sexta-feira, 20 de abril de 2018

Diana

Nunca tinha me incomodado antes com o fato de eu estudar em um colégio católico. Os corredores largos, a presença constante de imagens sagradas e a vigilância por parte das freiras, tudo dava à escola um caráter único que me fazia sentir em casa. Na verdade, para mim, que tinha apenas estudado na mesma escola a vida inteira e possuía os mesmos vínculos de amizade de sempre; nunca duvidei do que era ensinado ou repassado aos alunos.

Tudo mudou na minha última semana de férias do ano passado. Meus pais sempre viajam comigo durante o recesso escolar e juntos conhecemos vários lugares bonitos. Entretanto, nesse ano, excepcionalmente, voltamos mais cedo da viagem; porque eles teriam que trabalhar em um novo projeto. Para não me deixarem em casa sozinha, eles resolveram que seria uma boa ideia deixar uma menina de quinze anos em uma colônia de férias repleta de estranhos.

Foi nesse momento pitoresco das minhas férias frustradas que conheci Diana. Filha de dois artistas plásticos, digamos que a criação dela foi um pouco mais liberal que a minha. Isso sem contar que ela não frequentava um colégio católico. Apesar das nossas gritantes diferenças de pensamento nos demos bem logo de cara.

Nunca me esquecerei da nossa primeira discussão. Parecia uma feira. Berros, xingamentos, chororô. Quinze anos não é uma idade muito madura para discussões, ainda mais de um assunto tão sério como a legalização do aborto. Nenhuma das duas parecia saber como estruturar bem o próprio argumento, mas sabíamos nossa posição: eu contra, ela a favor. Brigamos feio. Ela disse que tudo era culpa do meu ensino e de como eu estava sendo manipulada pela Igreja. Chorei muito. Achava que possuía meu próprio ponto de vista e que não tinha nada a ver com a moral cristã. As férias chegaram ao fim juntamente à minha amizade com Diana.

Quando meus pais vieram me buscar, eles trouxeram uma surpresa. Haviam sido promovidos por conta do novo projeto e por isso teríamos de nos mudar. Mudei de escola, amadureci, abri minha mente (deixei de apenas reproduzir a fala dos meus pais) e entendi que a legalização do aborto traria menos mortes às mulheres, principalmente as mais pobres. Tudo isso começou porque eu discuti com a Diana, e se algum dia eu encontrá-la de novo, quero debater mais assuntos com ela.

Por Lilac Sky.

Vitória da razão

Arthur era apenas um jovem de 16 anos, tinha  problemas em casa, a relação entre seus pais já havia o desgastado muito. A rotina de ver o pai chegando em casa bêbado e batendo em sua mãe o fez tomar decisões por impulso. A maior delas: fugir de casa.

Vagando à beira de uma estrada, via os carros passando em alta velocidade e só pensava em quantas pessoas haviam passado por ali naquele curto espaço de 10 minutos. Ele não tivera contato com aquelas pessoas, tinha sido separado delas pelo insulfilm escuro dos carros. Ninguém parou pra oferecer ajuda ou para entender porque um jovem andava sozinho em uma rodovia às sete horas da noite. Afinal, era só um adolescente. “Eles fazem essas maluquices” comentou uma senhora com seu marido enquanto dirigia para a praia na cidade ao lado.

No horizonte, Arthur viu algo incomum. À exceção das sombras de carro passando, surgiu uma figura diferente. Uma bicicleta se aproximava pelo acostamento. Ao chegar mais perto, o jovem reparou que era uma figura feminina, que diminuiu a velocidade e parou ao lado dele. Rapidamente encostou a bicicleta, saltou para fora do banco e foi em direção ao garoto.

– Que bom que não foi muito longe– disse a ruiva com traços de preocupação

– Quem é você? – o jovem questionou 

– Posso ser sua salvação ou a âncora que te jogará pra baixo.

Como é surpreendente o acaso. Arthur sempre viu as mulheres como frágeis, submissas à força masculina. E quem estava lá no momento que ele mais precisava?

– Você não pode desistir deles, são a sua família.

– Eles nunca deram o que eu merecia, estou melhor sozinho.

– Você não vai sobreviver sem eles, você nunca teve essa capacidade.

– Cansei de ver minha mãe sofrer. Prefiro me afastar e ser feliz.

– Então no momento que ela mais precisa, você vai abandoná-la? Eu sei que você a ama!

– Amo minha mãe, mas não aquele diabo que está com ela.

– Então volte pra casa, ajude-a, proteja-a.

–  Você tem razão, preciso dar um fim a isso. Posso pegar sua bicicleta? Vamos juntos.

– Sim.

E foi assim, entre as luzes dos faróis, que Arthur percebeu que deveria voltar, pelo bem da sua mãe. Se viu voltando pra casa. Sozinho. Apenas acompanhado de sua consciência.

Por thecreator.

A minha resistência é o meu diálogo.

Lá vem eles com esse assunto de direitos humanos. É por isso que digo, bandido bom é bandido morto. Olha esse caos, tem que reduzir a maioridade penal. Ah, finalmente Lula preso. Bolsonaro para presidente 2018. Não gosto deles, são pretos. Depois quer reclamar que sofreu assédio, claro, com essa roupa aí. Contei a você que a minha empregada viajou de avião? Só me faltava essa. Pobres e pretos em universidades públicas federais, quando digo que sou contra as cotas é em função disso. Olha que pretinha feia, não é preconceito, só não a acho bonita como poderia não achar uma moça branca também. Esses jovens de hoje estão perdidos, acredita que vi dois homens se beijando na rua? Saudade da ditadura.

Eu penso, respiro e tento dialogar. Pergunto a mim o por que e a eles também. Por que disso? O que os fazem pensar desse modo? Será assim a melhor maneira para se melhorar a nossa situação de hoje? E a educação? Não seria ela a melhor forma de se diminuir a elevação da inserção de jovens no crime ao invés de aumentar a maioridade penal, por exemplo? Eu escuto e leio rotineiramente que não e todos os dias me conformo um pouco de que dialogar é um trabalho senão impossível, um dos mais difíceis.

Ser jovem, mulher, filha de pai preto e estudante de faculdade pública me faz ser para os outros não a Ermyniana Valente, mas sim, um indivíduo no qual é doutrinado a cada aula que assiste. É o que escuto. Teria eu então, uma incapacidade de formular as minhas próprias opiniões e somente ter capacidade de reproduzir as quais escuto? Pergunto-me isso todos os dias. Imagino que o exercício de dialogar esteja me deixando louca ou quase isso. É difícil, é doloroso e às vezes como disse, parece impossível, mas resisto. Resisto no grupo de WhatsApp e resisto em uma conversa num bar com os amigos. Eu apenas sigo resistindo.

Por Ermyniana Valente.

A luta para ter o que já se possui

Estou indo a um show de uma banda que eu gosto muito agora. Tenho que enfrentar trem e BRT até chegar lá, e como ambos estão cheios vou o caminho todo em pé. Há pouco entrou uma menina no vagão e ela levantou o braço pra segurar na barra, no momento desse ato pelo menos três pessoas a encararam com cara de desdém, inclusive meu amigo.

"Nossa mano, que nojo", ele disse. Retruquei que eram apenas alguns pêlos e não tem absolutamente nada demais nisso. Meu caro amigo machista não se conteve e continuou o assunto com comentários inconvenientes como "mas ela não tem a mínima higiene" ou "se aí está assim, imagina lá em baixo". Perdoe a linguagem exdrúxula, mas para fins de verossimilhança eu precisava reproduzir isso aqui.

Chegamos ao show, esqueci de mencionar que se trata de uma banda de rock e sem querer reproduzir um estereótipo -mesmo já fazendo-, é óbvio que nos deparamos com vários homens barbudos e cheios de pêlos pelos seus corpos. Nenhum comentário sobre.
A questão aqui é que nem todos temos direito aos nossos corpos e isso não é novidade para algumas que lerão esse texto. Para além de todos os sutiãs já queimados e todos os direitos conquistados o fato é que o mais difícil é mudar a cabeça das pessoas, fazer com que elas compreendam que há uma submissão explícita pairando nossa sociedade e ela vai muito além de uma axila com pêlos.

Você pode estar se perguntando se eu tentei conversar com meu amigo. Bom, nossa discussão chegou até a arena do show, onde eu tentei mostrar que o que começa em hostilidade à um corpo naturalmente peludo, pode passar por mulheres assediadas em transportes públicos até trinta homens estuprando uma menina. Minha argumentação não foi o suficiente e eu sinto muito em informar que você não vive em um mundo um pouco menos preconceituoso agora. E se você for mulher, sinto mais ainda. Eu falhei em tentar fazer você ser um pouco mais, minimamente mais, dona de você.

*Para fins de precaução: vocês não sabem se sou homem ou mulher, não me julguem, bjs de luz

Por Rodrigo M. S.

Calar-me-ei jamais

Era uma manhã de sol como outra qualquer aqui em Recife. Após muitos meses chorando por Eduardo, meu ex-noivo, eu resolvi sair da rotina. Levantei a cabeça e fui pegar um ar numa praça. Foi a melhor decisão que tomei nesses últimos meses. O clima estava fresco, as crianças brincavam, os velhinhos alimentavam os pombos, e os pássaros cantavam numa sintonia indescritível. Havia um lindo beija-flor voando pelas flores. O céu estava muito azul e quase sem nuvens. Eu estava totalmente em êxtase por esse singelo momento, até que fui distraída por um grupo, relativamente grande, de homens fortes e, aparentemente, cheios de si, falando sobre um assalto que tinha acontecido ontem naquela praça.

Confesso que, apesar de gostar de ficar sozinha quando estou triste, naquele momento eu estava decidida a sair do meu estado depressivo, causado pela ruptura inesperada do meu antigo relacionamento. Eu precisava, mais do que nunca, conversar. Sobre qualquer coisa. Com qualquer pessoa. Então levantei e fui de encontro àqueles homens. Cheguei meio tímida dizendo:

— Ei, eu estava ali sentada e ouvi sem querer vocês falando sobre um assalto que rolou ontem. Como aconteceu isso?

Com olhares meio assustados, talvez pela minha audácia de chegar para conversar com tantos homens sendo uma mulher, eles me explicaram o acontecimento. Logo depois um dos caras, levantou seu copo de cerveja e disse, em voz alta:

— Se a gente andasse com arma isso não aconteceria! Não vejo a hora das eleições chegarem. Vou votar no Bolsonaro e tudo resolvido. Vamos poder nos defender desses bandidos.

Naquele instante, parte de mim dizia: "Vá embora! Fuja desses loucos". Enquanto outra dizia: "Debata sobre o assunto! Não vai ser tão ruim". Eu, esperançosa, escolhi meu segundo lado e parti para o debate dizendo, com um tom doce e respeitoso:

— Mas você não acha que, liberando o porte de armas no Brasil, país em que o discurso da massa é: "bandido bom é bandido morto", não iria acarretar em um aumento nas taxas de violência? Inúmeras pessoas poderiam fazer "justiça" com as próprias mãos, gerando um caos na sociedade. Além disso, imagine em brigas de trânsito. Quantas pessoas não poderiam morrer por um simples descontrole emocional que nos leva a apertar um gatilho?

Depois disso, olhares de raiva se voltaram contra mim. Eles começaram a falar alto e ao mesmo tempo. Eu não conseguia entender praticamente nada. Apenas ouvi entre uma fala e outra que "bandido tem é que morrer mesmo" e que "não tem direitos humanos pra marginal". Essa última frase chamou muito a minha atenção, afinal, "marginal" não significa só "delinquente" ou "criminoso", como muitos pensam. Significa, também, estar à margem da sociedade.

