sexta-feira, 30 de março de 2018

Kurt Cobain

“A angústia adolescente pagou bem. Agora estou velho e entediado.” Com esses versos Kurt Cobain inicia In Útero, o álbum que marcaria o final de sua obra musical e, consequentemente, o final do Nirvana. Pra um leitor distraído, a forma de escrever de Cobain poderia parecer algo meramente bizarro, sem muita pretensão, mas a verdade é que seus versos, principalmente no último álbum da banda, serviam quase como um espelho que refletia sua personalidade, problemática e complexa, como a de qualquer artista autêntico.

A forma como se comportava em público, em seus shows ou em entrevistas, onde frequentemente demonstrava certo desdém pela mídia e pela imagem de rockeiro sujo que essa queria atribuir a ele, o pintava como apenas um garoto de 15 anos rebelde em um corpo adulto.

Kurt não era apenas um punk viciado, com ódio de tudo e todos, que se vestia de forma desleixada para exibir a todos o seu lado “cool”. Era sim um artista com problemas, estes que todos nós temos, e que procurava viver sua vida da forma mais simples possível, longe do grande espetáculo midiático e do universo de vaidades da música pop. Em suas próprias palavras, gostaria de ser amado como John Lennon, mas com o anonimato de Ringo Starr.

A última música de In Útero é All Apolagies, extremamente simples e sincera, que muitos dizem ser uma homenagem a sua filha, Frances Cobain. Não sabemos quais são exatamente as desculpas da música. Talvez desculpas a própria Frances pelo forma como Kurt decidiu dar fim a sua trajetória; talvez ao mundo da música por ter perdido uma personalidade tão interessante; talvez a si mesmo, por não ter sabido como lidar com seus próprios distúrbios. A única coisa que podemos ter certeza é que Kurt não precisava se desculpar, pois sua contribuição à música e a nós, que hoje lemos suas letras, já foi suficiente. Paz, amor, empatia.

Por velvet67underground.

Norma Jeane Mortenson

Trinta e seis anos foi seu tempo de vida. Os excessivos usos de calmantes suposto motivo de morte. Envolveu-se com o governo e máfia americana. O pai não foi conhecido e a mãe acabou em um hospício. O resultado? A maior parte de sua infância foi vivida em lares adotivos e em orfanatos. Solidão. A história relatada pode parecer inventada, mas faz parte da biografia de um dos maiores ícones televisivos e que você mesmo já apreciou ou sentiu vontade de viver por um dia como desculpa de ser Halloween.

O matrimônio veio cedo, aos dezessete anos. E não seria o primeiro e único. De amores essa sex symbol viveu. Amores ou desejos sexuais. Não há como julgar. De jogador de beisebol a dramaturgo, passeando pela presidência dos EUA com um relacionamento extraconjugal, o término dos primeiros vieram com o divórcio e o do último não há conhecimento. Relatos midiáticos. Como acreditar neles? Ficção ou realidade? Respostas sem respostas.

Conhecida Jean Norman em seus tempos de modelo, queria o estrelato logo logo logo. Parecia ter adivinhado que sua carreira teria duração de apenas dez anos. O loiro deu lugar ao escuro de seus cabelos. Intuitivamente procurando a atenção. Seria a primeira pin up? Diria eu que sim. Os fios foram a primeira mudança de sua caminhada seguido pelo nome. Sai Jean Norman, entra o sobrenome de sua avó materna.

Quanto mais quente melhor, a malvada diria. Para agarrar um milionário? Claro! Os homens preferem as loiras. Filmes. Apenas alguns. Cenas memoráveis. Esvoaçante vestido branco com um bueiro de culpado. Danças em um vestido rosa que depois vieram na releitura de Madonna. Ela mesma. Pinta na lateral da boca. Lábios mais que carnudos. Sinônimos de um símbolo sexual. Não seria apenas isso. Relatos de memórias contadas apenas por desconhecidos da imprensa.

