sexta-feira, 4 de outubro de 2019


Brigas

Já era comum que as tardes, na minha rua, fossem um pouco mais agitadas. O grande motivo para que o agito acontecesse, era morar na mesma rua em que Vera e Jorginho moravam.
Os dois residiam bem em frente à minha casa, tinham dois filhos e uma relação pra lá de conturbada.
Jorginho nasceu e foi criado na mesma casa, Vera se mudou um pouco depois, logo após o casamento – época em que eu nem sonhava em nascer.
De acordo com o que comentam, ambos sempre gostaram de beber, mas depois do nascimento dos filhos e as dificuldades da vida matrimonial, esse hábito se intensificou. Atualmente os dois eram alcoólatras e consequentemente, se encontravam sob o efeito da bebida na maior parte do tempo.
Naquela tarde, em pleno agosto de 2010, o rebuliço que eles causaram foi um tanto peculiar: além da briga, teve uma batida!
Lá pelas cinco da tarde a barulhada começou: coisas certamente estavam sendo arremessadas naquela casa vizinha.
Cheia de curiosidade para saber o que se passava, abri o vidro da porta e observei tudo o que acontecia na residência em frente à minha
Eram os dois, sempre eles, reverberando palavrões, um contra o outro
– Uma puta! É isso que você é!
– Vai tomar no cu, seu maluco!
– MALUCO? Você pensa que eu não sei que você tá dando pra Jair?
Danou-se! Jair era o outro vizinho, que morava na casa ao lado da deles... Diferente de Jorginho, ele era verdadeiramente gentil com Vera, mas era casado com a mulher mais antipática do bairro – aquele tipo que nunca socializa com a vizinhança.
– CALA A BOCA, PORRA! Você ainda vai acabar encrencando os outros com as suas maluquices!
– Os dois estão me tirando por palhaço e eu não posso dizer nada?
E foi nessa hora, em meio às acusações, que o suposto amante atravessou o seu portão e o suposto corno o chamou para perto.
– Chega aqui, Jair! Tenho uma proposta pra te fazer...
Dava para perceber Vera estática, observando o que o marido aprontaria dessa vez...
Jair se aproximou do portão dos dois, sem entender muito bem o que estava acontecendo e o bebum, segurando a esposa pelos ombros, disparou:
– Tô sabendo que você está interessado... Quer pra você? Troco por três bojudas.
Agora foi demais! Vera sacudiu os ombros para tirar as mãos dele de cima, entrou em casa, pegou uma cadeira e mandou ver nas costas do marido – que à essa altura, gritava de dor, tentando se desvencilhar, mas era tão magro, que não tinha muita condição de pará-la.
Depois de dar a surra de cadeira em Jorginho, ela abriu a garagem, gritando que estava cheia de tudo e que iria embora, definitivamente.
Pegou o calhambeque, acelerou, mas na hora de virar, o esperado – já que era uma bêbada dirigindo – aconteceu: a manobra não saiu como o previsto, ela invadiu minha calçada, batendo na nossa lixeira de ferro.
Abriu a porta do carro, xingando mais ainda, com os olhos arregalados e um temor latente: a língua da minha família
Assim que a barulheira invadiu nossa casa, minha mãe saiu à toda para verificar o acontecido
Agora que a coisa ficaria feia, entraria uma escandalosa de carteira assinada no meio da discussão
Mas para minha surpresa, ela até foi calma... Questionou o que aconteceu e recebeu inúmeros pedidos de desculpa vindo dos dois – que apesar de perturbarem a paz da vizinhança, não gostavam de jeito nenhum de se indispor com os vizinhos.
Minha mãe voltou para dentro de casa, parou perto de mim e disse
– A vida desses dois parece até a história daquela música do Altemar Dutra, “brigas”.
E de certa forma, era verdade.
Foi em momentos assim que vimos aquela espécie de “amor” dos dois, agonizar, morrendo um pouquinho mais.

  
Emma


Sem palavras

3, 4, 5 da manhã. O ronco do meu pai parece debochar da minha incapacidade de dormir. Mas eu não ligo. O que vivo agora é mais urgente, me reviro na cama, enfio a cara no travesseiro involuntariamente tentando conter o meu riso. Hoje só preciso e quero repassar na minha cabeça cada toque e movimento do que vivemos mais cedo, que sei que não da para esquecer, mas tenho que revivê-los em mente antes que qualquer mísera oportunidade deles caírem no esquecimento surja.
Você tem um jeito tão seu de fazer coisas banais se transformarem num espetáculo... Fui te ver usando meu vestido branco meio surrado, que você diz que ficar lindo na minha pele morena.
Quando eu cheguei no seu apartamento, você me saboreou, me comeu com os olhos e fez minhas pernas bambearem só por emitir aquele sorriso de orelha a orelha seguido de uma passada de língua pelos lábios, igual quando estamos famintos e vemos comida.
Você tem paladar. Você não tem pressa, mas eu tenho e tenho muita. Você me deita no sofá e eu me abro para você. Você levanta o meu vestido, quando vi a calcinha já estava no chão. Mas você não tem pressa, pousa o rosto entre as minhas cochas, e ignorando a urgência com que te preciso, analisa o meu umbigo, da uma risada olhando dentro dos meus olhos e diz que ele é muito bonitinho e propício para se botar um piercing. Não tenho nem forças para te responder, aliás, você me deixa assim, sem palavras.
Me abro ainda mais para você esperando talvez por um consolo, ou quem sabe uma punição pelo vácuo em que te deixei. Sinto seus dentes sendo cravados em minha pele, e então seus lábios em meus lábios, você me beijando como se isso fosse a única coisa a se importar no mundo, e beijando tão fundo que até minha alma se sentiu desejada. Mas eu quero sempre mais, sou assim mesmo, insaciável.
E como nas lutas de artes de marciais em questão de segundos já estamos no chão, na verdade, estou em cima de você.  Sendo sua, me dando de presente à você, o Natal está chegando né? Nesse momento somos um só lugar, um só desejo, um só prazer, uma só dor.
Meu Deus, é o melhor lugar do mundo, sinto gratidão por estar viva, seu corpo no meu, minha pele na sua. Rio e mar, desaguamos um no outro. E no fim, quando eu volto a ser só minha e você só seu, você nem precisa perguntar se foi bom, porque meu corpo já te respondeu isso minutos antes.
E agora já são 6h da manhã, desisto do sono e resolvo me levantar. Vou ao banheiro lavar o rosto e quando me olho no espelho rio sozinha quando percebo que perdi uma noite de sono para reviver mentalmente aquele nosso momento. Será que você também pensou em mim esta noite? Não sei...
Irônico como você me faz sentir tão singular num dia e tão plural no outro...
Singular e plural são flexões gramaticais para indicativo de número de substantivos e adjetivos, mas como deixei claro antes, não há substantivo, adjetivo, palavra que me faça descrever como você me faz sentir. É que depende do dia. O jeito que você me trata é tão irregular quantas regras gramaticais do nosso português. Mas para o meu prazer (ou pavor), você sempre volta e me deixa sem palavras.
Metamorfose Ambulante


