sexta-feira, 15 de novembro de 2019

Pedrada


Pedras no sapato incomodam e atire a primeira se você nunca foi Pedro.
Uma pedrada num ato impulsivo
de irritação,
de ódio,
de desprezo
É libertador pra cacete mesmo, Pedro.

Mas ela acerta alguém.
É foda medir, eu sei. 
Mas fere. 
E, se fere, te torna ilegítimo
do seu ódio,
do seu desprezo
por quem é desprezível e odioso.

Pedro, agora você ocupa o lugar do outro.
Que passou a ocupar o seu.
É foda né, Pedro?
Ele virou legítimo, acredita?
E você?
Você é Pedro.
E porra, Pedro,
Que pedrada!
Desceu Quadrado



Hoje em dia as pessoas acham que podem falar tudo o que quiserem na internet, sem nem se preocuparem com a repercussão do que isso pode trazer. Na minha época não era assim, as pessoas eram ensinadas a pensarem no outro antes de dar uma opinião. Outro dia presenciei uma pessoa ser linchada por ter roubado um joalheria, porém, quando os policiais chegaram e  foram olhar as filmagens da câmera de segurança, não era a mesma pessoa. A única coisa em comum entre a vítima agredida e o verdadeiro criminoso  era a cor da pele. Suas costas doíam, seu rosto sangrava, sua mágoa contra a sociedade aumentava. Tinha sido injustamente agredido. Enfim julgamentos precipitados que legitimam a violência. Enfim julgamentos que condenaram sem antes ouvir, tudo por que alguém pregou um discurso de ódio. Enfim  julgamentos sem oficialidade. Enfim, tudo menos julgamentos justos.

Levi Silva

Haiku em três atos


Ato um: Opinião

            no rio do pensar
            alguém vai contra o fluxo
            navegando

Ato dois: Perseguição

            a correnteza
            afoga esse alguém
            na pororoca

Ato três: Revolução

            mas se o terror
segue a correnteza
por que acompanhar?

SUSHI SASHIMI

Pedros por ai

 Acho que eu nunca deveria ter falado aquilo...
Quantas vezes você ja disse essa frase? Provavelmente muitas,assim como eu.Não acho que esse tal de Pedro esteja errado não...Quantas vezes você ja disse o que pensava,e sofreu com isso? Eu por exemplo,disse pra Giovanna que eu era apaixonado por ela e acabei me ferrando...Mas nao me arrependo nem um pouco,disse o que sentia,assim como esse tal de Pedro.Vivemos tempos sombrios Pedro,nao podemos nem dizer o que se passa no ventrículo esquerdo do nosso coração que Giovanna's aparecerão e nos colocarão para baixo...Mas avante tal de Pedro,seguimos fortes no que acreditamos,nunca calarão o coração,nem o Ministro da Educação nem o Ministro do Amor.Se o mundo inteiro fosse como nós,Pedro...Acho que viveríamos num planeta mais sorridente e menos doentio. Por mais Pedros no mundo,um breve relato que mistura amor e represália ao pensar e sentir coisas diferentes...

Somália Sucessada

Um discurso quando propagado em redes sociais funciona tal como uma folha de uma árvore, pode estar com sua pigmentação viva, por vezes, pode ressacar e em alguns casos ser levado pelo vento para lugares bem longes de onde fora formada. Fugindo do controle da árvore-mãe. 
    Quando viva…
           Ela dá cor e vida a toda magnitude que compõe. Da mesma forma que o discurso pode ser exaltado e gerar frutos positivos, com comentários que o agregam e que estabelecem uma relação de concordância com o exposto.
    Ao ressecar...
                       Com sua estrutura mais quebradiça, a folha perde - além de sua beleza - a sua parte significante para compor aquela árvore. O discurso, por sua vez, pode ser retaliado, gerar desconforto em alguns grupos e propagar quiçá um sentimento que não era primordial na hora da publicação.
    Quando o vento levar…
                                   A folha quando retirada de sua matriz e levada a outros lugares acaba por proporcionar a esses uma nova paisagem, porém, pode ser vista também como apenas mais um dejeto que deveria ser eliminado. As ressignificações que um discurso pode receber, quando lançado no meio virtual, foge do poder daquele que disseminou, no primeiro momento. Palavras que fora do contexto não são apenas palavras pequenas, podem gerar um turbilhão de sentimentos controversos e repressões.
            Cabe a nós, usuários do meio virtual, entender que por mais limitante que seja é preciso cuidado ao expressar um discurso, ainda mais nas circunstancias atuais. Do mesmo modo, que a árvore não possui o controle sobre suas folhas, nós não possuímos poder sobre o que podem interpretar da nossa fala.
-       Oblíqua Matoso


