tenha mais qualidades que

ele mesmo.

Acho que depois de todas essas constatações é possível se chegar a uma final: Rômulo pode

ser um dos melhores pianistas do mundo, mas também é um dos mais infelizes. Sua vida é pautada

em não parecer menor que ninguém, tanto no campo pessoal quanto profissional. O mais

contraditório é que ele consegue chegar ao ápice de sua ocupação e não consegue se sentir feliz –

não se livra dessa obsessão transformada em uma autocobrança excessiva e sem fim. Fica o

questionamento: quantos deixam de viver bem por causa de sua insegurança? Quantos têm atos

reprováveis por sua falta de autoconfiança?


Suco de Soja

Dor Fantasma

 Rômulo cumpre seus poucos ritos matinais neste sábado. Vai à cozinha, pega uma xícara do

café que Marisa deixou passado e rasteja em direção a sua sagrada sala incorrompida. Pisa

em um dos diversos bonecos de Franz e não consegue deixar de pensar que seu filho,

dormindo preguiçosamente no quarto ao lado, poderia ser o melhor intérprete do mundo se

parasse com essas bobagens e focasse na arte precisa da reprodução de peças seculares,

clássicas. Mas sabia da falta de disciplina de seu filho. Um indisciplinado não vai longe, não

importa quanto talento corra em suas veias.

Começa a trabalhar novamente na música que encerrará seu concerto revolucionário. 120

bpm. Concentra-se nas batidas do metrônomo. Alonga os dedos, as costas e o pescoço. A

mão começa a bater no peito, acompanhando o barulho constante. Ele sente as batidas do seu

coração acelerarem. Aceleram. Aceleram. Aceleram. Aceleram. Chegam a 120 bpm e

ultrapassam, não param. A dor se espalha por todo o lado esquerdo de seu corpo e a mão que

batia no peito segundos antes, agora o segura, como se pudesse acalmá-lo. O ruído do

metrônomo já não é mais reconfortante, só o faz lembrar da sua perda de controle sobre sua

vida.

Os minutos se passam. Os gritos se esvaem, como uma nota que acaba de ser tocada para

nenhuma plateia. Rômulo permanece ali, caído de seu banquinho, no chão frio, mas elevado,

tão perto de sua família, mas isolado. Não ouvirão suas súplicas, agora já baixas.Ninguém o

socorrerá. Não cometeriam tal infração de interrompê-lo em pleno momento de estudos.

O último batimento ressoa. Ninguém nunca mais ouvirá a música do coração desse pianista,

único capaz de interpretá-la. Sozinho, em seus pensamentos finais, o pobre homem só

conseguia pensar na peça, indecifrável aos seus contemporâneos, que jamais poderá

reproduzir para alguém. As batidas do metrônomo continuam sem falhas, impecáveis, assim

como Rômulo gostava de pensar que ele era.

-Camélia.

Dor Solitária

  Todos os dias, Marisa acorda, toma o seu banho matinal e se prepara para fazer o café, sozinha. Dobra suas roupas, cuida do seu filho Franz, faz seus afazeres domésticos e assim segue a sua rotina pacata, esperando Rômulo, seu esposo, chegar do seu trabalho como professor de música erudita em uma universidade renomada.

 Rômulo chega em sua casa, novamente depois das vinte e duas horas, Marisa já estava acostumada com as chegadas tardias de seu marido, mas aquilo a incomoda. Rômulo tira a casaca e se dirigia ao seu estúdio, até que Marisa o chama:

-Rômulo, mal volta para casa e já está indo se trancar com aquelas tranqueiras?

-Não são meras tranqueiras, Marisa. -Diz Rômulo. -São os meus instrumentos de trabalho. É o meu dever manter o legado de Liszt vivo.

-Que seja, aparentemente o legado de Liszt é mais importante que o legado da nossa família, você nem janta aqui, fico o dia inteiro a te esperar e no fim nem fala comigo.

-Eu tive um dia duro, meus alunos não apresentam nenhuma aptidão para serem intérpretes. Quando não são agressivos demais são sensíveis demais ao tocar o piano.

-Nossa, é realmente algo gravíssimo. -Fala Marisa em tom irônico. 

-Você não entende a gravidade disso! Eles profanam as melhores partituras da história da Primeira Arte!

-Não entendo, eu não entendo de nada relacionado a você. Sempre distante, hiper focado em seu trabalho, chegando tarde em casa. Rômulo, eu estou casada com um estranho.

-Marisa! Como pôde dizer uma coisa dessas?!  Diz Rômulo levemente irritado e Marisa responde.

