domingo, 30 de setembro de 2018

CARTA PARA UM ELEITOR DO COISO

Querido familiar, tio, amigo, parente, parceiro, maconheiro. Meu ente querido, que burrice. Como te atreves a propagar o ódio. Logo tu, homem tão estudado. Como votas naquele que sequer é falado? Não escrevo essa carta como protesto, reivindicação jovial ou tentativa de convencimento. Escrevo porque é das poucas coisas que bem sei fazer. Não vou às ruas gritar “ele não”, mas meu peito vibra em desprazer e angústia quando dizes que sim. É tão boa nossa rotina. São tão boas nossas manhãs de esporte seguidas de um ‘baseadinho’ em tua Mercedes prateada. E por isso ris e aceleras e fazes girar e roncar e gritar o motor de tua máquina, de tua nave. Ela mesma. É isso. É ela quem te tira da realidade. Tua nave cor prata, custeada em alguns milhares de reais que para ti sequer têm valor, pois tens tantos. Tua bolha social que talvez represente menos de 1% dos brasileiros. Não é real tua realidade, nem a minha. Mas real mesmo só a reflexão, a empatia, o transbordar de um amor que transcenda opções sexuais. Só isso nos faz reais. Só o amor transforma, reforma e deforma também (mas já estamos tão deformados não é mesmo? Tão loucos, surtados, desvalorizados). O ódio, por sua vez, única e exclusivamente deforma. És destro. E sou também, mas restrinjo-me às quadras. És destro. E já nem sei mais o que sou. Já nem mais sei se sou. Ainda sei ser seu amigo, sim. Por enquanto sei ser seu amigo. Sei fechar os ouvidos. Sei ser surdo, mudo, súbito. Ao teu lado sei e devo ser, mas temo o dia em que não mais poderei ser seu amigo. E como temo. Temo o dia em que sequer poderei ser, mas segues a não fazer ideia. Tão estudado, mas tão burro. Tão encurralado na bolha. Nas notas. Nas folhas. É tão boa nossa rotina. São tão boas nossas manhãs de esporte seguidas de um baseadinho. É tão cômico como cumprimentas e saúdas os militares: chapado, de óculos escuros e janelas abertas para que se esvaia o cheiro do baseado. És tão cômico. É tão cômico não veres que daqui há 2 anos podem estar por vasculhar, a qualquer momento, teu carro, em busca do teu tão querido baseadinho. É tudo tão cômico. Seria tudo tão cômico se à beira da comicidade não estivesse debruçado um abismo de 4 anos consecutivos pelos quais respirarei por aparelhos. Seria tudo tão cômico se minha juventude não se resumisse a 2 números e um bucado de ignorância.
Com um cômico e despojado desprazer,
Zé Zepelim

Carta para um eleitor do Coiso.

Querido amigo, gosto muito de você, por isso estou querendo entender. Juro que venho por meio desta carta tentar refletir sobre o seu posicionamento. Não estou aqui para julgar, muito menos para atacar o seu candidato, isso já faço muito nas redes sociais. Queria que você soubesse, que independente da nossa polarização política, eu sinto falta do que nós éramos, sinto falta da nossa amizade, sinto falta da gente matando aula no banheiro e dos esquemas de cola que a gente bolava.
Fico mal toda vez que vejo alguma publicação sua no Facebook, toda vez que você tenta defender o pensamento dele. Eu sei que a nossa amizade não existe mais, você se tornou um conservador de direita e eu, um liberal de esquerda. Infelizmente a gente não se mistura. Que saudades da nossa amizade, das merdas que fazíamos, que saudades de não ligar pra política e de não ter que discutir com você.
Eu escrevo essa carta, como uma tentativa, uma última tentativa de trazer nossa amizade de volta. Me explique o que você defende, me diga o motivo de você lutar do lado que você luta, e por favor me diga algo mais plausível do que “Eu não aguento mais o PT no poder”. Por que eu meu amigo, eu sei exatamente aonde eu luto, eu sei muito bem o que defendo. Eu defendo o direito das mulheres, por que estou cansado de ver mulheres sendo estupradas, tendo seus corpos objetificados e sendo tratadas como inferiores. Defendo o direito dos gays, porque eu sei que amor não se escolhe, e eu sei que todos devem ter o direito de amar. Defendo o movimento negro, porque nasci branco e não sei o que é ser discriminado pela cor da minha pele. Defendo os índios, porque tenho consciência de que eles estavam aqui antes e que seu espaço deve ser garantido e sua cultura preservada.
Lutar desse lado significa, lutar pelo direitos das minorias, lutar pela igualdade de gênero, lutar pela educação, pela cultura, e principalmente, lutar desse lado significa acreditar que de forma alguma a violência é chave para mudar o nosso país. E por favor, jamais se esqueça que todas as vezes que eu gritar “Ele Não”, isso não representa apenas uma preferência política, representa um ato de resistência.

Oswaldo do Jae.

Carta para um eleitor do “coiso”

Querido primeiro amigo,

O primeiro amigo a gente nunca esquece. O primeiro amigo a gente leva para a vida toda. O
primeiro amigo é aquele que cuida de nós quando mais precisamos, desde os momentos iniciais
de nossas vidas, e precisará dessa mesma cautela no fim de sua jornada. O primeiro amigo te
transmite o prazer pelos pequenos detalhes da vida. E, muitas vezes, aceita sua ingratidão, ao
abrir mão de sua companhia para te ver feliz. Eu poderia escrever durante horas o que
representa a figura do primeiro amigo para minha formação como ser humano, mas não é esse o
foco. Talvez seja hora de abdicar de meu orgulho e entender suas escolhas e posicionamentos, tá
faltando empatia no mundo, sabe?
O cenário político atual criou uma enorme polarização social, a guerra do “coiso” contra o
partido vermelho virou um grande FlaXFlu com discussões infinitas, durante o ano inteiro, que
não levam a lugar algum. Chega, por favor, chega, polarizar minha família? Qual é? Você vota
nele, e daí? Vou parar de te amar por isso? Nem fodendo. Estou contigo e nada vai mudar essa
relação. A questão não é o candidato que não pode ser nomeado, nem os “mortadelas”, mas sim
os indivíduos. Estamos doentes, amigo. E essa enfermidade parece ser contagiosa, mas eu estou
tomando meus remédios, eu estou escrevendo essa carta, porque para mim já deu, muitos de nós
já fomos contaminados, muitos núcleos familiares foram rachados, ou até mesmo destruídos.
Por isso, redijo esse bilhete. Esse bilhete que entende como você quer o fim da corrupção, que
compreende o seu anseio por um país melhor e a sua visão na imagem desse “coiso” como a
solução para todas as complicações que país carrega. Essa mensagem é uma bandeira branca, a
cor que representa junção de todas as outras, inclusive as verde e amarela e a vermelha, que o
povo maluco resolveu colocar em confronto, flâmula que não aguenta mais as brigas, as
confusões e a cega intolerância mútua fruto do individualismo, é um símbolo que pede paz.
Clichê, né? Discursinho de harmonia por um mundo melhor, eu sei, todo mundo fala isso, mas
lembre-se, sem conciliação não há convívio, sem convívio não há sociedade e, assim, voltamos
todos para os tempos das cavernas. Portanto, em nome dessa paz, te aceito, reconheço a sua
perspectiva, não concordo, porém não tem importância, minha função não é essa, tampouco é
criticar sua decisão, isso eu já fiz na última crônica. Meu papel aqui, companheiro, é te acolher,
te abraçar por intermédio das palavras, fazer você entender que, apesar de toda essa conjuntura
de conflitos, escrevo essa carta para mostrar que, mesmo com todas as discordâncias, eu te amo,
pai.