Verdades ou não. A vida de ninguém pode ser resumida em algumas linhas. O que sabemos é que a loira em questão não é burra como viveu na maioria de seus filmes, a loira que John Kennedy perdeu é a mais que conhecida até hoje: Marilyn Monroe.


Por Mis understood.


Larissa

São 9 da manhã. Meu avião acaba de pousar em Nova Iorque. Quem diria? Não
imaginava isso nem nos meus mais lindos sonhos de criança lá em Honório Gurgel.
Queria ser rica e famosa, mas ainda não sonhava conhecer o mundo.

O J. havia acabado de me acordar. Dormi um pouco no final do voo, depois de
passar horas tentando me distrair com os filmes e séries disponíveis, mas estava mesmo
inquieta lendo comentários sobre mim na internet: “Nossa, vai precisar voltar para o
cursinho de inglês se quiser realmente seguir carreira internacional”; “Ela nunca vai
fazer sucesso lá fora, o que ela faz muitas lá já fazem: rebolar e mostrar a bunda”. Ainda
não havia me acostumado completamente com esses comentários, mas procurava
sempre focar nos meus fãs e na minha carreira.

Assim que cheguei à cidade, fiquei maravilhada com aquele lugar incrível.
Quando passamos de carro pelo Central Park, gritei para o meu produtor: “Vamos lá,
por favor?”. Mas já sabia que tínhamos que ir direto fazer check-in no hotel, porque a
entrevista na Billboard era às 11.

Enquanto esperava para começar, andava de um lado para o outro: “Será que vão
criticar o meu inglês de novo? Eu melhorei tanto desde a última entrevista. Vai, Larissa.
Você consegue”. “É verdade que você contratou um pajé para que tudo desse certo na
gravação do clipe de Is that for me?”, me perguntaram, em Inglês. “Do you know what
a favela is?”, perguntei explicando de onde eu vim. Como ele não sabe o que é uma
favela? Tive que pedir para ele procurar. Amanhã, já vão reclamar porque eu me
coloquei como representante do Brasil, do funk e da favela de novo. Quer saber?
Sempre vão me criticar. Ainda falam sobre o caso com a Pitty, no Altas Horas. É sinal
que cheguei onde eu queria, e ainda quero mais.

Após chegar ao hotel, meu telefone tocou. “Larissa, meu show ontem foi ótimo,
estava lotado. Tudo isso eu devo a você. Não vejo a hora de você voltar, para a gente
comemorar”. Era meu amigo me agradecendo pela ajuda que dei no início de sua
carreira. Fico tão feliz com isso. Pena que nem todos são agradecidos. Depois falam que
eu que não sou humilde, só porque sou provocativa no palco e até já falei que sou a cura
gay. Era uma brincadeira (rsrsrs).

“Larissa, Larissa”, o Poo gritou, enquanto batia na porta. “Vamos logo ao
Central Park, porque amanhã você já vai embora. Brasileiro em Nova Iorque é f#”.

Por Kunta Boyd.

Neymar Jr

Sempre sonhou em ser jogador de futebol. Aos 17 anos, fez sua estreia no futebol
profissional jogando pelo Santos. Chegando badalado por sua fama nas categorias de base,
já se esperava do menino grandes feitos, era comparado com grandes ídolos da história do
time, sendo colocado naquele momento uma pressão enorme. O menino, nascido em Mogi
das Cruzes e crescido em Santos, que sonhava alto, já se via prestes a entrar em campo.
Ouviu o chamado do técnico, o coração disparando e suando frio, e entrou. Bom
rendimento em campo. Alguns jogos depois, seu primeiro gol. Algum tempo depois, a
promessa vingou.

