quinta-feira, 24 de junho de 2021

A história da minha vida começa em um ônibus para são paulo

 A história da minha vida começa em um ônibus para São Paulo


Minha mãe é a décima Maria de uma família de onze Marias — nem todas se chamam

assim, na verdade, mas o “espírito de Maria” está presente em todas elas — nascida no

interior do Pernambuco. Ela, como boa parte da minha família, migrou para o Sudeste durante

os anos 1990, quando aqui era o Olimpo, um mundo que parecia melhor que lá. Foi para São

Paulo, especificamente, uma aventura que durou quatro dias antes de partir para o Rio de

Janeiro.


E sim, minha mãe não terminou a escola. Sim, ela cuidou do pai — até a morte — dos

irmãos e dos sobrinhos. Sim, ela foi empregada de madame rica em Icaraí. Não, ela não

voltou pro sítio. Sim, ela se casou. Não, ela não teve vários filhos como as irmãs mais velhas.

Sim, ela me carregava no ventre quando a mãe faleceu. Não, ela não se tornou avó aos trinta,

foi mãe aos vinte e seis. Não, não de mais uma Maria. Não, ela não deixou de ir à Igreja, Deus

mora nela. Não, ela não “ficou metida”, o que isso quer dizer, aliás?

Não, ela não ensinou a menina a escrever, nem a andar de bicicleta e nem a nadar.

Primeiro, porque mal sabia escrever, segundo, porque não sabia andar de bicicleta e terceiro,

porque:


— Não tem água aqui pra isso. Lembra dos rios de lá?

Sim, a menina dela é “tão educada”. Não, não parece com a família. Estudou em

escola particular? Estudou, o pai pagou. Aprendeu inglês? Aprendeu. Do I sound angry?

— É a sua mãe?

— É.

— Parece nada, não é?

— O pai é branco. É a cara do pai. — É a voz da minha mãe que responde.

E é a voz da minha mãe que também diz: minha filha está na faculdade agora. Está?

Sim. Quantos anos? Dezoito, completou em dezembro, o aniversário dela é nove dias antes do

da tia. O pai paga? É pública. Pública mesmo? É. E a mãe mal escreve, não é? Não, mas

minha filha escreve bem, sabia escrever o primeiro nome antes mesmo de ir pra escola.

Quantas letras? Dez. E o da mãe? Sei de cor, é Maria.

Já andou de avião? Uma vez, eu e minha mãe fomos visitar a família lá. O povo de lá é

bem diferente daqui, não é? É, o sotaque é mais bonito. Sua mãe é paraíba, não é? Engraçado,

a cabeça dela é pequena. Não, minha mãe é pernambucana.

Vai ser o que quando crescer? Ainda não sei. Como sua mãe?


Eu respiro:

— Obrigada pelo café, mas eu não tenho a sua sede.


Todos amam tomates

Brincadeira de criança machuca

Não tinha noite estrelada. Tinha dia ensolarado. Primeiro dia de aula no ensino médio, ela estava com tanta saudade dos amigos, até o recreio vir. 




O assunto pertinente ali perto da amendoeira era ter conseguido chegar ao ensino médio sem ter passagens pela coordenação. 




" Nunca precisei ir." 




Ela falou sorrindo, sempre foi uma aluna excelente e elogiada por todos os professores e funcionários da escola. 




"Eu já fui. E foi por sua causa."




A amiga "normal"  fez questão de lembrar o fato que ela já tinha esquecido. Fato que ninguém sabia, que ainda doía, que ela escondia. Fato passado, de outra escola. 




Culpa dela? 




Há um tempo atrás, por pelo menos seis meses, todos os dias na escola se tornaram nublados desde a hora que chegaste, até a hora de ir embora. Algo que nunca havia lhe incomodado, finalmente estava incomodando. Por conta de comentários. Estava conhecendo o bullying. 




Nem tinha conhecimento da tamanha desconsideração daqueles que a chamavam de amiga. Só notou o que realmente estava acontecendo, quando um deles parou a aula de ciências para a imitá-la e o professor não fez nada. 




Uns falavam como forma de impedimento: "Para com isso, se não o seu filho vai nascer assim!" 


Ninguém falava sobre quem já  estava vivo, que era eu. 




Por que debochavam dela? Por que uma característica física de SEU CORPO incomodava tanto os outros? 




No mesmo ano, ela tinha sido escolhida para ser representante de turma e para ir a um passeio, no ano passado havia ganhado o destaque da turma e no outro ano, duas medalhas, a de melhor boneco reciclável e a de melhor redação do PROERD. 




Machucava ver alguém considerado não normal se destacar tanto? Tinham que arrumar algo para  Vênus virar Plutão.. 




Quase conseguiram. Ela emagreceu, se retraiu e já não estava mais querendo ir para a escola. Foi quando Lua, que sempre foi a  única ao seu lado, falou: "Ou você conta ou eu conto.". 




No dia da Independência do Brasil, ela relatou chorando a sua mãe. Foi difícil. No dia seguinte, tudo parecia se resolver. Três amigos levaram  suspensão, além de uma bronca da coordenação. 




"Eu pensei que você gostava, por isso que eu continuei" — A amiga normal falou. 




Relatando o acontecimento a avó da mesma, o que ouviram foi isso: "Ah, que mimimi! É só brincadeira de criança." 




Brincadeira que machucou. 




Três anos depois, quando a história voltou à tona e a amiga quis distorcê-la, percebeu que nada tinha passado. Sempre vão culpar quem sofre. 




Talvez, nem seja totalmente culpa dela, já que em nenhuma das vezes percebeu que aquilo era errado e a sua avó não fez questão de lhe informar. 




O clima no Recreio fechou. Começou a chover dúvidas e culpas. Não dela, mas sim da amiga.




Noite Estrelada


Cara, você é um ator

 Hoje cedo, na fila para comprar o pão quentinho do ritual diário de café da manhã - tá passada, geração Z? - ouvi um cara ao telefone : “Não pegou a Carla? Esse viado tá de sacanagem!”. Lembrei de um artigo de Todd Schoepflin sobre o livro Dude, you’re a fag (traduzido: Cara, você é um viado), de C. J. Pascoe. A autora passou um ano e meio em uma escola na Califórnia para fazer uma etnografia sobre garotos e masculinidade.


Antes de chegar à Pascoe, vou passar por Bauman, quando diz, em seu livro “Aprendendo a pensar com a Sociologia”, que há algo além de vontade própria que orienta nosso modo de viver. Nosso eu não é inato, é formado. Existem expectativas da sociedade - regras sociais - relacionadas aos grupos a que pertencemos.


Aprendemos a ser quem somos através das interações com o outro, afinal essas são as ocasiões de afirmar - ou romper com - regras sociais existentes. Na etnografia de Pascoe, os alunos buscam meios de cumprir os papéis sociais, as representações de modelos idealizados de gênero, para os quais desde a infância foram disciplinados.


À masculinidade, associam liderança, virilidade, força e racionalidade. Enquanto a feminilidade é associada a sensibilidade e fragilidade. No “teatro da vida”, as identidades de gênero são sustentadas por esses atos performativos, que a estudiosa Judith Butler chamou de performances de gênero. Tudo que foge a isso é passível a coerção social, que vai olhar debochado de rabo de olho até agressão física e morte. Homens não podem ser sensíveis? Homens não podem dispensar uma transa? Têm direito de considerar outras formas de existir tão desprezíveis que podem ser usadas como insulto?


A autora perbeceu que garotos usam o termo “viado” para insultar outros que tenham feito qualquer coisa que fuja às expectativas da performance do gênero masculino. Também que entre rapazes e garotas da mesma idade eles exageravam suas “proezas sexuais”, exalando orgulho e superioridade. Já com ela, conversavam sobre sentimentos de forma madura. Como canta Leoni, “perto de uma mulher, são só garotos”.


O que Pascoe viu em jovens numa high school da Califórnia eu vi aqui, no cara na fila do pão, e você provavelmente também já viu em algum lugar. E nesse jogo todo mundo sai perdendo, porque o que está em cheque é nossa liberdade de ser sem amarras. Vou requentar o pão que até esfriou depois de tanto pensar e escrever. Homens, pensem numa forma de descer do palco. Porque, pra essa performance, vocês não ganham nem cachê.


Aspirante Ao Que Eu Quiser

Mais um CPF cancelado

“Bandido bom é bandido morto” esbraveja Antônio assistindo ao telejornal

policial, na sua televisão parcelada em 12 vezes, dentro de sua casa financiada em

360 meses, em Guaianases, zona leste de São Paulo.


Antônio sonega imposto do seu pequeno comércio, atrasa o pagamento

da pensão da filha do primeiro casamento, recebe e espalha conteúdo pornográfico

de menores de 18 anos no Whatsapp, difama os vizinhos e força a esposa a ter

relações sexuais. Portanto, é bandido, pois todas essas atividades são crime. Na

sociedade que Antônio acredita e almeja construir, será que esses delitos seriam

penalizados com morte também? Ou talvez só uma tortura ao estilo Coronel Ustra?

Para além da criminalidade, Antônio tem em comum com os bandidos o

bairro, as marcas de ser periférico e a dificuldade de acesso a espaços culturais e

esportivos. Mas, por ter conseguido abrir um mercadinho, acredita estar bem

distante dessa realidade. Bastou um pouco mais de dinheiro e oportunidades para o

homem enxergar-se acima das pessoas que o cerca.


“Bandido bom é bandido morto” repete Antônio, reagindo a mais uma

reportagem do telejornal, sem dar-se conta de que as diferenças que o separa

daqueles indivíduos mortos é tão ínfima que, para as elites, ele é tão descartável

quanto. Ao ouvir essas palavras, um de seus filhos diz “pai, poderia ser o senhor

ali”, na tentativa de fazer surgir um pouco de empatia no pai. Mas não adianta,

Antônio está anestesiado pela ideia de decidir quais indivíduos devem viver e quais

devem ser aniquilados.