Morena misteriosa

Levantou da cama e foi sextar, naquele dia frio até pensou em hesitar, só não sabia que no fim encontraria motivos para naquele dia nem acordar.
Nossa história começa no Flamengo, não o time, o bairro. Lembro de ver o relógio marcar 19 horas, quando o passarinho, preso na gaiola do meu celular, entoou seu canto. Era aquela morena, de anos, que jogou um “oi sumido” e saiu em disparada. Achei estranho, mas embarquei nessa aventura, era dia de gol do ? Fui até a cozinha e peguei aquele único pedaço de mortadela, juntei a um pão semi velho que logo deu “match” nessa mistura. Hoje era o dia!
Boemia carioca, cenário de inúmeras histórias de amor e tristeza, de romance ou de dor, chegava pela Lapa por volta das 22 horas daquela noite gelada como a cerveja que me aguardava ao lado daquela bela morena de lábios carnudos, cabelo sedoso, corpo quente e pele macia. Um beijo viciante, sem igual, de fazer arrepiar qualquer pelo do corpo, e trazer um calor instantâneo e inexplicável .
Depois de algumas horas de conversas, debates, ensinando ao mundo a selar a paz, saímos daquele bar e entramos na madrugada pelas gafieiras locais. Ela indicou e nós fomos. No caminho me surpreendi com tamanho conhecimento dela por aquelas ruas, mesmo morando pra lá da zona oeste. Chegando no berço dos bambas, a música era tão contagiante que ela logo me puxou pelo braço e fomos entrando, sem qualquer tipo de identificação nem nada. Ah, curtimos uma bela noite...
Ao fim, quando me arrumava para o complemento da noite, fui até o banheiro dar aquela última ajeitada no cabelo antes de um convite formal. Quando entro, escuto dois caras elogiando uma morena que dançava na pista. Até ai tudo certo, me fiz como homem possessivo e ri daquela cena, já que a morena me acompanhava. Foi então, que os dois começaram a apelar um pouco nos comentários, o que não foi muito de meu agrado e me fez ter a brilhante ideia de misturar o álcool e a valentia, dois inimigos de qualquer ser humano, e trocar algumas belas palavras com os amigos de toalete. Com alguns elogios trocados, resolvi mostrar ao baixinho de camisa preta que a água do banheiro estava limpa, mas a da privada não. O fiz olhar o mais perto possível, mas seu amigo não deixou o colega aproveitar o momento de observação e resolveu me fazer um carinho com sua mão fechada. No primeiro cruzado, meus olhos abriram e descobri que o baixinho na realidade era quase da altura da porta do banheiro, não achei isso legal. E ele veio até me abraçar, num ato de bondade?
Só lembro de acordar encostado em uma parede branca e sentado em um chão molhado e meio cinzento, um pouco até grudento. Talvez o agora grandão de camisa preto tenha me colocado ali para apoio ao belo cochilo que tirei naquela noite. Mas e a morena? Sumiu pela madrugada da Lapa, sem deixar qualquer mensagem, ainda me deixou a pagar sozinho todas as contas daquela noite.
                                                                                                                       Brócolis Verde


Calor na noite fria

9 horas da manhã. Os dois terminavam de tomar café da manhã tranquilamente com semblantes alegres e despreocupados, um pouco estranho para uma terça-feira. Afinal, pelo horário, eles já estavam bem atrasados para o trabalho. Se despediram na garagem do prédio com um beijo longo, com muita química, de tirar o fôlego… Uma mão dele estava na cintura dela enquanto a outra estava enroscada nos seus cabelos morenos. Todo o desejo envolvido naquele beijo relembrou a eles os prazeres e sensações da noite anterior.

22 horas de segunda-feira. Noite fria. O dia de trabalho tinha sido cansativo, então eles decidiram abrir um vinho e assistir a um filme para relaxar. O filme até parecia interessante, mas com 20 minutos eles não estavam mais prestando atenção. O vinho e o calor humano tinham aquecido os corpos. Os seguidos beijos no pescoço fizeram ela desmoronar e se arrepiar. Naquele momento, o tesão respondia por eles.

Ele a pegou no colo e a carregou até o quarto. Lá, tirando o que ainda restava da roupa um do outro, as mãos iam descobrindo cada detalhe do corpo como se fosse a primeira vez, se encantando e se desejando cada vez mais. Aos poucos era possível ver o amor e o tesão se encontrando e se fundindo, assim como eles dois, que intensamente se sentiam mais parte um do outro. O contato e os apertos iam ficando mais envolventes, as respirações mais ofegantes, a pele de um sentia cada vez mais o toque e os efeitos da boca do outro. A cada respirada, toda a sua caixa torácica balançava para frente e para trás, como se estivesse em cima dele. Os sussurros secretos no ouvido alternavam-se com gemidos altos e ardentes seguidos de orgasmos.