Rômulo Zaragoza

Carta para um eleitor do Coiso

#TodosContraEle 

As vezes procuro te entender. Entender o motivo que leva uma mulher, que preza pelo amor ao próximo, a optar, no fim das contas, por esse voto. Dói ver a inocência em seu olhar. Inocência em achar que "o coiso" não é tão corrupto quanto outros. Dói mais ainda, escutar de sua boca que todos os discursos de ódio são "momentos de raiva" comuns. Desculpe te lembrar, que talvez sejam nesses mesmos momentos que tantas mulheres sofrem e morrem todos os dias. Desculpe te lembrar, mas a mesma agressão que a Sra sofreu, é a que o "seu presidente" retrata através de seus discursos. Talvez não tenha parado pra pensar que o machismo se propaga desta forma, não é? Que o roxo que permaneceu em seu olho, se torna uma das etapas que o feminismo tanto luta contra, a cada dia. Mas talvez, isso não seja tão importante pra você. Talvez a sua maior preocupação seja com a minha segurança. Segurança que pode acabar, no momento que, em meio a uma troca de tiros, eu seja baleadx, e que a bala que me acertou, tenha saído de uma arma que passou a ser legalizada. Vai doer, não é? Mais do que um soco no olho, mais do que a dor de olhar por dias, roxos espalhados pelo seu corpo. Porém, da mesma forma que pra mim, #elenão te bateria mais, pra mim, #elenunca mais deixaria marcas em você. Espero que pra você, #elenão tenha mais esse poder. Poder de tirar alguém da sua vida, pelo simples fato de possuir uma arma. No final, pense. Seria a Sra contra um, enquanto são todos contra ele.


Padrinhos Magicos

Carta para um eleitor do inominável.

Querido titio, sei que você está firme na igreja, isso me deixa feliz. Você sempre foi o tio mais responsável que eu conheci, me ensinou muitos valores e me ensinou a amar. Amar o meu próximo, a ter respeito e ajudar sempre que necessário.
Mas você mudou. Desde quando sua opinião e seus princípios passaram a ser ditados pela igreja? Desde quando sua menininha se tornou essa bruxa que merece ser caçada? Desde quando seu amor ao próximo passou a ser condicional a religião e a política?
A resposta? Eu já sei. Seu candidato é religioso, não é mesmo? Um combo completo: Bondade, honestidade e justiça num homem só. Ele segue a bíblia, a palavra do Senhor. É perfeito.
Entretanto, os olhos de todos os seus eleitores se fecham a perseguição a homossexuais, mulheres e negros. Ou talvez, eu esteja errada, é isso mesmo, é perseguição o que vocês querem. Violência e caos, é isso que vocês querem. Eu sinto muito. Sinto por todo nosso povo e muito mais por você meu tio. Você sempre foi amor e carinho. Não se corrompa, não se esconda atrás de sua religião, não se esconda. Vote consciente. Me respeite, respeite os negros, os homossexuais, respeite sua mãe e minha mãe que lhe criaram, você não é desajustado. Respeite seu próximo, se ponha no lugar, use a empatia como patamar. Ele não passará e junto dele o senhor também ficará na porta. Acorda para a vida, toda vida importa. 

Apenas Lispector

Carta a um eleitor do "coiso"

Querida tia Mari, eu sei que você não quer me ouvir. Sei que me considera moleque, imaturo e como você mesma diz "mal sai das fraldas". Apesar de tudo isso decidi tentar um diálogo por meio desta carta como sempre foi. 
Sei que você terá inúmeras justificativas para qualquer crítica que eu faça a seu candidato e mesmo assim decidi falar. 
Não só sobre as consequências para nossa família, embora elas existam temos uma boa condição e estabilidade. Como você mesma diz "se for preciso vamos embora do país".
Você já pensou na grande parcela da população que não pode fazer isso?
Eu sempre ouvi de vocês que violência gera violência e agora você apóia o método de combater a violência com mais violência?
Você acha mesmo que armar a população é a solução?
Já pensou se o ex namorado da Juliana tivesse uma arma naquele dia que ele ficou com ciúmes por ela está dançando?  Podemos imaginar o que teria acontecido com sua filha, né.
Você concorda que o Caio e seu namorado tenham alguma doença por se amarem? Que eles mereçam sofrer por isso?
E seus alunos, tia? Você já pensou como será o futuro dessas crianças da favela? Não só em relação aos estudos, mas também ao dia a dia. Eles serão os alvos 24 h por dia.
E as mulheres? Você já se deu conta que os direitos conquistados até hoje podem ir para o ralo?
Percebe o quão ameaçador para você mesma é situação?
Peço que antes de ir até a urna pense em nós como um todo. Pense na nossa família chefiada por mulheres há duas gerações. 
Pense no país e na situação em que ele está vivendo e como podemos mudar isso.
Pense no poder do seu voto e no valor que ele tem. Eu confio em você.