Euridice Gusmão

Se tu não sábadais, não impeças que eu sábadis.

‘’Todo mundo espera alguma coisa de um sábado a noite, bem no fundo todo mundo quer zoar’’


Era o que tocava no fundo. Enquanto eu me arrumava para mais um sábado à noite.



Mas eu antes eu gostaria de rebobinar um pouco as coisas. 



*


De tarde, saí do trabalho e vi uma linda sandália na vitrine de uma loja. Sabe, aquelas sandálias tipo as que a gente vê as atrizes em cena limpando a casa, fazendo comida. hum, lindas! Daquelas sandálias refinadas, mas que parecem que estamos usando como quem vai no mercado fazer compras. Pra você entender ela era rosa bebê, tinha um salto mediano, tipo aqueles que os ortopedistas indicam para os pés das jovens mais maduras. 



Contei mentalmente quanto eu tinha de dinheiro na conta e falei comigo mesma: vou comprar, eu trabalho para isso! Comprei.


Cheguei em casa, já calcei para dar aquela geral no ambiente. Lavei louça, varri casa, passei pano… lavei até o banheiro calçando a sandália. Me sentindo a própria atriz hollywoodiana. 



No finalzinho da tarde, um amiga, com quem fazia alguns meses eu estava dividindo a mesa e a conta nos bares em finais de semana, me ligou e eu perguntei: 




- Qual a programação de hoje?



e ela me disse: 




- Hoje quero que você conheça meus irmãos. Amanhã é aniversário da minha mãe e meus irmãos vieram passar o final de semana. 


 


Perfeito. Vamos!



Comecei a me arrumar e soltei aquela playlist. Pronto. Chegamos ao ponto inicial.



*



Procurei uma roupa que atendesse as demandas da noite outonal mas que também combinasse com a minha nova aquisição. E fui. 



Chamei um moto taxi, eu, a mulher que sou, é que não chegaria com a minha linda sandália apé. Por favor. N e m C o m b i n a. 



Assim que cheguei a encontrei com uma irmã e um irmão. Ela e a irmã eram gêmeas, mas até o irmão podia confundir os desavisados de que outrora havia existido uma gestação tripla. Impressionante! até as roupas deles eram iguais. Parecia até aqueles gêmeos bebês que a mãe veste com a mesma roupinha. Só vendo para crer.



Logo, notei nos dois novos irmãos, aquele olhar que eu via nas minhas amigas e nas mães das minhas amigas quando eu ainda era criança. Tudo bem, deixei passar. O problema é que a minha amiga, não.


Eu já havia notado nela um desejo reprimido de ser um pouco como eu era. Falante com todos. Desejada por todos. E sem precisar deixar de ser quem eu era: a Perua de sempre. 


Então, a minha amiga achou que a conversa que iria permear a nossa mesa era o fato de eu estar arrumada e de salto, num bar. Estranho, porque não era a primeira vez que ela me via daquele jeito. Os irmãos, tudo bem, que ao contrário dela, estavam me vendo pela primeira vez, poderiam até estranhar. E foi o que aconteceu.



- Chega bonita assim, mas e quando volta? Sandália na mão?

- Pra que sair de casa assim? Toda chamativa.

- Olha, ela passou iluminador nas bochechas. Quer ficar mais iluminada que as luminárias do bar?

- Pra quê esse batom? Tá pensando que ia aonde?


Essas e outras frases de efeito era o que ela soltava. Seguida pela risada dos irmãos. 


Eu tenho certeza que o olhar que eu vi deles no início, não era o olhar de quem estaria rindo daqueles comentários. Era como se eles tivessem correspondendo da maneira esperada pela minha amiga pelo fato deles serem irmãos e, claro, parecidos. Como se ela tivesse sobre eles uma semelhança e um poder de controle que eu não tinha. 



A princípio, eu fiquei com uma incógnita na minha cabeça. ‘’isso está acontecendo mesmo?’’ Mas eu logo vi que estava.  E rebati.


- Eu gosto muito de sair de você para curtir os finais de semana, mas hoje não está legal. Sinto que você está com algum problema comigo.  



Quando os irmãos é que resolveram deixar de usar a boca para dar risadas e assumiram o papel de falantes na situação. 


- Você está pesando o ambiente!

- Desnecessário o que você está falando!

- Está ridícula mesmo.

- Você acha mesmo que a nossa irmã estaria fazendo outra coisa além de falar a verdade?

- Essa amiga sua, irmã, não serve para andar com a gente não.

- Por que trouxe essa palhaça de circo?


Eu fiquei pre-té-ri-ta. Como poderiam eles estarem pretendendo estragar o meu sábado?



Me levantei, paguei a minha parte da conta. E fui sentar numa mesa de belos rapazes que estavam adorando uma mulher calçando aquela linda sandália, usando iluminador e batom vermelho. Aliás, ali eu só ouvi elogias e externalização das consciências capazes de processar a minha maravilhosidade e a importância de tê-la ao lado.



 Os outros que são trouxas e trouxas não merecem a minha companhia. 



Don't call me Madam.



Prazer, 


Perua. 

A empregada e a babá

Sou filha de mãe negra e pai branco de olho azul.


Racismo nunca foi uma questão para mim quando era criança, pois bem, eu, menina

branca “padrão” (Afinal, o que é padrão num Brasil tão diversificado?) nunca parei

para pensar que existia gente que sofria pela cor de pele. Mas tinha, inclusive dentro

da minha própria casa e eu não sabia e acho que nem minha mãe sabia direito.

Foram inúmeros momentos da minha infância que entrava numa loja com minha mãe

e recebia um tratamento diferente de quando estava com meu pai, algo que tempo

depois eu soube que é muito comum para negros e principalmente para os que vivem

em locais majoritariamente de brancos. Foi quando certa vez vi uma reportagem sobre

esse assunto e questionei a minha mãe.


Ela, por não se informar tanto sobre os movimentos de luta dos pretos e por falta de

conhecimento não percebeu que o racismo era o que determinava certas ações que a

afetavam e procurou entender mais, se reconhecer dentro de sua identidade, passou

refletir diariamente sobre o assunto e nunca mais tentou relativizou. Foi um processo

de autoconhecimento, identificação para ela e de descobertas sobre a vida dela para

mim.


Minha mãe me contou que na sua infância ao ir numa apresentação de teatro de uma

amiga que fazia parte de uma companhia de classe media alta foi questionada

banheiro se era a empregada dela ao verem as duas juntas. Pasme, uma criança

denominou outra criança de empregada por ser a única preta no ambiente. Esse

processo de diferenciação e caracterização pela cor de pele é algo absurdo e

inaceitável.


Foram inúmeras as histórias, que anos depois, começaram fazer mais sentido na

percepção dela. Certa vez ela estava com meu irmão, que era um bebê branco e de

olhos azuis, passeando na praia e uma senhora perguntou se ela era babá dele.

São situações que apesar de nunca me afetarem, perduram na vida da minha mãe e de

milhares de brasileiros, é um estrutural e precisamos lutar para ser combatido todos

os dias. Até quando esses indivíduos vão se apropriar da dor dos outros para se

colocarem numa pseudo posição de superioridade? Essa ideia de autoafirmação é

tenebrosa, não faz sentido à diferença de cor servir para isso, não há essa

superioridade. Devemos ampliar todos os dias uma educação antirracista.



Evelyn Hugo

Vitrine virtual

Com o advento da internet houve a facilidade de expor opiniões de

maneira mais intensa. Infelizmente essa facilidade também trouxe um espaço

usado por internautas mal intencionados. Tais indivíduos extrapolam,

desrespeitam e propagam ódio pela crença de se achar superiores as outras.

Não esquecendo de mencionar que essa falta de empatia, está mais para um

transtorno de personalidade: o narcisismo.


O individuo narcisista quer atenção, aplausos e não tem bom senso em

reconhecer suas falhas, sua maneira de enxergar o mundo é voltada a si

mesmo, possui em ego inflado e para se sentir bem, humilha o outro, diminui a

quem se acha inferior, mas no fundo tem desejos ocultos e recalcados do

outro. Em suas práticas perversas estão o ataque contra as minorias com

piadas e bullying aos negros, gays, nordestinos, obesos, etc.

Esse comportamento nas redes sociais seria como uma “vitrine virtual”,

onde basicamente há exposição em detalhes dessas opiniões narcisistas. Os

discursos de ódio como vemos na atualidade retratam muito bem essas

atitudes.


O caso do comercial do dia dos pais da Boticário em 2018, que

protagoniza uma família negra, foi alvo de ataques racistas. Inúmeros

comentários de ódio foram inundados pelo Youtube. Isso vindo de uma nação

onde sua grande maioria é composta por indivíduos de cor “parda” ou “negra”,

de acordo com classificação do IBGE. Outro caso que poderia mencionar seria

uma reportagem feita no site Revide em 2017, que menciona ataques nas

redes socias, oriundas de uma postagem feita no Facebook pela organização

da Parada LGBT sobre o número de homossexuais mortos no Brasil, o caso

parou na justiça.



Dy Jornal

UM MENINO MALVADO

 Era uma manhã fria, cerca de 7 horas da manhã. Horário da entrada na escola.

Crianças correndo, pulando, gritando – sendo crianças. Assim que eles entraram na sala

a criança, que entrava na frente de todas as outras, sentou no fundo da sala. De lá ele foi

apontando para seus colegas onde cada um sentaria, como fazia diariamente. Só que

nesse dia, algo estranho aconteceu. Quando apontou para um deles o lugar em que

deveria se sentar, o mesmo recusou. O menino espantado com tamanha audácia foi lá

tirar satisfação, e ouviu em bom tom “Tô fora! Não faço mais parte do grupo.” Fora a

primeira vez que ele havia sido desafiado.