Depois dessa tentativa falha de debate, desgastada, fui embora para casa. No caminho, percebi que o clima já não estava mais tão fresco. As crianças não estavam mais brincando. Não haviam mais velhinhos alimentando pombos. Os pássaros se calaram. As nuvens não paravam de chegar. O azul do céu se foi, e o cinza tomou conta. Era como se tudo estivesse manifestando luto em respeito à dignidade humana. Então fiz o mesmo. Vesti uma roupa preta e estampei um rosto amargurado, mas não me calei. Fiz um minuto de silêncio, respirei, e fui para as ruas lutar pelo direito à vida. E mesmo que tudo indique que vai dar errado, calar-me-ei jamais.

Por Andrea Melo.

Boa intenção pela boa intenção

A boa intenção é sem dúvida um dos conceitos mais complicados da história do universo. Deve ser também um dos conceitos mais alterados conforme o tempo. Por ser abstrato, mas também por ser difícil de lidar. Afinal, bem intencionado somos nós. Ele e aquele são opostos, logo, o mau caratismo os domina, certo?

O passar dos séculos faz pautas mudarem. E aquilo que hoje é absurdo, antigamente aceito. E pode apostar, na época tava todo mundo bem intencionado.

Mas se pautas mudaram, o que não mudou foi o ato de descartar a opinião contrária.

Debate nunca existiu. O que sempre existiu foi a necessidade de se auto proclamar como o lado correto da história. A todo tempo, em nome da boa intenção.

Benditos sejam aqueles que dão o braço a torcer, mesmo que de maneira oculta. Já é um ato nobre. Até porque, reconhecer que mudou sua percepção durante uma discussão é humanamente impossível. É mais fácil sustentar uma tese ATÉ O FINAL apenas por considerar mudar de opinião uma atitude pequena.

Querendo ou não, é algo que nunca vai mudar. Verdade absoluta pela verdade absoluta. Discussão pela discussão. Boa intenção pela boa intenção.

Por Almirante João Cândido.

Mérito para quem?

Segunda-feira. 5 horas da manhã. Minha mãe bate na porta do quarto: “João, acorda! Você vai se atrasar. O café tá pronto. Tá em cima da mesa. Tô indo. Beijo”. Abro os olhos lentamente, não havia dormido quase nada aquela noite, fazendo o trabalho da faculdade. “Anda, João. Levanta. Toma um banho. Bebe seu café. Acorda pra vida, garoto. Você não pode se atrasar no seu primeiro mês no novo emprego”, falei para mim mesmo, tentando me animar.

Moro numa favela na Zona Norte do Rio de Janeiro. Estudo Direito numa Universidade Federal da minha cidade. Comecei semestre passado. Mas como minha família é pobre, também tenho que trabalhar para ajudar em casa e financiar meus gastos com os estudos. Trabalho num escritório no centro da cidade como auxiliar administrativo. Acordo todos os dias às 5, trabalho  até às 4 da tarde, depois vou para a faculdade. Só consigo estudar de madrugada. É cansativo, mas vai valer a pena. Quero ser defensor público para ajudar os meus.

Descendo a favela, paro na banca de jornal: “Jovens de classe média são presos com cerca de 350 quilos de maconha e pistola”, na capa do Extra, “Jovem de classe média é preso em flagrante por tráfico de drogas na Zona Sul”, no Globo. Só rindo. Se fosse na favela, era traficante.

Até que enfim, acabou mais um dia de trabalho. Foi tranquilo, mas cansativo. Corro para a faculdade. No meio da aula de Direito Civil, começa uma discussão sobre meritocracia. A maioria dos meus colegas de turma tem uma situação financeira bem melhor que a minha. Estudaram em escolas particulares, não precisam trabalhar, viajam todo ano.

- “Hoje em dia, tem muitas oportunidades para todos, só não vence na vida quem não quer”.

- “Você faz estágio na empresa do seu pai, Humberto”.

- “E daí? Se meu pai tem uma empresa é porque ele trabalhou muito para conseguir isso. As famílias não vêm do nada. Meu avô era pobre”.

- “Eu concordo com o Humberto, professor. Silvio Santos era quem na fila da vida, galera? E hoje ele tem tudo, tudo que ele conquistou com esforço”.

- “Não é bem assim que funciona, pessoal. A vida não é fácil para todo mundo. O que uns trabalham que nem um fdp pra ter, outros ganham sem nenhum esforço. Por isso, meritocracia é balela. Não vê o João? Para ele, é muito mais difícil se manter na faculdade do que para nós. ”

- “Ele tá aqui, não tá? Tendo a mesma oportunidade que a gente. Isso porque ele se esforçou, enquanto outros não querem nada e vêm com esse papinho. Isso é conversa de quem quer tudo fácil na vida e acha que o mundo lhe deve alguma coisa”.

Eu permaneço calado e com vergonha, mesmo quando citam meu nome. O professor interrompe o debate, quando a discussão começa a sair do controle. “Para a próxima aula, leiam o primeiro capítulo do livro do Foucault”. Eu arrumo minhas coisas, e vou apressado para casa. Quando desço do metrô, ouço barulho de tiroteio vindo da favela onde moro. Pego meu telefone: “Mãe, vou ver se eu durmo na casa de um amigo hoje. Tá perigoso aí, não tá? Fica com Deus. Não chega perto da janela. Amanhã, antes do trabalho, passo aí pra ver como a senhora está”.

Por Kunta Boyd.

Eu cresci

“Princesinha do Papai”. Desde pequena, sempre fui chamada assim, não só pelo meu pai como por todas as pessoas próximas de nós. Cresci rodeada de amor, carinho, cuidados e, devo admitir, sendo mimada. Entretanto, nunca foi uma proteção exagerada que me privava de certas coisas, assim como eu via acontecer com amigas minhas. Eu tinha a liberdade de ter as minhas próprias experiências, ter as minhas escolhas e aprender caindo, literalmente.

Só que um dia, eu cresci. Quando completei os meus 16 anos, nossas incompatibilidades começaram a aflorar. Ele, com aquele jeito bem autoritário, criado em família conservadora, e eu, com uma personalidade forte, que sempre ia em busca do que desejava. Nós discordávamos bastante, nos mais diversos assuntos, mas eu acabava sempre cedendo, já que ainda era menor de idade e estava sob a tutela dele.

Dois anos se passaram, finalmente a maioridade chegou. A partir dali, estava decidida que, apesar de nunca faltar o respeito com meu pai, iria atrás do que eu queria, por mais que ele não concordasse. E foi assim. Nosso primeiro embate foi quando eu quis tirar carteira de motorista. Ele, que sempre gostou de carros, passou a vida inteira me falando como é bom dirigir e como devemos ser sempre independentes. No entanto, quando eu quis tirar habilitação, eu ainda era “muito jovem e imatura” para isso. “Imagina as pessoas vendo uma menininha como você dirigindo sozinha, será um perigo! ”, ele dizia.

Depois dessa, vieram mais algumas discussões em que a resposta era sempre “você é muito nova”, “não vejo necessidade” ou “você não precisa disso”. Devo dizer que, de certa forma, entendo as preocupações dele. Com a situação de violência que vemos o nosso país e, principalmente, a nossa cidade, é natural que um pai fique preocupado com a sua filha pelas ruas sozinha. Entretanto, esse é um passo que devemos passar em certo momento da vida, faz parte do crescimento.

Por conta disso, passei por cima das opiniões do meu pai e resolvi crescer, sem a permissão de alguém, apenas por conta própria. Tanto nesse caso da carteira de motorista, quanto em tantas outras. Mas nunca nos faltou amor para conseguirmos passar por cima das nossas diferenças e continuarmos juntos, coisa que falta para a grande maioria das pessoas com ideias opostas. Discussões são naturais e até são boas para o nosso crescimento pessoal. Acabar uma amizade ou quebrar um laço familiar por conta de desavenças, como temos visto acontecer com frequência nos últimos tempos, só vai nos trazer perdas.

Por Frozen Elsa.

Eu espero que você nunca precise.

Legalização do aborto. Esse tema sempre foi difícil para Carolina digerir, na verdade, ela nem tentava digerir. Certo dia, em que estávamos sentadas no refeitório da escola ela viu uma post no Facebook, onde a autora em questão, defendia a liberdade de escolha para mulheres que decidissem pelo aborto. Carolina fechou o aplicativo e quase quebrou o celular batendo com ele na mesa.

- O que houve Carol? – Perguntei despretensiosa.

- Como alguém pode defender matar uma vida? Se teve disposição para abrir as pernas, tem que ter para manter a gravidez.  – Ela bebeu um gole de seu suco.

- Mas você não acha que a mulher pode escolher por prosseguir ou não com a gravidez? Afinal, o corpo é dela antes de tudo. Fora a questão financeira... Nem todas têm a condição de criar uma criança que não foi planejada.

- Ué, pensasse nisso antes! Eu não acredito que você defende o aborto, Jéssica! – Eu quase poderia jurar que ela sentiu nojo de mim naquele momento.

- Eu não defendo o aborto, eu defendo a legalização. Clínicas especializadas para que mulheres pobres tenham as mesmas condições das ricas. Até porque estas abortam e ninguém fica sabendo. – Carol pareceu refletir, mas não da forma que eu esperava.

- Era só o que me faltava... Agora você acha que o SUS tem que prover isso? O mundo está perdido mesmo. Eu nunca vou mudar minha opinião, isso é monstruoso e desumano.

- Olha Carol, eu espero que você tenha condições de ajudar cada mãe e cada criança que vive na miséria. E eu espero que você nunca precise.

Carol bufou e terminamos de comer em silêncio.

Por Dandara Davis.

Querido diário

Querido diário,

Família é uma coisa engraçada, né? Pelo menos a minha. Mas nem sempre no bom sentido da palavra. Meu tio, por exemplo, é empresário, casado e tem dois filhos lindos, o Henrique e a Helena: a família Margarina Albuquerque. Minha mãe, ao contrário, não tem nada disso, é empregada doméstica, divorciada e com quatro filhos para criar sozinha: a família Albuquerque.

Sempre fui a mais estudiosa dos meus irmãos, mas o meu tio sempre faz questão de me lembrar que pobre não devia pensar em faculdade, isso seria perda de tempo porque a gente precisa de dinheiro e, uma hora ou outra, teria que trancar a matrícula. Só que também faz questão de humilhar meus irmãos falando que eles não têm nada por não serem esforçados e interessados o suficiente. Não sei se meu cérebro é limitado, mas não consigo entender essa contradição.

Estudei semana passada no colégio que a igreja sempre foi um dos principais meios do conservadorismo e do preconceito contra culturas e ideologias que não fossem as pregadas por ela. Aí ontem, a mulher do meu tio comentou com a minha avó que João, meu irmão mais novo, está se desvirtuando, tem voz fina e anda com as meninas descomungadas da rua de trás. O desgosto da família. Por isso a família Albuquerque não dá certo: uma estuda, mas quer demais, alguns trabalham e não conseguem estudar e o João, coitado, ateu e gay.

Hoje, antes de vim aqui te contar, parei, sentei no sofá da sala com a Mel, minha cadelinha, e tive um papo racional com ela sobre tudo isso que anda acontecendo. Conversamos e nos compreendemos. Queria sentar no sofá da sala e conversar com meus tios, explicar que o fato de eu sair de casa às seis horas da manhã para ir ao cursinho popular e ter interesse em ser jornalista, ainda me deixa atrás do Henrique e da Helena, pelo simples fato de eu ser pobre e eles não.