 CastroAdez

Carta para uma eleitora do coiso

Querida, irmã 
Início minha carta me fazendo a seguinte pergunta: que fomos antes da tempestade? Escrevo as 10:00 e nesse mesmo horário  uns meses atrás, você estaria aqui. Hoje não. Ontem também não aconteceu. Às vezes me questiono sobre o que faz com que duas pessoas que se amam vivamente, se desvinculem e comecem a ocupar polos diferentes. Evitando entrar em choque. Como o gelo e o calor. É que antes da tempestade chegar, eu sabia quem éramos. 
Você queria sorrir pra mim aquela noite, mas ele não quis. Eu tentei te contar que ele era doente, você não deixou. Eu sabia que a culpa não era minha. Você foi ensinada que sim, a culpa é minha. E naquele mesmo dia, ele fez uma comparação a nós duas, você se escondeu. Ele te chamou de louca e eu defendi, no entanto, eu não podia, ele estava certo. E desde então você vive escondida, manipulada pra faze-lo manifestar.  
Quero voltar há uns anos, te enxergo brilhante, com voz, fôlego, vida. 
Três filhos. Luta.  
Não consigo imaginar seus pensamentos do hoje, com a mulher que se transformara ontem. Entretanto, entendo. Você me disse em uma conversa que me ama como sou, porém, queria que não me vitimizasse tanto. Ele também não queria. Dizia que eu tinha que encher-me e gritar para o mundo quem sou e que nada mudaria isso, que o mundo não poderia me fazer sentir encolhida. No mesmo dia, mais tarde, meu sobrinho de 6 anos que brincava, foi humilhado, na minha frente, pois estava com as mãos na cintura parecendo um “viado”, da forma mais rude que se imagina o entoar dessa palavra e mais uma vez me senti encolhida. Ele me disse depois, que eu poderia encontrar um homem como ele e só você não percebia o que estava prestes a acontecer. Era isso que queria que você enxergasse, mas, eu não converso com minha irmã faz meses. Eu converso com ele. Com o reflexo do que ele deixou.  
Ele já me vigiou por horas. Já me ligou. Insistiu. Eu já dormi humilhada. Tentei fazer com que seus ouvidos pudessem ouvir o som da minha voz. Maseu não tenho vez. E nessa carta, eu te digo que entendo. Você pode me ouvir agora?  
Ele não gosta de mulheres com os cabelos curtos. Deixa crescer. Mulher minha tem que lavar, passar, cozinhar e estagnar. Cadê você? Ainda lembra de si?  
Me ouve? Posso falar? 
Ele é doente.  
Eu tenho medo. Contudo, entendo você. Ele é o melhor. 
Você me ouve? Com os ouvidos limpos? É você agora?  
Se for você, eu te amo. Preciso conversar com minha irmã, por favor, me escuta. Estou aqui. Você me ama? Você sabe quem sou? Você se enxerga? Então, me escuta. Me olhe com seus olhos, se apresse a te enxergar. Não é bom. Não é solução. É caos. Dor. São estilhaços. Eu não existo. É você, surrada. Uma arma apontada. Ele quer, você não precisa. Ainda há tempo. Pode me ler? Sou eu, sua irmãzinha, me escuta. Você disse que nos protegeria. É a hora. Faltam dias. Estou com medo, você entende? Não te vejo mais. Cadê você? Ele não me odeia? Tem certeza? Estou aflita. Seus pensamentos estão embaralhados. Você me disse que não sou inteligente, mas, não foi você que sempre me mostrou que eu era?  
Eu não acredito no que as pessoas falam, vejo, sinto, e temo, por você, por mim, por elas. Me escute, antes que seja tarde.  
Eu amo você, só que não a vejo. 
Me encontra assim que puder.
Eu sinto muito. 

Lua Cortes

Carta pro eleitor fiel do Bozo

Querido Tio Jorge, quando pensei em te escolher, percebi que fazia um tempo que você estava na lista de bloqueados do meu Facebook. Minha mãe diz que é besteira, que assim como temos times de futebol, temos opiniões políticas. Mas qual o limite? Suas palavras que saem com tanta facilidade ofendem a sua filha, meus colegas de classe, a mim e muito mais do que você pode imaginar. Pra falar a verdade, nunca fomos tão próximos. Cresci sentindo a diferença da forma que você criou minha prima, sempre dizendo que em qualquer sinal de conflito deveria meter a porrada mesmo. Pra você crioulos, viadinhos e sapatonas não merecem moral. O diferente lhe incomoda a ponto de você sentir ódio e deixar ceias de Natal com um clima horrível. Não me surpreendeu quando em almoço de domingo, você disse que ditadura militar é apenas uma invenção de professores que não passam de doutrinadores esquerdistas. Não me surpreende a sua escolha a candidato da república. Ele é apenas a personificação de tudo que você é e reproduz. O retrocesso,  intolerância, ignorância e principalmente a falta de empatia e respeito. Ele nunca será a solução.

Hippolyte Leon

Carta Para um Eleitor do Coiso

Querido Flávio, meu amigo de infância,
Eu concordo com você. Presenciamos cotidianamente muito mais violência do
que os nossos ombros são capazes de suportar. Por vezes, pareço viver conduzido por
um medo perturbador de incrementar alguma das horrorosas estatísticas que nosso país
apresenta no que se refere à segurança pública. Ou de ver algum dos nossos nelas.
Contra isso, sinto a mesma indignação que você sente.

É ainda mais revoltante quando observamos que aqueles que deveriam resolver
esses problemas aparecem na televisão ou, por que não?, no whatsapp, nas mais
indecentes notícias. Os caras são terríveis mesmo: roubam a porra toda, prometem e não
cumprem, mentem, esculacham. E ninguém aqui é otário para achar isso normal.

Desse modo, você, meu amigo, que nunca ligou muito para política, é bem vindo
em seu desejo recente de participar dela, por acertadamente entender que é nessa esfera
que se resolvem muitas das coisas que nos afligem. Mas chega devagar, com calma.
Com muita calma e atenção, porque somos brasileiros e, você bem sabe, não é nada
fácil entender como funciona esse país, tampouco apontar soluções. As saídas mais
fáceis, em geral, são também as mais brutas e, assim, tendem a nos levar ao erro.

Veja, por exemplo, o caso das armas. Ora, se há bandidos armadíssimos
cometendo as mais absurdas atrocidades e a polícia não consegue resolver, podemos
armar a população para, assim, enfrentá-los, não? Não, não mesmo. Não observamos
qualquer estudo sério que comprove a eficácia da proliferação de armas junto à
população no combate à criminalidade. Além disso, é muito mais fácil imaginarmos os
horrores que poderiam advir da presença de armas em brigas de trânsito, de família, de
vizinhos, de bares ou de escola do que imaginarmos o cidadão médio em uma
performance heroica reagindo a um assalto e, assim, alvejando um bandido – que muito
provavelmente, é bom dizer, faria sua ação com ainda mais sangue nos olhos ao saber
que a possibilidade de sua vítima estar armada é alta. Consegue imaginar, aliás, o que
poderia nos acontecer naquela noite em São Cristóvão, em que nos envolvemos em uma
briga, uma confusão muito tensa com desconhecidos, se houvesse alguém armado?

Talvez, então, seria melhor enfatizarmos o papel repressor da polícia, que tal?
Os PMs com carta branca para meter bala nos vagabundos todos, não seria uma
alternativa para acabarmos com aqueles que acabam conosco? Sinto muito, mas também
não. Já estamos há tempos investindo em uma polícia violenta e isso não nos trouxe paz.
A saída não pode ser aprofundar a ação repressora que realmente atinge a bandidos, mas
também cidadãos comuns (especialmente moradores de locais mais pobres) e até
mesmo os próprios policiais. Consegue imaginar, aliás, o que poderia nos acontecer

naquela blitz violentíssima em que passamos, na Penha, com canos e mais canos
apontados para nossas cabeças e ameaças de morte por parte dos PMs, se eles, pilhados
como estavam, estivessem ainda mais seguros de que poderiam matar sem maiores
consequências?