Contrariado, no recreio, o menino foi perguntar ao colega o que tinha

acontecido. A resposta o surpreendeu, já que ele nunca tinha se questionado sobre tratar

mal as pessoas. Veja bem, ele se achava bonito, inteligente, charmoso e muito do

esperto. Pra ele parecia natural que ele dominasse, liderasse, e por que não pisar nos

mais fracos? Não importava, todos estavam proibidos de conversar com aquele que

ousara o desafiar. E outra! Todos deveriam fazer troça da marca de queimadura que o

patife tinha em uma de suas bochechas. Tal afronta só poderia vir da inveja do colega

pelo seu rosto bonito, pensava.


Mas as semanas se passavam, e nada do seu ex-amigo voltar arrependido,

pedindo perdão, implorando para participar do grupo. E a cada dia que passava,

sinceramente, aquele grupo fazia menos sentido. Ele se sentia mais bobo e infantil.

Começou a perceber como era legal e como fazia falta o menino que ele fez questão de

excluir. Então tomou uma decisão: acabou-se essa estória de grupo. Já estavam grandes

demais para isso, segundo ele. Após o fim do seu clubinho, o menino foi lá pedir

desculpas ao seu amigo, ouviu dele um belo sermão sobre aceitar as diferenças, sobre

como havia sido mesquinho, infantil e malvado. E também ouviu perdão.


Desse dia em diante, o menino que, convenhamos, era muito do malvado,

decidiu que nunca mais faria aquilo. Numa aula inclusive aprendeu sobre um tal de

“bullying” que se assemelhava em muito ao que ele fazia com seus colegas, e decidiu

que quando ele crescesse, seria uma boa pessoa. Boa não, ótima!


Espero que ele esteja conseguindo.


Coruja Barbosa

Só o de sempre

 Sexta, oito e meia da manhã, primeiro recreio do dia. Os dois horários tinham sido de

literatura e história, respectivamente, e a tarde anterior sempre era reservada para as

provas semanais. Dava para sentir o cansaço e a apreensão pairando no ar por conta das

notas, mas, nas sextas, isso não importava. Todos da série tinham o acordo quase rígido

de não falar nada sobre as questões, afinal, de nada adiantaria agora. E quem ousasse

entrar no assunto era imediatamente interrompido pelo coro de vozes repetindo “Não,

não, não, sério isso? Vamo se distrair, vai, esquece.” Justo. Não dá para manter uma

conversa com quem não quer falar. Então, surge mais um assunto: o que vamos fazer

hoje? Alguns minutos de discussão e decidimos ir comer pizza na casa de uma das

meninas. Cada uma leva um pouquinho de dinheiro e pedimos lá, nem precisa ir tão

arrumada! Só vai as de sempre. A aula acaba, o dia segue bonito, estudo um pouco a

tarde e às sete visto minha roupa não tão arrumada. Ensaio algumas conversas, caso

fiquemos sem assunto, porém isso não iria acontecer. Eu e as meninas nos damos bem.

Sexta, oito e meia da noite, sou uma das últimas a chegar na casa da minha amiga. Tudo

tranquilo, o papo é divertido como das outras vezes e gostamos de estar ali. Até que

alguém diz: “Vocês viram que a Esmeralda, mais velha que a gente, entrou na faculdade

com cota?” Sinto minha boca um pouco mais seca que o usual, meus ouvidos um pouco

mais atentos que o usual e, mesmo sem dizer nada, minha fala um pouco mais apressada

que o usual. Eu já sabia o que estava por vir. Minha intuição afiada sempre me alerta

antes (chego a interpretar como mecanismo de defesa). “Nossa, não consigo entender

como tem gente que defende isso!” Sabia. “Nem eu, é tirar o lugar de quem não tem

cota.” Sabia. “E ela nem precisava disso, né! Ela já é inteligente, tava só se

aproveitando mesmo.” Sabia. Minha mente se embola nos tantos argumentos possíveis

que batem de frente com tudo que escutei e com todos os outros que não foram ditos,

porém, indubitavelmente, pensados. Enquanto meu coração acelera, um sentimento

crescente que não sei qual é toma conta de mim e sinto quase como se elas pudessem o

sentir também, apesar de, por fora, só estar um pouco mais encolhida. Abro a boca.

“Mas, gente-

“Lá vem, até demorou! Vai lá, militante. Defensora dos oprimidos. Fala aí!”


Ametista

Asperger

Meu mundo é cor de azul desde que eu nasci. O azul está em tudo que se relaciona a mim,

a tudo que enxergo, em tudo que sinto da forma que sinto, em todos os meus gostos e em

como me expresso. Minha mãe costuma dizer que cada pessoa enxerga o mundo com uma

cor, em tons diferentes, e quando encontramos pessoas que enxergam tons parecidos com

o nosso a vida fica mais leve, mais harmoniosa, mas quando encontramos pessoas que

enxergam em cores complementares a nossa, a vida fica muito mais divertida.


Era final de março de 2006, estávamos voltando das férias na escola em que eu estudava,

na qual sempre estudei. Éramos vinte e três alunos ao todo, mas na segunda-feira a

professora de português nos apresentou a um aluno novo. Ele era alto e usava um óculos

redondo, estava suando muito para uma pessoa só, alguém fez uma piada sobre isso e a

sala riu. Eu não ri, pois não entendi a graça.


Ele passou o recreio sozinho nos outros dias da semana. Até que um dia eu reparei que

ele tinha uma borracha do pikachu, contei a ele sobre todos os jogos que eu já tinha zerado,

sobre todos os bonecos que tinha e até sobre o time que acreditava ser perfeito para o

pokemon fire red. Ele me contou sobre alguns dos jogos que já tinha zerado e que gostava

muito do desenho. Finalmente encontrei alguém que enxergasse nos mesmos tons que eu.


Lanchamos ele me disse que era muito tímido para pedir para jogar futebol com os outros

meninos, apesar de bom goleiro, principalmente por zombarem de seus óculos, assenti e

continuei falando sobre as habilidades das novas cartas de pokémon que comprei. Até que

alguns dos meninos se aproximaram e começaram a zombar de seus óculos.


Mas depois começaram a zombar das minhas cartas, como já haviam caçoado antes.

Perguntaram a ele " Você gosta dessa coisa de criança ? Você é assim meio maluquinho

que nem ele ?" . Ele negou.


Dias depois, no horário do lanche, ele estava jogando futebol, como goleiro no time

daqueles meninos. Após terminar o chamei para falar sobre o novo jogo que seria lançado,

mas ele gritou, falou para que eu parasse de enchê-lo com essa coisa de criança, seguido

dos outros meninos que riam e diziam coisas do tipo "Sai doente", ou, "aspie, o louco".


Aquilo me deixou com raiva, os apelidos, pois não entendia bem o porquê destes. Acho

que isso fazia eles se sentirem bem, acho que porque eles enxergavam o mundo nos

mesmos tons, ou possuíam cores complementares, já eu sempre enxerguei em tons de

azul.

A fuga do mal

Os olhinhos da criança se abriram pela janela do ônibus escolar. Mais um dia sonolento. Ela

vivia no próprio mundo de inocência, onde todos eram bons e o mal vivia num calabouço,

longe da luz do sol.


Até que o mal se juntou aos raios de sol, batendo na janela, se espreitando pelos assentos.

Dois homens espancavam uma moça na calçada. A criança olhou em volta, assustada com os

gritos e tentou falar, mas a voz não saía. Então, percebeu que a mulher parecia não ter voz.

Afinal, dentro do ônibus ninguém a ouvia.


A moça se contorcia ao tentar se livrar dos punhos cheios de ódio, mas não adiantava. A

criança observava a cena com um olhar desesperado, se questionando como era possível

causar tanta agonia a um só rosto. Seus olhinhos viram quando o mal se livrou do calabouço e

se esgueirou pela esquina, envenenando a visão de quem por ali andava. Quem passasse pela

mulher nada fazia.


A cada soco, os berros dos homens soavam mais alto, como se fossem eles a roubar a voz

dela. A criança não compreendia as palavras ditas, mas sabia que nenhum deles se

arrependia. Ela sentia que a cada segundo em que os dois não eram interrompidos eles

cresciam, cheios de confiança em si, até se tornarem gigantes e a moça não mais resistir.


O veículo escolar cruzou a esquina como se nada tivesse acontecido. Os olhinhos

continuavam fixados na janela. Levaram-na pela mão até o portão da escola. A criança

caminhou pelos corredores e se manteve calada, enquanto o castelo que era sua vida

desabava. Teria o mal impregnado todos a sua volta, a ponto de não se afetarem com a dor de

uma desconhecida?


Lentamente, suas mãozinhas conseguiram reerguer os muros do seu castelo. Ela não podia

controlar o calabouço do mundo, mas do seu o mal não escaparia. Alguns anos depois, ainda

se pergunta se depois do ônibus seguir caminho, alguma mão foi estendida para ajudar a

mulher, se alguém poderia confortá-la. A criança decidiu naquele mesmo dia, que jamais se

calaria enquanto outra moça sofria.


Tela Azul

Metamorfose Moderna

Dona Maria odiava duas coisas: se sentir insegura e insetos repugnantes. Ela acordou de

manhã, foi para a cozinha e viu um inseto nojento. Pulou, sentindo um cheiro terrível e gritou

para seu marido:

— Inseto, mata! Mata! Mata!

Porém, lembrou que seu marido não estava em casa. Não ouviu o usual barulho do calçado

batendo no chão “pá!”. E se sentiu insegura. Pegou sua xícara de café e foi para o trabalho.

No caminho, de carro, revirou os olhos e olhou para o celular quando viu uma placa com a

frase escrita: “tenho fome, me ajude”.