-COMO EU POSSO DIZER UMA COISA DESSAS?! Todos os dias, eu tenho sido tolerante com esta situação. Acordo, faço as tarefas domésticas, cuido do Franz, que caso não saiba é o nosso filho!!! Almoço, janto e fico noites em claro esperando você voltar! -Marisa começa a derramar lágrimas discretas em seu rosto. -Tenho que lidar com a solidão o tempo todo, até quando você está aqui. Já que se isola no estúdio.

 Após o desabafo, Marisa não consegue mais conter suas lágrimas, suas dores, dores causadas pela solidão. Passado alguns minutos, Marisa retoma a sua postura e diz:

-O jantar está pronto, caso queira é só esquentar no micro-ondas.


-James Clarkemann.

 


A Busca Pela Perfeição

Lendo as páginas, percebi que Rômulo é obcecado pela perfeição. Ele busca ser perfeito em sua arte, busca a perfeição nas pessoas, na sua família, nos seus alunos, basicamente em tudo. Esse talvez seja o maior equívoco dele, porque as pessoas e as coisas não são perfeitas e nem devem ser, é impossível pensar e trazer à tona um mundo perfeito, porque ele não foi feito pra ser assim. E essa busca dele pela excelência máxima acaba afetando em outras partes da sua vida, acompanhamos em algumas páginas o sofrimento da sua esposa, que muitas vezes só queria ter a companhia do seu marido por um segundo e nem ao menos consegue ouvir a própria arte dele, tendo na sua realidade uma vida totalmente solitária e sendo deixada de lado. Acho que na nossa vida passamos por muitas pessoas que são assim ou, até mesmo, nós mesmos pensamos assim e nem temos noção. Isso é péssimo pra gente e pros outros que estão na nossa vida, porque muitas vezes esse perfeccionismo afeta nossas relações amigáveis ou amorosas pelo fato de que com um erro tudo já vira um caos. 

Mediante isso, eu decidi falar sobre a busca pela perfeição extrema que eu vejo presente no Rômulo. Não importa como o perfeccionismo se manifeste, ele sempre resulta em isolamento social ao longo do tempo e isso ocorre de forma natural na maioria das vezes. Nós vemos em um momento do livro que sua esposa, Marisa, faz a comida e o Rômulo não vai comer porque já quer ir trabalhar, é como se ele não se importasse nem um pouco com suas relações afetivas. Então, eu acredito, que no início desse livro o protagonista demonstrou o pior de um ser humano, pelo fato de que o maior problema não é ele ser um homem arrogante e chato, mas sim por ele ser indiferente em relação ao mundo e às pessoas, acabando por se tornar alheio ao restante das coisas, se não envolve música pra ele não serve, não merece sua atenção. E nisso se encaixa também sua esposa e filho. O que dá a entender é que o próprio despreza muitas pessoas, mas não verbaliza pra tentar passar uma imagem de “gente boa”. 


-Joelma do Calypso 

Insatisfações

Poucas páginas desse livro me resgata sentimentos melancólicos e infelizes pela forma que o pianista leva o relacionamento. 

Se eu tivesse um relacionamento com alguém instrumentista, que não gostasse de compartilhar sua música comigo, sinceramente não continuaria a levar minha vida com a determinada pessoa, não é assim que relações funcionam. Professor me traga livros mais emocionantes, achei esse cafona e apenas lembrava do puta que pariu da sala ao lado…
As vezes a moça do livro só precisasse mandar esse tal pianista pra puta que pariu também. 

-Raposa Sincerona 

Uma Família Fragmentada

 Antes de começar a escrever, pensei muito em falar de Rômulo. Contudo, como

vou falar dele se o que mais me chamou atenção foi a situação da sua família? Isso fica

claro de perceber logo no início do livro. Marisa, sua esposa, e Franzinho, seu filho,

parecem viver uma vida isolada a do músico, que é o grande culpado por isso.

É perceptível em vários momentos já nas primeiras páginas que a rotina que

Rômulo leva exclui por completo os outros integrantes da família. Os esforços de

Marisa em tentar saber do dia de seu marido, não só por ser sua esposa, mas sim por ser

uma ser humano que tem características de socialização, me fazem refletir, pois esse é

um cenário muito real em vários lares da nossa sociedade: Um marido ausente, que não

faz questão de dar detalhes do seu dia e nem se preocupa com as respostas que vai dar,

que vem por meios de múrmuros.