Depois, olhei para os meus livros e me dei conta de que, mesmo eu não tendo a família Margarina Albuquerque, nós cinco éramos mais, nós queríamos mais, e queríamos, principalmente, ser diferente deles. Eu tenho uma família rica e só descobri hoje.

Por Emma Alfie.

Diário de Guerra

Chego a estas páginas exausta, com medo de ter gasto todas as minhas palavras. Chego como uma recém-chegada da guerra. E esta é minha jornada. De soldada bravia, à comandante transtornada. Mas jamais derrotada.

Refiro-me a uma guerra física, que escondia uma batalha de discursos. Alistada ao lado dos guerreiros vermelhos, passei anos conhecendo o campo inimigo por meio de mapas, objetos e fragmentos abandonados nas batalhas.  Nos períodos mais estáveis da guerra, parecia que ela nem existia, e com nossos líderes negociando de ambos os lados, algumas interações eram possíveis. Apesar de sermos dois exércitos distintos, disputávamos pelo mesmo território, o qual nós chamávamos de pátria amada. Já fazia dois anos desde o pior estopim da crescente guerra.

Quando fui nomeada como uma das comandantes, pedi uma trégua. "Mantenha seus amigos próximos, e os inimigos mais próximos ainda". Decidi invadir sozinha o acampamento inimigo, que de longe, parecia escuro e sombrio. Mas ao me aproximar, fui recebida por pessoas calorosas. Ninguém me conhecia ali, mas em breve me conheceriam. Seria direta, mas gentil para expor minhas questões.

Apresentei-me com uma bandeira da paz, e eles me reconheceram como alguém para não temer. Minha primeira pergunta não poderia ter sido diferente. "Por que vocês defendem um líder que exclui e desrespeita as minorias da sociedade?". Haviam mulheres ao meu redor e uma delas me respondeu: "Não vejo isso como desrespeito, mas vejo uma pessoa que tem opinião divergente a outrem. A população está carregada de vitimismos e pseudo preconceitos!". Um homem, acompanhado de sua esposa e filhas, também decidiu entrar o debate: "Nosso representante é o único nome que possa fazer frente aos desafios. Ele é o cara que não teme dar a cara a tapa, nem fica em cima do muro!".

Soube que seu líder tinha uma proposta de permitir armas à população após a guerra, mas queria ouvir por mim mesma. "Por que vocês vão permitir armas para todos?", questionei. "Não será bem assim. Haverá fiscalização muito rigorosa e notáveis profissionais analisarão a índole de um cidadão para permitir que ele tenha a posse de uma arma.". Questionei então qual seria o benefício de um cidadão comum obter uma arma. "Ora, pois futuramente, um bandido pensará duas vezes antes de praticar seus crimes, já que não mais contará com a passividade da população." Tentei fazê-los refletir na questão de rebater a violência com violência. Mas então me lembrei que estávamos em guerra.

As questões eram muitas, e eu queria saber mais. Busquei respostas até o dia em que não pude mais argumentar pacificamente. Todavia, digo-lhes que tentei com bravura. Encerrei minha busca, entendendo-os um pouco mais, pois agora os tinha ouvido pessoalmente.

E voltando ao acampamento, cheguei na conclusão de que nessa guerra, não haverão vencedores nem perdedores. Algumas perguntas, como muitas das que fiz, ficam sem respostas. Quanto a outras, não há como declarar sim ou não, certo ou errado. Mas há o ceder. Uma hora uns vencem, outra hora outros, e assim estabelecem o que acham correto. Outra hora acordos de paz são estabelecidos.

Senti que finalmente entendi a dinâmica da guerra. Contudo, uma questão permaneceu: Por que continuar uma guerra, se não há como obter uma vitória permanente? E acho que, pois, no fim, nunca nos deixaremos de nos impor através de um lado. Vamos sempre guerrear para ter a palavra final. Sempre na expectativa da última batalha.

Por Mary-Louise Paris.

Cuidado: frágil

O quão fácil é viver em uma bolha? Mais aconchegante que um chalé com lareira, ela sempre está ali pra abrigar e proteger: a bolha nunca decepciona. A vizinhança só contribui para esse ar tão confortável já que os outros moradores da bolha sempre estão ali pra abraçar suas ideias e nunca, nunca contrariar.

Só fui perceber que existe sim esse lugar tão cômodo, quando certo dia saí da aula, entrei no ônibus e, como sempre, resolvi colocar o fone de ouvido para ouvir música pelo caminho. Só que, dessa vez, a bateria estava descarregada e logo eu teria que passar o trajeto todo com o silêncio como companhia. Pelo menos, era o que eu pensava.

Curioso que sou, não pude deixar de prestar atenção em uma conversa pelo celular de um homem de cabelos grisalhos sentado três bancos a frente. Uma palavra-chave despertou meu interesse para aquele diálogo que se eu estivesse de fone nunca ouviria: cota. Ele reclamava na ligação sobre ter que pagar a faculdade de seu filho, que por pouco não passou pra federal, e seu motivo para essa problemática era a cota.

Segundo aquele homem, a cota que me deu uma maior perspectiva de futuro, que me ajudou a realizar meu sonho e o da minha mãe de entrar numa universidade era na realidade uma injustiça, porque me dava uma vantagem, apenas pela cor da minha pele e assim restariam menos vagas, para os não-cotistas. A cor da minha pele que, mesmo me orgulhando dela, já foi a razão para eu sofrer inúmeros preconceitos, de repente é vista como uma vantagem? Nunca havia escutado tamanho absurdo, não consegui controlar meu impulso de confrontá-lo.

Me contendo e com muita educação fui sentar ao lado desse senhor e perguntei se ele achava que um jovem de classe média-alta, branco que estudou em escola particular a vida inteira teria as mesmas condições de entrar em uma faculdade federal quanto um outro, só que negro e de escola pública. Assustado com a minha presença e depois com a pergunta, parecia agora relutante para dar sua opinião que antes era tão explícita, completamente diferente do homem revoltado que ouvi na ligação.

Ele acabou respondendo que sim porque através do estudo tudo se iguala, e rindo de nervoso rebati falando que as condições de estudo de um negro pobre é muito inferior, menos oportunidades são oferecidas. Nervoso, o homem disse que havia chegado sua parada no ônibus e foi embora, desceu na famosa bolha. A verdade é que a bolha parece segura mas é muito frágil, apenas uma contradição pode ser o suficiente para estourá-la. E deve.

Por São Valentim.

OÃSUFNOC A E ALEUNAM

Eu tenho alergia a manipulação. Comece a falar com tom infantil para mim ou em um tom explicativo e já posso sentir a minha pressão subir. Meu sistema nervoso é acionado e eu tenho que trabalhar duro para me certificar que estou segura e preciso me acalmar. Faço isso porque não quero reagir e passar nervoso. Porém há algum tempo, o rivotril foi meu acompanhante nas noites de muita confusão.

Eu esperava ser xingada de esquerdista, comunista, defensora de bandidos e mil outras coisas. Porém, o resultado foi pior. Ao ver quais eram as opiniões de pessoas de meu círculo sobre algumas questões que eu não concordava, era inundada com monólogos cheios de confusões embutidas em relação aos fatos e argumentos. Mas para minha surpresa, em nenhum desses “sermões” me atacar era a intenção. O que eles queriam era, na verdade, me convencer, e não compreender.

Manuela, a personificação de meus melhores amigos, as vezes conversava comigo sobre a política de cotas raciais. Lembro-me de uma vez em que ela concordou que a educação pública no Brasil não era boa, mas afirmou que os negros não mereciam o “privilégio” de terem cotas pois, todos são capazes de entrarem na faculdade, era só se dedicarem. Acho que ela esqueceu o que aconteceu com toda a comunidade negra depois de 1888, ou até reconheça isso, mas pense que a inserção dos negros na sociedade já é questão superada.

- “Não Aurora, até por que se hoje o racismo é com brancos também, as oportunidades já são iguais” disse Manuela um dia

- “Onde guardei meu rivotril da última vez? Preciso dele agora” disse eu logo em seguida

Eu falava para ela que não era bem assim, mostrava pesquisas de vários países, dados socioeconômicos do Brasil e muito mais. Porém ela, se não insistia naquele discurso meritocrata e falho, mudava o foco da conversa, ou pior, fazia eu me sentir errada por não ter a mesma opinião, já que fomos criadas juntas.

A partir desse dia percebi que essa conversa não seria mais a mesma. Até porque eu não dava margem para os joguinhos mentais de Manuela. O que restava entre nós agora, era minha tentativa de mostrar a realidade para ela, e como resposta seu silêncio e desinteresse.

Mas o que me deixa triste e intrigada, é que minha confusa Manuela não é única. Vocês também possuem uma Manuela, que possui uma Manuela, que possui uma Manuela, que possui uma Manuela...

Por AURORA MUNDS.

O som não se propaga no vácuo

Ei! Tem alguém aí?

Ao longe ouço murmúrios. Alguns se cumprimentam. Outros riem de algo que não consigo entender. Olho ao meu redor, mas não vejo ninguém. São apenas vozes.

Tento gritar. Minha voz ecoa e retorna aos meus próprios ouvidos como se eu estivesse confinado em uma redoma. Preso em mim mesmo. Quem me colocou aqui?

Por favor, me notem! De repente, os seus olhos cruzam os meus e, esperançoso, aguardo que me notem. Mas não. Não existo.

Eu tentei. Eu juro que tentei. Mas minhas perguntas parecem retóricas que nada dizem.

Resolvo me levantar. Ao meu lado, encontro outros tantos desesperados, cada qual em seu mundo, gritando em vão. Nossos rostos parecem dizer o que nossas vozes tentaram, sem sucesso.

Somos invisíveis, mas esperamos pelo dia em que nossa angústia terá vez. Qual a menor distância entre universos opostos?

Não sei. Mas no caminho tem um vácuo.

Tem um vácuo no caminho.

Por Peripatético Peri.

Ciclo vicioso

Sempre fui uma pessoa muito paciente e que evitava discutir com os outros,principalmente amigos próximos. Na verdade,debater sobre opiniões políticas tanto nas redes sociais quanto pessoalmente era algo bem raro,mas com o passar do tempo isso foi mudando.Se tornou uma verdadeira guerra.E estas mesmas pessoas começaram a deixar de se importar com o afeto que mantinham nossas amizades,para defender suas convicções,que,na maioria das vezes,eu não concordava. E mesmo não as aceitando,nunca dou a minha opinião,seria muito desgastante.

Desgaste.Essa é a palavra que define bem o meu estado. É o que sinto,por exemplo,quando a pessoa insiste em afirmar que os Direitos Humanos “só serve para defender bandido” e que a pena de morte deveria ser aplicada em nosso país,segundo ela. – Mas e se um inocente,algo que acontece frequentemente no Brasil,for preso?Poderia ser até mesmo você ou alguém próximo. - Questiono.E ela me responde que não se importaria de esperar meses ou até anos até provar sua inocência,esquecendo-se completamente que a única coisa que poderia defendê-la e deixá-la viver em condições ao menos decentes, foi extinguida pela sua própria reinvindicação.Ela parece refletir sobre isso e por um certo tempo,concordou.Questioná-las parece realmente fazer efeito.Farei isso a partir de agora.

Já outros,que são os mais difíceis de se manter um diálogo saudável,adoram enaltecer político como se fosse o verdadeiro messias,sendo que tudo o que ele sabe fazer é propagar ódio e preconceito contra pessoas que as vezes,são como seus próprios eleitores e sair completamente impune.Me pergunto como conseguem ignorar seu caráter racista,homofóbico e machista só porque acreditam que a liberação do porte de armas no Brasil vai ser a solução para a crise da segurança,entre outras propostas inacreditáveis que poderiam também prejudicá-los.