Ali, o prazer não cabia mais dentro dos dois. Seja lá como você quiser chamar. Aquele beijo de despedida na manhã de terça trouxe para o presente todo o calor da noite anterior de volta ao corpo dos dois.

 Alice Gold


Olhos Famintos


Acampamento de verão, sexta-feira, 13 de outubro de 1984,
            O crepúsculo já invadia a pacata paisagem do acampamento quando Jason arrastava seu corpo pesado pela floresta rumo ao seu próximo encontro mortal. Seus movimentos já não eram mais tão precisos como quando seu coração batia, mas foi o suficiente para locomovê-lo até um conjunto de arbustos grandes o bastante para escondê-lo de olhares importunos. E lá ficou por um tempo, próximo de uma serra elétrica enferrujada e uma canoa abandonada, como se fizesse parte desse mundo de coisas que passaram da sua validade.
Sua paisagem era bonita, o lago começava a refletir a lua enquanto Jason esperava pelo momento certo para se levantar e andar até o acampamento, onde pretendia causar pânico em alguns adolescentes. Porém, o assassino tinha uma premonição de que algo melhor estava por vir quando viu duas figuras se aproximando do lago.
            A primeira figura era uma mulher, jovem, bonita, loira e com as roupas mais apertadas que Jason já havia visto. Caminhava confiantemente até o píer do lago, esporadicamente olhando para trás para ver se sua presa ainda estava seguindo seus passos.  Ela poderia muito bem se chamar Ashley ou Brittany, mas vamos chamá-la de Stacy. Mascava chiclete constantemente, não pelo gosto, mas pelo efeito que isso causava nas pessoas. Stacy é o tipo de pessoa que todos sabem o que fez no verão passado.
            A segunda figura era um homem, jovem, bonito e também loiro, que usava a jaqueta de algum time de futebol americano aleatório. Ele andava com uma pose atlética todo o percurso, como se quisesse deixar claro que esse é o seu papel na sociedade. Seu nome com certeza é Josh. Seguia os passos de Stacy como se conseguisse sentir o seu cheiro, para ele, ela também era a sua presa, aproveitando o clima do Halloween que estava se aproximando.
            No momento que em ambos chegaram ao píer do rio, Stacy e Josh se olharam nos olhos e começaram a se beijar. Não fazia sentido esperar, seus corpos lutavam para descobrir quem era o predador e quem era a presa. Fazia parte do jogo mortal criado por eles. Stacy sentia cada parte do seu corpo ficando mais entregue ao momento, deixando seu lado carnal tomar conta do seu ser. Josh não importava naquele momento, mas seu corpo sim, ter o seu braço forte a tocando por inteiro era o que Stacy precisava para abraçar a violência do momento.
            Stacy olhou para os arbustos, enquanto deitava em cima do corpo sem roupas de Josh, e viu a luz refletida em dois olhos vermelhos e raivosos dentro de uma máscara. Era tudo que ela precisava. Para a jovem, os olhos são a janela da alma e Stacy queria todas as janelas abertas para ela. Olhar no fundo daqueles olhos fazia Stacy se sentir mergulhando no mais fundo dos mares, com seu corpo completamente molhado. Seus dedos começaram a se apertar, seu coração batia tão forte que parecia que ia sair do seu peito em um estouro, seu gosto por sangue apenas aumentava. Era como flutuar e explodir ao mesmo tempo, o prazer na forma mais pura.
            Porém, para os olhos que os observavam, o prazer e o massacre seguem o mesmo caminho. A morte deveria vir pelo sexo. Seu coração não batia, mas ele sentia o ódio visceral se espalhando por todo o seu corpo enquanto observava aquela cena. A ira fervia todo o seu interior e o que havia restado dentro do seu corpo, seus membros começavam a ter movimentos involuntários, não era mais possível esperar. Era hora do pesadelo começar.