Passaram-se os anos, o menino cresceu, e durante esse crescimento sempre o
acompanhou críticas como "cai cai", "jogador de paulistão", "vai ser banco na Europa" por
onde passou. Neymar atravessou por essa fase com ajuda da família, onde era um outro
Neymar, era apenas um menino que gostava de ouvir pagode no quarto e era diversão nas
reuniões familiares. Ele cresceu, foi para o Barcelona, teve relacionamentos que deveriam
ser normais para uma pessoa comum, mas o menino sempre foi alvo de interesse. Isso o
entristecia muito, nunca sabia quem era verdadeiro. Ele teve um filho, algo que podia falar
com certeza que era um amor verdadeiro de pai e filho. Encontrou uma mulher que passou
pelos mesmos conflitos que ele por causa da fama, se apaixonou, se desencontrou e se
encontrou novamente com o amor dessa mulher, como uma pessoa normal.

Neymar é sensível, carinhoso, sente medo e a pressão dos julgamentos que sempre o
acompanharam. Hoje, na França, assume uma responsabilidade de ser o principal jogador
de um dos maiores times do mundo, de ser o melhor pai que ele conseguir ser e de fazer
algo pelo seu país pela seleção em uma copa do mundo próxima. Todos nós contamos os
dias pra chegar, e o Neymar também. A cada dia que passa, ele se sente novamente como
aquele menino de 17 anos estreando pelo Santos, o coração acelerado, o suor frio descendo
pelo corpo. O seu momento está chegando, ele sente isso, ele sofre com isso. Hoje, ele
compreendeu que, afinal, o menino alegre e ousado cresceu.

Por Ninguém.

Dilma Vana Rousseff

Em 1947 nasci. Não nasci a presidente do Brasil e muito menos ex presidente. Nasci uma mulher, apenas uma mulher e que hoje tenho 70 anos. Mulher que é filha de um imigrante que era advogado; aproveito este momento para dizer o quanto sinto saudades de meu pai e sou filha também de uma professora, que hoje o que me restou é apenas boas lembranças dela; esta que não soube que sua filha sofreu impeachment por no momento do decorrido estar em uma grave situação médica, preferi então, poupar-lhe disto.

Ao longo da minha adolescência estudei em escola estadual, onde aprendi sobre a vida, mas não só isso, aprendi mais sobre política. Nesse momento, ideais socialistas me encantaram, como hoje aposto que ainda encantam muitos jovens igualmente. Com isso, no Regime Civil Militar que vivenciei arduamente, lutei ao lado de movimentos revolucionários e por isso fui torturada e impedida de continuar meus estudos na Universidade Federal de Minas Gerais. Agora me responda você, o que faria se fosse impedida de continuar estudando por estar apenas lutando contra a um regime que não lhe representa e que na época não representava muitas pessoas também? Não desisti. Continuei na política, mas fui seguir um outro sonho. Ser mãe. Fui mãe e hoje tenho uma filha. Além disso, fui avó por duas vezes. Realizei não um sonho, mas posso dizer que dois. Entretanto, fui buscar outro na política.

Dando um grande pulo na minha história, me tornei finalmente a primeira mulher presidente da República eleita pelo povo. Sim, eu era a primeira mulher na presidência. Não foi fácil, mas consegui e resisti quanto pude. Dando um pulo maior ainda em minha história, pois tenho linhas limitadas para essa escrita, sofri impeachment. Fui tirada por eles. Em sua maioria homens que por interesses externos me tiraram. Se foi Golpe ou não, não é meu papel expor isso aqui, apesar de que após o ocorrido, tenho mostrado explicitamente que sim. Finalizo esse texto então, pedindo provas contra mim. Em nome de toda a minha história, provem.

Por Ermyniana Valente.

Briggs

Nascido em 25 de julho de 1970, filho de Suelly Neves e Henrique Briggs, Guilherme é um conhecido dublador, tradutor, desenhista e ator, isto é, um homem das artes. Sua paixão é criar, ler, trazer alegria a quem está a sua volta. Isto graças a seu pai, a quem atribui ser sua maior inspiração. Durante a infância, quando estavam juntos, os dois passavam horas criando personagens e histórias, atuando e gravando, numa espécie de rádio teatro caseiro.