Tsc.Estou cansada e sem qualquer pingo de esperanças.Esses pensamentos estão inteiramente enraizados em suas mentes e corações.O cansaço não me deixa ser a melhor pessoa para fazê-los mudar de ideia,acho também que eles não querem.Já se tornou um ciclo.Eles riem e ofendem pessoas que nem mesmo conhecem e só posso reprimir a angústia de ver algo assim acontecendo.

Por fim,decido apenas me entregar ao suspiro e entrar nessa guerra sem sentido,esse ciclo vicioso dos mesmos debates e mesmos argumentos simples,repetitivos e vazios,que se torna cada vez mais difícil de sair.

Simplesmente espero o dia que assim como a mim,eles saibam da importância de pensar antes de agir.

Por Safira Audittore.

Dialogismo

Um dos principais pontos problemáticos do Brasil é a política. Sempre foi. Desde o “quem vai governar a colônia se o Dom João VI sair?” até o “Bolsonaro 2018”. As pessoas deveriam evoluir, certo? Até saímos de uma monarquia e viemos parar em uma democracia... ou quase isso.

“É isso mesmo, o Bolsomito fala o que pensa, vai mudar o país e nos tirar dessa miséria que o PT nos colocou.”

“Você pode me falar um projeto qualquer dele?”

“Ele defende o porte de armas.”

Claro! O brasileiro não tem a capacidade de sacar uma arma e matar duas pessoas em uma briga por um sachê de ketchup. Bobagem, o brasileiro é um indivíduo que possui competência na hora de usar esse instrumento, e ele só será usado para proteger seu patrimônio, no caso, o ketchup.

Vamos mudar um pouco a linha de raciocínio, o assunto entrou em uma área mais turbulenta, o indivíduo pode conseguir uma arma, me ameaçar e impedir a publicação dessa crônica. Que tal... políticas públicas?

“É a favor ou contra as cotas raciais? Justifique.”

“Contra. Todos tem a capacidade de entrar numa escola, faculdade, seja o que for. O problema é a educação, se o governo desse um ensino de qualidade as cotas não seriam necessárias e todos poderiam estudar juntos.”

“Mas enquanto o Governo não dá essa educação de qualidade, você ainda é contra?”

“Sim”

Se com cota, alguns grupos socias não conseguem chegar aos seus objetivos, imaginem sem.

Thomas More teria vergonha de dizer que esse indivíduo prevê uma “Utopia”.

Por Capitu.

Me recuso

Eu não sou obrigado a concordar com tudo.

Entendo que o mundo mudou e consequentemente os ideais sociais, mas acredito que ainda posso manter minhas opiniões. Não sou obrigado a pensar como esse povo.

Se você é um deles, meu querido leitor, eu só consigo ter pena de você. O mundo realmente está perdido.

Eu até aceito essas pessoas, mas não na minha casa, muito menos perto dos meus filhos. E se uma criança vê isso e começa a achar normal? E se começam a reproduzir? Deus me livre. Tudo tem um limite, minha gente.

Um dia desses vieram me oferecer. Onde já se viu? Dei um grito e logo afastei o indivíduo. Uma pessoa de respeito não faria isso. Quer praticar tais atos? Pode praticar, mas sem se exibir, ninguém precisa te ver.

Agora me diga em qual país de respeito as pessoas pagam R$40,00 no ingresso do cinema? Que barbaridade.

Na minha época não aceitariam uma coisa dessas, o mundo realmente está perdido.

Por Jon Luvon.

Porte de Morte

- Cara, o que tu acha da liberação do porte de armas? 

- Isso é loucura! Não temos preparo nenhum pra chegar nesse nível.

- O EUA fez e o índice de homicídios foi reduzido completamente. Qual a desculpa para não tentar? 

- Você já assistiu o filme "Velozes e Furiosos"? Sabe aquela parte em que o "Vin Diesel" afirma: "isso aqui é Brasil!"? Então, por isso...

- Mas esse porte não será para todos, não será qualquer um que vai pegar uma arma.

- Isso eu sei! Você terá dinheiro para fazer aulas e tirar o porte? Você terá dinheiro para comprar uma arma? Você sabe quanto vai custar um exame? Muitas pessoas vão achar meios mais fáceis de conseguir esse porte.

- Você é um idiota, por pessoas iguais a você que o Brasil não vai pra frente. 

- Idiota aqui só tem você, alienado por todos. Abra sua mente, só falta comer capim, porque burro você já é.

Após essa discussão, um parte pra cima do outro. O sujeito alterado, saca uma arma e mata o outro.

Liberar o porte de armas? Complicado... Já dizia Malala Yousafzai: "a melhor arma é o conhecimento ".

Por Biscoito Gelado.

sexta-feira, 13 de abril de 2018

Salve! Salve o Brasil!

"Ó minha pátria amada, idolatrada". Ao levarmos essas palavras ao pé da letra, às vezes não dá nem para lembrar que estamos falando do Hino Nacional Brasileiro. Nos últimos tempos, já até nos acostumamos a ligar a televisão para assistir a notícias de desgraças ou de corrupção. Se antes nós nos assustávamos com certos acontecimentos, hoje estamos anestesiados com a tamanha recorrência e tratamos os assuntos mais absurdos com certa conformidade, naquele pensamento de "é só mais um".

Brasil, um sonho intenso de uma terra abençoada, que tinha tudo para dar certo. Gigante pela própria natureza, possuímos inúmeras culturas em um só país, localizado no centro de uma placa tectônica, com chances quase impossíveis de sofrermos com grandes catástrofes naturais, como terremotos ou tsunamis. Em compensação, sofremos com governantes que nos proporcionam outros tipos de catástrofes, como na saúde, educação e em outras áreas públicas do nosso povo.

Enquanto isso, ainda vemos os brasileiros se dividindo entre direita e esquerda, propagando o ódio, terminando amizades e discutindo por opiniões contrárias, mas que deveriam sempre desejar um propósito final: todos os cidadãos com acesso aos seus direitos. Um povo heroico, mas que por muitas vezes também peca na forma em que vai brigar por seus direitos.

O que nosso povo mais deve ter em mente, é que nossas decepções não são causadas por uma figura específica de lado A ou lado B. Foi um conjunto de ações, de diversos políticos, que nos deixaram nessa situação em que estamos inseridos. Mais do que nunca, é a hora de nos unirmos, brancos e negros, os de esquerda e de direita, os jovens e os adultos, e lutar por um país mais igualitário, onde pessoas não percam a vida em portas de hospitais fechados.

E que o Brasil volte a ser um país em que o amor e a esperança à terra desce.

Por Frozen Elsa.

O Céu das apatias

Naquela noite, entre cheiro de mijo, cápsulas de cocaína, paredes descascadas e, acima de tudo, indiferença, Pierre andou. A iluminação era fraca, mas não o suficiente para impedi-lo de observar os ratos esqueléticos que entravam e saiam freneticamente do bueiro aberto, como se fossem formigas. Ratos esqueléticos. Pode-se dizer o que de um lugar onde até os ratos passam fome?

Havia descido do ônibus há pouco tempo, estava extremamente cansado e se sentia sujo, mas não por falta de banho – certamente não era o homem mais higiênico do mundo, mas isso pouco lhe importava. Sentia que seus princípios haviam sido manchados, pois horas antes, enquanto caminhava para o ponto de ônibus, ouvira um grito de socorro. Grito de mulher, vindo de dentro de uma casa. Conseguiu ouvir com perfeição toda a situação, todos os socos e chutes, como se estivesse lá. Um marido lunático, claramente bêbado, exercendo o mais comum dos atos de um homem de bem.

A primeira sensação que lhe veio à cabeça não foi ódio, muito menos coragem; na verdade, se sentiu completamente ameaçado. Não queria se intrometer, mesmo sabendo que seria o certo. Um sentimento de medo tomou seu corpo, como se ele mesmo estivesse sobre risco. Tapou seus ouvidos como uma criança ao ver os pais brigando, apertou o passo e, em segundos estava longe, completamente longe daquela situação.

Pierre era um homem de princípios, uma pessoa esclarecida, jamais faria mal a ninguém. No entanto, enquanto pensava no ocorrido, ao caminhar sozinho pela rua suja, percebeu que havia sido tomado pela pior das embriaguezes: a apatia. A mão do agressor, naquele momento, não era muito diferente da sua. Sentiu como se tivesse contribuído diretamente para que o ato animalesco ocorresse, inclusive.

Seu idealismo, suas ambições, sua utopia; não sobrou nada. Percebeu que não era diferente de ninguém... E pela primeira vez na vida, se sentiu alguém. Pela primeira vez na vida se sentiu leve, se sentiu feliz, sentiu como se não tivesse a mínima obrigação de nada. Ao menos uma vez viu semelhança com seus compatriotas. Tinha completa noção da podridão de seu caráter, mas como sabia que agora era igual a todos, isso perdeu a significância que tinha.

Pierre entrou no primeiro bar que viu, pediu uma cerveja, e feliz como uma criança, comemorou o gol que o Flamengo tinha acabado de fazer. Pierre não era flamenguista. Pegou seu copo, brindou com a garrafa e, antes de beber aquilo tudo em uma talagada, disse com ar de satisfação para si mesmo:

“Um brinde ao nada!”

Por Reed Lou.

A Ignorância é uma benção

Eu queria estar feliz. Queria estar vendo o Lula ser preso e soltar fogos, queria ter como herói nacional o juiz Sérgio Mouro. Queria poder deitar minha cabeça no travesseiro sentindo que a justiça está sendo feita, que o Brasil irá melhorar agora, que todos os corruptos cairão. Mas, infelizmente, fui amaldiçoado com uma coisa chamada pensamento crítico.

Escândalos de corrupção, dinheiro sumindo, pensamentos que deveriam estar extintos voltando, golpe atrás de golpe. Qualquer um entendido um pouco da situação que o Brasil está vivendo está no mínimo assustado. Fazemos reuniões, atos em protesto, pensamos em maneiras de melhorar esse estado crítico que o país se encontra para podermos fugir desse medo iminente do futuro. Não são todos que conseguem fazer uma análise do que realmente está acontecendo, quem tem a sorte de ser ignorante consegue ver o lado bom disso tudo. "Ah, Marielle foi morta porque defendia bandido, acontece", "O Lula foi preso porque nossa justiça tá funcionando!", "Agora os outros corruptos serão presos, você vai ver!". São pessoas com esses tipos de pensamentos que conseguem dormir bem, que conseguem ver um futuro bom, que acham que estão certos e ponto final. Enquanto cada vez mais eles se sentem brasileiros, eu me sinto menos.

Me sinto deslocado e fora do lugar cada vez que abro uma rede social e vejo o que as pessoas pensam sobre os acontecimentos, o que elas esperam que aconteça com quem é diferente delas, tendo a audácia de se dizerem patriotas, pessoas que batem panelas por um Brasil melhor enquanto negam assinar a carteira da babá, entre outros absurdos que estão no cotidiano deles. Não é possível que tão pouca gente veja o que eu vejo na ideia de ser brasileiro nos dias atuais, onde candidatos à presidência que pregam discursos de ódio e segregação são aclamados pelo público. Pasmem, em pleno 2018, batendo continência à bandeira do Brasil pregando isso. Puro facismo camuflado de "Sou brasileiro com muito orgulho, com muito amor"

O brasileiro, sempre o malando, sempre o feliz e ignorante, cada vez mais caracterizado nisso. Enquanto os malandros roubam, os ignorantes sorriem vestindo verde e amarelo.
E eu? Bem, não fui abençoado com essa ignorância, a minha maldição é me sentir cada vez mais afastado, cada vez mais ignorado pelo resto. Cada vez mais como o nome que escolhi para o pseudônimo. Eu não sou ninguém.