SUSHI SASHIMI


Eros

Quando se é um ser humano é necessário de vez em quando um anestésico para fugir da realidade, mas não com ela. Começa com um suspiro, uma voz doce e ao mesmo tempo cortante congelando tempo e espaço não importa quando nem onde. Os sonhos e delírios que os românticos usavam para sua completa evasão do mundo nunca pareceram tão reais. E dentro de uma via de trânsito, quando o vermelho brilha em um sinal, as lembranças das noites nas quais pude embriagar meus lábios em seu corpo chegam sempre sem avisar.
- Só uma noite! – Diz ela ofegante com os braços sobre meus ombros.
- Só uma noite. – Respondo sem desviar meus olhos dos dela.
Ela vira-se sutilmente bem na minha frente, mas suas mãos tem vida própria. A direita segura forte meus cabelos e leva-me ao seu pescoço enquanto a esquerda conduzia a minha mão ao botão de sua calça. A única luz capaz de iluminar nosso escapismo do bar ao lado encontrava-se no alto de um poste no beco onde estávamos que podia iluminar um cartaz de aviso já gasto com o tempo em que estava escrito: “Para o bem de todos, fume apenas fora do estabelecimento”. Para o bem de todos, eu tirei toda sua roupa. Para o bem de todos, eu a deixei louca como nenhum homem jamais deixou. Para o bem de todos aquilo não foi “só uma noite”...
Eu sei, ela tem uma queda por mim pelo menos eu acho que sim, mas eu finjo que nem ligo... (Beee)
O som da clássica MPB ao rádio e o som das várias buzinas de motoristas insatisfeitos ecoavam aos meus ouvidos para me fazer obedecer ao sinal verde e me despertar do caloroso delírio. O jantar para o qual estava indo não seria mais um jantar pacato, seria algo até mesmo um tanto interessante. A estrada era longa, pois um evento como aquele não caberia em qualquer restaurante. Já podia sentir a euforia, uma curva para esquerda, seguida de uma à direita e depois novamente outra à esquerda. As curvas nas ruas eram tantas, quase como nos desenhos de seu corpo. Ah sim, os contornos de seu corpo, levam-me novamente a mais uma bela lembrança.
- Só mais essa vez! – Disse ela com os olhos fechados e deitada na cama com as duas mãos em minha nuca. Os traços de seu rosto pareciam pedir no seu mais profundo íntimo que aquela fosse realmente a última vez e que seu inconsciente não desse mais vazão ao seu desejo recalcado.
- Só mais essa vez. – Respondi instantaneamente sem titubear.
Ela com certeza não é a mulher a qual se mata toda vontade de tomar num gole só e aquela dose num quarto com luzes de neon e um espelho sobre nós não seria apenas uma saideira. É como uma dança e é preciso saber os passos certos para acompanhar a música. Eu não vou negar, tudo aquilo te deixa duro como concreto, mas não pode-se ir rápido demais logo de cara, não. Depois da troca de beijos meus dedos no queixo dela viram sua face para que minha boca chegue ao ouvido e eu possa sussurrar e morder de leve sua orelha, à partir dali é um jogo de deslize dos meus lábios. Começa bem atrás do lóbulo e vai descendo pelo pescoço, perpassando seus seios e só então chega nos seus pequenos e grandes lábios para permanecer entre suas pernas até fazer ela jorrar de desejo...
Não, eu não vou bagunçar minha paz nem a dela e a do seu rapaz, mas viver é um perigo, afinal somos ambos casados amamos nossos namorados isso não dá pra mentir... (Toc toc)
- Senhor, posso manobrar o seu carro?
A batida do atendente do restaurante na janela de meu carro parou a música e impediu a continuação de mais um delírio, eu tinha chegado a um cinco estrelas. E como eu disse aquele não seria um jantar qualquer. Minha mensagem já havia chegado ao celular de quem havia me convidado. E lá dentro eu já conseguia ver a mesa onde estavam sentados.
- Jason, sempre atrasado. Não sei como pensei que poderia ser diferente. – Falou um velho amigo em um tom descontraído.  
- Você me conhece, Arthur. Não seria eu se fosse pontual. – Respondi com um sorriso no rosto.
- Acho que você se lembra da Rúbia Klein, minha noiva. Não cheguei a te apresentar direito no último churrasco.
E lá estava ela. Arthur poderia até mesmo achar que não, mas eu a conhecia melhor do que ele poderia imaginar. Nessa altura não conseguia tirar meus olhos daquela mulher de cabelos ruivos, pele lisa com a boca fina e seu nariz reto e curto. Bem apertada num vestido vermelho decotado calçando um stilletto preto ela levanta-se para me cumprimentar.
- Oi! A Adrielle não vem? – Perguntou ela meio desconcertada e ao mesmo tempo dissimulada.
- Ela não tá passando muito bem, preferiu ficar em casa.
- Entendo!
- Bom, acho melhor nos sentarmos e pedirmos logo a comida. – Comentou Arthur.
ACAME-SE agora mesmo, meu amigo leitor. Se chegou até aqui pelo menos me dê uma chance de me explicar e terminar esta crônica de forma decente. Não peço perdão, apenas compreensão. A vida não é feita apenas de bem e mau, sempre haverá nuances, ela é mais complicada do que imagina. Sou um simples ser humano como você, sempre amo aquilo que desejo e desejo sempre aquilo que não tenho. E nesse jogo envolvendo prazer e realidade, fica mais do que óbvio qual dos dois sempre escolhemos. Nunca é fácil escondermos nossos conteúdos recalcados o tempo inteiro. No máximo lutamos para nossos atos falhos se expressarem em nossas vidas o menos possível, mas acredito que possamos concordar em pelo menos uma coisa, aquele jantar é uma prova clara de nossa pulsão de morte, minha e dela.
Como eu queria rasgar aquela roupa e coloca-la em cima da mesa derrubando todas as taças e pratos à revelia de tudo e de todos. Relembrar nossas noites, fazê-la perder o ar e escutá-la ofegante, sentir o seu cheiro e me perder nela em um movimento único enquanto eu a transpasso de novo, de novo e de novo.
Não posso lhe contar como irá acabar, nem mesmo eu sei. Não espero que termine em um verdadeiro caos ou também em uma harmonia perfeita, espero apenas um equilíbrio entre todos os passos dessa dança e em todas as notas dessa música enquanto ela durar. Até lá, sigo cantando:
Então, quando às vezes a gente se vê eu disfarço meu louco querer e ela finge que nem imagina.
Don Draper


vermelho.


 rompi minha timidez. tô aqui e te chamo:
vem.