Mas então, qual seria a saída? Ainda não sei exatamente, devo admitir. Lamento,
mas ainda estou a buscando e o convido para que possamos discuti-la com
profundidade. Contudo, já tenho algumas conclusões muito claras e sólidas: não será
com base no ódio, na truculência, no despreparo, no desrespeito, nem no simplismo que
sairemos do buraco em que nos metemos.

Infelizmente, a resposta que você tem buscado para os nossos problemas não
caminha para resolvê-los, mas para agravá-los. O seu movimento, reconheço, é uma
onda que muitos dos nossos têm se dedicado a pegar. Mas, às vezes, é melhor fazer o
oposto, ir contra a maré quando se percebe que ela não vai dar em nada bom.

Saúdo, novamente, o seu despertar político, mas, com toda humildade, sugiro
que reflita para que este seja, de fato, um despertar. E saúdo a nossa amizade.

Jamir Ávila

Carta para um leitor do Coiso.

Caro eleitor do #@$%#@, então. Eu imagino que você esteja sim, cansado de
corrupção, não andar seguro e todos os motivos que te fizeram optar por ele, Mas
se é pra falar de honestidade, eu queria saber melhor sobre o auxílio moradia que
ele recebe, é realmente necessário? segurança? você quer andar armado? mas
cara, você tá ligado que você é o alvo né? eles não tão pensando em pobre não, e
todas as coisas que ele teve a coragem de falar em relação à tortura? ele realmente
pensa assim, e você? Se isso não é suficiente, eu te aviso, foram 27 anos como
deputado federal do nosso RJ com pouquíssimas propostas aprovadas. Me dê outro
motivo para eu ficar convencido que você não está votando nele simplesmente pelo
discurso de ódio, eu preciso acreditar que tem algo a mais, você não está pensando
na minoria, está? é legal você ter segurança mas tudo bem os homosexuais serem
humilhados por seu candidato a cada discurso dele? Outra frase inesquecível, as
mulheres são frutos de “fraquejadas” tá sabendo? é sério isso? Não preciso nem ir
muito longe, vou te lembrar o que ele disse há meses atrás em relação a um filho
dele se relacionar com uma preta da favela, “os educados não cometeriam esse
‘erro’.” olha, sinceramente, eu não acho que essa opção seja a mais sensata, temos
pouco tempo, eu sei. Mas qualquer escolha seria melhor, não pense só em si
mesmo, vamos nos ajudar, para depois não precisarmos chorar.

Alasca Young

Carta para um eleitor do Coiso.

"De onde virá o socorro?"

Querida prima, venho por meio desta, lhe dizer que entendo o seu voto. Entendo a sua confiança no "mito". Entendo a sua visão, a sua esperança no Bolsonaro. Todos nós temos opiniões, não é mesmo? Seria lindo se cada um respeitasse a opinião alheia, sem precisar brigar, propagar ódio. Pois nessas horas vemos que todos os lados, sem exceção, propagam ódio. Cada um defendendo o seu e danice a opinião alheia. Porém, acho que seria demais pedir um mundo onde ninguém caísse na hipocrisia e respeitasse a opinião do outro. Eu ainda tenho minhas dúvidas em quem votar, tenho também meus motivos. Quero lhe dizer que entendo completamente você e não vamos brigar por isso, nem ficar sem se falar, nem nada. Se quiser, podemos ter uma conversa, um diálogo pacífico, sadio. Amo você e não é um candidato, não é a política que vai me fazer perder a paz. Respeito sua opinião, você respeita a minha e todos vivemos bem com isso. Aliás, no fim das contas o presidente será de todos nós. Que o povo brasileiro seja próspero e feliz, coisa que acho difícil qualquer um desses candidatos fazer. Olharei para o alto, de onde virá o socorro?


DJ Rogerinho Do querô

Carta para um eleitor do Coiso.

Querido tio, lhe escrevo esta mensagem com o objetivo de fazê-lo refletir sobre o nosso cenário político atual. São tempos difíceis, o rancor e a intolerância reinam sobre a sociedade. Existe medo no olhar de cada um, pois a dificuldade para manter uma vida digna é grande e a perspectiva de melhora está cada vez mais longe. Escrevo isto pois você me ensinou a sempre acreditar que há saída e que no fundo, o bem sempre vence o mal. Tendo em vista seu posicionamento a favor de certo candidato, pergunto-me o motivo pelo qual você fez essa escolha e dissemina esses ideais. Sei que não é uma pessoa ignorante e ruim, mas não consigo entender se você não pensa no seu filho, que estuda em instituição pública, é homossexual e negro. Se você não pensa na sua mulher, que batalhou ao seu lado a vida toda, lutou pelos direitos femininos e venceu na vida, contra todos os preconceitos. Se não pensa na sua classe, baseada na sua condição financeira, que luta tanto por direitos que estão a ponto de serem extinguidos pelo mesmo candidato que apoia. Não esquecendo de todos os movimentos sociais que lutam por direito, igualdade e espaço na sociedade, todos merecem um olhar e bastante respeito. É complicado vê-lo cavar o próprio buraco e jogar fora todos os direitos conquistados por seus antepassados. Logo você, que sempre foi um homem de bom coração que dizia acreditar na liberdade de expressão, de pensamento e na igualdade entre as pessoas. Ainda há tempo, meu tio. Não deixe essa visão conturbada, causada pela sociedade atual, manifestar um sentimento ruim dentro de ti a ponto de fazer essa escolha. Por ti, por mim, por nós e por eles.

Jerry Uffiano

CARTA PARA UM ELEITOR DO COISO

Caro Pai,

Existem várias definições para a palavra pai, 1 - Aquele que tem um ou mais filhos. 2 - Gerador; genitor; progenitor. 3 - Criador; autor. 4 - Protetor, benfeitor. Entretanto, a que me agrada mais não se encontra em nenhum dicionário, mas sim como uma espécie de ditado popular "pai é quem cria". Pois é, lembra daquela moça chamada Roberta ? uma menina ruiva, fã dos Beatles que morava no riachuelo e que você conheceu em meados dos anos 90 em uma boate na lapa ? te lembra algo ? vocês tiveram uma noite incrível, conversaram bastante e acabaram saindo por algumas semanas depois disso. Até que Roberta descobriu que nessa época você já era casado e pai de 2 filhos, colocou fim nesse relacionamento. Pois é, Roberta é minha mãe e foi nessa brincadeira que eu vim ao mundo.