Uma intensificação disso acontece quando vemos que o lugar da casa que ele

passa mais tempo, a sala de estudos, tem isolamento acústico. Ou seja, nem a mulher

nem o filho podem ter o prazer de escutar nem que sejam só algumas notas do seu

trabalho. Uma casa completamente silenciosa, em que Marisa cria Franzinho de uma

forma que o garoto nem sinta tanto a falta do pai. Os momentos de alegria e brincadeira

entre os dois são completamente o oposto dos diálogos entre ela e Rômulo por exemplo.

Poderíamos pensar de vários formas sobre o que acontece nessa família, de

ambos os lados, sem necessariamente apontar o certo e o errado. Porém, as minhas

primeiras impressões sobre essa família, me fazem pensar que o pianista escolheu o seu

trabalho a seu lar desde muito tempo e que isso resultou no que se passa na história

atualmente.

-Taylor Swift Da Cantareira

sexta-feira, 21 de abril de 2023

Crônica de Perry Katy

Difícil esquecer aquele 18 de junho, do toque de telefone que ecoa até hoje quando deito

a cabeça no travesseiro. Aquela ligação que me deu uma notícia inesperada, ou nem

tanto, sempre retorna como um furacão em minha mente, me fazendo pensar em como

tudo poderia estar hoje em dia se ela ainda estivesse aqui.

O dia 15 de janeiro sempre foi uma data muito esperada por parte da família,

principalmente por mim, meu aniversário e da minha madrinha, que era esposa do meu

tio, mas não diretamente da minha família.. Além de nascer no mesmo dia, nossa

conexão tinha uma paixão nos ligava ainda mais, o vôlei. Ela me apresentou o esporte

desde muito cedo, me levava para todos os jogos, me ensinava os cantos de torcida e me

fazia viver o até então Sesc-RJ como prioridade na minha lista de amores.

Numa noite chuvosa, deitada no sofá escuto o telefone tocar, como toda a família tinha

ido ao shopping e estava sozinha com meu avô, levantei para atender. A trágica notícia

de que minha maior parceira de arenas, capricorniana com exatamente as mesmas

manias que eu, havia me deixado para sempre. Imediatamente fiquei sem reação, tive

uma crise de choro e em seguida um completo apagão, só acordando no dia seguinte,

ainda em estado de choque.

Era meu primeiro velório, mas com apenas 14 anos de idade consegui compreender

enquanto olhava para ela com o semblante tranquilo, assim como nas vitórias do Sesc,

com a bandeira estendida sob si. Busquei entender dentro de mim motivos para

amenizar a dor e a saudade, pensei que seria como ela ao crescer, uma grande jornalista

esportiva, que apesar de ser cegamente apaixonada por seu clube de coração não

deixava seu trabalho impecável de lado e sempre tratava dos adversários com tanto

respeito.

Até hoje me inspiro nela, o vazio foi algo que nunca foi preenchido, os dias 15 de

janeiro nunca mais foram os mesmos, mas uma coisa nunca mudou e nunca vai mudar:

o amor que herdei pelo vôlei e principalmente por esse time serão eternos para mim.

Sempre que deito a cabeça no travesseiro me lembro do último abraço que dei nela, no

seu sorriso largo, mas quando fecho os olhos o toque daquele telefone ainda me

assombra.


Resposta a Joelma do Calypso

 

O Homem de Lata – O Mágico de Oz

Oi, Joelma.

Escolhi abraçar seu texto pois, em muitos momentos, senti que ele poderia ter sido escrito por mim... Ter medo de amar e ser amado é um dos maiores fardos que alguém pode carregar. Como o próprio titulo do seu texto diz, é uma das mais cruéis formas de autossabotagem. É se impedir de viver o que a vida tem de mais belo, o amor.

Eu sou a pessoa mais emocionalmente burra que eu conheço. Não porque não sei o suposto jeito certo de lidar com minhas emoções... mas justamente porque sei. Isso é o que faz de mim mais imatura, saber a maneira racional de lidar com meus bloqueios e, ainda assim, escolher ignorar ignora-lá. E pelo que você disse no seu texto, acredito que você faça o mesmo.

Caso você seja como eu, vou te dar todos os conselhos que um dia me deram e ignorei, e podemos fingir, pelo menos por alguns segundos, que vamos segui-los e nos livrar da maldição que é ser anti-amor.

Caso você não seja como eu, em primeiro lugar, ótimo pra você. Em segundo lugar, aceite os conselhos de alguém que sabe, ao menos em partes, um pouco da dor que você sente e use-os.