Fuga ao silêncio

Deixe que digam, que pensem, que falem é muito mais que uma simples parte de música, na verdade, assume também o significado da nossa famosa e querida liberdade de expressão. Temos esse direito. Devemos nos agarrar a ele. Mas ao mesmo tempo, ele se esgota quando invade o direito do outro.
No decorrer dos dias sempre esbarro com pessoas de alma pequena, chafurdadas no estrume da ignorância, com olhos que só conseguem enxergar o próprio umbigo. E essas pessoas fazem muito barulho.
Nesses momentos meu maior desejo é fugir para o silêncio.
A liberdade de expressão dá voz às pessoas, e algumas pessoas usam dela para calar os outros. Facismo, racismo, machismo são movimentos que personificam isso, porque as pessoas se vestem de um sentimento de superioridade para tentar ofender, diminuir e até exterminar outras.
No cenário atual vejo as esquerdas e direitas se atacando como nunca vi antes. Isso não é ruim. O que é péssimo é quando esquecem de que apesar de tudo somos todos humanos. É importante entender que é grave o discurso de tiro na cabecinha de bandido feito pelo governador, e também é o tuíte do Professor Pedro da UFF desejando que matem a tiro os evangélicos e facistas que estão dando o golpe na Bolívia. São duas situações bem diferentes, mas seria a morte a melhor solução? Particularmente, acho que combater a violência com o sangue nunca será uma boa válvula de escape. Paz e tiros não combinam em nenhuma circunstância.
De fato somos livres para dizer o que pensamos, mas algumas coisas não devem serem ditas, porque desejar a morte de alguém, não importa quem, é moralmente errado, ou pelo menos deveria ser. Extremismos matam, extremismos invadem a liberdade do outro, extremismos nunca são a melhor solução.
Quando o assunto é extremismo, prefiro ser cega, surda e muda como aqueles 3 macacos sábios, que viraram até emoji,  mas vieram de uma fábula japonesa, que sustenta o ideal de que o mal não deve ser visto, escutado ou falado. E o extremismo é um grande mal. Podem dizer que essa fuga ao silêncio é covardia, mas prefiro o silêncio ao barulho de tirar uma vida.

Metamorfose Ambulante


Palavras

  As palavras dividem. Machucam, rosnam e gritam. Elas têm significados, muitos, e eles se cruzam e fazem bagunça. Palavras constroem. Destroem. Dão margem aos pensamentos que fluem dentro de você, e se a onda for muito forte, não tem banco de areia que suporte as palavras que ela carrega. Aí, vem o tsunami. Ele atinge alguém, muitos na verdade. Mas o bom e ruim desse tipo de evento, é que cada um recebe de um jeito, mas ninguém entende nada, então prefere entender o que o mais próximo entendeu. Às vezes a gente não quer deixar elas saírem, mas palavra tem asa, é difícil conter. Mas às vezes a gente não quer conter, por explosão, por maldade, por impulsão ou por ser só palavra, depois é só usar aquelas magicas que tudo se resolve. Ou não. Às vezes as palavras excluem, radicalizam e podem não querer dizer aquilo, ou sim, ou não, ou sim... mas só quem sabe é o dono daquela palavra, se pra ele faz sentido ou não também não importa. Mentira, importa sim! Todo mundo se importa com a palavra dos outros, e não deveriam? Não sei. O que eu sei é que a palavra machuca até mesmo quem não ta na direção dela. Muito poder que elas têm, até mesmo ao vento... sendo apenas palavras pequenas.

Margo Blue


Auto da Barca do Inferno: O Professor


Professor: Onde estou? Mas que barcas são essas!?? Aqui com certeza não é a Praça XV!
Diabo: A barca não chegou na Praça XV... sendo assim, bem vindo a lugar nenhum.
Anjo: Na verdade, aqui é uma espécie de purgatório, um lugar de reflexão.
Diabo: Ah! mas como me enojam essas suas pieguices, lugar de reflexão o caramba!, ele está aqui para ter seu destino traçado!
Professor: Espera, que história é essa!? Eu morri!?
Anjo: É, sim. A barca naufragou na baía de Guanabara e agora estamos aqui, reunidos em busca de uma resposta, afinal você virá comigo ou partirá com ele?
Professor: Não, não pode ser, isso é um sonho, um pesadelo, daqui a pouco eu acordo.
Diabo: Pelo amor de Deus, está tão vivo quanto aqueles evangélicos bolivianos!
Anjo: Mas eles estão vivos!
Professor: Eu enlouqueci? Isso não é possível!
Anjo: Olhe, você agora está em outro lugar, e decidiremos com que você partirá. Eu pessoalmente não sou muito a favor de extremismos...
Diabo: Caso venha comigo, não tem de se preocupar, vou deixa-lo longe dos evangélicos fascistas bolivianos, sabemos que não gosta destes tipos, eu mesmo sigo o Ministro da Educação no twitter e vi o tweet.
Professor: Seja lá o que estiver acontecendo, ou que está, não sei de mais nada, eu não falei nada contra ninguém, foi algo usado de forma descontextualizada, eu estava lá sendo atacado de graça! E ainda partiram pra ofensas pessoais, atacaram a universidade, que não tem nada com isso!
Anjo: Pois deveria ter pensado nisso antes, todos os atos têm consequências, boas ou ruins, e na internet a capacidade destes últimos é bastante amplificada.
Professor: Exato, foi isso, foi amplificado. Amplificado e descontextualizado! Eu sou uma boa pessoa, independente disso ou não, eu tenho uma trajetória que não pode ser resumida num tweet!
Diabo: E não é que você fez isso? Conseguiu ofuscar toda uma história por causa de alguns caracteres, meus parabéns!
Anjo: Acho que não é pra tanto. Porém, ainda não sei... Não estou confiando muito em você, parece-me um pouco petulante.
Professor: De maneira alguma, apenas acho isso tudo muito injusto.
Diabo: Meu colega foi bem legal ao utilizar “petulante”, vi outros tipos de elogio como “doutrinador“; “manipulador” e até “baderneiro”
Anjo: Além dos insultos à Universidade, concordando com aquela ideia absurda de balbúrdia.
Professor: Eu já entendi que fiz besteira, o que quero dizer é que isso não me resume: eu sou uma pessoa bondosa de qualquer jeito!
Diabo: Ao que está parecendo, você não vai para o paraíso de jeito nenhum.
Anjo: Torcer pela morte alheia, sinceramente...
Diabo: Venha, temos hora marcada.
Professor: Não vou! Isso é absurdo!, é ridículo!
Diabo: Ridículo é você, já viu alguma coisa não-ridícula ir parar no twitter do Danilo Gentilli? Então...
Anjo: Não ligue para ele, ele gosta de perturbar, talvez eu lhe dê uma chance, como propus anteriormente, um momento de reflexão, de restauração da paz.
Professor: Paz, isso, exatamente isso é o que preciso. Por isso, ainda que toda essa situação não seja um sonho, que eu não vá acordar daqui a pouco, eu preciso ir com você, Anjo!
Diabo: Venha, é chegada a hora... desembarque pelo lado esquerdo e observe o espaço entre a embarcação e a plataforma!