Muitos lhe atribuem a imagem de alguém que foi sempre alegre e feliz. Porém, se me permitem a analogia, diversos estudos já provaram que, fisicamente, a dor nos ensina nossos limites, e acredito que o mesmo ocorra na vida. Aos 12 anos, o jovem que já passava por uma relação conturbada com seu padrasto, saiu de casa a fim de morar e cuidar do avô doente, que viria a falecer mais tarde. Pouco tempo depois, foi a vez de seu pai, e maior herói, ser convocado a uma viagem sem volta, rumo ao infinito e além.

Seria ali o momento de catarse em sua vida, no qual batalhou contra todas as chances de ser derrotado. Lutou, talvez, contra vilões maiores que qualquer outro que viria a encontrar em suas futuras atuações na ficção. Diferente do que ocorre nos filmes de ação, não usou a violência para derrotá-los, pelo contrário, os trouxe para seu lado. Recalcou e converteu toda a dor, sofrimento e tristeza em criatividade, resolveu mudar, fechar-se no seu mundo de histórias e fantasias para assim buscar, segundo Aristóteles, o principal objetivo da vida: a eudaimonia, a sua plena felicidade. “Não importa o que a vida fez de você, mas o que você faz com o que a vida fez de você”, disse Briggs em uma entrevista, parafraseando Jean Paul Sartre.

Em 1991, já adulto, começou como estagiário nos estúdios da VTI Rio, onde embarcou, pela primeira vez, na sua “Jornada nas Estrelas”. E, hoje, seu talento e versatilidade, são reconhecidos por todos os profissionais do ramo. Entre suas centenas de trabalhos, já foi, por exemplo, um samurai, um astronauta, um robô gigante e até um super-homem. Apelido-o, portanto, de “O ser de 1001 vozes e personalidades”.

Para Alexandre Moreno, um de seus companheiros de profissão mais próximos, “[...] Guilherme é a referência da área na nova geração, pois não matou a criança que tem em si”. Guilherme Briggs não é um homem de aço, invencível, como se vivesse num mundo feito de papelão, isso não é o que o torna especial. Dentro de seu peito, ainda bate um coração infantil, o mesmo que no passado tanto sofreu, pois “sem sacrifício não há vitória”.

Por O Homem de Lata.


Susana

“É, Susana, deu um probleminha aqui no seu exame”. Era a notícia do início de mais uma batalha. Mal podia acreditar. Câncer de novo? Só podia ser pegadinha. E logo abriu o berreiro na redação.

Depois de um linfoma aos dezoito e de enfrentar, cinco anos antes, um câncer na mama e outro na tireoide, agora só conseguia repetir: “gente, eu tenho uma filha de dez anos para criar!”. Justo. A pequena Júlia já não tinha mais o pai.

As lágrimas ainda escorriam enquanto sua amiga comprava as passagens para São Paulo. Queria começar o tratamento no dia seguinte. Afinal, a filha precisava dela e seria muito egoísmo permitir que o sofrimento lhe custasse a vida.

Então, o medo de morrer foi, gradativamente, dando espaço à vontade de viver. No lugar de lamentações, agradecimentos a Deus por ter diagnosticado uma doença tão cruel ainda em estágio inicial. Que sortuda era ela, não!?

E foi essa sorte que a acompanhou pelos seis meses de tratamento e que permaneceu ao lado dela no seu retorno ao RJ Móvel, pois teve a sorte de ser querida pelos amigos e pelos moradores que já entrevistou. E, por sorte, também ganhou uma linda homenagem e se emocionou.

É a sorte que faz da Susana a Susana Naspolini que conhecemos. Ela é uma mulher de sorte porque aprendeu a ser forte e a enxergar sorte onde os demais veem má sorte. Ela descobriu que, pior que tropeçar, é se apegar à pedra...

