Brigas
Já era comum que as tardes, na minha rua, fossem um pouco
mais agitadas. O grande motivo para que o agito acontecesse, era morar na mesma
rua em que Vera e Jorginho moravam.
Os dois residiam bem em frente à minha casa, tinham dois
filhos e uma relação pra lá de conturbada.
Jorginho nasceu e foi criado na mesma casa, Vera se mudou
um pouco depois, logo após o casamento – época em que eu nem sonhava em nascer.
De acordo com o que comentam, ambos sempre gostaram de
beber, mas depois do nascimento dos filhos e as dificuldades da vida
matrimonial, esse hábito se intensificou. Atualmente os dois eram alcoólatras e
consequentemente, se encontravam sob o efeito da bebida na maior parte do tempo.
Naquela tarde, em pleno agosto de 2010, o rebuliço que
eles causaram foi um tanto peculiar: além da briga, teve uma batida!
Lá pelas cinco da tarde a barulhada começou: coisas
certamente estavam sendo arremessadas naquela casa vizinha.
Cheia de curiosidade para saber o que se passava, abri o
vidro da porta e observei tudo o que acontecia na residência em frente à minha
Eram os dois, sempre eles, reverberando palavrões, um
contra o outro
– Uma puta! É isso que você é!
– Vai tomar no cu, seu maluco!
– MALUCO? Você pensa que eu não sei que você tá dando pra
Jair?
Danou-se! Jair era o outro vizinho, que morava na casa ao
lado da deles... Diferente de Jorginho, ele era verdadeiramente gentil com
Vera, mas era casado com a mulher mais antipática do bairro – aquele tipo que nunca
socializa com a vizinhança.
– CALA A BOCA, PORRA! Você ainda vai acabar encrencando
os outros com as suas maluquices!
– Os dois estão me tirando por palhaço e eu não posso dizer
nada?
E foi nessa hora, em meio às acusações, que o suposto
amante atravessou o seu portão e o suposto corno o chamou para perto.
– Chega aqui, Jair! Tenho uma proposta pra te fazer...
Dava para perceber Vera estática, observando o que o
marido aprontaria dessa vez...
Jair se aproximou do portão dos dois, sem entender muito
bem o que estava acontecendo e o bebum, segurando a esposa pelos ombros,
disparou:
– Tô sabendo que você está interessado... Quer pra você?
Troco por três bojudas.
Agora foi demais! Vera sacudiu os ombros para tirar as
mãos dele de cima, entrou em casa, pegou uma cadeira e mandou ver nas costas do
marido – que à essa altura, gritava de dor, tentando se desvencilhar, mas era
tão magro, que não tinha muita condição de pará-la.
Depois de dar a surra de cadeira em Jorginho, ela abriu a
garagem, gritando que estava cheia de tudo e que iria embora, definitivamente.
Pegou o calhambeque, acelerou, mas na hora de virar, o
esperado – já que era uma bêbada dirigindo – aconteceu: a manobra não saiu como
o previsto, ela invadiu minha calçada, batendo na nossa lixeira de ferro.
Abriu a porta do carro, xingando mais ainda, com os olhos
arregalados e um temor latente: a língua da minha família
Assim que a barulheira invadiu nossa casa, minha mãe saiu
à toda para verificar o acontecido
Agora que a coisa ficaria feia, entraria uma escandalosa
de carteira assinada no meio da discussão
Mas para minha surpresa, ela até foi calma... Questionou
o que aconteceu e recebeu inúmeros pedidos de desculpa vindo dos dois – que
apesar de perturbarem a paz da vizinhança, não gostavam de jeito nenhum de se
indispor com os vizinhos.
Minha mãe voltou para dentro de casa, parou perto de mim
e disse
– A vida desses dois parece até a história daquela música
do Altemar Dutra, “brigas”.
E de certa forma, era verdade.
Foi em momentos assim que vimos aquela espécie de “amor”
dos dois, agonizar, morrendo um pouquinho mais.
Emma