           O professor acordou, agora já na Praça XV, tinha dormido um pouco durante o curto percurso. Assutava-se com o sonho, ou pesadelo. Temia o inferno, tanto o lugar comandado pelo capiroto, quanto os criados pelos humanos. Queria a paz, aquela que não foi pregada, certamente não é um erro fatal que desvirtue toda sua trajetória, mas algo a ser pensado e reconsiderado.

                                                                                                                         

                                                                                                              Maximo


Tribunal online
 

Você está se preparando para casar. Já reservou tudo e cuidou de todos os detalhes da cerimônia e da festa. 24 horas antes do casamento você recebe uma mensagem do noivo informando que ele mudou de ideia. Então você decide manter a festa e casar com você mesma. Como você é uma influencer, compartilha todos os detalhes do casamento solo com seus seguidores, mas você começa a ser atacada. Diversas pessoas te criticam e te acusam de querer chamar atenção e inventar uma situação para se promover. No dia seguinte, ela se atirou do nono andar de um prédio.

Esse caso aconteceu em julho deste ano com a blogueira Alinne Araújo. Ela foi só uma dentre várias vítimas que sofreram e sofrem com as consequências reais do linchamento virtual. A verdade é que hoje julgamos muito as pessoas sem saber um terço da vida delas. Sei que quando a Alinne foi abandonada pelo noivo, ela não ficou feliz. Porém, se ela decidiu manter a festa e se casar sozinha, foi a escolha dela. Foi a maneira que ela encontrou de lidar com a dor dela. Isso não significa que os outros devem pensar e agir igual, apenas entender e aceitar a atitude dela.

Existem diversos outros exemplos de linchamento virtual que ocorrem por fotos ou comentários postados da forma julgada como inadequada pela sociedade. Mas da mesma maneira que gentileza gera gentileza, violência gera violência. Se uma pessoa posta algo ofendendo ou agredindo um grupo ou um indivíduo, ela deve sim ser questionada, mas ao questionar sempre deve-se lembrar que do outro lado existe um ser humano, que também é passível de erro.

Não quero aqui defender pessoas que disseminam ofensas e ódio, mas acredito que retribuir com ameaças e ataques um comentário maldoso não vai fazer a pessoa entender seu erro. Existem limites para a nossa liberdade de expressão que precisam ser seguidos e respeitados.

Precisamos ter mais empatia com o outro, no geral. A internet não precisa funcionar como um tribunal onde a qualquer momento uma pessoa pode ser condenada. É importante sempre termos em mente que o linchamento pode até começar nas redes sociais, mas ele se estende e provoca consequências na realidade.

Alice Gold

A felicidade é uma arma quente

E agora, homem. Onde estão tuas roupas? Como contarás aos teus pais que fantasmas te perseguem? Como cruzarás a esquina temendo a assombração? Como podes dizer que eu levo tudo para o lado errado? 

Agora que estás exposto, só nos resta descobrir se és disposto a conviver com o peso de tuas palavras. Sei que teus ossos não racham. Que teus músculos não gritam. E que tua carne não é podre. Mas agora tu tens medo, homem, e dor maior que a antecipação não existe. 