-Você não merece viver o resto da sua vida se privando do amor por causa de uma experiencia ruim. Eu sei que essa é a frase mais clichê do mundo, mas é verdade. Você foi abandonada e isso por si só já muito difícil, não amplifique os danos colaterais do abandono. Não transforme isso numa condenação. Não desista do amor só porque alguém não soube te amar. Não permita que uma pessoa molde o resto de sua vida, limite suas experiencias, apague seu brilho e destrua a ideia de amor, pra você. Seja forte o suficiente pra transformar experiencias negativas em aprendizado não em bloqueios.

Não se transforme no Homem de Lata, que esquece que por baixo da armadura pesada em ferrugem, há um enorme coração que anseia por ser amada.

-Meu Primeiro Fake

Resposta a Camélia

 Camélia, ao ler seu texto muitas reflexões passaram em minha mente, inclusive memórias pessoais. Tentando imaginar possíveis justificativas para o acontecido e a ação de seu pai, muitos sentimentos me tomaram como raiva, revolta e indignação.

Sobre você, tive a impressão de ser uma doce criança, afetiva e atenta. Daquelas crianças que iluminam o lugar com um sorriso.

Sobre seu pai, que infelicidade e falta de senso em levar em consideração apenas o delírio da sua madrasta. Sua madrasta, com certeza,  uma pessoa individualista e maldosa. Daquelas pessoas que querem tudo pra si e não sabem o seu lugar.

Pela fala “Mas lembra sempre que o papai te ama. Não fala nada pra sua mãe, não, tá?”, tenho a impressão de ver em seu pai uma pessoa um tanto manipuladora. Pedindo para que você deixe de lado sua percepção e sentimentos, guardando-os para que pudesse encobrir a falta de coragem de si mesmo de se colocar numa situação de conflito. 

Digo isso pois já passei por situações semelhantes com o meu pai… uma figura amável, carinhosa e que cultivo bons momentos, porém capaz de manipular emocionalmente para benefício próprio. 
Camélia, essa menina de 10 anos, sinta-se abraçada e saiba que eu também tenho uma madrasta como a sua. É uó.

-Cobra

DELÍRIO

 DELÍRIO

Apavora-me o amor.

O romantismo humano decadente, sua crueldade humilhante. Vinicius escreveu

seu soneto de fidelidade, Helena morreu apaixonada..., turbulenta relação de devoção, o

sentimento desproporcional da paixão.

Não há prazer na silhueta de um amor diáfano, um amante como um fantasma,

sem nome e sem rosto, que foge de seus braços. Relação de embaraço em um jantar

entre estranhos enamorados.

Adoração ignominiosa. Deixa-me muda a paixão, eternamente no plano das

ideias. Um sonho de desolação. Sou uma ouvinte fiel do horror dos apaixonados, esses

que gritam e sofrem diante do beijo de Klimt. Contam-me seus relatos, insensatos e

ímpios... amores como um quebra-cabeça de tormentas.

O cineasta Wong Kar-Wai demonstra em seus filmes paixões permeadas pelo

constante sentimento de solidão. O adultério, o desejo, a vontade perpétua de tomar os

braços de um amante como uma fuga de um mundo alienante. O amor envolto pelo

idealismo de uma introversão.

Vigilância de um romance fictício, palavras marcadas pela tinta de sua emoção.

Desolação da donzela diante do horror da ruína moral de um galã boêmio. Romance

imaginado e jamais exposto.

Afrodite dança em sua sala e ela, completamente vil, ri.

Minha mãe e o meu pai ao telefone. Amarga cólera dos divorciados.

Desenvolve-se a peça e os dias correm com pernas lépidas, o relógio de uma

juventude em seu fim. Você tem os olhos de seu pai e a impetuosidade de sua mãe, e

nunca foi capaz de amar.

Amo como delírio febril e minha compreensão é pobre e tola. Eu que nunca

consagrei nada mais que minha obsessão... danço somente em meus sonhos.


Christine Daaé

A culpa nos ciclos da vida

A culpa é um dos sentimentos que mais me assustam. Ter a sensação de que

determinada coisa se desenrolou daquela forma por uma ação (ou falta de uma) minha me

deixa extremamente aflita. Acho que a dor que a culpa provoca é diferente das outras. É uma

dor que tortura, corrói o nosso emocional e que demora mais para passar. Por conta disso, o

medo de me sentir culpada me persegue, desde coisas banais até situações mais graves.

E esse pavor sempre se apresenta para mim na forma dos “e se...?”. E se eu tivesse

me expressado com outras palavras? E se eu tivesse escolhido tal coisa em detrimento da

outra? E se eu tivesse agido de forma diferente? Mesmo sabendo que esses pensamentos não

vão contribuir em nada na minha vida (pelo contrário, só farão com que eu me sinta pior) é

inevitável : eles sempre me vêm à mente.