“Doença e problema fazem parte da vida, e ela é tão boa, né?”

Por Suco de Caixinha.

Brad Pitt

Tudo aconteceu muito de repente, de uma forma que eu nunca imaginaria.

Lembro de chegar da escola e ver mamãe bastante aflita. Tocava nos botões do telefone como se eles fossem a nossa salvação de algo que eu ainda não sabia o que era. Em poucos dias estavam na estrada rumo a casa de sua velha amiga, a pessoa mais próxima a nós nesse pais.

Não sei exatamente quanto tempo ficamos lá, mas chegamos sendo moradores da bela Nova Orleans e em poucos dias éramos dois sem-teto. Perdemos tudo. O tão temido Furacão Katrina viera, e levara anos e anos de vidas, de uma forma nunca antes vista.

Mas após um tempo de grande sofrimento e muita reivindicação contra o governo, uma fundação – que até então só sabíamos ser de um ator famoso, começou a ajudar diversas pessoas construindo casas para os desabrigados. E eu fui uma delas. Além de uma casa ele me deu esperança.

Aliás, hoje vi na TV que o Brad Pitt foi eleito novamente “O Homem Mais Bonito do Mundo” por uma dessas revistas. Não posso afirmar se ele é o ator mais talentoso, ou o homem mais bonito... mas de que seu coração é um dos maiores, eu e todas as pessoas ajudadas por ele temos total certeza.

Por Jon Luvon.





Mestre Azulão

Quem frequentasse a Feira de São Cristóvão aos domingos certamente encontraria, logo à entrada, uma figura emblemática. Desde antes da fundação do espaço, era aquele idoso baixinho, com óculos fundo de garrafa e um chapéu de cangaceiro quem recepcionava, com seus cordéis, os visitantes locais. Em abril, completam-se dois anos da morte daquele que é relembrado como um dos cordelistas mais respeitados do Rio de Janeiro.

Foi na cidade paraibana de Sapé, terra do poeta Augusto dos Anjos, que nasceu, em 1932, José João dos Santos, mais conhecido como Mestre Azulão. O apelido foi conquistado ainda na infância, quando o garoto aprendera a recitar de cor os versos do cantador pernambucano Sebastião Cândido dos Santos, o Mestre Azulão “original”.

Filho de João Joaquim dos Santos e Severina Ana dos Santos, Azulão se afastou cedo dos estudos por conta do trabalho na roça. A sua formação, no entanto, continuou em sua vizinhança, onde eram promovidas rodas de repente. Os eventos fascinavam o jovem que, aos 11 anos, ganhou sua primeira viola e, pouco depois, se arriscava nos cordéis.

Aos 17 anos, a vida difícil do Nordeste encaminhou Azulão à sina de retirante e o paraibano desembarcou em um dos paus-de-arara que chegavam repletos de nordestinos no bairro carioca de São Cristóvão. Ali, o paraibano trabalhou como peão de obras e porteiro, sem abandonar suas rimas. Ao recitar poesias em canteiros e feiras, o repentista tornou-se reconhecido. Em 1949, apresentou-se na rádio Tupi e, em três anos, iniciou a venda de cordéis, sendo fundador da prática no que seria a Feira de São Cristóvão.

Com mais de 300 obras em sua biografia, Azulão viajou o mundo e teve a oportunidade de conhecer grandes personalidades de sua época, como Juscelino Kubitscheck e Getúlio Vargas. O envolvimento com a política, aliás, o levou ao posto de secretário de cultura do município de Japeri, na Baixada Fluminense, para onde se mudou tão logo conheceu sua esposa, a baiana Celina Lima. Mestre Azulão terminou a vida ao lado de sua segunda mulher, Maria das Neves, que ainda hoje propaga orgulhosamente seu legado.

Por Peripatético Peri.