Acontece que pensamentos voam como águia, fluem como água, pairam no ar, e qualquer oportunidade de solidificá-los nos é sedutora - mas tu o fizeste no lugar errado, no momento mais inoportuno possível. Porque qualquer oportunidade de ressignificá-los é também atraente aos olhos de quem é cego, homem. E tu não és cego. 

Mas agora como voltas à luta? Como usarás dos teus olhos, que veem, para trazer a luz quando a confundem com a escuridão? Como ousas levantar a espada em direção ao discurso ao qual juramos defender? Como ousas içar a bandeira inimiga em nome de nossos votos? Como ousas cogitar a ideia de que qualquer canto seja maior que a vida de qualquer pessoa?

Creio que pensavas ter privacidade, pena que o mundo seja sempre mais atento àqueles que erram no momento em que erram. Pena que sejamos imperfeitos, mas eu torço para que esse quadro não passe de fato pela tua cabeça. Sei que é mais fácil menosprezar a existência daqueles que nos são divergentes, principalmente quando nos machucam. Sei que soa utópico imaginar que haja uma solução livre de sangue, mas a utopia serve para caminharmos. E por favor, não te rebaixes ao nível daqueles que nos esforçamos para desconstruir. Por favor, homem, não caminhes para trás. 

E agora, homem, eu te desejo forças. E agora, homem, te suplico que não sejas menino. Porque tu não podes pensar que és sozinho no mundo. Porque tu não podes pensar que tua voz beijará os ouvidos alheios assim como saiu de tua boca.  Porque tu não queres dormir com fantasmas. Porque tu não podes imaginar como pesa um homem morto. Porque, apesar de tudo, a felicidade não é uma arma quente. E nunca será.

Adam Sandler

Porque eu?


Boa dia, galera. Hoje é um dia muito triste pra mim, pra minha família e pro país. Me chamo João Roque, 18 anos, de São Gonçalo, sou candomblecista e estudante. Porém, pra contar minha história, devemos voltar a uns 300 ou 400 anos. Minha fé sempre incomodou, sempre trouxe muita dor aos meus, não podíamos dançar capoeira, não podíamos tocar pandeiro e nem sambar, é isso mesmo, vivíamos esse absurdo até começo do século XX. Tudo que era preto era do demônio, e hoje ainda continuamos assim.

Minha família sempre exerceu sua fé, batemos tambores em homenagem aos nossos orixás e eu como filho de Xangô, odeio a injustiça. E isso sempre me intrigou, porque não podemos exercer a nossa fé de maneira como está definida na Constituição? Por que  não posso colocar minhas guias e andar tranquilo nas ruas? Por que não posso postar fotos das festas dos meus terreiros sem que alguém fale que está fazendo pacto com o diabo? Por quê? Será que é tão difícil viver em paz, quando as pessoas te odeiam sem ao menos conhecer você e sua religião.

E assim, em um dia normal, eu tomei a decisão de expor minha fé. Coloquei na descrição do meu instagram:

João Rock
Morador de São Gonçalo
Do samba/Funk/Rap é isso!
Filho de Xangô

E com isso eu passei a ostentar as minhas guias, porque é ostentação ter guias tão lindas feitas de contas que minha avó faz pra mim, ela mãe de santo do babado, ela é a braba dos terreiros. Bate tambor, canta, dança e tudo isso na maior alegria. Voltando a minha estória, a partir desse dia não tive mais paz, eu postava uma festa que acontecia no terreiro e pessoas que eu considerava amigas, começaram a atacar, a me chamar de macumbeiro dos diabos, filho do satã, se eu matava bichos e entre outras barbaridades, matam bichos sim! mas, bichos que todos matam e que depois viram refeição para os filhos de santo.

E isso me revoltada, por que só a minha religião? Todos podem confessar sua fé em paz, mas aí eu entendi, como nas aulas de história de brasil colônia, tudo que é negro ofende, é feio, é excluído por esse sociedade branca. Eu moro em um bairro que dominado pela facção “IPC” - Irmãos Por Cristo, e eles odeiam tudo que não do deus deles, incluindo minha família. Até que o pior aconteceu, primeiramente pra minha avó, destruíram o terreiro dela a tiros, e isso me revoltou ainda mais. Logo depois, num dia de manhã, indo comprar, na minha, sem camisa, até que sou parado por duas motos, eles descem e apontam:


- olha ali o macumbeiro, aquele que desagrada deus. Exclamou o chefe da boca


Eu falei:


- calma aí, maluco. Tentando me defender.

Porém, não teve conversa. 2 tiros na minha cabeça. E eu fui embora.

Agora, eu estou em outro plano, conversando com minha avó que escreve essa carta pra deixar um alerta pra nossa sociedade, a fé que não seja igual a do outro, me matou. Porém, eu sou filho de Xangô, o DEUS DA JUSTIÇA, e tudo se acertará na hora certo.

João Roque, 10/11/19.


João Danado

O problema das palavras.