Talvez por ter essa sensação incômoda que o trauma de Sargento Santiago tenha me

tocado tanto. Ler exatamente essa construção de raciocínio, “se tivesse feito alguma

coisa,talvez meu avô não teria falecido tão de repente” me causou uma enorme angústia. Me

coloquei na situação relatada, e vi o quanto que me sentiria mal, impotente, desesperada. E

imagino como deve ter sido difícil para uma criança entender e lidar com esse sentimento.

Apesar de, pelo seu relato, saber que você já compreende que não teve culpa

nenhuma, quero poder reiterar isso em meu texto (até porque sei que às vezes é impossível

impedir que os “e se...” retornem à nossa cabeça). Quero te dizer que você não tinha como

saber o que iria acontecer. Ninguém sabe. Não se sinta culpado por algo que não é possível

controlar. Como você mesmo escreveu “não podemos interromper os ciclos da vida”. Sinto

demais pela sua perda, e espero realmente que escrever sobre essa situação tenha, de alguma

forma, amenizado mais a sua dor.


Noite da grande paz dos teus olhos

Resposta a Dissimulado e Oblíqua

 Resposta à crônica "Apropriação", de Dissimulado e Oblíqua.

           Me identifiquei muito com o seu texto. Sempre penso nas histórias e origens de cada um presente em minha vida, isso é um bom exercício para entendermos os motivos e o porquê das pessoas serem assim. Mas infelizmente a realidade é que nunca vamos saber e muito menos entender o que está internalizado em cada um, até porque, como diz Caetano Veloso, cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é. Será que esse acontecimento ainda tem importância para vida do seu pai? Claro que é muito difícil lidar com sonhos frustrados, mas o ser humano é extremamente adaptável e somos construídos por sonhos. Será que ele não ressignificou esse acontecimento? Será que não surgiu um novo sonho desde essa frustração? São muitos questionamentos que nós não temos as respostas. O que nos resta é aceitar que nunca vamos saber o que está dentro do outro. Não é saudável você carregar outras frustrações além das suas. Talvez você esteja trazendo algo que para seu pai já tenha sido superado. Fique mais leve, são normais decepções na vida do ser humano e aprendemos a conviver com isso. Saiba que esses momentos dão força e ajudam no autoconhecimento de cada um, levando ao amadurecimento emocional importantíssimo para o decorrer de nossas vidas.
-Artubou Da Lua

Resposta 2 a Lia Navarette

 Contratransferência para Lia Navarrette

Me solidarizo pela sua angústia, Lia. Às vezes, podemos nos colocar em uma posição

ou nos levar a agir de determinada maneira para evitar o questionamento e o julgamento

dos outros, mas te pergunto, às custas do que? Até quando deixaremos de viver nossas

vontades?

Além de me colocar no seu lugar pelo seu relato, posso dizer que te entendo. Quando

pequeno e até a minha adolescência, em certas situações, me colocava em um lugar para

me encaixar e ser aceito, ser socialmente visto. Mas, ao contrário do que você nos

relatou, me sinto pronto para viver da maneira que eu quero, viver a minha vida. Por

mais que ainda não possa fazer isso plenamente por outras questões, acredito que querer

já é um grande passo.

Aconselho que, quando se sentir segura para isso, assim que suas emoções

aparecerem, deixe-as externalizarem. Toda prateleira precisa de limpeza.

“Às vezes, a parte mais difícil é simplesmente começar.”

Trecho retirado do livro Quem é você, Alasca?  

- Sargento Santiago

Resposta 2 a Silvio Santos

 Querido Silvio Santos, li seu relato e achei muito

interessante sua forma de contar o ocorrido. Apesar de não me familiarizar com sua “crônica” por ter um pai extremamente presente e amoroso, me senti tocada na parte onde você diz que sofreu a maior parte das coisas para que seus irmãos não passassem por aquele trauma de forma mais intensa.

Quando meus pais se separaram, minha irmã tinha sete anos e eu 14, nenhum deles tinha o emocional saudável o suficiente para nos deixar fora da confusão e eu acabei presa no meio do furacão tentando proteger uma criança que nem era minha responsabilidade. Foi uma época exaustiva na minha vida, lembro de desejar todos os dias que eles me vissem e enxergassem o mal que me faziam e faziam e ela.