Confesso que foi muito difícil para mim descobrir isso, lembro da minha infância, quando eu ainda nem falava direito e perguntava "cadê meu papai" e mamãe me dizia que papai estava viajando a trabalho e que um dia iria voltar. Até que minha mãe conheceu um cara e acabou se apaixonando por ele, tiveram 1 filho, se casaram e mudaram pra Curitiba, eu óbvio, fui com eles. Passei minha vida inteira sendo criado por esse homem que minha mãe conheceu, Luciano. E hoje ele é a figura paterna que eu tenho em minha vida, quem me levou para assistir aos jogos de futebol, quem me ensinou a fazer a barba, entre tantos outros momentos especiais da paternidade que compartilhamos. Até que em um determinado momento eu resolvi saber mais sobre meu passado, e um pouco mais velho minha mãe me contou sobre você. Eu poderia esperar que qualquer um fosse meu pai biológico, mas logo você, complicado. Eu não estava preparado pra descobrir que era filho do "coiso", a informação bateu em mim quase como a cena em que Luke descobre que Darth vader é o seu pai. Quando ela me contou, a principio eu achei que ela estava brincando, você já era famoso na época por algumas besteiras que você falava em alguns programas de tv, o que eu nunca imaginei foi que sua popularidade tomaria a forma que tomou hoje.

Após muita conversa minha mãe me contou um lado diferente sobre você, fiquei surpreso até. Depois de um bom tempo você procurou minha mãe para conversar e contar melhor sobre o que ocorreu naquelas noites de amor em outubro, falou que foi tudo um mal entendido dela, que você já estava se divorciando na época em que ela viu um comercial seu na tv com sua esposa, mas era época de eleição e você não queria anunciar um divorcio em rede nacional, resolveu não mostrar isso publicamente para não abalar sua imagem de "pai de familia tradicional". Você mostrou interesse em me conhecer, mas minha mãe achou melhor não, eu já estava muito estabilizado emocionalmente depois de um longo tempo sem conhecer meu pai de verdade, já tinha até esquecido essa história e minha mãe tinha medo que esse encontro causasse uma nova confusão em minha cabeça. Resultado, vocês dois acabaram decidindo que no dia em que eu resolvesse conhecer quem era meu pai ela iria me contar toda a verdade.

Até que em 2018, eu resolvi tomar coragem de te escrever esta carta. Eu converso diariamente com conhecidos meus que vão votar no senhor por n razões. Entretanto, acho que eu precisava ter uma conversa séria com você sobre todo esse processo. Escutar as histórias que minha mãe me contou sobre você me fez pensar em você de outra maneira, suas palavras de ódio a minorias ainda me magoam. Mas iremos esquecer disso durante este trecho, sou cristão, assim como você e acredito que todas as pessoas são dignas de perdão e capazes de melhorarem. Ultimamente nosso país virou um banho de ódio, e você tem sua culpa em grande parte disso, não vou repetir suas falas aqui como exemplo. Eu vi o que aconteceu com você nas últimas semanas e genuinamente lamento por isso, não desejo isso a ninguém. Mas como tudo é uma experiência, espero que isso possa ter te ajudado a  repensar algumas atitudes.

Mamãe me contou de um homem romântico, respeitoso, bem diferente do cara que é filmado constantemente em gritos estéricos a repórteres e deputadas. Fico pensando em qual momento da sua vida você desandou para essas atitudes. Eu gostaria de acreditar que seria capaz de convencer você a abandonar sua candidatura. Entretanto, você assim como vários conhecidos e pais de amigos meus que vão votar no senhor, não estão dispostos a fazer autocritica e repensar o voto. Chega o momento em que não temos mais o que fazer, apenas lamentar. 

                                                                                                                                                                                      Com muito desgosto, PIERROT.

Pierrot.

Carta para um eleitor do Coiso

Querido Amigo, venho a ti contar uma breve história, sobre algo que vivi nesta sexta-
feira úmida e insossa, e que talvez te leve a alguma reflexão.
Havia acabado de acordar. Minha vó pede que eu a leve no ponto do 53, chegara
novamente a hora de se despedir. Meu peito está apertado, sou péssimo com despedidas.
Eu a deixo no ponto, beijo sua testa e a assisto subir lentamente no ônibus. Ela agarra
com força o corrimão e impulsiona-se, com dificuldade, para dentro do veículo. Suas
tamancas estão sujas, marcadas pelas histórias que a acompanharam até ali. Do jeito que
o país anda, será que algum dia, terei também eu, tantas histórias pra contar, eu me
pergunto em silêncio, enquanto me levanto e vou embora.
No caminho de casa, ouço duas vozes agudas gritando:
-Perdeu rapa, é um assalto!
-Bota as mãos atrás da cabeça, se tu tentar alguma coisa vamo te meter bala!
-Balalau, balalau, balalalalau!
São apenas duas crianças, brincando de policia e ladrão. Me surpreende a noção de
ritmo que o som dos tiros havia proporcionado a elas, tão jovens. Chego mais perto e
percebo que conhecia aquela criança. Era filha de um amigo meu. O seu pai, Chuck, e
eu, costumávamos brincar disso quando tínhamos essa idade. Alguns anos depois, a
brincadeira inocente se tornara realidade, Chuck, que havia sido expulso da escola e
precisava de dinheiro pra sustentar o filho que estaria por vir, entrara para o tráfico. Aos
18 anos, ele é baleado e morre, em uma operação da PM. Ainda me lembro de quando
recebi a notícia. Era um dia cinzento como este. Eu havia acabado de sair da aula e
como sempre, fui para praça, encontrar os Zé droguinhas, como dizia minha mãe. Foi
quando chegou Pet e de cara fechada me deu a notícia. Passamos horas lá relembrando
histórias, soprando fumaça, rindo e repetindo em nossas as cabeças a frase que Kid, o
dono do morro em que morávamos e padrinho de Pet e Chuck, nos ensinara quando
crianças:
-Engole o choro moleque, homem de verdade não chora.
Naquele mesmo dia ao chegar em casa me tranco no banheiro e passo horas chorando.
Após relembrar esse fato, vou em direção ao filho de Chuck, acaricio os seus cabelos
dourados em forma de cuia, como eram os de Chuck, olho dentro de seus olhos e sem
dizer nenhuma palavra vou embora.
Tendo lhe contado essa história meu amigo, agora eu pergunto a ti, é realmente esse
país que você quer pro seus filhos? Um país onde o filho de Chuck vai ter o mesmo fim
que seu pai? Um país, onde LGBT's, mulheres, negros e pobres, morrem todos os dias
vítima do ódio que seu candidato, supostamente cristão, prega? Um país onde o pobre

sem esperança de ascensão social morre só por ser pobre? Onde o medo se torna ódio e
silencia as dores daqueles que chamávamos de irmãos? Um país, onde homem de
verdade não chora? Tendo me prolongado mais do que deveria, te peço,
encarecidamente, que repense seu voto, irmão. Falta pouco mais de uma semana para as
eleições, mas ainda há tempo. Por favor, Ele Não!

Com carinho, Eric Cleptomaníaco.

Eric Cleptomaníaco.

Carta para um eleitor do coiso.