Falar é um problema. Escrever também é. 
A efemeridade do que é dito as vezes te faz esquecer. O que é escrito é mais difícil de deixar passar, não? Talvez palavras de amor não sejam esquecidas com facilidade, ou essas podem ser as mais esquecidas? As palavras de ódio são sempre lembradas, não? Algumas são imperdoáveis. Mas e se a situação que motivou elas a serem ditas também seja imperdoável? E se outras vidas estejam sendo colocadas em perigo? Isso talvez não motive as palavras de ódio? Não posso dizer. E isso causa revolta? Sim, não? Talvez seja por isso que ele tenha dito. E eu tenha concordado por hora. É possível concordar com as palavras mas não querer que elas realmente aconteçam. É difícil medir o que dizer. Tudo vai rápido demais hoje. Tudo se compartilha demais hoje, não? É doido pensar que essas letras que eu to usando agora para construir uma simples crônica podem até matar. Podem te fazer querer se esconder. Podem fazer até você tirar a barba pra ninguém nem te conhecer. Ta todo mundo meio doido, não? Mas as palavras de ódio são um problema mesmo, por que são elas que fazem a multidão se juntar. Muitos odeiam o mesmo. Basta alguém começar. A falar. Ou melhor, a escrever.


Aurélia Sen 
Eu errei
Eu errei quando não me declarei para o amor da minha vida.
Eu errei quando não abracei os meus pais.
Eu errei por não usar a minha roupa favorita por não querer aparecer com a mesma roupa na próxima foto do feed.
Eu errei quando me expressei para todos e não para os meus.
Eu errei por não querer ter filhos para trazer a este mundo cruel que me persegue. 
Eu errei. 
Eu errei?
Sou de carne e osso e viver com a sensação de perigo por todos os lados eu não desejo a ninguém.
Julgam-me num tribunal sem quererem me ouvir. Me sinto aprisionado e amordaçado, calaram os meus dedos.
A minha verdade também pode ter mudado.
Não posso mais dizer sextou, nem pensar no Natal enquanto a minha alma não se acalmar.
Eu errei.
Eu errei?
Se é que errei, nem sei...


DARLENE COOK

Pedras

Meu pai se chama Pedro. Costumo falar que tudo na vida dele gira em torno da letra P porque, além do nome, ele é professor, promotor e quase sempre tá puto. Não sei se ele acha muito engraçado, mas eu adoro. Fica puto quando tá passando mal, puto quando faz merda no trânsito, putíssimo com os jogos do Flamengo e, o meu favorito, puto do nada sem motivo nenhum. Falando assim pode parecer que ele não é um cara legal, mas prometo que é. Ele fica puto, mas não é agressivo. Ele tenta guardar as coisas pra ele, sabe? E às vezes explode.


Assim como eu tive que fazer, ele aprendeu que tem que se segurar um pouco quando a ira bate, porque a probabilidade dele se arrepender mais tarde do que fez e disse é grande. Por isso ele toma o maior cuidado quando vai postar algo na internet. De vez em quando ele não se aguenta e solta um comentário irônico, uma piadinha que os alunos dele fingem gostar pra puxar um saco. Mas nem todos os Pedros têm a mesma sorte. Ou talvez meu pai só não tenha escrito a correta frase errada ainda.


Não conheço os outros Pedros. Não sei o que os fazem putos, quais piadas eles aceitam para não cair na pilha de suas filhas. Não sei seus nomes, como estão suas vidas, como veem o mundo. Mas de alguma forma tenho o poder de os cancelar. E eu tenho certeza de que meu pai, se tivesse a notoriedade necessária, seria cancelado. Porque todos temos potencial de cancelamento. Acho que todo mundo sabe disso. Ou não, porque eles ainda existem junto com os linchamentos virtuais. Sei lá de onde veio essa ideia de que a melhor forma de lidar com divergências era abrir ainda mais a fenda que as separa. 



Mas temos a mania como sociedade de manter hábitos prejudiciais, de criar cisões e mais cisões entre o eu e o imaginário outro. É, não acho que essa cultura vá desaparecer. Compartilho esse P de pessimista com meu pai. Mas as chances são que dessa vez estamos certos. Sempre haverá aquele que justificará sua pedra lançada ao ar, pois afinal, Pedro paga pelo próprio pecado.

Souza Queiroz

Os Dois Lados de um Extremo

Aquilo que mais se ouviu em 2018 foi “ninguém solta a mão de ninguém”, hoje, quase 2020 e não restou quase nenhuma mão para ser segurada. O país o mais dividido possível; é esquerda direita ou centro ou nem esquerda nem direita nem centro, isento. Preferimos a paz, mas depende para quem. Preferimos a paz, mas a defendemos com ódio.
A internet, uma terra sem lei; todos, com uma opinião prontinha para dar. Pode vir! Se tem algo a falar, vá em frente que agora é a hora. Já não lhe disseram que aqui é terra de ninguém, filho?! Mas, olha, às vezes é terra de alguém que te lê, mas não te entende. Ou te entende bem demais, te julga demais. Você sabe o que quis dizer, e você disse o que você disse, agora não dá para desfazer. Ah, e isso vai te perseguir por tantos anos... E quantos anos! Porque a internet é terra sem lei, não sem memória.
Um pequeno parágrafo de um tweet e bum! foi-se aquilo que você era. Agora você é outro, resumido à sua opinião – cheia de ódio –, e tudo o que você era, já não importa mais. Cancelado. Por tempo (in)determinado. A internet não esquece, mas se adapta, ela finge de cega. E então recomeça, e aparece outro alvo, outro que vai dizer o que pensa sem medir esforços... Inconsequente. Quem diz o que quer, ouve o que não quer – isso é quase uma outra lei de Newton.
E destilar ódio assim, torcer pela morte dolorosa de alguns, mas no final defender só os seus que importam… Apenas não! A luta perde o significado quando extremos assim se encontram, se acham tão diferentes, mas em algum momento acabam se identificando, se entendendo e completando. Os dois lados dos extremos sempre encontram.