Não encontrou vaga no lugar de costume, então não hesitou em estacionar na vaga de

deficientes, afinal, ela tinha que trabalhar. Ela provavelmente usaria a vaga para fins

melhores. Saiu do carro fazendo uma careta de desgosto. Tinha um cobertor moribundo

cobrindo um odor horrível e estranhamente familiar.

Finalmente, entrou no prédio do trabalho e ignorou o bom dia do porteiro. Assim que passou

pela porta, Dona Maria já não esperava a hora de voltar para casa, e talvez quem saiba, passar

na igreja antes. Ainda se sentia insegura, e queria esquecer logo o que tinha visto.

Mais tarde, dois meninos dividindo a mesma bicicleta conversavam enquanto passavam na

rua de Dona Maria:

— Mano, vai dar ruim, esse não é o nosso lugar não, certeza que vão chamar a polícia

— A gente não fez nada de errado, Joca. Quer coisa eu fico e tu sai correndo com a bike!

Não deu outra, ouviram um carro de polícia no fim da rua, e o menino saiu da bicicleta para o

outro disparar para longe. O que ficou continuou correndo, mas freou quando ouviu o grito:

— Para! — o carro da polícia parou, e saiu dois policiais armados.

— Que isso! Eu não fiz nada! Eu não fiz nada! — bradou o garoto.

Os policiais fizeram o garoto agachar no chão, e depois, deitar. Já estava de noite, e o asfalto

estava frio. O mesmo asfalto que Dona Maria estava dirigindo seu carro para chegar em casa

da igreja. Tinha rezado bastante e se sentiu pronta para lidar com o inseto repugnante que

estava em casa.

Ignorou a comoção da rua, na verdade, nem percebeu. Estacionou na sua garagem e entrou

em casa com a guarda armada. Vasculhou e viu com o canto do olho o inseto saindo para

fora. Correu, encontrou algo rastejando no chão com aquele cheiro terrível naquela comoção

de antes e gritou para os policiais:

— Inseto, mata! Mata! Mata! — e escutou o barulho “pá!” “pá!”.

Agradeceu os policiais por terem matado o bicho nojento e foi dormir segura na cama.


Asa Monstro

Hoje montagem, amanhã facada

Em fevereiro de 2013, tive o meu primeiro dia do ensino fundamental II na escola

nova que meus pais tinham me colocado. Desde os meus quatro anos de idade eu tinha

estudado na mesma escola, uma escolinha de bairro bem pequena e aconchegante. Aos

onze eu me vi sozinha indo para um colégio onde eu não conhecia absolutamente

ninguém.


Quando entrei na sala de aula, uma menina muito simpática veio falar comigo, essa foi

a minha primeira amiga que me apresentou a todos os outros colegas da turma. Em duas

semanas eu já tinha muitos novos amigos e estava muito feliz na escola nova.

Entre esses amigos, tinha um que tinha se tornado meu “crush”, aquele famoso

primeiro garotinho que a gente gosta na escola. Obviamente eu não contei para

ninguém, esse é o segredo que as crianças protegem fielmente.


Depois de alguns dias de aula, o meu “crush” disse no chat do “facebook” que gostava

de mim. Eu, euforicamente, disse que também gostava dele, e desde então ele passou a

me emprestar a lapiseira mais legal que ele tinha e a pedir para eu segurar o casaco dele

enquanto ele jogava futebol no intervalo.


A história começou a desandar quando os outros meninos da turma começaram a falar

que gostavam de mim também. Eu disse para eles que gostava do Felipe (o “crush”),

mas que eles poderiam ser meus amigos normalmente. E assim seguimos a vida, todo

mundo da turma fazendo ligações uns com os outros pelo Skype todos os dias.


O que a pequena e ingênua “eu” não sabia é que as pessoas podem ser muito cruéis

quando querem. Esses meninos decidiram começar a falar mal de mim, dizendo que eu

queria namorar todos eles porque ficava falando com todos na ligação, falaram coisas

que até hoje eu não sei como saíram da boca de crianças de onze anos.


Tudo isso aconteceu muito rápido, em um dia estávamos todos conversando no Skype

e no dia seguinte eu cheguei na escola e nenhum deles estava falando comigo. Eu fiquei

sem entender nada, até que aquela primeira amiga do início do texto veio me mostrar a

montagem de cunho sexual pejorativo que eles tinham feito de mim.


Eu lembro perfeitamente da foto minha que usaram, o que estava escrito e como eu me

senti enquanto aquela montagem circulou pelos celulares de todos os alunos. Com

apenas onze anos eu senti na pele as dores causadas pela misoginia e pelo machismo.

Crianças de onze anos estão ofendendo e humilhando meninas colegas de classe, mas a

violência não para por ai, o machismo e a misoginia matam. Há três semanas vimos de

perto o caso da estudante Vytória Melissa Mota, de 22 anos, que foi morta a facadas no

Plaza Shopping, em Niterói, pelo colega de curso Matheus dos Santos da Silva, pois o

mesmo nutria um amor não correspondido pela jovem.


Fada Amarela e Rosa

Memórias póstumas de um a-mor...

22/10/2010, o melhor dia da minha vida. Depois de 3 maravilhosos e até que conturbados anos, casamos. Eu me senti viva! Era o meu sonho de princesa, Rony não fazia o tipo príncipe fantasioso daqueles filmes de animação, era rude, gostava de beber em bares com seus amigos mas tinha seu jeito de demonstrar amor. Ele sempre me levava e buscava no serviço, sempre mandava mensagem querendo saber aonde eu estava, preocupado comigo e de acontecer alguma coisa. Falava para eu não demorar muito quando eu saía com minhas amigas e que me encontraria lá para eu não voltar sozinha, ele sempre foi meu herói, meu protetor.  


Eu era feliz em minha profissão, mas abdiquei da função de administradora de uma grande empresa para poder construir uma família ao lado de Rony, afinal era o sonho dele, e ele sempre dizia que eu nunca mais precisaria trabalhar e que cuidaria de tudo pelo nosso bem.


Tivemos 2 filhos lindíssimos, Pedro e Roberto. Durante meu período de repouso, Rony não me deixou faltar nada, mas se sentia muito pressionado com toda essa situação e problemas no escritório em que trabalhava e acabou se prendendo mais nas bebidas. Chegava em casa bêbado, falando de uma forma grotesca, querendo ter relações sexuais comigo, e ia dormir logo após. Ia dormir me sentindo um objeto. Mas na manhã seguinte ele sempre fazia o café, comprava lindas rosas, que estavam no dia do nosso casamento, acompanhadas de uma declaração amorosa. Pronto, eu me sentia amada de novo e com um jardim cheio de borboletas no estômago.


Até que numa noite chuvosa e de intensos relâmpagos ele chegou mais tarde que o comum em casa, tentava ligar para ele mas caía na caixa postal. Ao abrir a porta fui saber o porquê de chegar tão tarde, aonde estava e com quem estava, demonstrando a ele, a mesma preocupação que ele tinha por mim. Ele havia bebido muito, sentia-se de longe o cheiro impregnado nas roupas –ou o que sobrou delas- em seu corpo. Ele me bateu no rosto, mandou eu calar a boca e subir para o quarto porque queria relaxar. As crianças dormiam. Eu me senti humilhada, disse que pela manhã iria para casa de meus pa... Outro tapa no rosto antes que eu pudesse terminar a frase. Disse-me que não iria a lugar nenhum. Assustada e chorando, subi as escadas correndo, no meio dela, ele me puxou pelos braços, me fazendo escorregar e bater a cabeça nos degraus. Adormeci, mas não como a princesa Bela.

  

....Memórias póstumas de um a mor-te. 

 

                                                  -Apolo.gia

Uma visão um tanto quanto esportiva


Quantas vezes já ouvimos frases que simplesmente diminuem algum grupo existente apenas por ele ser diferente? Sejam esses grupos pertencentes à camadas mais carentes da sociedade ou parte da comunidade LGBTI, sempre foram recriminados e a tendência é que isso permaneça assim.

Essa visão mais pessimista vem após a aprovação de uma norma na Hungria que, entre outras coisas, proíbe a exposição de temas homossexuais nas escolas do país. Não se sabe o motivo da criação da lei, mas pode-se supor que se trata apenas de uma vontade que já é muito reprimida pelo governo de extrema-direita no país. 


O assunto tomou as manchetes dos jornais esportivos, pois o confronto Alemanha X Hungria, sediado na Allianz Arena, estádio da cidade de Munique, foi impedido de exibir as cores da bandeira LGBTI na iluminação do palco do evento. A desculpa utilizada pela UEFA (organização que cuida do futebol na europa) é de que tal manifestação iria servir como manifestação política (contra o governo húngaro) e não um ato de apoio. Seja isso verdade ou não, é “entendível”! 


O resultado veio em campo, já no fim do jogo, Goretzka, jogador alemão, fez o gol que eliminou a Hungria da Eurocopa (competição onde os países se enfrentaram) e comemorou com um gesto muito simbólico: fez um coração com as mãos e o mostrou para a torcida húngara. Para alguns foi protesto, para outros, apenas um gesto de compaixão de um país que já oprimiu tantas pessoas e que hoje luta para esquecer seu passado tenebroso.


Acho que já me alonguei demais no assunto e até desvirtuei um pouco, mas a visão é essa: Aquele que oprime muitas vezes queria ser igual o oprimido e não consegue se libertar das amarras que o prende. Que o futuro seja de mais liberdade e amor, é só um desejo… Um desejo por mais gestos simbólicos como o de Goretzka.


Lawzineo

De preguiças

 “Nem de humanas e nem de exatas. Você é de preguiças, garota.” Aquela frase

martelou na minha cabeça por, pelo menos, 3 dias. Em resposta, não articulei muito -

me vi sem saída, presa em uma risada tímida e sem jeito. De primeira, concordei.