3 brahmas da minha parte e 5 carambas ou cacíldes da sua.
só isso para já estarmos na sua casa perdendo as roupas até o quarto? somos a piada mais sem graça que existe.
caralho, não vou ser completa enquanto não foder com essa mulher.

coração disparado como se fosse o desfile desse ano da mangueira. respiração ofegante como se corresse uma maratona de 10km. mente pifando como se tivesse fazendo uma questão de log.
é o álcool ou você?

sua língua se encontra no meu pescoço e eu juro que nem sei mais meu nome. minhas unhas se encontram na suas costas e eu juro que nem sei se preciso lembrar como me chamo.

sua cama. meu deus eu me sinto como se uma astronauta pisando na lua. vitoriosa.
você me pergunta se eu tenho certeza.
contanto que você não pare de gemer eu tenho certeza de tudo.

seus dedos tremem enquanto tira minha calcinha. eu mordo seu ouvido enquanto tiro seu sutiã. consigo lembrar de letrux no começo da noite cantando e concordo com ela.
bota na tua cabeça que isso aqui vai render.

um.
dois.
essas foram as vezes que eu fui pro céu e voltei enquanto você colocava
um.
dois.
dedos em mim.
vai,
volta,
vai,
volta,
vai,
volta,
volta.

agora a vizinhança toda sabe seu nome. faço questão de fazer das suas costas um quadro com marcas. tenho um inquietante alívio entre minhas pernas.

explosões. fogos de artifício. acho que o flamengo fez um gol. acho que você fez um também.
goleada. ainda bem que sou flamenguista. ainda bem que tenho você.
                                                                                                                       Ben.

P.A

     A cada 5 segundos, ela se contorcia e soltava sons inapropriados para alguém no meu estado. Seu corpo era um violão e eu o dedilhava na espera de sons desritmados. A cada toque e ela reagia com uma música para os meus ouvidos. 
    As gotas de excitação aumentavam de 20 em 20 a cada centímetro que eu diminuía da nossa distância. Meu cérebro parecia estar desoxigenado e meu coração acelerava 15bpm a cada vez que seu olhar penetrava meu corpo e me despia de qualquer timidez e racionalidade. A sensação térmica era algo incalculável, eu diria que estava no inferno, mas, CARALHO, que paraíso de inferno.
   A cada 10 minutos ela me fazia ter sensações que eu não costumava ter em 60. O tempo era paradoxal: 10 minutos em 60, 60 minutos em um piscar de olhos. Falando em piscar de olhos, eu não parava de fazê-lo, parecia alucinação o jeito que ela assumia o controle acelerando e diminuindo o ritmo, me fazendo perder qualquer sinal de controle do meu próprio corpo. 
   Ela era a mulher mais bizarra que já tinha visto completamente nua na minha frente. Me instigava com qualquer parte do corpo que eu olhava. Tentei desviar a atenção de sua silhueta, porque isso só me provocaria mais. Olhei, então, pro seu rosto e, puta que pariu, ela era linda, ainda mais mordendo o lábio inferior que se abria entre gemidos. Resolvi encará-la de frente e percebi que eu estava fudido, em todos os sentidos da palavra, afinal, eu era só mais um P.A pra ela.

Desceu Quadrado
Quando eu o tinha, gostava de beijá-lo de baixo a cima, gostava de ver seus olhos revirando e seus pêlos se ouriçando.
Quando eu o tinha, achava fofo os barulhos que ele fazia e como se contorcia quando passava as unhas pelas suas costas.
Quando eu o tinha, gostava de deixar sua mão correr livre enquanto me derretia e até sobrar apenas o pesado ar da excitação na boca semiaberta.
Agora que não o tenho
Ainda gosto de beijar de baixo a cima, ainda gosto de ver olhos revirarem e pêlos se ouriçarem.
Agora que não o tenho, ainda acho fofo os barulhos que fazem a cada efeito do toque, ainda gosto de deixar mãos correrem livres e me derreterem.
E digo mais, descobri que gosto de ficar por cima, de arrancar gemidos a base da mordida, gosto daquela música que eu nem tava prestando atenção (mas que dá o clima), gosto de acender a luz. Desinibida.
Agora que não o tenho, percebi que ME tenho. Tudo é meu. Tudo vem de mim. E posso ter tudo de volta no simples acionar do telefone, dizendo "ta afim?"

Bluesgirl

  Manuel, homem valoroso. 

 As piores mesas tinham sido reservadas, e no restaurante mais barato possível.,isto é, nesses de quatro estrelas. Maria estava inconformada com aquele lugar do qual seu marido a tinha trago. Ah, o mundo não vai acabar, Maria! Disse o homem, com quem estava casada a vinte anos. Não é o fim do mundo, mas prova o teu carinho por mim, nenhum. A situação ficou mais complicada quando a garçonete pediu a gorgeta para Manuel. Logo se vê que frequenta muito esse lugar, né? Perguntou Maria. Mas é claro que não,disse Manuel. Ela veio tão certa de que ia ter a melhor gorjeta da noite?! Deixa de ser louca e de ver coisa aonde não tem.
    Os dois saíram do restaurante e pegaram o primeiro táxi que avistaram. No caminho,Maria perguntou:- Você está me traindo com aquela mulher do restaurante,fala agora que eu relevo. Mas é claro que não, chega! Você é louca , uma louca de pedra, uma louca lunático. E assim os dois continuaram a discussão pelo caminho. Valeu,meu camarada., disse Manuel ao motorista ao se despedir. Sua esposa o olhou e disse:- eu não acredito que você me levou no mesmo táxi que transporta sua amante.,disse boquiaberta. Você é louca.
    Ao chegar em casa a esposa pediu desculpas, estava arrependida, pois pensou que conhecia muito bem o olhar do marido. Tudo bem, mas só desculpo mesmo, se me deixar ir comprar algo para nós comermos, porque pela briga não jantamos. Tá, mas volte rápido. Despediram- se com um beijo.
O marido voltou ao restaurante com o táxi que o havia trazido até em casa e pediu para falar com a funcionária Gracy. Oi, linda! Cumprimentaram-se com um beijo na boca. Você deu muita bandeira hoje,minha esposa desconfiou. É que eu estava com tanta saudade e você que pegou de surpresa a trazendo até aqui., disse a amante dando um tapinha em seus ombros. Enquanto isso, Maria estava em casa triste, se perguntando porque não acreditou no tão fiel Manuel.
Levi Silva