Gosto de pensar que as pessoas nos dão o que são capazes de dar, e naquela época meus pais estavam tão tomados por frustrações e medos que não conseguiam enxergar o problema que nos causavam, mesmo que todo o resto do mundo conseguisse. Não acho que tenham feito de propósito, e caso tivessem eu teria sido a primeira a me rebelar e não ter contato nunca mais, pois apesar de pensar do jeito que descrevi acima também acho que quem é capaz de nos fazer mal estando ciente do que faz não merece nossa compaixão nem nosso perdão.

No seu texto não ficou muito claro pra mim se seu pai é um pai ruim pra você conscientemente ou não, mas me parece que sim. Você diz que trata ele com respeito porque “não deixa de ser seu pai”, mas você também nunca deixou de ser filha dele e mesmo assim ele te trata mal e te desrespeita. 

Laços familiares deviam ser laços afetivos, não correntes que te prendem a pessoas que não te consideram e nem se importam com o seu bem estar.

Sinto muito por essa situação, e espero que um dia ele perceba a filha incrível que ele sempre teve, mas nunca conseguiu enxergar.

  • Apollo Creed.

Resposta 4 a Sargento Santiago - Os Muitos Ciclos da Vida

 Os Muitos Ciclos da Vida


Ler textos sobre traumas enquanto enfrentamos alguma dor é difícil. Ler textos sobre a vida e a morte enquanto enfrentamos a dor do luto é infinitamente mais difícil. Abraço, então, aquele que com uma única junção de palavras foi capaz de descrever o que estou passando agora. Perda. Arrependimento. Luto. Ciclos da Vida.


Palavras afetam, e conhecer alguém somente pela escrita é a forma mais pura e verdadeira possível. Palavras afetam, e por isso não me sinto pronta para deixar meu relato aqui. Tudo ainda é muito recente. Me identificar com os sentimentos do outro foi doloroso, mas também foi alívio, foi empatia. Conhecer. Compreender. Acolher. Ciclos da Vida.


Todos nós vamos morrer, e sabemos disso. Mas jamais seremos capazes de nos acostumarmos com a perda do outro. Pai, mãe, avô, avó, amigo, namorado. Repentinamente, entramos em conflito com nossos pensamentos: não vê-los nunca mais, poder tê-los visto por uma última vez. Essas pessoas se vão, nossos arrependimentos ficam. Passado. Presente. Futuro. Ciclos da Vida.


Assim, bem como no texto daquele que escolhi acolher, relembro: aprendemos ainda quando pequenos que o ciclo vida-morte existe. Ele não vai deixar de existir. Cabe a nós guardar as boas lembranças, os aprendizados, o amor e a saudade. Sentimentos capazes de amenizar os arrependimentos. Sentimentos que, hoje, nos fazem aproveitar cada momento como se fosse o último. Afinal, não sabemos quando, de fato, será o último. 


São os Ciclos da Vida.

                       

  • De Lia Navarrete para Sargento Santiago, e para todos que perderam alguém.

Resposta para Sílvio Santos

 Sílvio, sinto muito por você e por toda a sua família que teve que lidar com essas situações

desafiadoras com o teu pai. Quando você diz que era uma criança exemplar toca muito no

sentido de entender que criança não deveria ter esse tipo de preocupação, criança é o que é,

sabe? Estudar e tirar boas notas é o cordial, na verdade é o objetivo, mas essas cobranças que

você sentiu em ‘’não dar trabalho’’ não deveriam existir, falo isso porque também fui essa

que não dava trabalho e hoje, continuo não dando, mas sinto que o meu emocional é abalado

por isso em alguns reflexos às vezes, então sinto muito por isso mais uma vez.

O seu texto é muito bonito não só pela verdade na escrita, mas também em como você

demonstra o carinho e amor que sente, involuntariamente, pelo seu pai, é bonito. Espero que

você consiga seguir em frente nessa nova fase: a vida adulta. Saber lidar com a nossa história

guiará o nosso caminho para bem longe das nossas dores vividas na infância, acredite. Tenho

certeza que você vai conseguir seguir em frente e não repetir os mesmos erros que o seu pai,

até mesmo erros de outras pessoas, são eles que nos ensinam a encarar a vida que esquenta,

esfria , aperta e daí afrouxa. O que ela quer da gente é coragem (Guimarães Rosa,1956).

Assinado por Diadorim da Fé.