Por Ninguém.

Morre a inesquecível: Esperança



Demorei a conseguir entrar em consenso comigo mesma para iniciar esse texto.  Demorei a achar uma brecha fora do sufoco para ser capaz de externalizar pelo menos uma parte do que me aflige.  Talvez eu nem consiga te dizer tudo que se passa aqui dentro, mas eu tenho certeza que em algum momento você vai sentir o mesmo.

Estamos vivendo uma época sombria e de difícil compreensão de fatos, porque todos eles acontecem um atrás do outro sem nos dar tempo de recuperar o fôlego. Tiram uma presidente eleita pelo povo, matam pretos e pobres todos os dias, matam também a sua única representante na câmara dos vereadores, exaltam homens racistas, misóginos e homofóbicos, agilizam processos para enjaular e tirar a voz do maior líder político atual do país. Eu não sei vocês, mas eu acho que algo de errado não está certo nessa nação. Na verdade, está tudo muito errado. Eu estou com medo. É como se a vida tivesse chegado a um ponto onde retrocesso é a cara do país que tem “Ordem e Progresso” ilustrando a sua bandeira.

Nossos pais já não acreditam mais que exista alguém que possa nos salvar e nossos jovens estão cada vez mais ansiosos e depressivos com cada notícia ruim encontrada facilmente no Moments ou Trending Topics do Twitter. Eu juro que queria acreditar que uma hora vamos acordar e perceber que tudo não passou de um pesadelo, que o grito seco e inaudível de um sonho ruim que nos impede de projetar nossa voz foi só uma breve ilusão. Todos os dias eu quero acreditar que ainda acredito, mas no fundo eu sei que a cada dia morre um pedacinho maior da minha esperança.

Por Dandara Davis.

A culpa é da madame

Brasil. Nele Cabral chegou e logo decidiu que a terra era de ninguém. Os portugas vieram, fizeram morada e aqui deixaram um fruto: a corrupção. E é engraçado, porque muitos já se foram, mas a madame adora esse lugar.

Vou me referir à corrupção como madame, pois é semelhante: tudo o que precisa é de dinheiro para ter sempre mais importância.

A corrupção brasileira tem rugas e cabelos brancos, mais de 500 anos, mas ainda não morreu. Até os invisíveis do nordeste do país a conhecem. Eles não aprendem a ler e a escrever, por falta de políticas públicas, mas sabem descrevê-la perfeitamente.

Aqui milhões de pessoas são chamadas de minorias, e algumas centenas de o poder dominante. Os últimos não dão poder aos primeiros. Não é vantajoso.

Aqui também existem dois Brasis e os dois são ruins. Um por não ajudar e o outro por não ser ajudado. Educação não tem. Saúde não tem. Emprego não tem. Mas por quê? Pois bem, lembra da madame? Ela não deixa o povo ter nada.

A madame tem vários sinônimos. Eu gosto de associá-la à doença. Ela é contagiosa, dá náusea e dor de cabeça. Ela já está tão velha que dá tédio também. É cansativo cuidar de algo que não muda. Os pobres operários cientistas brasileiros já perderam as esperanças de encontrar um remédio.

Pensaram que em 2002 tinham encontrado. A pobreza extrema causada pelo abandono diminuiu, os operários puderam usufruir daquilo que produziam e tiveram a sensação de desenvolvimento do remédio. Foi tão bom. Muitos ainda falam do quanto o presidente, também operário, fez por eles. Se identificavam. Era recíproco.

Mas no fim, madame nunca deixa de ser madame. Não no Brasil. Aqui o tempo é curupira. Agora, por exemplo, os operários já voltaram a ser somente operários, a madame está comprando saltos cada vez mais altos para alcançar cada vez mais injustiças e retornamos até à ditadura. Morte aos traidores. Típico deste país.

Então, a única coisa que sobrou foi o tédio. Tédio de saber de um golpe que não vai ser desfeito. Tédio de propagandas manipuladoras do governo. Tédio por viver um descaso que, de tanto atingir, calejou e desapareceu de vez com a receita do remédio.

Contudo, o brasileiro, por ter uma história castigada, ainda tem um farelo de esperança. Quem sabe essa grade que se fechou dia 7 de abril de 2018 sirva para reviver a imagem dos homens e mulheres brasileiros que viviam livres anos atrás?

Afinal, país rico é país sem pobreza e, quem sabe, sem madame.

Por Emma Alfie.

Maniqueísmo recíproco




“Quando se multiplicam os justos, o povo se alegra, quando, porém, domina o perverso, o povo suspira.”
- Provérbios 29.2



Por Homem de Lata.

Oceano de ódio

Um mar de ódio. Vou tentar mudar de clichê para começar esse desabafo, e me afogar em outro. Um oceano de ódio. É a representação melhor do que eu imagino ser o mundo virtual em que nós brasileiros vivemos. A internet é como um oceano de informações, conteúdo que vai além do horizonte que os olhos podem ver. A expansão na quantidade de informação e notícias propagadas pelos sites e redes sociais nos últimos anos deveriam ter a função de tornar as pessoas mais bem informadas, conscientes de múltiplas realidades. Mas na verdade, criou pessoas com percepção muito mais seletiva, as quais só aceitam receber conteúdo que tenha a ver com suas convicções.
           
O mundo está se tornando cada vez mais polarizado. O Brasil, sua política, seus cidadãos, todos estão assumindo lados cada vez mais radicais. A regra é escolher uma posição. Ou você escolhe ser a favor dos direitos humanos, ou defende que "bandido bom é bandido morto". Ou você defende ladrão, ou é contra a impunidade. Ou você é pró-vida , ou você é uma abortista mal amada. Ou você respeita a comunidade LGBT, ou você é a favor da família tradicional. São sempre duas visões, não há meio termo.

E há a luta entre votar em um candidato com grande apelo às massas, recentemente preso, ou em um candidato com carregado discurso de ódio, ao lado de pessoas com raízes conservadoras. Vista sua camisa vermelha, ou grite Bolsonaro 2018. Pra onde iremos correr? Esqueceram daquele famoso ditado de que "futebol, política e religião não se discutem". Porque amizades estão sendo desfeitas com essas discussões. Inimigos sendo construídos. Todos opinam, e os incomodados que tapem os ouvidos. Todos assumem uma posição.

Até mesmo os cristãos se posicionam politicamente, apenas esquecendo que o líder do cristianismo, o próprio Jesus, não se envolvia com política. Jesus tinha coisas mais importantes a fazer como abraçar as minorias, as viúvas, as prostitutas, os pobres, os explorados. Ele se preocupava em pregar o amor. Mas em nosso país, há a famosa bancada evangélica, famosa em nem ser realmente cristã nos seus atos. Há inclusive alguns de seus seguidores que defendem que gay não é gente, que a mulher é só do lar, e o homem? Ah, o homem pode ser quem ele quiser, inclusive fingir ser quem não é. E quanto ao amor? Ah, o dinheiro pode suprir isso.

E rola textão no Facebook. Rola tweet ofensivo, tweet de ameaça. O nível de intolerância extrapola ao ponto de pessoas desejarem censurar as outras. A democracia é ameaçada perante grupos que pensam deter maior poder de discurso. É bem ou mal. Isso é o que dizem. Mas, na verdade, tudo é uma grande guerra de egos. Políticos dizem apoiar o povo, as famílias, os trabalhadores, os jovens... Mas como acreditar que não estamos sendo manipulados por pessoas que só veem seu próprio umbigo?

Eu não tenho onde me encaixar nesse oceano, que de tão vasto, me perdi muitas vezes em desesperança. Então resolvi escrever esse texto, e finalizar dizendo que todos estão mentindo. Não existe mal ou bem. Nenhum grupo precisa se impôr totalmente sobre outro. Pessoas são diferentes, e essas diferenças existem para serem respeitadas. Lados que defendem a si mesmos na base do ódio são ocupados por pessoas que não estão prontas pra viver em sociedade. Porque a sociedade é plural, assim como a política deve ser, não se definindo apenas em direita ou esquerda.

E se insistirem que eu escolha um lado, escolho manter a esperança de que um dia todos vão se desafogar do ódio, e enxergar além de si mesmos. Ver um único povo de muitas vozes, onde há respeito a todas. Esse oceano revolto que existe precisa de ventos calmos e tolerantes para ser o que sempre foi. Uma união de muitos mares.

Por Mary-Louise Paris.

O Brasil em jogos

Parei para refletir sobre o atual momento do nosso país e me vi imerso em sentimentos de tristeza e medo. Tristeza relacionada ao que estamos vivendo e medo pelo que possa vir pela frente. A sensação é que estamos vivendo em vários jogos - mais realistas que 3d -, principalmente aqueles de guerra que jogamos no vídeo game. Talvez não faça o menor sentido compararmos a vida com um simples entretenimento, mas, se pararmos para pensar, todo dia acontece algo que nem em jogo planejaram.

Será que poderíamos comparar a nossa política com um simples jogo de baralho, onde uma pessoa de maior autoridade possui as regras e, após cada jogada planejada, tem o poder de revirar os jogos de todos? Ou então, será que poderíamos comparar com um jogo de futebol? onde os eleitores estão brigando por político, imitando um clássico entre Flamengo x Vasco. Aliás, não podemos esquecer de falar de certo juiz, que está direcionando quem ele quer a vitória com o seu apito em forma de martelo. Loucura, não é mesmo?

Será que poderíamos comparar o nosso dia a dia com o famoso jogo "gta"? onde todos vivem em um país sem leis. Seria exagero a comparação?, mas a verdade é que, a nossa realidade é dentro desse jogo, um lugar em que a qualquer momento tem tiroteio, atropelamento, roubo e o pior: pessoas morrendo por terem uma religião ou até mesmo uma sexualidade diferente.

Será que poderíamos comparar a nossa desigualdade social com um simples banco imobiliário? Onde poucas pessoas tem o dinheiro, cobertura em Copacabana, carros de luxo e no outro lado, uma boa parte pagando aluguel até pra morar de baixo da ponte, tendo os seus próprios pés como um meio de transporte.

Estamos abandonados, sem saber qual será o rumo que o país terá amanhã, tempo ruim está por vim e como podemos ter visto, estamos realmente sendo jogados. E pra finalizar, não caia na lábia deles e não comecem um jogo de xadrez, vão mentir e falar que você terá uma vida de rei, mas lembrem se, reis tomam cheque mate.

Por Lispector de Assis.

De: Geraldo Para: Serginho

Meu caro companheiro, escrevo-lhe esta carta para contar um pouco do que se passa por aqui, no País que você abandonou, por não acreditar mais nele. Sei que quando saiu daqui, as coisas estavam difíceis e o desemprego estava muito alto, e a esperança de um futuro melhor era ínfima.
 
Entretanto, preciso te contar que tudo está melhor agora, e que por ora em nosso País a corrupção cessou  e não se vê em nenhuma área da cidade surtos de doenças ,como o surto daquela Zika, que teve quando você estava aqui; pelo contrário, existem tantos recursos primários de saúde que, acredite se quiser, até nas favelas há saneamento básico e tratamento de água; e com isso os casos de doenças naqueles locais diminuiram bastante, meu amigo.