Tatá Werneck

     Conhecida por ser humorista, atriz, apresentadora, e até dubladora Talita Werneck Arguelhes, mais conhecida no País como Tatá Werneck, vai muito além dessas quatro categorias. Nasceu no Estado do Rio de Janeiro, mais precisamente no munícipio da Barra da Tijuca. Filha da escritora Claúdia Werneck e do editor Alberto de Jesus Arguelhes. Formou-se em Publicidade e Propaganda,  na PUC do Rio, e em Artes Cênicas, na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. Tatá ficou famosa em 2013, ao interpretar o papel de uma personagem cômica “Valdirene”, que sonhava em se casar com um homem rico na telenovela “Amor à Vida”, transmitida pela Rede Globo. Nesse mesmo ano, foi consagrada como revelação do ano quase unanimamente pela imprensa. Daí até os dias atuais Tatá só vem crescendo mais e mais; apresentando programas, sendo protagonista de filmes; além disso atuando em novelas com alta audiência.

    Eu sei, sei que você provavelmente também sabe dessas informações e afirmei que ela é muito mais que isso. Irei falar então da Tatá que vai além da comediante. Talita teve educação exemplar e estudou em colégios tradicionais, como o colégio PH, o que me surpreendeu foi descobrir que ela sempre gostou de se manisfestar e até organizou um abaixo assinado para retirar seu diretor, foi expulsa do colégio por má conduta , porém, como já dito aqui, ela se formou em duas instituições de ensino superior. Ao tomar consciência disso passei a admirá-la pela sua ousadia e posso até dizer seu atrevimento; e sua perseverança em continuar seus estudos.

      Em sua vida pessoal demonstra ser zelosa ao citar sua família e é apegada a questões de inclusão social. Com um grupo de amigos e a ajuda de sua mãe, ela fundou o primeiro grupo teatral acessível á pessoas com defiência, chamado Os Inclusos e Os Sisos –  teatro de Mobilização pela Diversidade, que abrange interprétes de libras, legendas eletrônicas, rampas e até visita guiada ao cenário. Sua participação em questões de cunho social nem sempre saem na mídia e também é dedicada à proteção de animais abandonados, adquirindo uma propriedade em Cachoeiras de Macacu, a qual afirmou desejar transformá-la em abrigo de animais. Parece que minhas linhas para descrever a Tatá estão se esgotando, entretanto, espero ter trazido ao menos  um pouco dessa mulher e mostrar seu lado sério e humanitário por assim dizer. Tatá representa a mulher desbravadora e representa sobre tudo a coragem e alegria da mulher brasileira.

Por Lívia Calvant.

Frida Kahlo

Frida é mulher. Mulher considerada muito a frente do seu tempo. Mulher que inspirou e inspira outras pelo seu modo peculiar de ver o mundo e expressar seus sentimentos.

Não obstante, aquela que contestou os padrões de beleza de Hollywood e fez suas sobrancelhas grossas e seu buço com pelos se tornarem uma nova forma de também ser feminina, era uma mulher ser humano, com dores, frustrações, inveja e rancor.

A poliomielite que contraiu quando criança e sequelou suas pernas e as sucessivas 35 cirurgias realizadas não foram capazes de detê-la. Nem mesmo os rótulos recebidos como "a perna de pau" que, para ela, apesar de ser uma realidade, não a descrevia por completo. Isto a deixava inquieta, com olhar agressivo e sentimento de repulsa ao próprio corpo.

A fama, a fez ser uma heroína perfeita, que sempre sorri e diz "viva la vida". Contudo, o primeiro era só uma forma de não se autodestruir mais e o segundo apenas uma frase para tentar tornar-se uma fênix. Às vezes falhava.

Suas roupas floridas e coloridas que se tornaram tendência de moda não passavam de autenticidade para esconder sua deficiência e encontrar vida frente aos contínuos choros, vergonha e desilusão de si mesma.