Com adrenalina é mais gostoso

Na terça Pedro chega na casa de Gabriela para irem juntos ao treino de handebol do
time da UFF, enquanto esperava no portão ele não conseguia disfarçar o que estava
sentindo, as pernas balançavam sem parar, a boca seca e o coração mais acelerado do que
nunca. Até que Gabriela abre o portão, entra no carro e com um sorriso no rosto
cumprimenta Pedro.
Seguem até o treino e no caminho falam de diversas coisas até que ela pergunta se
Pedro já namorou e ele freia bruscamente sem ter um motivo exato, os dois com os olhos
arregalados se entreolham e seguem em silêncio até a hora que descem do carro e ela
agradece pela carona. Ele acaba não conseguindo treinar por estar se sentindo mal mas
espera até o final pois tinha prometido que a levaria em casa.
O treino acaba e como de costume, o time vai até a lanchonete do Seu Luís tomar
um açaí, Pedro se sente melhor e resolve contar para Gabriela que está gostando dela mais
do que gostaria, ela apenas dá um sorriso e diz que é recíproco junto a um selinho roubado.
Pedro começa a suar e sua boca seca mais uma vez e a galera percebendo o jeito que ele
olha pra Gabriela aproveita pra tirar um sarro dele.
Já no caminho de volta, Pedro consegue soltar algumas palavras e já vai direto ao
ponto, diz que tem vontade de beijar Gabriela e ela não consegue fazer nada além de dar
um sorriso meia boca. Quando chegam no portão e vão se despedir, Pedro toma a iniciativa
e ao invés de apenas um beijo no rosto, a puxa pela nuca e lhe dá um beijos desses que só
de olhar dar um calorzinho, sabe? O clima vai esquentando, Pedro coloca a mão na coxa de
Gabriela e o clima esquenta mais ainda, Gabriela passa para o banco de trás do carro
deixando Pedro por cima e nesse ponto o clima já está mais quente que o Saara.
Gabriela pergunta se Pedro é virgem e sem tem camisinha, ele responde que sim e
pega o preservativo no porta-luvas. Ela continuou sem saber a resposta e Pedro partiu para
o “ataque” mostrando que não sabia muito o que estava fazendo, ela percebendo que as
mãos dele suava e que estava um pouco tanto rápido demais, tentou acalmá-lo e pediu
para ele deitar no banco enquanto ela ficava por cima, com as mãos no peito de Pedro,
movimentos lentos e olho no olho, Gabriela sussurra que é a primeira vez que está fazendo
isso, Pedro dá um sorriso de leve e diz que é a dele também. Gabriela se referia ao carro, já
Pedro…
Os dois ouvem um barulho mas não se incomodam e continuam o que estão
fazendo, logo em seguida uma batidas no vidro do carro e uma voz grossa e com raiva diz
“Que putaria é essa na porta da minha casa? Vão balançar carro em outro lugar”.
Por sorte, o carro possui insulfilm e não é possível saber quem está dentro. Gabriela
com as mãos ainda no peito de Pedro, sente seu coração mais acelerado que escola de
samba e sai rapidamente sussurrando quase gritando “É meu pai, é meu pai!”. Pedro
parece que já não respira e está tão vermelho que parece que vai explodir. Os dois vestem
a roupa rapidamente enquanto não param de olhar o pai de Gabriela do lado de fora de
braços cruzados, eles não sabem o que fazer e Pedro acelera o carro e bate na árvore da
esquina. O pai de Gabriela vai até lá e agora, eles não vão ter pra onde correr.
Lua Morena

O calor do Corpo

Era chegada a hora. Sentia-me como na primeira vez. Os sentimentos e  vontades a flor da pele. Só você e ela. Juntos. Era impossível não sentir aquele nervoso antes de começar. Frio na barriga, poucas palavras eram ditas, mas sabíamos exatamente o que devíamos fazer, nos aproximávamos devagarinho e começamos a sentir um ao outro.
Sinto sua textura de pele. Seus cabelos ao longo do pescoço e costas. Únicos. Ao mexer em seus cabelos era impossível não notar o doce perfume; ahhh... até agora consigo senti-los. Sem que antes pudesse reagir sua mão me pegava forte pelos braços, e quase que num golpe de judô era jogado sobre a cama. Não pude resistir e logo em seguida usando minha força a segurei firmemente, e uma de minhas mãos em sua cintura que a agarrava fortemente, como um leão agarrando sua caça para que ela seja incapaz de se mover.
Joguei-a na cama, assim como ela fizera. Sem hesitar nos beijamos, de tal forma que não parecia que teria fim. Ambos estávamos usando a força mais do que seria necessário. E quase que em sincronia nossas mãos viajam pelo corpo um do outro. Em pouco tempo as vestes que ainda tínhamos até esse ponto já estavam no chão, jogadas de qualquer maneira.
Fortes respiradas. Ofegantes. A temperatura do quarto aumentava drasticamente. Não pensávamos em mais nada. Só um no outro. Assim como nossos antepassados selvagens, gritos de prazer e atos de força dominavam a situação e nossa racionalidade e pensamentos pareciam sumir, só agíamos. Satisfação. Por fim, acabados quase que como um finalista olímpico de atletismo. Falamos pouco. Só queríamos um tempo pra respirar um pouco. Assim, devagar, a temperatura do quarto foi voltando ao normal. Estirados na cama. Parecendo duas estrelas do mar.
João Frango