Querido tio J,
 Lembra quando você era criança e brincava na rua sem nenhuma preocupação de perigo? Você ficava até tarde da noite jogando bola com os seus amigos, e reclama até hoje do seu pé deformado devido as topadas que dava no asfalto, naquela enorme vontade de fazer um gol digno de estar nos melhores do ano?! Você consegue voltar no tempo antigo das novelas da Globo onde não existia toda essa pouca vergonha atual, aquelas cenas que o Walcyr Carrasco coloca, e faz com que você queira mudar o canal de televisão no mesmo instante? Você consegue sentir seu coração apertar naquelas brigas escolares que você teve, mas consegue sentir o sorriso se formar no seu rosto também, porque todos os problemas foram resolvidos lá mesmo e tudo continuou perfeitamente bem depois? Você e o Flavinho até tomaram uma cerva depois.  

 Relembrar os velhos tempos em que você andava pelas ruas do Rio de Janeiro sem medo de levarem seu Nokia 3410 lhe conforta? Esse medo e toda essa nova modernização te assusta. Toda essa diversificação, essas novas pessoas que estão fazendo o mundo virar de ponta pra baixo fazendo com que você se sinta de ponta pra cima, lhe deixa desconfortável, não é mesmo? Eu sei que tudo o que você deseja é que a sua filha não seja como eles, que ela seja como você foi e que a garotinha do papai possa viver da mesma forma em que você viveu. Porém, com apenas um detalhe diferenciado: o tão confortável luxo que você pode proporcioná-la hoje. Mas, eu estou ciente de que você também se questiona em como fará isso no meio de toda essa nova geração, onde todo mundo tem voz, onde todo mundo pode expressar-se da forma em como acha que bem entende, onde cada um segue a sua própria ideologia.  

 Eu sei que você acredita que ele será a âncora do nosso país. Você está se segurando nas promessas que ele está dando, as palavras de uma possível vida segura lhe fazem voltar novamente àquela infância que você fala com tanto orgulho. Tudo o que você almeja é a paz de espírito da sua família. Você quer proteger as suas filhas, e ele mesmo deu a ordem que, o homem que fizesse mal à alguma delas, pagaria um preço alto. Embora esteja em meio a tanto caos, os seus desejos podem ter duas vertentes, o sim e o não para ele governar esse país que, com tamanha discrepância lhe assusta. Mas, entenda, querido tio: a vida poderá ser bela, mas nem tudo será uma beleza.
Billie Jean.

sábado, 29 de setembro de 2018

Carta para um eleitor do coiso.

Caro pagodeiro amigo,
passei por você agora na Praça XV. Eu tava de bicicleta e você panfletando pro 17. Deve lembrar. Ali por perto um ambulante com adesivo do 12 ouvia "Eu e Ela", aquele pagode gostoso do Grupo Raça. Das antigas. Lembrou?
Pois é. Passei por você assoviando a melodia. Coisa rápida. Você distribuía panfletos e cantava:
"Ela e o namorado dela...
eu e minha namorada."
Por acaso, olhei pra você, você olhou pra mim e a gente entoou os versos juntos. Tu na letra e eu na melodia.
Não deve ter visto, mas eu tava com adesivo do 13.
17, 12, 13... Quem diria que o pagode ia nos unir?
Tô aqui esperando minha barca sair, vindo do trabalho, e você seguindo com o seu. Provável que vai ficar até às dez da noite na rua, que nem eu. Provável que mora no subúrbio, que nem eu. Provável que vai voltar no ônibus lotado ouvindo no fone a mesma música que eu.
Tu não lembra de mim mesmo, né? Tem certeza que não? Lá em São Cristóvão, 2002. Dava calote no ônibus pra ir à praia no verão. Foda-se. Pra gente nunca foi pecado.
Aquele dia pararam nosso busão em Botafogo e os cana foram revistar. Botaram bagulho no meu bolso. Lembra?
Tu tentou me ajudar, falou que era esculacho. Adiantou, não. 7 anos e um mês. Tráfico. Mas saí. Tô indo do trabalho pra faculdade, por isso que passei pela praça onde você tava.
Teve uma vez, quando eu tava na privação de liberdade, que o 17 foi lá visitar a gente. Sem neurose, me olhou com mó nojo. Eu tava suado, beleza. Mas é pra tanto?
Ele virou pro carcereiro e falou que a gente tinha o que merecia. Assim mermo. Sangue subiu pra mente. Fiquei puto. 
Mas enfim, só te escrevi pra contar essas coisas. Dizer que tenho saudade dos nossos calotes pra ir à praia. Quem sabe rola da gente ir num pagode de novo...
Na moral mermo, sendo sincero: acho que 13 é número do azar. Mas depois do que passei com o 17, comigo ele não vai se criar.
Não era ele que devia ter aparecido lá, era você. Queria que você ficasse do meu lado de novo, quem nem naquele dia em Botafogo. Mas dessa vez, se bobear, tá arriscado a gente dançar junto. Cansei de dançar. Agora quero que a gente dite o ritmo desse pagode.

Alcione77

Carta para um eleitor do coiso

Querido Pai,
Antes de qualquer coisa, gostaria de relembrar o momento, no qual, eu soube que tinha
conseguido, depois de tanto esforço, passar pra uma universidade federal. Lembra? Não
fui eu que contei pra você, foi o contrário. Eu estava no meu quarto, assistindo TV,
quando recebi sua ligação. Aquela ligação que, arrisco dizer, foi uma das mais felizes
que você realizou e uma das mais felizes que eu recebi. Aquela ligação que produziu
lágrimas com um mix de felicidade e orgulho.
O valor das coisas está na intensidade com que acontecem. Por isso, aquela ligação foi
um momento inesquecível da minha vida. O êxtase dentro de mim era imenso, não
apenas por mim, mas por você. A pessoa que mesmo desejando que eu seguisse os
passos da família no mundo jurídico, me apoiou, plenamente, na decisão de trilhar o
campo jornalístico. Pois é. A vaga era pra você, pra você sorrir, pra você chorar.
No instante em que redijo esse texto, são 01:32 da madrugada do dia 26 de setembro de
2018. Poderia estar dormindo, mas precisamos falar da sua persistência pelo caminho
do ódio.
Se eu quero te convencer a não optar por essa direção? Admito que sim. Por mais que
você diga que está convicto, sinto que, lá no fundo, você conhece a figura política que
domina as manchetes dos grandes meios de comunicação destilando discursos violentos
e contraditórios.
Não vou ficar batendo na mesma tecla de tiro, porrada e bomba, kit gay,
fraquejada...Apesar do mundo só poder ter algum indício de melhora com a fé entre os
povos, você tentaria refutar tudo isso que seria posto. Citei a sua esfera profissional,
vamos falar dela.
Talvez você não saiba, mas a OAB chegou a anunciar um pedido de cassação do
mandato dessa pessoa, tempos atrás. Motivo? Declarações incompatíveis com as
tradições parlamentares brasileiras. Percebe? Não fui eu, não foi a ‘’mídia
manipuladora’’ e nem um ‘’esquerdopata petista’’ que falou isso. Foi parente seu.
Um parágrafo pra falar da sua filha. Minha irmã. Ao contrário de mim, ela decidiu atuar
perto de você. Formou-se em Direito na UFF. A mesma UFF que gerou aquela
felicidade entre nós. A mesma UFF que gerou esse mesmo tipo de felicidade entre você
e ela. Em um país tradicionalmente machista como o nosso, imagine como será a
situação dela, se a estimulação do rancor for triunfante.
São 02:46 da madrugada. Raciocinemos. Vou me colocar no seu lugar. Observo
soluções simples para problemas de grande complexidade em uma situação crítica. Bala