Nem te conto a melhor parte, vejo ultimamente a população muito mudada também em suas atitudes, ela tem verificado e pesquisado sobre a conduta de cada candidato e até dos partidos eleitorais de cada postulante. Todavia, a sociedade não mudou quanto à sua honestidade, vejo inúmeras vezes ao dia alguém que fura a fila ou  fica na fila presencial sem nem ser idoso, deficiente ou grávida, vejo aquelas infrações no trânsito de algumas pessoas apressadas para ir ao céu de uma vez.

Algumas coisas não mudam meu companheiro!.Como ,por exemplo, as brincadeiras que faço com você, sei que já sacou que o Brasil que estou relatando não é o mesmo do atual; e lamentavelmente a situação por aqui continua pessíma. Nada do que relatei anteriormente é real, parece até utopia demais pensar num Brasil assim, não é mesmo?. No entanto, algo que disse é real sim, a desonestidade e o nosso “jeitinho brasileiro” isso continua da mesma forma.

Queria te escrever coisas melhores da situação por aqui, mas o que dizer de bom depois de uma prisão daquelas? Só sei que aqui nesse País a coisa está louca, até o ex-presidente querem condenar sem provas, imagina aqueles pobres das favelas, quantas injustiças sofrem ou já sofreram por aqui. Meu caro, preciso te contar em outra carta as novidades do nosso Time de coração, parece que somente ele nos traz alegria e merece nossa preocupação.

Beijão nas crianças e na patroa.
Do seu amigo Geraldão.

Por Lívia Calvant.

Toalha jogada?

É muito difícil se sentir sem voz, mudo. Às vezes penso que seria melhor ter nascido surdo, assim não seria tão afetado pelas notícias dos jornais que ouço todos os dias no caminho para a aula. Ter a opção de fechar meus olhos e evitar, já que eu assistindo tudo não posso fazer nada, não posso mudar nada. Um grito ecoando sem ninguém pra escutar. Só mais um.

Inútil, é assim que me sinto.

E também culpado.

Por ter a consciência da limitação do alcance da minha opinião, sigo minha vida como se nada estivesse acontecendo.

Ignoro meu próprio país.

É tipo quando você é criança, está no escuro, com medo e pensa que se cobrir é o suficiente pra não ter que encarar o suposto monstro que está do outro lado do edredom. Se convencer de que fingindo que não está ali, ele vai embora.

Aí a gente cresce e percebe que o monstro é real sim, não se pode andar na rua o dia todo com uma venda pra escapar dele. Esse monstro assume diferentes formas e sempre, sempre está nos noticiários.

Não faz sentido se juntar a ele se dá sim para vencê-lo. Apenas um grito em seu ouvido não o afeta e parece mais um sussurro, mas várias vozes em uníssono o deixariam tão atordoado que podiam acabar o derrotando.

Eu no momento estou rouco, por isso fico no aguardo desse Hércules que vai melhorar as coisas, porque estou cansado de me importar e ver tudo ao meu redor continuar igual. Na verdade, observo tudo mudar o tempo todo, porém com a mesma instabilidade, que me dá ansiedade.

Estou cansado agora e com essa cruel probabilidade vou passar minha vida toda assim, até me aposentar. Isso se eu não morrer antes, assim como a minha voz por agora.

O monstro me sufoca.

Enfim, jogo a toalha...com a esperança de que alguém a recolha e traga de volta pra mim.

Por São Valentim.

Carro sem freio

Quem nasce no topo de uma ladeira íngreme, como eu, pensa que sabe de tudo só por ter a vista do alto. Mas não sabia que a tinha até perdê-la bruscamente ano passado. Essa visão limitada da minha realidade e de meu mundo fechava minha cabeça, e isso, diferente do que possam pensar, foi muito bom. E eu explico o porquê.

Não ter a consciência de que se está inserido em um meio social que não te quer lá e vai acabar com você em um instante se precisar, não é o algo que ouvimos quando jovens, certo? Pois é, passar esses anos em “paz” com tudo e se preocupar apenas com qual brinquedo levar para a escola na sexta-feira realmente não era algo ruim. Infelizmente não consegui permanecer assim.

VOCÊ! ISSO MESMO, VOCÊ! Isso é tudo culpa sua. Se não fosse por você por você, eu ainda acharia que um presidente atacar a Síria com pretexto de paz era algo bom para a saúde mundial. Se não fosse por você eu ainda pensaria que Marielle sendo morta seria apenas uma fatalidade da violência urbana. Se não fosse por você eu ainda estaria em casa vendo a Globo com a minha mãe e pensando no quão bom era ter um ex-presidente sendo preso;

Quero que saiba que tento ver o máximo possível agora e mantenho minha mente sempre alerta e esperta para tudo que aparece em meu caminho, sejam ovos, bolinhas de papel, ou até tiros. Meu carro, que descubro estar sem freios, está descendo aquela ladeira com rapidez. Nesse momento, o medo, a insegurança e a angústia se tornam minhas passageiras fixas. Nesse momento, sinto que nunca mais serei o mesmo.

Não consigo mais ler mais uma notícia que mostra mais e mais moradores de rua morrendo de fome, frio e negligência e achar que é culpa deles, que escolheram viver no mau caminho. Ler um livro, ver uma foto ou até mesmo ouvir uma frase sendo dita da boca de um político é visto por mim com olhos diferentes. Chego então na metade da ladeira e agora percebo que meu país está doente. Doente de ignorância, de poluição, de intolerância, de medo, de ódio.

Não sei muito bem o que deveria sentir, até mesmo como deveria agir diante desse turbilhão de coisas e problemas que estão acontecendo, não só no cenário político do país, mas também em relação a minha mente. Mas sei que, não tenho opção a não ser continuar nesse carro desgovernado esperando por um muro duro e frio de mudança.

Hoje entendo porque você cortou meus freios, e por isso, só tenho a te agradecer.

Por Aurora Munds.

AAAAAAAAAA

Francamente, não tenho nem ânimo para escrever sobre isso. Tenho medo. Muito medo. Às vezes, prefiro simplesmente ficar calado e me poupar do desgaste de tentar discutir a atual situação do país. Mas o silêncio me angustia. Eu preciso falar. Eu preciso tentar.

AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA

Não deu. Tive que gritar. Estou muito agoniado e é difícil falar manso quando só querem berrar e esgoelar-se. Mas vamos lá!

Caos político? Cegueira seletiva? Revolta dos babacas? Não sei nem como nomear o cenário pelo qual estamos passando. Não sei como descrever o que sinto. Não sei o que está havendo. A coisa está louca!

Eu poderia até dizer que estou como cego em tiroteio. Mas, desta vez, os disparos vêm dos cegos e também atingem os que veem. Parece piada sem graça, mas não é, não.

Experimente conversar com alguém sobre a prisão do ex-presidente Lula. Em poucos minutos, verá apenas sangue e ódio. E não interessa se é “petralha” ou “coxinha”. O ódio não tem partido. Está em tudo e em todos, destruindo tudo aquilo que estiver na direção oposta.

Nós precisamos estancar essa sangria...

Bem, talvez o problema não esteja só no Brasil. Enquanto escrevo, surge a notícia de mais um ataque à Síria. Triste. É, o mundo está doente e não quero me contaminar. Não consigo mais digitar. Vou me calar. Não dá mais. Adeus.

Por Suco de Caixinha.

Eu não quero ver

Nunca fui a pessoa mais indicada para debates políticos. Acho que, por ser impaciente e, às vezes, até um pouco intolerante; não consigo ficar escutando o outro lado do discurso em silêncio. O mal do momento atual da política brasileira é justamente esse: a intolerância. A polarização bem clara de dois opostos e a condenação de qualquer um que não tome uma posição definida pautam as relações de ódio na sociedade de hoje.

Não sei se você, caro leitor, compactua do mesmo ponto de vista que possuo. Porém, ultimamente, com inúmeras infrações à Constituição sendo banalizadas e mascaradas, por meio de brechas, como necessárias para a ''luta contra a corrupção''; não consigo imaginar uma melhora nesse cenário caótico. 

Às vezes a vida, mesmo em seus momentos de desordem, nos surpreende com suspiros esperançosos. Certa vez li uma frase anônima em um banheiro público que me marcou muito: ''Acostumada a observar as estrelas, não temo a escuridão.'' A princípio achei que tal dizer era uma digna representação da militância resistente no pós-golpe. Mas após a morte da vereadora Marielle Franco, cheguei à conclusão de que não se pode subestimar a escuridão.

A escuridão mata, corrompe e manipula o céu estrelado. Não consigo imaginar um sentimento para definir o momento atual que não seja o medo. Medo da volta do passado. Medo do retorno a escuridão. Eu não quero ver.
                                
Por Lilac Sky.

À sombra do tempo mais sombrio

“Como você está se sentindo?” É uma das perguntas mais ouvidas nos diálogos curtos de WhatsApp, Instagram, e claro, nas monótonas paqueras do Tinder. Penso que nem a pessoa que faz essa pergunta quer saber a resposta real, e nem o receptor desse questionamento quer se expor. E tudo acaba num “To bem também”, que não esclarece coisa alguma. Na política é diferente. Hoje é quase obrigatório ter uma opinião formada sobre candidatos e partidos. Essa situação faz com que todos tenham opiniões. Legal né? Essa situação faz com que a maioria tenha opiniões impensadas, que permitem o surgimento de figuras um tanto suspeitas, que dialogam com o radicalismo. Não é tão legal assim né? Eu sei.

Em 2016 tivemos uma presidente eleita democraticamente sofrendo um golpe. Hoje, 13 de abril de 2018, chegamos cada dia mais perto das eleições, o Rio de Janeiro tem uma orquestrada presença dos militares nas ruas. E eu? Como estou me sentindo? Você quer mesmo saber? Eu tenho medo.

Por thecreator.

Meu grito

Estou sem ânimo para escrita hoje, talvez seja pelo tema que irei falar mais adiante. Sigo exausta de tudo e inclusive desse momento em que meu país, ou melhor, o mundo vive. Não queria estar aqui vivenciando isso. Não queria ligar a televisão e ver mais uma reportagem de uma pessoa morta. As redes sociais estão um caos, as pessoas se odeiam e eu só não aguento mais.

Está sendo difícil ser feliz, mas muito fácil tornar-me infeliz a cada dia. Eu grito por educação, saúde, segurança, moradia mas ninguém me escuta. É por isso que fui vencida pela exaustão. Não, não quero conformar-me de que fui vencida, não posso perder essa guerra como tantos outros. Então, eu imploro para que seus deveres sejam cumpridos, dê segurança a mim e aos meus e seus semelhantes. Por favor, devolva a minha esperança, não roube também a única coisa que ainda tenho.

Eu choro, grito, contorço-me na cama e penso: por que isto? Por que mulheres morrem todos os dias e não se faz nada? Por que vocês governantes roubam bilhões de quem não tem nem centavos? Por que minorias são silenciadas e mortas? Por que o mundo está divido em esquerda e direita? Por que o meu ex-presidente foi preso inconstitucionalmente? Por que? Chego ao ápice de desilusão e meu grito torna-se ensurdecedor. Eu não quero desistir mas inconscientemente desisto, pois acabei de me calar em uma discussão de Whatssap no grupo da família.

Por Ermyniana Valente.

Resistência

Destrancar a porta de casa e ver a luz de outros prédios iluminando minha sala me faz pensar duas vezes antes de ligar qualquer objeto eletrônico. Não faz sentido, as vidas se passam lá fora da mesma forma como sempre aconteceu. O mundo não está mais silencioso. Talvez seja isso que precisamos: barulho. O insano caos da revolta de um povo cansado. Mas há cansaço demais, então eu permaneço aqui, deitado no sofá, sem muitas esperanças.