Para Silvio Santos

Resposta 3 a Sargento Santiago

No texto “Os Ciclos da Vida” é muito interessante a forma como o autor vai

desenvolvendo e contando a história. A inocência da criança em ainda não conhecer os

ciclos da vida, sempre achar que tem o amanhã, na verdade, até sendo adultos achamos

isso, e o texto ajuda a fazer essa reflexão de que o tempo passa e as pessoas também se

vão. Ao escrever “ fizemos tudo que fazíamos em uma sexta feira” e a maneira que a

partir disso o autor conduz o texto aproxima o leitor dessa realidade, e faz parecer que

eu sou a criança ou estou ali assistindo tudo ao lado dela, a forma que ocorreu os fatos, e

também o pressentimento, me faz pensar em como aquela criança se sentiu com essa

sensação estranha, como foi ter um sonho tão triste, já que queremos que a vida seja

eterna para aqueles que amamos, e imaginei como é acordar e ter uma notícia tão

terrível, na verdade, esse texto me chamou a atenção pois meu avô também partiu de

uma maneira repentina e se deu de forma parecida, era um dia aparentemente comum

como os outros, além disso, na maioria das vezes, como no caso do autor e o meu, não

tem como imaginar que aquele pode ser o último dia de alguém que amamos, ao ler o

texto a vontade que perpassa é a de abraçar essa pessoa e falar, eu entendo o que você

sentiu, sei exatamente como é, você não está sozinho e a culpa não é sua, além disso,

compreendo a culpa que sentia e os questionamentos, e se eu tivesse prestado mais

atenção se ele estava se sentindo bem? E se eu tivesse ficado mais tempo com ele ? E

se ...? Esses questionamentos surgem em nossa mente, essa sensação de ser culpado é

difícil de superar, pois é difícil entender que não podemos controlar o tempo das coisas

e das pessoas, que não podemos fazer mais em certas situações, mesmo que queremos, e

por mais que não seja nossa culpa e no final saibamos disso, ainda assim, é doloroso,

mas, como o próprio autor disse ao final do texto, não podemos interromper os ciclos da

vida.


Marimar

Resposta 2 ao Meu Primeiro Fake - “Ciência, Amor, Vida e Morte”

 Em resposta à “Ciência, Amor, Vida e Morte”

Magia, indiferença, morte e vida!


Que seja o primeiro de muitos. Seu nome, não seu dessabor. 

A despeito do pronome a qual te tratar, desejo o refresco que alguém convivente com seu drama possa ofertar. 


Minhas mais sinceras condolências, que permaneça em você em quanto tempo puder de ser, a inocência que apenas uma criança enganada pelo progenitores poderia ter. 


Sentir-se amado é o que nós faz vivos. 

Não há contra-fatos. 

Tudo no fim resume-se a amar e ser amado. 

Imagino que existam infinitas explicações cientificamente naturais pra isso. Mas atenhamo-nos reflexivamente à frase que precede o seu rancor. 


“Sentir-se amado talvez seja a melhor sensação do mundo.”

Abraço sua causa, que espero mesmo ser apenas metáfora. Espero ter entendido que você foi traída por uma pessoa no dia do seu aniversário. Não destruída pela vida a partir do fim do amor de forma trágica. 


Até porque o amor não morre. 

Mas ele nasce. 

Primeiramente, sempre, dentro da gente, pra depois incendiar todos os aparelhos que nós adestram o andar.

Sentir-se amado é o primeiro passo. 

Dele independe o outro lado. 

O amor é primeiro, palco solo. 

Contrário, tu sofrerás com dolo. 


Use sempre seu próprio amor ao se confortar. No fim de tudo é isso e mais um pouco que vai restar. 


Estou aqui há três mil anos, literais. 

Minhas origens, ancestrais. 

Só existe uma coisa que ultrapassa o tempo. 

Amor, que vai embora com o vento mas fica por todo momento a rondar pelo universo. 


Quando encontrares amor, viva-o. 

Quando achares que perdeu-o, metamorfose-se.

Proteja-se de mais amor e construa um mundo novo com vigor. 


Você não foi enganado. 

Você aprendeu a viver. 

E a não mais vislumbrar o que a morte pode ser. 


Ciência é vida e também magia. 

Céticos não são pessoas a se acompanhar, tudo bem, meu bem?

São desgostosos, desalmados, pela rigidez dos passos ou pela lucidez sobre os fatos, mas geralmente, seres mal cruzados com a chata sensatez dos sábios.

Pois o que acredita no amor tem a eternidade a seu favor. 

E o que há te pertencer vai sempre correr (nem sempre esse verbo) pra perto de você. 


Já perdi alguns amores. Outros tantos eu matei, por indiferença, desavença ou estupidez. 

Mas vivi pra crer que amor de verdade só o meu vou ter.

E ainda você tem que querer!

E aguardar pra ver. 