Coraline.


   Estava passando pelo twitter, bem distraída na verdade quando vi um tuite que apoiava um determinado candidato a presidência, tinha muitos comentários, fiquei curiosa por causa da quantidade de comentários, quando você menos espera está assistindo um linchamento virtual, repleto de ofensas e ameaças.
   Voltamos a era de Maria Madalena, só que agora o apedrejamento é virtual e consequentemente não usam pedras e sim palavras que podem machucar tanto quanto pedras.

Harry Potter


Geraldo Vandré que me desculpe.


não acredito que conseguiremos vencer os canhões, entregando flores.

um professor essa semana foi perseguido por declarar que:
"fascistas não têm direito a vida", "que forças da resistência peguem em armas e matem a tiros os fascistas e evangélicos que tentam destruir o país".
eu ouvi diversas pessoas discordando dele e achando que ele exagerou.
pois eu discordo delas.
guerra não se resolve só com amor caralho.
cê sabe o que é ter medo de andar na rua só por ser mulher?
cê sabe o que é ter medo de andar de mãos dadas com alguém que você ama?
cê sabe o que é ver só os negros que andam de ônibus sendo revistados pela polícia?
não vem com esse teu discurso moralista pra cá não.
é por conta dele que a gente tem que aguentar esses conservadores de merda que não aguentam ser contrariados.

quero é que a América Latina tenha cada vez mais o sangue revolucionário do Coronel Aureliano Buendía correndo pelos seus rios, florestas, cidades, pessoas.


                                                                                                                      ben.


Eu avisei

-EU AVISEI QUE IA DAR MERDA, MAS NINGUEM ME ESCUTA NESSA CARALHA!
Num coro de vozes decepcionadas que estava presente naquela sala de reunião, acalentadas unicamente por estarem no mesmo barco, assim como alunos que estão fazendo um trabalho atrasado e escutam do amigo: “ainda não terminei também”,  todos respondiam: 
-Me desculpe, Inteligência...
Inteligência: -Agora é fácil falar, não foram voces que passaram meses falando pro Desejo não assistir videozinho do “Tese Onze”, dizendo pra Coragem não compartilhar noticia que viu no “Meteoro Brasil” e nem pro Ego seguir paginazinha do Facebook só porque mandavam Bolsonaro tomar no cu...
-Mas o “Pense, é gratís” não xingava o Bolsonaro. É uma pagina muito consciente, sempre apresenta ótimos argumentos e, por isso,  assistimos sem sermos influenciados. Disse uma das vozes arrependidas. 
-Teu cu, que não foi. Disse a Inteligência.
-Assim que a gente acabou de ver o vídeo a Raiva foi tuitar que Lula é um prisioneiro político. Ou tu tá esquecido ?
Ego: Não to me lembrando, não..
Inteligência: -Sei, sei... Ta desinflando porque, então ?!
-Agora voltando a falar sobre twitter... (neste momento todos abaixaram a cabeça e, com olhos arregalados tentavam conversar mentalmente, mas não conseguiam, pois já estavam nela). Quem foi o jumento que fez aquela porra do Gentili ter mais argumentos que eu num debate ? Eu perdi nos argumentos para um cara que acredita que exista racismo reverso. Não sei nem como o Ego ainda está aqui porque, depois disso, eu teria ido embora.
Todos permanecem em silencio, a sala de reunião fica quase muda. Por exceção de um único som, que se destacou devido a falta de todos os outros: o bater do pé de um culpado.
-Bora, pode abrindo o bico. Disse a Inteligencia.
Medo: Assim, em minha defesa...
Inteligência: Defesa é o caralho porque tu fudeu todo mundo
Medo: Eu não queria ter dito daquele jeito mas saiu.
Inteligência; Saiu tambem o meu piru da calça que vou passar na sua cara, seu retardado. Era só ter perguntado pra alguém se poderia tomar frente ou não. Olha a merda que tu arranjou.
Medo: Mas olha o que fizeram la na Bolívia, vai me dizer que não é influenciado pelos americanos ?
Inteligência: O que não é influenciado por eles, seja um movimento a favor ou contra ? Mas aquilo ali que tu escreveu só mostra que a gente cospe hipocrisia igual as pessoas que tem visão diferente da nossa. Tu mandou um cara ir para um cativeiro. Não te lembra o discurso de alguém ?
Medo: isso não fui eu. Eu não conseguia responder os comentarios.
Raiva: Tá, fui eu. Mas é porque já tinhamos feito a merda ai é só deitar e rolar.
Inteligência: Eu só fui dormir e voces fizeram essa merda gigantesca. Não havia um outro pra evitar isso além de mim ?
De repente, escuta-se o ranger da porta e entra mais um, com uma roupa bem diferente: de short florido, camisa de botao com estampa colorida, chapéu de pescador, chinelo das havainas branco e oculos escuro. Com ums aura bem diferente de todos ali, aquele ser chega sorrindo, com musica no fone de ouvido, tira um dos lados e começa a falar com todos:
 Bom-senso: BOM DIA MEUS AMIGOS ! Infelizmente acabaram minhas curtíssimas férias, perdi muita coisa, rapaziada ?