Informalidades


Tudo aconteceu entre as quatro paredes da sala de reunião. Final de expediente. Os corredores vazios. Os cubículos sem sinal de vida com a luz de fim de tarde. Uma ou duas pessoas passando rápido em direção ao elevador com o principal intuito de ir pra casa o mais rápido possível.
Na sala estava ele: o AVÔ. E ele: o NETO.
O primeiro era um homem de cabelos grisalhos, com postura imponente e capaz de desafiar bandos e bandos de acionistas com unhas e dentes sem sequer desalinhar um único fio de cabelo, ou perder a compostura. Era o fundador da companhia. O exemplo a ser seguido de ordem e formalidade. Havia também um boato de que o AVÔ escondia sua fama de mulherengo por trás da carapaça de homem dos negócios. Mas ninguém nunca tinha conseguido arrancar nada que comprovasse ou não a teoria.
O segundo era um jovem pré-adolescente. Tão inseguro que se achava dono das respostas do universo. Um mar de hormônios e contradições que a cada onda, sua inquietação aumentava. Foi justamente o último tsunami que o levou para aquele instante incômodo que ele próprio tinha causado.
Ele: o NETO queria todos os detalhes possíveis de como era uma transa na vida real e ele: o AVÔ, queria desaparecer da sala quando ouviu do que se trataria a conversa. 
O patriarca da família apertou a gravata no colarinho, obrigando todo os poros do pescoço a redirecionarem o suor para outras partes do corpo e se pôs a olhar seu reflexo no vidro fumê da longa mesa de mogno. O AVÔ se levantou, mantendo a postura ereta, e esticou braço até o alto da porta. Pegou o crucifixo que estava preso na parede e guardou na gaveta do aparador. Voltou para seu lugar hierárquico na ponta da mesa e encarou ele: o NETO.
O NETO reforçou que queria saber tudo. TUDO. Sem pôr nem tirar. Ou pondo e tirando com certa frequência, como sua mente ávida em trocadilhos ruins tinha imaginado. Foi então que o homem pensou em todos os eufemismos possíveis para pênis e vaginas, decidindo contar um caso que poderia ser real, ou não, para ilustrar o assunto.
O relato começou com um RAPAZ e uma MOÇA andando de mãos dadas por um jardim. Eles se sentiam muito bem com a presença um do outro. Conversavam por horas e horas afio e o tempo parecia correr mais depressa ainda quando estavam juntos. Pode parar aí. Eu disse que queria saber como é na vida real, não como é na bíblia, ou em filmes de Hollywood. Reclamou o NETO. Então a história mudou. O dia ensolarado com pássaros voando virou uma noite de chuva e relâmpagos. O quarto perfumado e elegante que nem tinha aparecido ainda era um carro velho de duas portas. O RAPAZ e a GAROTA estavam dentro dele. O AVÔ mudou a personagem feminina e disse que eles pouco se conheciam, mas se beijavam no banco de trás. Estavam sentados, virados um de frente para o outro. As mãos inquietas entrelaçavam a cintura da GAROTA e o rosto do RAPAZ. Ele começou a deslizar a mão pelas costas dela em direção ao pescoço. Os dedos percorriam a pele suavemente até alcançarem a nuca, enquanto a outra mão ia em direção a barriga. A respiração da GAROTA tinha ficado mais frequente e ela se aproximou do corpo dele. Nesse momento, as pernas se encontraram e uma também se enlaçou na outra.
Os vidros do carro, levemente embaçados, pareciam ainda mais foscos e apenas o som das gotas de chuvas vinham do lado de fora. Mas dentro haviam ruídos distintos. Um leve som dos lábios da GAROTA, ressoaram do pescoço que ela beijava. Os batimentos cardíacos dele também tinham aumentado. Ela conseguia sentir enquanto deslizava a mão pelo peito do RAPAZ em direção à calça. A GAROTA também sentiu uma onda de calor entrando por debaixo de sua blusa e subindo até o pescoço. O ruído seguinte foi a fivela do cinto dele se abrindo enquanto a segunda onda invadia o corpo dela pelas costas. As duas mãos do RAPAZ então, se encontraram na frente, junto aos seios da GAROTA. Ele não tirou o sutiã? Queria saber o NETO. Ela não estava usando. Completou o AVÔ. Mas podemos fingir que estava, e continuou. Então A JOVEM usava um sutiã. E o AVÔ tinha trocado a personagem outra vez.
A JOVEM usava um sutiã e o RAPAZ tentou abrir. As mãos dele percorreram toda a alça da peça íntima até as costas. Ela ajeitou a postura e abriu um sorriso enquanto olhava nos olhos dele. As mãos dele se posicionaram no fecho e com certa dificuldade, conseguiram soltar os pequenos ganchos que os prendia. O sutiã se abriu e ele passou os dedos suavemente pelas costas da JOVEM até voltar aos seios. Eles eram macios? Interrompeu o NETO outra vez. Claro. Os mamilos dela estavam durinhos, não estavam!? Significa ela tá gostando, né!? Os seus também ficam mais ou menos assim. Concluiu o AVÔ que começava a achar as interrupções cada vez mais irritantes.
A história entre o RAPAZ e a MOCINHA prosseguiu. A chuva do lado de fora tinha diminuído. Uma parte das roupas dos dois estava espalhada pelo carro. Eles tinham se deitado no banco de trás com parte das roupas íntimas ainda presas ao corpo. Assim como antes, trocavam beijos com as pernas entrelaçadas, mas agora as costas da MOCINHA estavam contra o tecido do banco e o RAPAZ deitado por cima dela. Ele vestia apenas uma cueca box muito justa. Tão justa que era possível ver que seu membro estava ereto. Mas e se não estivesse? Uma nova interrupção. Aí eles continuariam se aconchegando até estar, ou tentariam outra coisa. Resumiu o AVÔ. E que outra coisa seria essa? O NETO sugeriu masturbação. O AVÔ apontou que existem outras formas de fazer sexo que não envolveriam penetração. O NETO falou pra incluir isso na história e a cena dentro do carro mudou. A personagem também.
A MULHER estava sentada no banco de trás com as costas na janela. Um dos braços atravessava o encosto. Seu corpo se movimentava levemente, seguindo um ritmo, uma frequência leve. Estava de olhos fechados e os cabelos um pouco fora do lugar. O RAPAZ segurava umas de suas pernas com as mãos, afastando o joelho de perto da cabeça dele. A outra mão, deslizava na direção de um dos seios enquanto ficava com o rosto abaixo entre as pernas da garota, fazendo movimentos contínuos com a língua. Aos poucos, os movimentos abdominais dela ficavam mais constantes e profundos. A MULHER permanecia com os olhos fechados para se concentrar no que estava acontecendo no momento.  De tempos em tempos, o RAPAZ a olhava de baixo, esperando alguma ação, ou indicação do que deveria fazer, mas nada era transmitido para além de uma mistura entre agonia e prazer. Ela apertou o estofado com força e o movimento foi se intensificando. Pediu de forma quase inaudível para que o RAPAZ continuasse o que estava fazendo. Ele a olhou e prosseguiu movimentando a língua no mesmo ritmo em que ela se mexia e na mesma frequência em que seu corpo vibrava, cada vez mais intenso e forte até que o NETO quebrou o clima. Ela ia gozar? O AVÔ brochou e desistiu da história. 
O homem de negócios se levantou e disse para o NETO conversar melhor com outra pessoa sobre o assunto. Alguém mais experiente. Saiu da sala em passos firmes e voltou. Pediu para o NETO colocar o crucifixo no lugar. O jovem se levantou, foi até o aparador e abriu a gaveta. Lá estava o objeto religioso, como era de se esperar e algo mais além dele. Um porta-retratos com uma fotografia em preto-e-branco. Nela, estava ele: o AVÔ e o pai dele: o BISAVÔ. Estavam em frente à uma grande casa elegante com jardim e um carro velho de duas portas. Mas elas não estavam lá. Nem A MOÇA, nem a GAROTA, nem A JOVEM, a MOCINHA ou a MULHER.  Aparentemente só existiam nos boatos sobre o AVÔ e nas histórias que ele “inventava”.
O NETO colocou o crucifixo no lugar e se sentiu orgulhoso com o objetivo cumprido. Boatos não precisam se esconder em posturas imponentes, ou formalidades falsas. A menos que sejam verdade.