Entendi que o melhor a se fazer era assumir a preguiça como o meu único super-poder.

Já bastava ser inútil; hipócrita seria demais.


Eu tinha 11 anos. Era elogiada por todos os professores e firmava as notas do

boletim sempre acima de 8. Nunca foi cobrança, tampouco ambição; sempre foi medo.

Medo de estar fadada ao fracasso, de não ser suficiente ou de chegar perto, mas nunca

no “até que enfim”. Pelo olhar inseguro de uma menina, o mundo incerto parecia deixar

de ser tão incerto se algumas demandas fossem atendidas. Até aquele momento.


As palavras saíram como se estivessem engasgadas na garganta. Com força.

Com raiva. Senti um ódio que nunca haviam me dirigido antes. Sem piedade. Sem

porquês. Fiquei anestesiada. De onde veio tanta aversão? Será que a minha falta de

habilidade com números irrita? Será que alguém descobriu o livro que roubei da

biblioteca? Ou será que contaram do meu caderno incompleto? Não sei. Só sei que

consenti. Consenti, concedi, permiti, aprovei, apoiei e aceitei. Tudo isso em um único

sorriso desengonçado.


Lembra do mundo incerto? Pois é. Ele era mesmo cheio de incertezas. Dali em

diante, qualquer dúvida genuína de tabuada se transformaria em um show de

humilhações. Em cartaz “A burra preguiçosa”. Estreando uma ex-aluna exemplar, que

agora teria de enfrentar o temido monstro “Matemática”. Do que adiantavam os

gabaritos em Português se as equações ainda estavam sem solução?


Alguns anos e umas recuperações de tortura. Provas corrigidas em um vermelho

gritante na minha frente. Dizia em alto e bom tom todas as minhas notas na entrega de

trabalhos. Ouvi tantas vezes que mal conseguiria contar: “limitada”. Engoli seco a cada

fim de aula que me olhava fixamente pra perguntar se alguém não havia entendido. O

circo da vergonha perdurou tanto que a turma até previa quem seria a escolhida pra

fazer as contas no quadro.


A máscara caiu. Eu não era mesmo tão boa. Internalizei que essa coisa de ser

brilhante não era pra mim. O sucesso não dava espaço para medianos. Fui me afastando

dos meus interesses e sonhos. Tomei um lugar no fundão e ali fiquei. De onde nunca

deveria ter saído. Ela conseguiu. Me derrotou junto dos talentos secretos que guardava

comigo.


O tempo fez papel de curandeiro. Cresci e me redescobri. Encontrei um espaço;

uma tribo; uma verdade. Retornei ao meu lugar de origem, perdida nos livros e afogada

nos textos. Hoje, minha Bic Cristal reconhece que rabiscar crônicas pode ser muito mais

extraordinário que anotar fórmulas.


Bic Cristal.

Eu não posso ser como o meu avô

Refleti desde terça-feira sobre o que trataria na crônica de hoje, uma vez que temos

um leque gigante de violências que existem e acontecem ao redor do mundo. Resolvi

então contar sobre uma história pessoal que aconteceu na minha família e me

traumatiza até hoje, a violência doméstica.


Meus pais me tiveram muito cedo, mas muito cedo mesmo, minha mãe tinha somente

dezesseis anos quando eu nasci. Foi um baque na família, um casal de adolescentes

acabara tendo um filho. Meu pai decidiu que largaria a faculdade e se dedicaria

totalmente ao trabalho para me criar. Com isso minha mãe seguia na faculdade

conciliando com a minha criação.


A violência não ocorreu entre eles, mas é necessário que entendam a situação na

época. Meus pais, novos e sonhadores, não podiam passar o dia comigo. Enquanto um

estudava, o outro trabalhava. A maior parte do meu tempo eu estava com meus avós.


Minha avó, tida como dona de casa, passava o dia cuidando da moradia em que vivia e

nos momentos de lazer, estava no computador jogando paciência. Enquanto meu avô

ficava deitado no sofá vendo televisão, levantando geralmente para comer.


Um dia a minha avó esqueceu de esquentar o almoço. Na época eu tinha dez anos mas

eu lembro exatamente como e o que aconteceu. Meu avô levantou, se dirigiu a

cozinha e encontrou a comida fria. Minha avó estava no computador com o hobby

dela. Eu, do quarto dos meus pais, escutei ela chorando. Meu avô batia na minha avó.


Assim que meus pais chegaram e me buscaram eu contei o que havia escutado com

medo e tremendo. Eu não queria mais estar perto do meu avô. Eu tinha medo do que

ele era capaz de fazer. Meus pais decidiram então me deixar diariamente com meus

outros avós.


A partir daquele dia eu nunca mais olhei para ele como antes. Diferente da maioria das

pessoas que vêem o avô como exemplo a ser seguido, eu fui pelo caminho contrário.

Eu não tenho nada a seguir por parte do meu avô. Se ele me ensinou algo, é de que eu

não devo ser como ele era.


Mamicota Júnior

Coisa de paraíba

 “Coisa de paraíba”, é o que dizem...

Coisa de paraíba é sair de sua terra natal e ir tentar uma oportunidade no Rio de Janeiro para tentar sustentar sua família?  Coisa de paraíba é abrir mão de certos “luxos”, como não comprar carne e comer cuscuz? Não, né?


Então, coisa de paraíba é o quê? Por que é algo ruim? É falar engraçado? É não saber falar o português “direito”? Mas, como não sabemos falar o português direito se somos detentores da língua, somos brasileiros? Existe o falar certo ou errado? 


Coisa de paraíba é ser a vergonha alheia, é ser cringe, como os jovens agora falam? 


Bom, eu teria vergonha é de ser preconceituoso, porque isso não é coisa de paraíba.


Light Yagami

Que a consciência fuja dessa vereda facínora

 O estalo que um dia clareou a mente para um outro caminho, hoje é travado em dedos

torturantes, de um símbolo tão antigo, mas ao mesmo tempo tão atual. Adentrando a

perdição de uma floresta não mais tão viva, vi e senti o engano do lugar em que vivo,

onde a esperança de um povo garrido é covardemente violentada. Há de vir um grito.


Confesso que foi difícil assistir o reaparecimento dos nefastos. Por muito tempo,

minha gente pediu paz e chuva naquela terra seca. A luta vive em cada um de nós, mas

meu coração também clamava por amor e descanso. Quando a fumaça nefasta atingiu

as famílias e os amigos, foi necessário lembrar que muitos também já passaram pelo

mesmo caos, nunca foi uma novidade nessas terras, mas resistir doía. Resistir por

tantos séculos marcou na pele e na mente, e a cada vez que nos questionávamos

quanto a nossa miséria, afirmávamos cegamente a nós mesmos que os senhores são

exemplo e nós vagabundos. Hora de voltar ao trabalho. Quando sente fome, quando é

expulso de sua casa, quando é humilhado durante o trabalho, quando é alvo de piadas

generalizadas, minha gente acredita que a culpa é unicamente dela. Crueldade contra

os clementes? Vai vendo.


Peço que Deus pague por essa seca, pois o grito da alma é ensurdecedor dentro de

mim. Que quando minha mente desviar o pensamento desse universo encubado e

obtuso, ela vá para bem longe onde tudo vai bem, e crianças, adultos, anciãos e jovens

caminham livres. Guardarei minha felicidade para esse lugar, pois enquanto caminho

nessa terra habitada por chagas, há um espírito que clama por liberdade e igualdade, e

ele continuará a resistir longe das veredas facínoras. Para mim, guardei a catarse que

me move. Para o mundo, guardei a revolução. Ao meu povo garrido, o canto ainda não

cessou.


Desértico Joe

Tudo que é perfeito a gente pega pelo braço

A multidão do carnaval é assustadora, toda aquela gente espremida em uma única avenida é

confusão na certa. Mas com um grupo de amigas, pensei que estaria segura para me divertir

normalmente. Pra mim, o perigo estava fora das ruas, em pessoas que não estavam ali com o

mesmo objetivo que eu, perigo pra mim era assalto e furto.


Chegando lá, tudo estava de acordo com a ocasião: gente bebendo, gente beijando, gente

sorrindo, inclusive eu. Mas momentos de alegria passam rápido. Em certo momento, sinto um

puxão no braço e, se não tivesse reagido rápido, minha boca teria encostado na dele. Pedi pra

me soltar e, depois de uns minutos de insistência, ele desistiu e saiu falando a clássica frase:

“Você nem é tão bonita”. Passamos pela mesma situação mais algumas (muitas) vezes e fomos

para outro bloco, que tinha uma fama de ser mais tranquilo...


Dessa vez foi um puxão de cabelo, falei pra desencostar, mas não adiantou. Felizmente, um

amigo estava passando na hora e falou pra me largar, só assim fui “liberada”. Meu dia já

estava arruinado, não estava mais feliz de estar ali, me sentia humilhada, arrasada.


Fiquei sozinha por dois minutos e o episódio se repetiu. Para fechar o dia, mais um puxão;

dessa vez pelo pescoço juntamente com uma mão boba. Falei pela milésima vez no dia: “Me

solta por favor”. Não soltou e ainda forçou um beijo, tentei de todas as maneiras sair dos seus

braços, mas não consegui. Achei melhor beijar, pra que aquele assédio não se transformasse

em agressão. Foi pior que medo, foi uma sensação de imensa impotência.


O nojo de mim mesma tomou conta, precisava urgentemente tirar aquelas roupas e tomar um

banho, talvez assim me livrasse dessa sensação de desgosto. Fizeram do meu corpo algo

público, fizeram com o que eu não tivesse poder sobre ele; como se o fato de eu ser mulher

anulasse minhas escolhas. Não vejo mulheres achando que controlam o corpo dos homens,

então não faz sentido eles pensarem o contrário, acharem que podem ter tudo, na hora que

quiserem. Fico me perguntando quem os ensinou assim, quem aprovou esse tipo de atitude.