Carinha que mora logo ali

Pequeno e Insignificante

Começa pequeno e insignificante. Plantado como uma semente a crescer em dias de sol e chuva, de forma singela e quase imperceptível. Desabrocha na mocidade e finca suas raízes na vida adulta para ninguém derrubar. O sentimento nasce em nossos corações, regado todos os dias por falas e injúrias, amadurecido com o tempo faz-nos rejeitar a alteridade sem nenhuma razão ou motivo.

Poderíamos ser sofisticados e evoluídos, poderíamos aceitar as diferenças e viver em harmonia como se não existissem inimigos, mas seria muito aspiracional. Então preferimos aceitar o fato de que os gregos estavam certos e que devemos eliminar tudo que não faz parte de nossa identidade ou optamos por simplesmente converter e doutrinar, forçando o outro a adotar os nossos padrões mais egoístas.

Ah, o ódio! Pequeno e insignificante, poderíamos simplesmente ignorá-lo e acreditar que as pessoas que escolhem tal caminho são a minoria, mas as coisas ruins são sempre mais fáceis de acreditar. E nos colocamos em bolhas que nos separam mais e mais. Não percebemos que no momento em que todos insistem na batalha do nós contra eles, nos esquecemos na verdade que somos um e quem perde nessa batalha somos nós.
Don Draper

Só Mark Zuckerberg na causa

-Menina, você viu que um professor lá da sua faculdade saiu por ai xingando todo mundo e falando que vai matar os crentes ?
- O QUE!?
- É, a Neide postou no "face", essa juventude tá perdida, olha esses doutrinadores, estou pensando em tirar você dessa faculdade, não é um ambiente que eu quero pra você, que balbúrdia!
- HAN!? 
- Ai minha filha, não me venha se passar de desentendida, está escrito lá no tal do "tuite", todo mundo viu.
- A senhora também viu ?
- A Neide postou no "face", já te falei.
- E qual o contexto pra Neide postar isso? Ela está sabendo o que está acontecendo lá na Bolívia?
- AHN!? Que Bolívia?
- É mãe, você precisa entender o contexto antes de sair compartilhando qualquer coisa por ai. O presidente da Bolívia sofreu um golpe, a democracia  foi totalmente massacrada e políticos de direita se intitularam novos governantes do país, inclusive prendera a presidente do tribunal superior eleitoral. É como se o voto da senhora ano passado não tivesse valido de nada porque os políticos resolveram ignorar a opinião do povo.
-  O professor talvez tenha utilizado algumas palavras mal colocadas e um certo exagero, mas a mensagem era contra esse novo tipo de fascismo que mata democracias.
- Ih, isso aí é tudo daquelas fake news, esse professor deve ser algum gay, esquerdopata que odeia Deus e mandou matar os crentes.
- Ai mãe, só existe uma arma mais poderosa que a Bíblia hoje que são as redes sociais, e o professor acabou sendo mais uma vítima delas, onde as pessoas compartilham informações sem ao menos entender o contexto, onde xingam umas as outras sem medir as palavras e seus alcances, e onde cada um está escondido atrás de um avatar ou pseudônimo e acha que está livre de qualquer tipo de lei, uma vez que se sente protegido de qualquer merda que ele fizer.
- Ai, ainda bem que meu "face" é só pros amigos, no máximo algum outro conhecido.
- É mãe, com certeza a senhora está bem protegida... Santo Zuckerberg !