nos desgostosos, autoridade contra os corruptos (mesmo que...hum...esquece.) e ‘’livre
mercado’’ contra a pobreza. Parece ser um discurso sedutor. Mas é enganoso.
Lembre-se, meu velho, estamos falando de uma chapa retrógrada. Um grupo que diz
que a fase militar foi a ‘’salvação do país’’, ao contrário do que os estudiosos afirmam.
Habeas corpus não existia e jornalista era perseguido aos montes. Imagina isso
voltando? A gente seríamos inútil.
Agora, se coloque no meu lugar. Penso que desde que a democracia venceu o regime
militar, na década de 80, não podemos negar que conseguimos avanços no Brasil.
Educação, promoção do ambientalismo, manifestações sociais, saúde. Saúde... Pense no
SUS. Uma criação da democracia. Uma criação que salva muitas pessoas. Uma criação
que, inclusive, salva indivíduos de certas facadas.
Educação. É comum perder o bom por querer o melhor. Mesmo que esse ‘’melhor’’ seja
bem duvidoso. Em um suposto mundo dominado por esse pensamento do ódio que você
segue, tenho medo do futuro das universidades federais. Mas tenho ainda mais medo de
que toda a felicidade que descrevi antes, a felicidade conjunta de pai e filho, seja em
vão.
São 03:09 da manhã, encerro essa carta com uma certeza. Se ao menos eu consegui
produzir um sentimento que tenha tocado o seu coração, já terá valido a pena. Eu
acredito que isso é possível.
Há tempo. Tempo de mudar. Afinal, meu pai, cada segundo é tempo para mudar tudo
para sempre.

Peter Luís

CARTA PARA UM ELEITOR DO COISO

Carx amigo de infância que pensa em votar no você-sabe-quem,
não lhe desejarei bom dia porque não sei quantos graus está fazendo aí, agora, nessa quinta
feira. Porque pode ser uma merda ter que ir resolver os pepinos com 40º nas costas. Mas
quem sabe esses 40º esteja misturado com um cheirinho de sundown e com uma água de coco
(ou uma antártica) na mão esquerda.
Quem pode, pode, né?
Agora, queria aprofundar. Você consegue ver o quão privilegiado é por poder escolher ir pra
praia nessa quinta? Deixar suas preocupações pra segunda porque hoje o dia está EXIGINDO
uma praia? E você não tá errado de ter feito essa escolha. A gente só vive uma vez, e qual é a
graça de não viver?
Meu ponto vai fazer sentido. Te mando essa carta pois sei que sua humanidade está aí dentro,
sei que sua empatia só está sobre escombros de um prédio com aproximadamente 4 andares,
mas está.
Queria que você pensasse naquele nosso amigo da 7ª série, o Matheusão. Lembra o quão
comovido ficávamos quando alguém era malvado com ele? Conhecíamos a história e as
dificuldades. E cara... Sei o quão triste é, mas pensa que milhões (E EU NÃO TO EXAGERANDO)
de brasileiros vivem em condições muitas vezes piores.
Sei que você não concorda quando vê certas reivindicações de alguns ativistas e militantes,
mas tente entender com alguns passos de bebês. E não digo isso de modo superior ou te
incapacitando. Digo para tentar entender o motivo de uma luta, tentar sair da sua bolha de
cidade pequena.
Escrevo porque acredito em você. Escrevo porque vejo esperança. E espero que você seja
capaz de ao menos ler sem ecoar em sua mente “que que esse viado ta querendo?”. Foram
anos de amizade e espero muito que possamos um dia beber um litrão conversando de boa
sobre política.
Mas, até lá, eu vou ter que militar. Ele não.
Abraços heterossexuais,
Alaska Pett.

CARTA PARA UM LEITOR DO COISO

Querido pai,
não posso dizer que lhe entendo nessa sua decisão, mas o respeito.
Não pelo senhor ser meu pai, mas por ter me ensinado a ser assim com o próximo, seja ele ou
ela quem for.
Você pode achá-lo a melhor opção. Que trará mais segurança, que poderá mudar o país, que
será aquele entre tantos outros que já se passaram, o que finalmente possa vir a ser
revolucionário, e talvez seja, ou talvez não.
Talvez possa trazer uma revolução de fato, mas que não seja a esperada, pois vai que...
Minha mãe foi por esse lado e hoje o contornou, por que será?
Pode ser algo a se pensar, né não? Pensa nisso.
Estamos lidando com o extremo, meu velho.
Como já diz aquele dilema lá, lembra? De que “tudo em excesso faz mal”, o senhor mesmo me
dizia.
Pensa nisso, bota fé no teu filho.
Mas pra deixar claro, aconselho que pense. Não estou lhe julgando, apenas curioso em saber o
que o senhor acha e pensa que deve ser o melhor. Acredito que realmente pense que será o
melhor para mim, sua mulher, irmã, sobrinhos, sua família, eu realmente acredito nisso.
Só te peço que se informe, não só pelo o que o senhor crê, mas pelo o que eu creio também.
Procure saber, pega a minha visão assim como tento pegar a sua. Não que seja pra te
convencer, isso aí é contigo, mas só pra tu ver uma ideia diferente.
O mundo é cheio de opiniões e visões que são alteradas constantemente, então vai que... Você
pode se surpreender, meu coroa.

Almirante

Carta para um eleitor do coiso

Querido, amigo.
Sei que você já declarou partido e vai votar no inominável. Acho triste, porém
tento entender a sua vontade. Seria pela revolta contra o PT, os 12 anos deles no poder?
Seria por todos os escândalos de corrupção do PT,PSDB e PMDB? Espero que sim, o
voto da revolta, do protesto é compreensível. Mas pensando em um futuro próximo,
pensando no candidato eleito, o que você realmente espera desse governo? Planos?
Projetos? Trago fatos, amigo. O seu candidato traz propostas muito rasas e superficiais
sobre economia, educação e saúde. Apresenta apenas oposição e críticas ao comunismo.
É até redundante falar sobre o lado humanístico, misoginia, homofobia e racismo
são das mais presentes credenciais do indivíduo. Espero do fundo do coração que isso
seja só dele, e seu voto ainda seja pela aversão à corrupção e às mesmas figuras
políticas de sempre. Espero que o "mito" não tenha mudado sua cabeça ou então
despertado algum sentimento de ódio.
Por mais importante que seja essa questão, o foco agora é a eleição. E peço para
que reflita um pouco, será que com essas credenciais, ele é capaz de governar um país?
Independente do que decidir, seguimos!