Mas acho que essas indagações não incomodam o suficiente para serem respondidas.



Estagiária do Profeta Diário

A oportunidade de ser Vitor

 Uma mulher e um homem se conhecem na faculdade. Entre trabalhos em grupo

e festas, aproximam-se cada vez mais, compartilham seus gostos, ganham intimidade

até se tornarem um casal. Ao apresentá-lo ao pai, a mulher é proibida de seguir com o

relacionamento. O motivo? “Você é negro! Minha filha não vai namorar um negro!”.


Lembro-me de quando fechamos essa parte do roteiro da peça como se fosse

ontem, e já faz alguns anos. O peso de trazer uma situação tão real quanto delicada era

enorme, mas, àquela altura, estávamos chegando ao ponto máximo de crítica da trama

no momento em que Vitor – intérprete de um dos personagens principais da história, o

homem em questão – trouxe o auge que precisávamos chegar.


“Eu já suportei demais o seu escárnio. Suportar é a lei da minha raça. [...] eu sou

negro...eu sou negro sim, mas, por um acaso, negro não tem olhos? [...] Quando vocês

dão porrada na gente, a gente não sangra igual? [...] Quando vocês dão tiro na gente, a

gente não morre também? Pois se a gente é igual em tudo, também nisso vamos ser!”.


A fala de Lázaro Ramos enquanto personagem Roque no filme “Ó Paí, Ó” era

perfeita para completar a cena – pensei. Entretanto, no momento em que o vi encenando

o trecho pela primeira vez, percebi que não se tratava apenas de um excelente recorte

lembrado para fortalecer a nossa crítica, mas de uma grande oportunidade de Vitor

externar o seu eu violentado por anos. Já tinha ouvido dele e de um dos diretores da

peça fortes histórias de repressão que aconteciam dos shoppings da Zona Sul carioca

aos supermercados da Baixada Fluminense. Não importava o lugar ou a circunstância,

alguém sempre tentava se mostrar superior violentamente pela cor da pele ou orientação

sexual.


Para alguns, talvez você e Vitor sejam iguais. Não! Não são. Dizer isso seria

mais uma vez reduzir suas vivências e dores a um mesmo sofrimento desconsiderando

suas individualidades. Mas é possível que você também queira a sua chance de externar

o seu eu e ainda não conseguiu.


Veja, hoje, Vitor está prestes a começar a cursar Direito em uma universidade

federal. Infelizmente, ele ainda pode e é provável que irá sofrer durante a vida afetando

o ego de pessoas que não suportam alguém “diferente” no meio. Meu conselho? É para

você. Inspire-se em Vitor, o maior exemplo que tenho de pessoa que externa sempre

com alegria o orgulho de ser gay e preto em uma sociedade indiferente aos tais

diferentes.


O Tempo.

Outras como Brenda

 Quando pensamos em alguma situação em que alguém oprime o outro pra se sentir bem,

várias situações vêm à nossa mente, e hoje quero falar de uma em específico:a que ocorre

dentro da nossa família. Posso estar generalizando, mas já vi, e ouvi, muitas situações

parecidas dentro de ambientes familiares e acho que não enxergamos isso como uma

opressão propriamente dita.


Essa é a história da Brenda, que foi expulsa de casa ainda jovem pela própria mãe

simplesmente por estar namorando. Mas até aí é só mais uma história comum de uma cidade

do interior. Revoltante? Sim, mas infelizmente é a realidade de alguns lugares. Brenda foi

forçada a morar com o namorado por volta dos 20 anos simplesmente porque a mãe foi contra

o relacionamento.


Depois de anos, óbvio que a relação entre mãe e filha “melhorou”, e coloco entre aspas

porque mesmo que tenha sido perdoado, não quer dizer que foi esquecido, apenas deixado de

lado por se tratar de família. Durante vários anos, tiveram altos e baixos tanto no casamento

como na família, como a descoberta de um câncer.


Por si só, a doença já é algo que sensibiliza, mas errado é quem pensa que fica em paz aqui.

Mesmo enfrentando todo o tratamento, Brenda foi obrigada a ouvir da boca da própria mãe, a

mulher que a colocou no mundo, que seu marido - aquele mesmo namorado do início- só

estava com ela porque ela foi expulsa de casa e tinha a obrigação de cuidar dela.


O ponto que quero chegar é: quão baixa não deve ser a autoestima de uma pessoa pra precisar

colocar sua própria filha numa situação tão humilhante apenas pra reafirmar o quanto é boa?

Querer jogar na filha que seu relacionamento só existe hoje por uma atitude que ela tomou sei

lá quantos anos atrás? Querer reabrir uma ferida antiga pra poder se colocar como

protagonista?


Retomando o que eu disse no início dessa crônica, muitas vezes presenciamos alguma

situação opressiva dentro de casa e a relevamos por “ser família”. Quantas Brendas não

existem por ai, com histórias parecidas mas que deixam passar por não terem noção da

gravidade. A criação que temos é: “Fulano pode fazer isso porque é filha dele”, "Sicrana tem

que aceitar a situação ‘x’ porque é a tia dela”. E quantos casos de violência já não tiveram por

ai sob essas desculpas?


Sienna Vettra

E se eu tiver dado, e daí?

Quando eu era pequena meu sonho era ser artista, então queria ser atriz, dançarina, cantora e

rainha de bateria de escola de samba. Paradigmas da sociedade sempre existiram e eu cresci

ouvindo que as artistas que admirava tinham “dado” para conseguir tal posição.


Na época não entendi bem o que isso significava, mas obviamente depois comecei a

problematizar essa fala.


Por que essa pessoa tem sempre que fazer algo a mais para ocupar tal papel, ganhar tal

prêmio? Por que nunca somos valorizadas pelo nosso esforço e inteligência?


Isso me revoltava tanto, pois pensava que as pessoas sempre julgam o outro, porém se fosse a

filha deles, os quais acompanharam todo o esforço e empenho para chegar lá e ouvisse uma

pessoa falando que ela “deu” para chegar ali, tenho certeza de que não ficariam felizes. As

pessoas disseminam ódio, inveja e insultam o que na verdade gostariam de ser, e seu escudo é

sempre menosprezar o sucesso do outro, já que não tiveram sucesso e capacidade para chegar

ali. É aquele ditado “Para te criticar vai ter um monte, agora para te apoiar serão poucos”.


A verdade é que independente do que você tenha alcançado, vão ter pessoas para te julgar e

infelizmente às vezes é a maioria. Porém agora mais velha reflito e daí se tiver dado?


O que essas pessoas têm a ver com o meu sucesso? Se esse termo foi usado para me diminuir,

eu só lamento, porque só me faz querer provar mais que dando ou não eu estou no lugar que

é meu por direito, pela minha capacidade e competência e se não gostou saiba que ainda vai

me ver muito na TV seja sambando ou fazendo uma entrevista e você narcisista que lute

contra o sua inveja. Enquanto isso subo na minha escadinha cada vez mais e tirando vocês do

lugar que acha que é seu.


Eu dei sim, um tapa de realidade na sua cara.


Sinceron@.com

O homem que me trouxe o dom da visão

 Nasci em uma família de flamenguistas, mas demorou muito até que eu fosse ao

meu primeiro jogo no Maracanã. Minha mãe morre de medo de multidão e possíveis

brigas, então fui escondida com duas amigas minhas.


Chegamos antes, deixei minhas amigas comprando comida e fui procurar algum

lugar na Norte. Dei sorte, encontrei três lugares e me sentei, afinal o jogo não estava

perto de começar. Aproveitei para guardar ingresso, identidade, até que fui interrompida

por um anjo.


“Você ta esperando seu namorado?”. Oi, caro senhor que eu não conheço e tem

pelo menos vinte anos a mais do que eu, não é da sua conta. Era o que eu gostaria de ter

dito, mas respirei fundo. “Não.”


“Você ta esperando seu pai?” Eu não sei se foi por eu estar no auge dos meus

dezesseis anos, mas eu não estava entendendo o interrogatório. “Não...”


“Então esses lugares aí, você ta guardando pra quem?” Finalmente, percebi que

estava entendendo tudo errado e ele só queria se sentar. Como pude? “Ah, são para as

minhas amigas”. Ele não disse mais nada, apesar do olhar que eu notei receber, então,

dei a conversa como encerrada.


Minhas amigas chegaram e se sentaram ao meu lado para comer seus cachorros

quentes uma vez que, novamente, o jogo não estava para começar. Foi aí que percebi a

benção divina que foi ter aquele homem ao meu lado para nos trazer revelações que

seriamos incapazes de, como meras mulheres intrusas em um berço masculino, concluir

sozinhas.


“Vocês sabem que pra ver o jogo vocês precisam ficar em pé, né?”


Sara Maga

Entre flores e segredos

O casamento não é um conto de fadas.

A mágica inicial desapareceu com facilidade.

“Brigas são normais”, todos diziam.

Ele me xingava, me diminuía e no outro dia me dava flores.

Ele me amava.


As brigas se tornaram rotina.

A culpa era minha, eu não devia ter falado daquele jeito.

De repente, minha bochecha começou a arder e queimar.

Com minha mão no rosto, eu não acreditava no que acabara de acontecer.

Mas no dia seguinte, ele me deu flores.

E me fez prometer que eu não o irritaria mais.

Ele não vai mais fazer isso, ele me ama.


Depois de um tempo, as coisas pareciam ter melhorado.

Mas um colega de trabalho me mandou mensagem no privado.

“Quando podemos marcar a reunião?”.

Ele ficou furioso, nunca o vi daquela forma.

Eu me lembro de discutirmos na varanda.

E logo eu estava afundando, cada vez mais próxima do concreto.

Pude ver seu rosto diminuindo e sua expressão ao me ver cair.