Brócolis Verde

sábado, 9 de novembro de 2019


Diário da Sushi #2


Niterói, 23 de outubro de 2019,
Querido diário...
                Aqui estou eu novamente fazendo minhas confissões para você, apesar do tom de imaturidade que eu possa trazer para temas sérios e complexos. C’est la vie. Bom, pelo menos uma ida à orla do Gragoatá não precisa ser séria, nem muito menos complexa. Mas às vezes é. Isso porque hoje vou falar sobre ele, ele que poderia ser ELE, mas é apenas ele...
Na primeira vez que fomos para a orla eu não esperava que nada acontecesse, só queria mostrar a vista: a Ponte Rio-Niterói que permanece imóvel enquanto os carros, que parecem pequenas formiguinhas, vão de um lado para o outro; as barcas que atravessam a Baía de Guanabara mais rápido do que esperamos; e os aviões no céu, que se preparam para pousar no aeroporto Santos Dumont. Ele me beijou. Eu comentei que da orla conseguíamos ver quase todos os meios de transporte. Ele me beijou de novo.
Na segunda vez que fomos para a orla já fazíamos planos, eu pedi para ele trazer uma canga de casa, visto que a grama é cheia de formigas que atacam nossas pernas sem pena. Ele trouxe. Deitamos. Por acidente acabamos achando uma posição perfeita em que conseguíamos ficar deitados, olhar um para o outro e ainda sim ver a paisagem. Não te explico como, caro diário, porque essa é a nossa posição. Ele me beijou. Colocamos Lana Del Rey para tocar e ele ficou bagunçando meu cabelo. Eu o beijei.
Na terceira vez que fomos para a orla só fomos porque já estava marcado, não houve canga e nem música dessa vez. Ele falou que precisava conversar comigo, eu concordava, mas não queria. As marolas da baía estavam mais fortes naquele dia. Ele deitou no meu colo e falou que não sentia amor por mim. Eu nunca tinha falado de amor, mas ele estava tão bonito falando isso. Eu ri e baguncei o cabelo dele. Um barco fez um barulho alto que ecoou por toda a orla. Ele me abraçou. As formigas começaram a nos atacar falando que nosso tempo ali tinha acabado. Essa seria nossa última orla.

SUSHI SASHIMI

sexta-feira, 8 de novembro de 2019


Paz de espírito. Era quase isso que eu sentia ali. A baía de Guanabara, diretamente do Gragoatá, é a minha calmaria em meio ao caos. Em meio a tanto sufoco, pressão, agonia de provas e trabalhos num final de período eterno, ela conseguia me trazer um pouquinho da paz que eu procurava. Pode não ser a mais saudável e indicada para um banho, mas é, definitivamente, uma das melhores visões em Niterói.
Gosto de sentar e imaginar o que se passa, logo ali, do outro lado. Tantas outras realidades e experiências, tantas outras pessoas vivendo exatamente o mesmo dia, fazendo as mesmas coisas, e, às vezes, sem nem perceber. Enquanto os alunos, descansam, cantam, fumam, riem por ali; os carros passeiam sob a ponte durante o pôr do sol. Cada pessoa a caminho de sua casa ou algum outro lugar, prontas para contarem as histórias de seu dia para quem quer que quisesse ouvir. Ou apenas dormirem, à espera do próximo dia, da mesma rotina; sem nem olhar para a água, tão monótona, que lá embaixo lhes rodeiam, esperando um pouquinho de atenção. Ganhando lixo em troca. Podridão.
Algumas vezes me disseram que era inaceitável entrar nessa água, a não ser que eu quisesse criar um terceiro braço, ou “uma calda de sereia de Chernobyl”; eu não queria. Mas fico pensando nas pessoas que dali tiram seu sustento - tão escasso, atualmente-, será que elas veem a baía como eu? E as pessoas do outro lado, será que olham pra esse lado de cá? Será que veem a beleza que eu vejo? Ou só o que eles poluem? Se vissem, acima de tudo, o quão bonita e pacífica ela pode ser, cuidariam mais, talvez. Destruiriam menos, a preservariam do jeitinho que ela tem que ser: linda.
Cora line

Ninguém vê como você


Toda noite ela se transformava
Ela que de dia parecia ser Baía e simplesmente Baía
Compondo só mais uma paisagem bonita como outra qualquer
Toda noite ela se expandia
Se ressignificava
Seus pequenos sentidos já não cabiam mais nos meus
Nos meus que na verdade eram nada mais nada menos do que uma extensão de você
Uma extensão do que comigo você fez...
As grades da área militar corriam
Davam início
E em mais uma noite eu me impressionei
Me impressionei quando o movimento das pequeninas ondas pareceu me reger
Me impressionei quando pude escutar o seu barulho mesmo com os fones ao máximo
“Espero que o tempo passe
Espero que a semana acabe
Pra que eu possa te ver de novo...”
Eu percebi
Percebi quando as construções que a envolviam transformaram-se em um pericárdio
Percebi quando as embarcações perdidas em meio ao nada pareceram não ter mais motivo algum para chegar em algum lugar
Percebi quando na água o reflexo de suas luzes pôde compôr um eletrocardiograma
Umas mais amareladas do que outras
Singularmente mistas e importantes
Cada qual com seu valor...
Sem contar em quando o Museu do Amanhã expôs memórias nossas em realidade aumen...
Oi???
É, eu entendi...
Entendi que era eu que nunca passava pela Baía do mesmo jeito...
Entendi que não tem como mergulhar no universo de alguém e permanecer o mesmo...
Felizmente!
Você fez morada em mim
E, de novo, felizmente...
“Espero que o tempo voe
Para que você retorne
Pra que eu possa te abraçar
E te beijar
De novo.”
Oi...
Sim, já tô na Leopoldina...
Cheguei!
Annie Drao