Você não morreu no dia que nasceu. 

Você renasce toda vez que vive o amor que é seu. 

Todo dia, toda hora, seja amor, seja o jardim que transfloresceu. 


Estou aqui para acompanhar o seu despertar. 

Viva kaizen e viva todo dia um novo jeito de amar. 


Meus sentimentos,


A Fênix


Resposta 2 a Sargento Santiago

 Meu querido (a) companheiro (a) Sargento Santiago, sei muito bem o que é perder um

ente familiar. Perdi minha mãe quando eu era criança também, todavia, essa mensagem

não é sobre a minha persona, irei buscar a melhor forma de lhe transmitir uma palavra

amiga.

Infelizmente, a culpa de não ter feito algo para tentar impedir o ocorrido é inevitável.

No entanto, quando somos crianças, um responsável acaba tomando decisões por nós,

isso é um ciclo da vida. Não estou querendo dizer que os seus responsáveis são os

responsáveis pelo falecimento do seu avô tá? Só estou falando isso para não ter nenhum

mal-entendido.

E como superar isso meu amigo (a)? Vou lhe dizer que é praticamente impossível, não

queremos apagar do nosso HD interno lembranças, momentos e tantas outras coisas

magnífica que vivemos ao lado da pessoa que nos deixou por conta de forças maiores

do que nós. O que podemos fazer é criar uma forte rede de apoio para tentar suavizar a

dor dessa perda imensurável.

Não sei como foi o seu luto pós-falecimento do seu avô, mas saiba que o luto também

faz parte do ciclo da vida. Falo isto porque esse direito foi roubado de mim. Saiba que

na vida tudo tem o seu momento, a morte, o nascimento, porém, qual é o tempo que o

luto deve ter? E é claro que não temos esta resposta, isso pode ser eterno. Então, meu

querido amigo (a), se quiser que chorar, chore, chorar faz bem! Desabafe, reveja fotos

de vocês juntos, enfim. Só não se prive e não deixe ninguém te tirar o direito de cultivar

o luto.

De certa forma, isso me ajudou a lidar um pouco, melhor com a perda da minha mãe,

espero que as minhas palavras tenham que confortado e peço desculpas se você não

curtiu o que eu te disse.

- Pérolas do Cléber Machado

Resposta a Lia Navarette

Escolhi responder ao excelente texto de Lia Navarette, “Onde Nasce a Solidão”, devido à

forte identificação que tive ao lê-lo. Também, pudera: apesar da diferente abordagem, falamos sobre

o mesmo assunto, que, diga-se de passagem, parece afligir nós dois de maneira semelhante – a

solidão.

Antes de tudo, gostaria de dizer que esse texto não tem a função de consolar ou desejar uma

mensagem bonita, mas de mostrar que existe alguém com o mesmo quadro que a autora. Reconheço

completamente a sensação de ser uma criança sozinha no meio de uma multidão aparentemente

unida. Também aprendi a conviver com isso, ou melhor, sobreviver com isso. Reforço o

“sobreviver” porque, na realidade, nunca me senti confortável em relação à minha situação.

Para fugir desse desconforto, comecei a fazer terapia. Confesso que desde então tive um

grande salto na minha qualidade de vida, porque passei a dar abertura para que as pessoas pudessem

entrar na minha história. Comecei a conter, ainda que minimamente, o tal medo da rejeição. No

último ano do meu ensino médio, tive o mais próximo que posso chamar de “amizade” em minha

vida. Passei a ter novo hábitos, desde compartilhar detalhes da minha vida pessoal até frequentar

festas de aniversário. Essas coisas, que são naturais e comuns para a maioria das pessoas, eram

totalmente novas para mim.

No entanto, o nível dessas relações nunca me foi suficiente. Tenho a impressão de que, na

verdade, nunca ocupei um espaço significativo na vida de ninguém que fosse de fora do meu círculo

familiar. Sinto que nunca fui amado por quem nunca teve a obrigação de me amar. Me devasta a

ideia de que sou muito amado dentro de casa, mas que não tenho ninguém com que possa contar se

por os pés fora dela. É como se eu não fosse “legal” (ou sabe-se lá qual adjetivo melhor) o

suficiente para ser verdadeiramente querido por alguém. Muito provavelmente, estou, neste

momento, minimizando o sentimento que alguém nutre por mim, mas é o que de fato acredito, lá no

fundo do meu ser, infelizmente.

Enfim, espero que o futuro reserve – tanto pra mim quanto para Lia – uma superação desse

cenário. Por enquanto, seguimos sobrevivendo.


Suco de Soja