Marielle continua presente, mas a ausência de respostas paira no ar da minha sala de estar. A impunidade de políticos que rasgam a Constituição mascara-se atrás da prisão de um perseguido político. As cordas se estreitam no pescoço da comunidade pobre, mas eu estou protegido no meu apartamento no Humaitá. E, mesmo assim, meu coração se acelera, minha mão procura o cigarro que não está mais ali. Decidi parar com esse hábito, mas são tempos difíceis. Sinto o cheiro de repressão de longe em um pulmão asmático, cansado demais para lidar com algo que seja diferente de liberdade.

Levanto-me do sofá, respiro fundo e resisto. Resisto de desistir, de desacreditar. Estar quieto não é se render, mas sim planejar. Não haverá mudanças sem união e, para isso, é preciso pensar. Tenho meditado por tempo demais e isto me cansa, por isso fecho meus olhos para ser levado para minha utopia. Lá ninguém morre de fome, negro não é marginalizado e mulher não precisa lutar por espaço de fala. Espero dias melhores.

Por Jaci Roman. 

Uma coleção de letras sobre a amargura

A caixa de pandora é um dos mitos mais conhecidos e difundidos da mitologia grega. Em uma de suas versões conta-se que Epimeteu, irmão de Prometeu, enviou Pandora à terra com uma caixa que continha todos os males, Pandora abriu-a e todos eles escaparam, quando ela conseguiu fechar a caixa só restou, em seu fundo, a esperança.

Não que seja novidade para alguém, mas a caixa de pandora do Brasil foi aberta e os males estão entre nós, a esperança, infelizmente, parece estar em um fundo da caixa que as lutas da resistência não conseguem alcançar.

Eu sinto muito por esse texto sem esperança, sem vida e sem meio e fim, mas de verdade eu não sou o tipo de pessoa que sabe transformar as lágrimas em arte. Eu sou o tipo de pessoa que a dor consome de tal forma que não consigo transformá-la em escrita criativa.

Vocês já leram coisas melhores escritas por mim, certamente lerão outras, mas hoje não, hoje eu peço que vocês abstraiam essas palavras de amargura e lutem! Lutem pela esperança, contra-ataquem e quando alcançarem o fundo da caixa tragam um gole de esperança para esse jovem velho deprimido. Por favor, empeçam que o passado se repita, salvem o futuro e salvem as pessoas do presente que já não creem mais.

Por Rodrigo M. S.

Salve o amanhã

O ano é 2060. Sou casado a 33 anos e tenho dois filhos lindos. Um deles tem 26. Já está casado e tem um filho de 2 anos. O outro tem 20 anos, ou melhor, teria. A verdade é que eu o guardo apenas em meu coração. Ele se foi aos 18 anos, enquanto lutava nas ruas por liberdade e igualdade.

Nossa realidade é difícil. Vivemos em um país onde questionar é crime. Liberdade de expressão? Eu nem sei se podemos falar essa palavra em voz alta por aqui. O pior de tudo é que eu, ainda jovem, em meio as tantas contradições, eu sempre preferi acreditar que nada é insanável. Possuía a mais verdadeira esperança de que os meus filhos e netos só saberiam o que é ditadura e corrupção por meio das aulas e dos livros de História. Engano meu.

Me lembro bem de quando foi eleita a primeira presidente mulher no Brasil. Lembro dos tempos de operação Lava Jato. Lembro do impeachment, sem base legal, que ocorreu com essa mesma presidente. Mas, o fato que mais me chamou atenção foi em 2018. Eu tinha apenas 17 anos quando vi o ex-presidente Lula ser preso. Muitos viram tal acontecimento como um fato histórico. Já eu, achei histórico o Lula ter sido preso e o Temer, Aécio e Renan Calheiros não. Nunca acreditei que a soltura do Lula resolveria o problema. Presumia que tal fato só pode ser resolvido com a generalização da justiça para todos os brasileiros ricos e poderosos.

Agora, em novembro de 2060, completa uma década de ditadura. Estou em total desespero. As torturas só aumentam e eu me sinto cada vez mais ameaçado e injustiçado desde que perdi meu filho em um protesto organizado por alguns jovens que vão de encontro a esse regime político autoritário. Aquele menino de 17 anos crédulo em uma sociedade igualitária morreu ali, no instante em que eu vi meu filho sangrando nos braços de minha esposa, que chorava desconsoladamente.

Agora, com os salários amolgados e uma distância adimensional entre as classes baixa e alta, decepcionado e incrédulo, sigo vivendo, ou melhor, sobrevivendo, numa falsa ilusão de milagre econômico.

Gostaria de terminar essa carta a vocês, brasileiros de 2018, implorando para que nessas eleições pensem bem em quem irão votar. Essa reflexão vai fazer toda a diferença, não só para mim, que talvez terei meu filho de volta, mas para você e muitos outros que tiveram a sua vida arrancada pelo Estado.

Sentimento de culpa é o que sinto. Eu poderia ter lutado mais, me importado mais, exigido mais. Mas ainda há esperança. A esperança é você.

Por Andréa Melo. 

Alguns exemplos justos do Brasil

Normal pro brasileiro
Conviver com a injustiça
Aqui o poste mija no cachorro
Porque a justiça é omissa

Aliás, o governo é criminoso
Somos enteados de golpistas
Políticos na cadeia, primeiro os petistas
Mas não desista, o Brasil está orgulhoso
A lava-jato é do caralho
Viva Sérgio Moro

Nossa pátria prefere os famoso
Famoso tipo Thor Batista
Porque a culpa não foi dele
Mas sim do ciclista

Eu falo com convicção
E não me confundo
Álcool no volante dá certo
Pra famoso igual o Edmundo

Pra muitos, o Sol parece quadrado
Todo santo dia
Mesmo pelo certo, é engraçado
Porque o errado, igual Cabral, tem mordomia

Seríamos melhores vivendo cegos
Já que julgamos pela cor da pele
E quem luta pelos de cor
Acaba como Marielle

Mas tudo tem salvação
Crivella, reze por nós uma missa
Pois tudo tem salvação
No Rio, tem de tudo, menos justiça

Por Maria Joana.

Meu dilema

Sou discreto por natureza. Morro de medo em ser tachado de apoiador de A ou B, e isso se tornar maior que eu.

Tenho tendência progressista. Pensamento que domina a UFF. E exatamente pelo fato desse pensamento dominar a UFF, acabo sucumbido por alunos e professores. O que a primeira vista é meu objetivo, mas com o passar do tempo deixo muitas tensões guardadas comigo.

Creio que seja um momento perfeito pra desabafar.

Meu sonho é ser o Pelé da equidade. Sempre em busca da perfeita neutralidade. E isso gera uma terrível consequência, que é me sentir desconfortável em tratar de determinados temas com outra pessoa - como por exemplo, no retorno do Jornal do Brasil. Comentar com alguém os erros de português da edição parece ser mais saudável a mim que abrir uma discussão sobre o excessivo otimismo no editorial em momentos de intervenção militar.

Sou indiferente a tudo? Não. Tudo que eu assisto e leio vira um tijolinho de uma muralha da China que tem no meu cérebro.

Mas o fato de eu não externalizar tudo isso acaba gerando outros sentimentos. O egoísmo é um deles.

O assassinato da vereadora Marielle e do motorista Anderson me deixou - como deixou a todos - totalmente indignado. Revoltado. Totalmente aborrecido. Desesperançoso também. Porém, dois ou três posts em redes sociais foram o suficiente pra esgotar o tema pra mim, ou pelo menos daquela imagem que eu quero passar pros outros. Não compareci em nenhum ato, não tive tempo. Mas mas mesmo se tivesse, duvido que eu iria. Me sinto egoísta. Conforme o tempo passa esse sentimento só evolui.

No fim das contas eu acabo aprisionado numa masmorra que eu mesmo construí. Surge aí o sentimento de impotência. Não impotência de se sentir pequeno em lutar contra o tal império anti-democrático que se instaurou a partir de 2016. Mas impotência em relação a mim mesmo. Em relação àquilo que acredito que seja melhor pra mim.

Eu só torço pra que no futuro eu seja mais bem resolvido. Sou verde demais. Comedido até pra revelar meu time do coração. Até você que lê, pode perceber isso. Pela maneira robótica que eu escrevo sobre esse tema, que sem dúvida, é sair da minha zona de conforto. Ou minha mente não vai aguentar e eu mudarei de maneira brusca, ou vou aprender a lidar. Espero que eu suporte.

Por Almirante João Cândido.

PRESENTE

Gabriela entra no ônibus pensando no caos que tá aqui no país e tentando selecionar a pior coisa, ela entra num colapso mental absurdo porque tem TANTA situação errada e que indigna a gente que não conseguia montar uma tese, só dois míseros argumentos e qual seria sua conclusão. Acabou abrindo o twitter e se deparou com uma reportagem sobre digitais encontradas numa bala de uma certa execução. A partir daquilo não havia outra opção. Gabriela lembrou de tudo que aquela morte a causou nem um mês atrás e deixou o dissertativo-argumentativo de lado pra escrever o que lhe vinha na mente.

marielle
PRESENTE
mulher
negra
socióloga
socialista
feminista
deram 9 tiros e não levaram nada.
marielle franco
PRESENTE
denunciando policiais
aqueles mesmo que apoiam o atual presidente
moradora da favela
mãe adolescente
deram 9 tiros e não levaram nada.
marielle franco
PRESENTE
vereadora
e consciente
consciente de toda mer## que tá acontecendo por aqui
aquela mer## que alguns fazem
outros cheiram
e as minorias se atolam
tentando sair fugir limpar
tentando lutar pelo direito de ser gente
deram 9 tiros e não levaram nada.
marielle franco
PRESENTE
deve ser difícil mesmo pra eles
ver uma mulher no poder
ver uma mulher os derrubando
ver uma mulher dando a cara a tapa
ver uma mulher DANDO NA CARA DELES
logo deles que são tão bons em saírem impunes
e talvez agora saiam mesmo
deram 9 tiros e não levaram nada.
marielle franco
PRESENTE
falaram que consideram outras possibilidades
outras histórias
outros fatos
que não existem
EXECUTADA!
deram 9 tiros e não levaram nada.
levaram sim
levaram a voz
levaram a alegria
levaram as denúncias
levaram as investigações
levaram a vida!
a vida dela
marielle franco
PRESENTE
mulher
negra
cria da favela
agora só mais uma na estática
só mais uma morta pela milícia
mais cedo, 4 policiais presos
por roubar assassinar EXECUTAR lá na baixada
quem sabe um favor pra um camarada
mas #####-se eles
e os favores.
####-se a polícia
eles não nos calarão!
eles não vencerão!
porque agora a gente tem voz SIM
a gente tá por cima SIM
e vão pra casa do ca##### com teu patriarcado
com tuas armas
tuas balas
e tuas ameaças
menos uma por aqui sim
e o sangue tá nas tuas mãos!
mas uma infinidade de mulheres segue no mundo,
todas preparadas pra dar tapa na cara de homem ##zão!

descanse em paz.

Por aza holmes.

Em branco

Lula preso amanhã? Lula ladrão, roubou meu coração? Essas parecem ser as principais perguntas de um brasileiro atualmente. Mas esperar o que de uma nação que chama técnicos de futebol de professores e professores de tios. Tudo acaba voltado pro flamengo x vasco ou o "nós contra eles", até nas decisões que deveriam mudar o rumo da nação como um tudo, parecemos torcer pro nosso "lado".

Vivemos tempos de disputas descabidas, por coisas que deveríamos chegar a um consenso. No maniqueismo brasileiro, todos se acham os novos jedis e os outros, com certeza são os siths. Todos estão certos e, aparentemente, isso é muito claro, mas o outro lado, o lado do mal, só quer ver o país afundar. Ah, mas ainda bem que sou esclarecido e posso provar que estou certo, disse basicamente qualquer brasileiro.