P.J. SOUZA



Por volta das 23:00 a mulher chegou à porta do edifício, era uma noite fria e silenciosa típica de uma segunda feira, desembolsou alguns cruzeiros para pagar o táxi e avisou:
- Me espere, não vou demorar, eu acho.
Entrou no Edifício, cumprimentou o porteiro e perguntou sobre seu marido.
- Ele está?
- Sim senhora, na sala dele.
- Ah,sim, ele me disse que faria hora extra, vim fazer uma visita...
Dirigiu-se ao elevador, e entrou, para se encaminhar ao vigésimo quinto andar. Chegando lá, entrou no escritório e em seguinda se encaminhou para a sala de seu marido, com uma sensação do que encontraria lá.
Chegou à porta, e, ao abri-lá, a sensação se transformou em certeza.
- Ora, ora, interessantes essas suas horas extras...com a secretária!
O casal de amantes, inicialmente, ficou supreso, e até então emudecidos.
- Mais você é muito patético!, ha!, caso com a secretária, que previsível!, sempre as secretárias, as acompanhantes, sempre precisando de alguém pra te fazer se sentir importante, desejado, porque no fundo você sabe que é uma merda! Que só possui esse cargo porque se casou comigo, porque meu pai era dono deste escritório, porque sem mim você e aquela trupe que você chama de família estariam na lama!, quer dizer, mais afundados na lama do que já estão, devendo até o último fio de cabelo!
O marido, irritado, retrucou:
- Pois saiba que seu pai praticamente me implorou para me casar contigo, pois a filhinha dele espantava qualquer pretendente, e depois de um tempo de convivência eu entendo o motivo: Você é frígida, fria, seca, parece que nunca foi feliz, que é incompleta, é tão negativa quanto um cemitério!
A mulher, um tanto desconcertada, respondeu:
- Nunca fui feliz com você! É incompetente até nisto, o ofício de fazer alguém feliz, coisa que qualquer cachorro vira lata faz a um mendigo!
- Você não é feliz nunca, é amargurada, é um cemitério em forma de gente, pois que procure um marido coveiro!
- Tratarei de providenciar isso. Mas, primeiramente, pretendo achar um novo advogado tributarista, pegue seus trapos e fora daqui. E não precisa se preocupar com as coisas que estão em casa, o que não serviu para a caridade servirá para os lixões. Fora daqui, agora!
A secretária acompanhava a briga, isolada em sua mudez e submissão
- Fora daqui, seu verme!, seu imundo! Meu assunto agora é com ela - E apontou o dedo para a secretária.
O marido, prestes a sair, parou e falou uma última vez com a mulher:
- Você é insuportável, nem sequer um cão sem dono lhe faria companhia, ele farejaria sua amargura! Adeus, sua mocréia!
E a porta bateu.E se bateu!
- Bem... - Iniciou a secretária
- Bem?
- Olha...
- E eu olhei, eu vi, mas primeiramente eu entendi, eu relacionei. Eu parei e pensei: "Será que as horas extras de meu marido têm relação com a avó de sua secretária, que sofre de glaucoma e precisa de muitos cuidados?" Bem, a situação fala por si só!
- Eu me apaixonei...
- Eu também, por você, e você faz o que? Me abandona, me troca por aquele bosta, subestima minha inteligência com essa desculpa ridícula! Eu só vim até aqui por que eu sabia que era você!, eu queria ver o que você tinha para me falar diante dessa situação...
- Eu queria pedir desculpas, mas eu não estou errada
- Eu estou errada, porque confiei, porque gostei de você.
- Vou arrumar minhas coisas
- Não precisa.Você fica! Porém no escritório, não na minha vida.
- Espera...
- O táxi está me esperando...
E saiu.

Máximo