Direto para a morte.


Hoje, eu ainda recebo flores.

Flores de quem me amou de verdade.

Mas há algo que ninguém sabe.

Havia uma semente que crescia em segredo dentro de mim.

Que infelizmente não desabrochará em nenhum jardim.


Lua Nova


InvisiBilidade

 Quando ele foi observar o que sentia, se desesperou. Tentou evitar uma tempestade de inseguranças, mas ela o pegou. 


Suas antigas amizades trocavam como as estações. Ele não suportava a dor de fingir ser alguém que não gostava de ser. Clamava em silêncio coragem para compartilhar sua perturbação, mas perdeu o único amparo que vinha do próprio sangue:


“Não existe a opção de ir para os dois lados”, disseram-lhe. “Não passa de uma fase de confusão.”.


Quando retornou em sua infância, procurou o motivo de se sentir errado, mas descobriu respostas que explicavam seu antigo presente. Após ter o choque de realidade, todos aqueles com sua idade cresceram, mas ele se prendeu ao passado, remoendo os anos em que inibiu tudo o que sentiu.


Se maltratando por sua bagagem, sonhou em voltar no tempo e extinguir todos os seus lamentos, mas só restava aceitar. Seu desejo era ser visto pelo outro, encontrando assim o amparo de um amor real, não a velha projeção do que seria ideal, contudo, se sentiu invisível aos olhos do mundo. 


Aguardou para que tudo fosse como ele gostaria, mas nada aconteceu. Não havia nada para perder, por isso, ainda desolado, decidiu se levantar e crer no que poderia ser. Ele conheceu uma força que nunca pôde acreditar, seja de origem divina ou mental, ele se sentiu capaz.


Alguns julgaram como uma indecisão, mas para ele, na tempestade foi sua única certeza. Assim, convicto do que sentia, se viu acompanhado por aqueles novos que passaram pela mesma incerteza. Não havia interesses, apenas identificações.


Em silêncio, se sentiu grato por se aceitar. E ainda mais forte, sem o seu passado ele nunca poderia ter chegado em um ponto onde tem orgulho de si, seja pelo destino ou por seu inconsciente, ele aceitou o seu amor que nunca deveria ter sido questionado:


Mas amado. 


Alguém Melodramático

Dúvidas sobre o ódio

Por que comer capim?


Por que lamber bota?


Por que inferiorizar outras pessoas?


Perguntas com respostas que, a princípio, parecem tão diferentes, mas, observando sob

uma óptica política atual, são bastante íntimas.


O que faz um bom líder?


Isso talvez eu não saiba responder, mas eu sei o que faz um mal líder. Consegue tirar

das pessoas o seu pior, apodrece a nação, guia todos para o abismo das relações

preconceituosas.


Mas será mesmo que um líder ruim apodrece a nação ou uma nação podre que levanta

um líder ruim?


Eu acho que as duas alternativas se complementam e dialogam, independente da ordem

colocada.


Inclusive, engraçado eu ter falado sobre diálogo, não acham? O prazer de um líder ruim

e o de pessoas que o seguem, é, justamente, a falta do diálogo. A ofensa pela ofensa,

humilhar pelo prazer de ver quem julga diferente humilhado.


Mas por que existem pessoas que fazem isso?


Por que ocorreu a escravidão?


Por que houve o holocausto?


A intolerância e o ódio sempre se manifestaram de diversas formas, nosso dever é olhar

para os erros passados e nunca mais repetí-los.


Então por quê os mesmos erros continuam a ser reproduzidos?


A massa mórbida de preconceitos sempre olha pro passado com um saudosismo doentio.


Enxerga um futuro de intolerância.


Reproduz tudo de ruim no presente.


Por que um jovem negro andando de bicicleta é considerado um bandido em potencial?


Por que uma mulher é considerada menos capacitada para diversas funções?


Tentamos achar sentido à toda essa barbárie.


Tentamos mudar as coisas.


Mas como dialogar com quem com quem só se satisfaz destilando ódio?


Como dialogar com quem come capim e lambe bota?


Cabide Esculhambado

Do outro lado da ponte

Era uma manhã de sábado. O sol estava tinindo. O suor escorria na testa das pessoas.

As crianças, que estavam de férias naquela época, corriam em volta dos bancos. Os

adultos se encolhiam perto das poucas árvores que ali havia, numa tentativa falha de

ficar na sombra. Olhando para baixo, lá estava, a Cidade Maravilhosa. Com suas

diversas montanhas, favelas, prédios, museus, teatros, bares, quadras de futebol,

carros circulando, jovens curtindo nas ruas e pessoas indo trabalhar. Não que fosse

possível enxergar todos os seus pequenos detalhes lá de cima, perto da grande

estátua, uma das 7 maravilhas do mundo, o Cristo Redentor. Mas duas coisas eram

bem evidentes: a grande Baía de Guanabara e a ponte que a dividia.

Naquele lugar, tinha uma fila onde as pessoas estavam esperando para chegar até a

parte que ficava mais perto da estátua. E lá estava eu, tímida. Agarrada a minha mãe.

Que conversava animadamente com uma moça que estava na nossa frente. A

conversa começou porque estávamos ali há muito tempo e elas decidiram se distrair.

Elas falaram desde cuidados com a casa até viagens. Mas, em algum momento, a

mulher perguntou de onde nós éramos. A resposta foi imediata - “Não somos da capital

e sim do outro lado da ponte” -. Com isso, ela nos olhou da cabeça aos pés e a

comunicação mudou.


A expressão da moça, que antes era simpática e amigável, se tornou de desprezo e

superioridade. Os assuntos da conversa morreram. Até que pouco tempo depois, o

diálogo se encerrou e a mulher se virou para o outro lado. Passou a ignorar

completamente a presença da minha mãe e eu. Claro que, naquele momento,

ignoramos o que aconteceu e continuamos a aproveitar o nosso passeio. Mas, até

hoje, eu penso sobre essa situação, e sobre algumas outras, em que o local onde eu

moro foi o motivo de intolerância. Porque, para algumas pessoas, ser de um lugar

diferente torna o outro inferior? Pura ignorância e egocentrismo!

A minha cidade pode não ser a mais desenvolvida e nem a mais importante para a

economia do país. Porém, isso não faz com que ninguém daqui, ou de qualquer outro

lugar fora das grandes capitais, seja menos importante e não mereça ser tratado com

respeito. Afinal, nós todos não fazemos parte do mesmo mundo? Apesar de eu ser do

outro lado da ponte, eu ainda sou humana.


Mundo Ressonante

Tons de Ultramarino

Na cidade de Aquar, vivia Ultramarino, só mais um cidadão das profundezas do mar. Apenas um fator o fazia diferente dos demais, seu tom, sua pele era escura como o céu de uma noite de lua cheia. Ao longo de suas dezoito primaveras ele teve sua identidade contestada, agredida e amaldiçoada, aliás a tonalidade mais clara era considerada a mais pura das belezas. Ultra não entendia o motivo da raiva e repulsa sob si, pois afinal todos eram azuis.

Antes de pegar no sono, vários episódios reprisavam em sua mente, se lembrava de uma vez no intervalo da escola, em que estava sentado com os seus colegas, e uma garota chamada Francia, resolveu zombar de sua face, dizendo que ele era filho do Arraia Negra (monstro mitológico das profundezas), e o condenou a perecer nas profundezas mais sujas do tártaro. Detestava a maneira que os outros se consideravam deuses e também detestava o silêncio dos “puros”, de acordo com o Livro das Águas Celestes o rei dos sete mares o amava do jeito que ele é.
Passado o dia de seu aniversário de dezoito anos, os moradores, mesmo sabendo do amor de Poseidon com seus filhos, resolveram fazer uma sessão de cura para Ultra, o arrastaram até a casa da mulher de branco, lá foram dados livros, em que diziam que ele poderia arrancar sua escuridão e lavar-se, pois seu tom ainda o levaria a morte, lá a mulher de branco apertava sua cabeça até que seus olhos expelissem lágrimas ácidas que queimavam seu rosto, ouvia-se sua oração em sussurros que faziam seus ouvidos sangrarem. Ultra não se curou ou ficou puro, mas de uma coisa sabia, não aguentava mais aquela violência psicológica.
No dia seguinte, Ultramarino resolveu fugir, atravessou o Mar Adriático em alta velocidade como se as palavras malditas e os demônios de Aquar o seguissem, quando pisou no Mar Egeu, foi recebido pelos guardas da Cidade de Liquez que o levaram até a rainha, seu nome era Anfritite, quando seu olhar foi de encontro ao da majestade, chorou lágrimas de alegria, Anfritite era Azul Prússia. 



George Amarelo

quinta-feira, 17 de junho de 2021

Descobertas de uma vida

“Menina brinca com menina e menino brinca com menino”. Lembro de meus pais pregando

isso repetidas vezes, eu ainda criança. Na época, não entendia bem o motivo. Hoje, aos 41

anos, acredito que queriam evitar - ou atrasar - algumas descobertas inadequadas à minha

pouca idade... Está bem. Lá fui eu brincar com meninas.


Anos se passaram e eu vivia rodeada por minhas amigas. Lembro de certa vez brincar com

uma delas no meu quarto, como de costume. De repente, ela vira para mim e propõe na lata

“vamos brincar de namorar?”. Eu, como toda pessoa que não sabe bem que resposta dar,

respondi com outra pergunta: “como?”. “Ué, como nas novelas!”, ela disse prontamente,

parecendo a mais sábia das adolescentes. Pensei, pensei e concluí que tão errado não devia

estar, afinal era menina brincando com menina.


Pois pronto: topei. Sem saber direito como seria, afinal, nas novelas que assistíamos nos anos

90, mulheres namoravam homens e só. Fizemos como eles: conversa pra lá conversa,

conversa pra cá e do nada um beijo. Um beijo, como nas novelas. Lembro a sensação da

descoberta. Era como se eu tivesse mordido a tal maçã da história que meus pais contavam.