No mundo pós-primeira guerra, parecemos estar sempre em um jogo de perguntas e respostas, com apenas duas opções, ou você é nazista, ou é aliado. Ou você é comunista, ou é capitalista. Hoje, no Brasil, ou você é coxinha, ou é petralha e todos parecem esquecer de um simples fato, você, provavelmente, é brasileiro.

Toda a situação do ex-presidente foi um jeito de ampliar essa discussão. Enquanto uns comemoravam uma condenação sem nenhuma prova concreta, outros comparavam o brother do Marcelo Odebrecht à Dalai Lama, ou Jesus Cristo. Tudo o que aconteceu me deixou quase triste, quase, porque eu já esperava que tudo isso poderia acontecer. Desde de quando "estancamos a sangria", era fácil de imaginar coisas do tipo.

Então, a única coisa que me resta a escrever, é uma paráfrase, ou melhor, duas. Como meu colega cronista já disse, aqui mesmo nesse blog, tudo é tédio. E como Renato Russo diria, tédio com um T bem grande pra você, porque é a única coisa que eu consigo demonstrar agora.

Infelizmente, por Shark Duck 15.

Morta esperança

Ah, se você soubesse o que estamos passando! Escrevo a você, meu leitor, em 2018, um ano conturbado política e economicamente, onde somente os extremos parecem prevalecer. Um ano que a cada dia que passa, as pessoas se tornam mais frias e egoístas, sem pensar no próximo.

A aflição que toma conta de mim nas noites que durmo mal e choro tem invadido os meus dias, que eram pra ser claros e ensolarados. As notícias dos jornais mostrando corrupção e morte já não me assustam como antes. Eu já não sei o que fazer!

Cazuza cantava: "Meus inimigos estão no poder", mas para mim, não estão apenas governando politicamente, e sim até a minha cabeça parece estar sob o comando deles, porque como eu já disse antes, minha vida não é mais a mesma.

Guardo esta carta para que apenas seja lida daqui a 60 anos. Talvez eu já tenha morrido, ou ainda esteja trabalhando por causa dessas reformas trabalhistas. Com tudo isso, eu só te peço uma coisa: NÃO SE CONFORME COMO EU ME CONFORMEI. Se até aí, a situação não tiver melhorado por culpa de pessoas como eu, seja você a mudança que esse país carece, porque em mim "meu partido é um coração partido."

Por Lady Richie.

Inércia

Sempre fui muito crítica em relação a questões sociais. No meu mundo perfeito, não haveria desigualdade, todos teriam a mesma oportunidade de sonhar e ser o que quiserem.

A fase adulta chegou junto com os problemas que ela traz. A pessoa que pensava no bem do mundo começou a se preocupar mais com suas questões pessoais. Aos poucos, fui me importando menos e menos. Talvez, seja uma defesa diante do momento de regresso que estamos vivendo, ou uma descrença no ser humano, não sei.

Fui invadida por desejos de ter um emprego legal, estabilidade financeira, poder viajar regularmente, estar num relacionamento bacana, enfim, tudo o que a sociedade cobra da gente. Isso tudo já é problemático pelo simples motivo de nunca nos deixar satisfeitos com o momento presente. Mas a pior consequência foi ter me afastado da luta mais ativa por meus ideais.

Começaram os comentários sobre um possível impeachment da nossa primeira presidenta. Não levei a sério, não acreditei, até ser surpreendida num domingo antidemocrático. Fiquei indignada, enojada, sim. Mas, nem assim, voltei a ser o que era antes. No fundo, sabia que o que tirava meu sono eram outras coisas.

Aproximadamente, dois anos depois, após um período de crise que vivi, ainda tentando me recuperar e ver sentido na vida, sou mais uma vez surpreendida: “Mataram a quinta vereadora mais votada do Rio de Janeiro, do PSOL, defensora dos Direitos Humanos”, me contaram numa quarta-feira à noite. Antes de dormir, fui ler uma matéria, atrás de mais informações. A primeira coisa que vi foi seu nome “Marielle Franco”: “Conheço ela”, pensei. A segunda, foi sua foto. Nesse momento, não mais vi o assassinato de uma defensora dos Direitos Humanos, mas o de uma mulher, de uma mulher negra.

Senti um impacto, porém não chegou perto da reação de colegas que compartilham das mesmas ideologias que eu. Deveria ter sentido mais? Com certeza. Era claramente um crime político, a tentativa de calar uma voz. Uma voz que ecoava tudo o que eu acredito. Deveria ter sangrado por dentro, mas não sangrei. Fiquei triste e incomodada, mas não fui às ruas, não gritei, não lutei. O crime político me chocou menos do que a perda de uma vida, dessa forma brutal, me chocou menos do que imaginar a dor de sua mãe, irmã, filha, companheira.

Menos de um mês depois, após tanto tentarem, é efetuada a prisão do ex-presidente Lula, em segunda instância, desrespeitando a lei. Não houve crime comprovado. Houve ódio a um presidente, que não foi santo (ninguém é), mas que ajudou sim muitas pessoas mais humildes. Houve ódio de classe. Houve ódio à igualdade de direitos. O Brasil e o mundo pararam para acompanhar o fato, ao vivo. Eu não parei.

É um ato antidemocrático após o outro. Temo pelos rumos do meu país. Temo pelo resultado das eleições que se aproximam. Temo pela possibilidade de não haver eleições. Mas permaneço inerte, e a angústia pelas não realizações pessoais ainda me tiram mais o sono do que o futuro do meu país. Tenho medo de que quando acordar já seja tarde demais.

Por Kunta Boyd.

sexta-feira, 6 de abril de 2018

O(caso)

Dia 1 de 173.

Acho que o mais difícil depois de um dia perfeito é ter que enfrentar um dia normal.

Um dia normal que em comparação fica insuportável, de um tédio dominante, até se compara a um dia ruim. Se só a ideia de que vou ter que aturar mais 172 desses dias já é sufocante, imagina na prática. Eu devia estar acostumado com essa rotina, aceitá-la do jeito que é. Mas, um apaixonado, não consegue se acostumar com uma realidade sem sua amada. Porque não quer. Porque não suporta...porque não suporto.

Ontem depois de 173 dias eu a vi.

Isso são 249120 minutos, 14947200 segundos que passei sem ela. Todos contados e muito esperados. Só mantendo minha cabeça ocupada pra me distrair de sua ausência. Sei que ela não queria ir embora mas, afinal, não temos escolha.

De pensar que poucas horas atrás estávamos juntos, que eu a tocava, eu a amava e agora estou completamente só. Sinto que o brilho que existe dentro de mim aos poucos se apaga, sem ela.

Já passamos por isso várias e várias vezes o que em nada me preparou pra essa falta que eu sempre sinto. Essa falta crescente, minguante, que não é nada nova mas sempre cheia, que me consome.

Talvez não fomos feitos para ficarmos juntos.

Nós unidos destruiríamos tudo, talvez até nós mesmos. Não dá pra saber. Fico pouco tempo com ela pra sequer saber se a faço bem. Minha última imagem é sempre ela chorando e indo embora. É melhor para os outros que a gente fique separado. Juntos somos egoístas, guardamos toda nossa luz para nós.

Engraçado que me preocupo e sacrifico tanto por essas pessoas que nem sequer me dão valor. Que ótimo, só me aplaudem quando estou indo embora, talvez não gostem muito de mim. Isso quando me percebem. Na maior parte do dia todos estão muito ocupado cuidando de suas vidas, ninguém tem tempo pra parar e me notar, pra ouvir esse meu grito silencioso por ajuda, parece que ninguém se importa.

Só mais 172 dias.

Irônico que nesse exato momento sirvo de plano de fundo para centenas de casais apaixonados e estou aqui, sozinho. Elogiam todas as minhas cores mas me sinto o mais obscuro.

Bom, chega de me lamentar, não vai mudar nada mesmo. Mais uma vez me despeço na contagem regressiva de 172 asfixiantes dias que vou ter que aguentar sem minha paixão com todas as suas fases. 172 dias até esse eclipse que sempre me renova e me ilumina, pois vou encontrá-la.

Eu: agora poente, ocaso.

O sol.

Por São Valentim.

Pôr do sol, nascer da alegria

Aquele dia foi um dos mais difíceis, se não o pior das nossas vidas. Nada nos fazia parar de
chorar com a morte do nosso querido avô, pai e tantas outras qualidades, pois para mim,
possuir esses nomes e merecê-los não é para qualquer um. Ele fez a total diferença na história
de cada conhecido seu e neste momento, dedico meu tempo a escrever, lembrar e chorar a sua
falta.

Mas alguém precisava ser forte para resolver as questões do velório, ter um pouco de
lucidez e perceber que, infelizmente, a vida tem que continuar com o vazio. Além do mais,
feliz do jeito que meu “vô” era, não gostaria que nossos sonhos e projetos fossem enterrados
com ele.

Resolvemos tudo com calma, tentando ter tranquilidade, por mais que fosse quase
impossível. Ao voltarmos e olharmos para o alto, lá estava o sol se pondo, lindo, o céu com
uma cor incrível como eu nunca tinha visto, seu brilho e cor entravam pelos vidros das
janelas do carro e mudava a expressão e o ar de tristeza que pairava e habitava cada um de
nós. Aquilo me tranquilizou de tal forma que sorrir nunca foi tão fácil. Que homenagem mais
linda ao homem que meu avô foi e que continua vivo entre nós.

Hoje, o pôr do sol me lembra dias chuvosos, mas também traz a certeza que depois da
chuva, o sol ainda estará lá com sua força e vontade de continuar. Assim também devemos
ser!

Por Lady Richie.

Passado, presente e futuro

Eu sempre tive uma relação de admiração pelo sol e sua capacidade de se conectar comigo. Tenho ainda claras lembranças de chegar todos os dias do colégio e abrir minha janela esperando ver o gigantesco céu da tarde repleto de cores e formas perfeitas em sua própria imprecisão demonstrando toda sua glória para mim. Hábito esse, que ainda reproduzo como forma de me conectar com aquela criança alegre e pura de meu passado.

Hoje, em meio ao caos que ecoa em minha mente e mundo, fecho os olhos e ainda sinto que estou vendo tudo de uma vez e isso é sufocante. E agora, sentado nessa grama, sinto meu corpo arder em expressivas chamas de um fogo devastador começado em mim. Sinto meu coração queimando em suas angústias e loucos devaneios, e por um breve instante, mesmo que eu não queira, todos podem me ver como eu realmente sou.

Meu coração se enche como um balão prestes a estourar. Quando meu olhar se abre e olha além, o vermelho e o alaranjado vêm e tomam conta de tudo. O céu é incendiado.

Nesse momento eu existo em meio ao caos. Volto as lembranças que deixei passar de mim e reflito. Os rastros avermelhados e alaranjados misturam imaginário e realidade, trazendo à tona a imensidão dos pensamentos guardados e atos proferidos em tantos anos de aprendizado e crescimento.

Espero o sol cair, para que a luz fique pequena e eu tenha a oportunidade de começar tudo outra vez amanhã. O crepúsculo vespertino responsável por escuridão ensurdecedora e as doces cores transforma todo processo em um sonho lúcido, inconscientemente levando todos a pensar, repensar, mudar e melhorar.

O sol da tarde nunca é o mesmo e nunca dura um dia. E enquanto o céu perde sua mutação colorida e se faz escuro, nossas cores vão se tornando mais fortes e definidas.

Por Aurora Munds.