Mim acher Descubra

Carta para um eleitor do (Pra você dar o nome)

Querido Leonardo,
Na última vez que nos vimos eu não soube reconhecer quem era você. O rosto era o
mesmo, talvez o mesmo cheiro, mas algo mudou. Seu sorriso continua aberto, embora
agora por outros motivos. E mesmo que me aconselhem a ignorar a sua vida, não
consigo deixar de me preocupar e de pensar, até porque em certo grau, sua vida também
atinge a minha. Você me disse que estava cansado. E eu também estou. Você me disse
que ideologias não importavam, no final dava tudo no mesmo, e eu te compreendi. Você
se coloca em silêncio tantas vezes, mesmo quando nós dois sabemos que há tanto a ser
dito. Você não acredita mais nos bons discursos e nas boas intenções. Mas eu acredito.
Não jogue seu voto no lixo, não nos mate em vida. Tente perceber: Tudo é política. Leo,
tente perceber que a vida é assim mesmo: Hoje a gente sorri e amanhã choramos pelo
mesmo motivo. Decisões ruins não consertam vidas ruins, apenas deflagram
sofrimentos maiores. Tudo que semeamos num solo regado a ódio, cresce doente.
Daqui, só te desejo saúde. Daqui, só te desejo sorrisos maiores. Mas o que desejo
imensamente, é que seu candidato perca as eleições. Boa sorte.

Ricardo Reis.

Carta para um eleitor do Coiso

Querida,
Você está no chuveiro enquanto ensaio essas palavras. Desejo que elas – antes de lhe
atingir – moldem a mim. Busco a sinceridade de tempos mais simples nos quais casa era
o esconderijo do mundo não do eu. E para ser honesta preciso que isso seja mais do que
uma carta. Faço aqui meu pedido de desculpas.
Desculpe-me por todas as vezes que ouvi não querendo escutar, mas, sim, responder.
Inclusive hoje no jantar. E por quando pensei em francês e falei em russo. Você sabe a
luta está em meu nome, você escolheu. E mesmo assim vive me dizendo que não posso
abraçar o mundo todo. Sei que é verdade, mas meu ascendente é em touro como teu sol.
Perdão pelo excesso. Desculpa por quando a preocupação em se provar certa foi mais
importante do que a própria certeza. Por quando bati a porta do quarto e gritei, calando
o amor. Perdão pelos momentos de silêncio, pois também são de violência. A calmaria é
ensurdecedora.
Lembra quando eu era pequena e ao levar uma bronca chorava até soluçar? Só sei
resolver as coisas na hora, não sei deixar nada para depois. O amanhã é tão incerto. Nós
sabemos que, ultimamente, isso mudou. As palavras embolam a cada tentativa de
reconciliação. Aumenta-se a crise. Você diz não enxergar tudo isso. Eu já não consigo
ver como só isso. Você diz ter medo. Eu também tenho. Ação e reação. Terceira Lei de
Newton, não esqueci. A aula particular ajudou como você disse que faria, mas não
resolveu o problema. Como atuam em corpos diferentes, não se anulam. E por isso
sentimos sozinhas. Desculpa pela solidão coletiva.
Devo admitir, sendo honesta, gostaria muito que, ao ler essas palavras, me desse razão.
Se possível um pouco mais, me desse sentimento. Desculpa por, mesmo pedindo
perdão, não abandonar o gênio. É tão engraçado teus olhos me vêm vermelha como
curumim, mas só vejo você no reflexo. Imagem e semelhança. Você que me ensinou do
amor. Da fé. Do respeito. Da paciência. Do sonho. Da liberdade. Você que me ensinou
do perdão. Desculpe-me por não te perdoar. Não por isso. Não por ele. Espero que você
possa.
Não sou mais sua garotinha, mas ainda tenho os mesmos soluços. Agora, sei que você
também os tem. Você acabou de abrir a porta para desejar boa noite. Boa noite, mãe.
Espero que o sol volte pela manhã. Desculpe-me se demorar mais um pouco.

Brás Cubas 171

Carta Para um Eleitor do Coiso

Querido José, lembro de quando eu era criança e você ia na minha casa ficar jogando
vídeo game com meu irmão. Você chegava, me pegava no colo e me girava, girava e
girava. Eu te achava o máximo! E mal poderia imaginar que agora iria querer ficar
distante de você. Nunca mais nos vimos, você foi morar longe e também quase não tem
falado mais com meu irmão, seu amigo de anos. O motivo pelo o qual você não tem
mais tanto contato com seu melhor amigo? Você quer falar sobre política, mas só do seu
ponto de vista, não aceita a opinião dos outros.
Você teve criação cristã, acredita na bíblia e defende a família ‘’tradicional’’ brasileira,
mas isso não é desculpa para ser intolerante. Está sempre fazendo discursos na internet,
em sua maioria começados pela frase ‘’Não que eu seja homofóbico, mas...’’.
Ás vezes, temos algo tão enraizado em nossas vidas que é difícil se desvincular dessa
ideia. Mas, tente se colocar no lugar do outro e entender o lado dele da história. Se você
fosse gay, você gostaria que um candidato a presidência lhe diminuísse com palavras de
ódio?
Você sofreu com a violência do Rio de Janeiro, e por isso acha que o porte legal de
armas vai resolver todo esse problema. Eu não te julgo, eu sei que você se sentiu
impotente quando levaram o carro da sua família, eu sei que você se sentiu destroçado e
amedrontado com quando levou um tiro por engano, eu sei que queimou e sangrou
quando a bala em alta velocidade perfurou a sua carne e te fez ter medo de morrer, eu
sei. Mas armas não vão combater armas. Você não acha que na mínima oportunidade, o
cidadão brasileiro não irá a usar a arma para intimidar, ao invés de usar para se
defender?
Você tem dois filhos, um menino e uma menina. Você quer proteger seus filhos do
mundo, como qualquer pai, mas para isso você quer eleger um homem machista. Um
homem que acredita que as mulheres são inferiores, sua filha é inferior ao seu filho só
por ser mulher? É esse país hostil que você quer para sua menina? Você quer que ela
cresça com medo?
Você defende a ditadura, mesmo não tendo vivido nela. Sempre diz que naquela época a
vida era melhor e que não existiam crimes. Mas, sempre ignora todas as torturas e
mortes daqueles que foram contra o sistema repressor do período. Por favor, tente
imaginar, se fossem pessoas da sua família sendo torturados e mortos, você ainda
apoiaria ele?
Escrevo essa carta com o único propósito de te fazer refletir sobre suas decisões. Se
você continuar a pensar do mesmo jeito, ótimo. Se mudar o jeito de pensar, ótimo
também. Só quero te lembrar que não existe apenas esse lado.
Com amor, Cigana.
Isso mesmo, amor. Porque de ódio o mundo está cheio.

Cigana Oblíqua e Dissimulada 47