Não lembro bem. Eu só ia a batizados e missas de sétimo dia.


Comecei a procurar na TV, nas ruas, em todo lugar namoros como o da brincadeira e não

achava. Quando finalmente vi um, ouvi alguém dizer “Desconjuro! Como pode uma pouca

vergonha dessa?”. “Pouca vergonha de que?”, perguntei. “Essa pouca vergonha de mulher

com mulher”, a moça respondeu. Fui até minha amiga, disse que a tal brincadeira acabou e

que o assunto estava enterrado. A maçã era boa, mas Deus me livre de ser expulsa do jardim!

Então, comecei a entender que, quando a “brincadeira” é namorar, a coisa muda: menina

brinca com menino e menino brinca com menina. Que coisa doida. Vai entender... A não ser

que rompa com as expectativas que o mundo despeja em você e mostre a ele que o amor é

livre e não cabe em moldes ou caixinhas.


Avançando a história para encerrar o papo, eu cresci, curti, estudei. Hoje, trabalho, vivo bem

e sou casada com alguém que amo muito. “Desconjuro! Como pode uma pouca vergonha

dessa?”, algumas pessoas falam quando nos vêem juntas. E a vergonha é pouca mesmo: é

nula. O que há de errado? Aprendi com meus pais: meninas com meninas.

Aspirante Ao Que Eu Quiser 

Entre o ódio e a inveja

Eu cresci com a pessoa mais leonina que existe: a minha prima mais velha. Chega

a parecer um personagem, de tão leonina que é. Ela transforma toda conversa em uma

conversa sobre ela, todo assunto que surge, ela aparece para dar sua perspectiva, se as pessoas

vão rir, tem que ser de uma história engraçada dela, se vão chorar, tem que ser junto com ela.

Numa mesa, fala sempre o mais alto possível, para que não exista nenhuma outra conversa e

todos prestem atenção enquanto ela está falando, o que, eventualmente, acontece, pois é

difícil ouvir até os próprios pensamentos enquanto tem a leonina falando e rindo aos berros.

Mesmo quando vai falar com alguém, é ela quem se destaca, porque a interação vai consistir

em diminuir a pessoa.


Essa minha prima constrói e faz questão de mostrar uma imagem tão certa,

decidida, engraçada e bem sucedida dela mesma, que todo mundo acredita, mesmo que não

seja verdade. Por conta dessa postura, na minha família, tudo que ela fala é lei. É ela quem

sabe, quem viveu, quem melhor escolhe, quem melhor acolhe. Todos esses atributos da minha

prima não se encaixam em mim e minha família sempre fez questão de salientar isso, ao

comparar-me com ela. No ambiente familiar ninguém me escuta, literal e metaforicamente,

nunca pedem minha opinião sobre nada e não ligam para minhas qualidades. Sempre foi

assim, mas só percebi isso depois de muitas sessões de análise. Até então, eu achava que o

problema estava em mim (de certa forma, está, porque eu sou mesmo indecisa e fracassada),

porém hoje vejo que está na minha família, que não me aceita como eu sou, que impôs que o

jeito certo de ser e viver é o jeito da Leonina com L maiúsculo e que durante toda minha vida

me repreendeu por eu não ser igual.


Portanto, é natural que eu odeie a minha prima. Eu odeio a minha prima e esse

ódio aumentou quando ela se afastou de mim e saiu dizendo para toda a família que eu é

quem tinha me afastado. E, é claro, os parentes acreditaram nela, por mais que na época eu

ainda fosse uma criança e ela já adulta. Odeio-a, mas também sinto inveja. Quero que minhas

opiniões, histórias, personalidade e voz sejam tão valorizadas quanto as dela. Quero não ter

que me transformar em uma personagem metida e egocêntrica para conseguir ter espaço no

meu ambiente familiar. Quero que minha prima nunca tenha existido.


Euridice Gusmão.

Para aqueles que vão me conhecer

Sabe, de pequena, vestia-me de rosa.

O pai dizia: ‘’Parece que só tem uma roupa.’’
A tia me presenteava com vestidos amarelos, azuis, verdes.
A mãe sempre com a resposta tinindo: ‘’Quem pariu?’’

Eu mesma não entendia bem as conversas que ouvia, mas acho que me sentia bem com aqueles vestidos rosas e caprichados em união com brincos, pulseiras e laçarotes. E me chamava à atenção os olhares que recebia das mães das meninas da minha idade e também o das próprias meninas. É bem verdade que eu não entendia nada, mas sabia que gostava.

Conforme os anos passaram, a mãe pôs também no balé “olha quanto rosa, minha filha’’. No começo, me lembro bem, eu gostava bastante, exatamente pelo rosa e pelos acessórios. Quando vieram as responsabilidades, aquele rosa já não tinha mais aquela intensidade de cor.

Chegou, então, o momento em que neguei o rosa. ‘’Acho que o problema é o rosa.’’, eu pensava. Então, eu mudei os meus gostos: junto se foram os acessórios, o cabelo, a cor intensa. Achei que aquilo tudo era influência da mãe. E a mãe se assustou e agora a resposta que tinia era ‘’esta não foi a educação que eu te dei”.

Eu neguei e reneguei aquela educação. Eu queria tanto me encontrar. Mas não sabia que tinha me encontrado. Mas também, se eu não procurasse, será que saberia que tinha encontrado? Não sei.

Os anos passam. Hoje eu sei que entendo tudo. Eu não gostava do rosa. Eu não gostava dos acessórios, do cabelo. Eu gostava era da atenção que eles me atribuíam; da graciosidade que me possuía feito um personagem que precisava do seu figurino para existir; da luz e da força que eles faziam nascer de mim. Que confiança!

Porém, o que sou e o que vim aqui apresentar, encontrei depois. Foi depois que eu entendi que gostava do rosa, dos acessórios, do cabelo, porque só gostava mesmo. Mas quem atrai as atenções, quem é graciosa e flui luz e força, além de outras coisas mais que vou deixar para uma próxima conversa? Sou eu. Por isso, hoje, me permito contar esta história que adormece em mim mas que também é combustível. Assim, neste início de conversa, basta para entender como descobri quem eu sou, pois, sabendo quem sou, de fato, eu possa me apresentar.

Don't call me Madam. 

Prazer,
Perua.


Apaga a luz!

Fomos surpreendidos mais uma vez com o aumento da conta de luz! Desta vez, o subiu

para vinte por cento e o que nos resta é buscarmos alternativas diante dessa situação, mas como

faremos isso diante das baixas temperaturas, ou seja, teremos que dar adeus aos banhos quentes,

há alguns privilégios, como aquecedores, entre outros.


Vamos correndo consultar os economistas para sabermos como economizar visto que

estamos passando por uma condição econômica difícil e essa notícia nada animadora só veio

contribuir mais para esfriar o clima!


Podemos nos questionar o motivo pelo qual um aumento tão significativo, mas não

adianta buscar causa, pois nada se justificava, uns dizem que é pela falta de chuvas, pois os

reservatórios estão abaixo do esperado, mas convenhamos , nós não temos fontes alternativas?

Não estamos investindo em energia renováveis? Tudo isso não passa de estória?

A única solução no momento é: apague a luz! Se você, caro amigo, não apagar a luz,

não economizar e se não evitar banhos quentes, a conta virá queimando, pode te dá até um

curto-circuito ou perda total!


Siga o conselho para depois não pagar mais caro, pois quem avisa amigo é!


É o que dizem!

Light Yagami

Apolo.gia.

Nascemos, vivemos, morremos. Espera.... Vivemos? Ou existimos Nessa trajetória finita que é a vida, passamos mais da metade estudando, trabalhando, e somado a celeridade da vida contemporânea pouco se tem tempo para refletir sobre o interior. Além disso, tentamos fugir de nós mesmos, de quem realmente somos e dos nossos sentimentos. O problema, meu caro leitor, é que isso é impossível, e você pode tentar correr o quanto quiser, mas sempre continuará estando de frente para si mesmo. Então por qual motivo evitar o inevitável? A introspecção é crucial para entendermos o nosso funcionamento e o porquê de nossas ações e sentimentos serem da maneira que são.

Entretanto, que mais me instiga é a facilidade de se dizer o óbvio às pessoas e ao mesmo tempo a dificuldade em se realizar o que dizemos a outrem. É fácil falar sobre a vida, mas difícil de se viver ela, a nossa busca ou fuga pelo conhecimento de nós mesmos pode nos motivar ou nos apavorar. Preciso lhe confessar uma coisa, eu não consigo me aceitar do jeito que sou. Não admito ser tão emotivo, expressivo, sofrer pelo tamanho da minha emoção com tudo, no compasso em que sou meu melhor amigo, sou meu pior pesadelo. A intensidade que habita em mim me transborda e então me afogo, essa sensação me atormenta pois vejo que busco em terceiros a necessidade de aprovação para comigo mesmo. Não sou capaz de viver com minha própria companhia sem que alguém esteja por perto para que eu me sinta um vivente, e não um existente. Sempre é o que pensam sobre mim, como me veem, mas nunca está em pauta a forma que eu me vejo. É perturbador.    

Talvez se eu pudesse ao menos conseguir sentar à minha frente e ter um bate papo comigo mesmo eu veria que sou assim devido à ausência de atenção, afeto e diálogos com meus pais, o que acabou se intensificando ao longo do meu crescimento e a consequência disso se perdura até o dado momento. E que eu poderia resolver todo esse meu conflito interno com uma ajuda profissional, de alguém que me mostraria as ferramentas e como usá-las corretamente. Entretanto, não consigo, não posso, eu me forço a evitar o inevitável, por quê?! Porque simplesmen....

 

 -Apolo.gia.