Era uma mulher que amava intensamente, principalmente seu marido, Diego. Para a época, assim devia ser, "mulher, viva para o seu cônjuge". Só que seu amor não era suficiente. Ficava vermelha e rangia os dentes quando via a traição de Diego com a própria irmã e várias outras. Sua mente tramava ações, e elas não eram boas, ao contrário, sua mente era perversa e dizia para ela agir. Então saia com as amantes dele. Não só para trocar o chumbo, mas para ter o prazer que a muito não recebia do parceiro. A bissexualidade significava liberdade para Frida.

Seu diário era repleto de lamentações, angústias e desesperos frente a situação em que passou grande parte da vida - deitada em cima de uma cama -. Seus quadros retratavam humor e fantasia, tudo o que ela não possuía e almejava intensamente. Frida adorou viver, mas, a cada olhada no espelho, desejava intensamente a morte.

"Espero alegremente minha partida e espero não retornar nunca mais". Última frase de seu diário que contemplou toda sua existência humana.

Por Emma Alfie.



Lindsay Lohan: Vítima da fama ou garota-problema?

Jovem nova iorquina. De família católica e com ascendência irlandesa e italiana. Filha de um turbulento casal formado por um negociador financeiro e por uma artista. E com três irmãos mais novos. Apenas 31 anos de idade e uma trajetória de vida um tanto conturbada. Uma mulher de estatura média, com rosto repleto de sardas e cabelos ruivos naturais, que carrega nas costas o peso de ter tido a possibilidade de ser uma das maiores atrizes no showbusiness.

Nos anos de 2004 e 2005, trabalhou em diversos filmes juvenis e até alguns mais maduros que levaram críticos a consagra-la como uma atriz em ascensão. Mas aos poucos seus problemas pessoais atraíam mais atenção do que seu trabalho como atriz e cantora. Perseguida por paparazzi dia e noite e desumanizada pela mídia, passa a desperdiçar parte de seu tempo às bebidas alcoólicas e infelizmente, às drogas. No fundo do poço, ela assume seu vício e assiste sua carreira descer em um carro desgovernado por uma ladeira íngreme. Assim, enfurece contratantes profissionais e passa a ter problemas também na Justiça.

Após ser condenada a passar noventa dias em uma prisão, sua advogada Shawn Holley, afirmou que sua cliente era uma moça prejudicada pelo preço da fama e tal condenação jamais aconteceria se ela fosse uma pessoa normal com um quadro de problemas legais semelhante. O que nos levanta a questão: Foi ela vítima da mídia de massa ou apenas uma garota-problema que mereceu sua sentença?

Levar em conta a complexidade desta pessoa, enxergar o peso de relacionamentos fracassados – incluindo o de seus pais –, perseguição da mídia, problemas com a própria aparência e uso de drogas é um passo para entender o quão profundo o sofrimento dela foi e continuando sendo.

Porém, hoje, as coisas caminham lentamente para a normalidade. Aparentemente bem, a jovem está investindo em seus projetos profissionais e seguindo com a produção de episódios de uma série de TV, além de outras participações especiais que a mesma tem feito nos últimos tempos. Embora muitos ainda a vejam como uma possível bomba prestes a explodir, essa mulher mostra todos os dias de sobriedade o quão forte e determinada pode e consegue ser. Contrariando todos os rótulos que foram pregados a si, ela continua de pé. Em um texto em seu Instagram ela escreveu: “As pessoas mais bonitas são aquelas que conhecem a derrota, o sofrimento, o esforço, a perda e que encontraram o caminho para sair da escuridão. [...] Pessoas bonitas não acontecem simplesmente...elas são formadas.”

Essa é Lindsay Lohan.

Por Dandara Davis.

Dilma Rousseff

        O ano é 2016.

Seu rosto estampa todos os jornais. As notícias bombardeiam as redes sociais. Elas aumentam seus crescentes rótulos. Burra. Irresponsável. Corrupta. Como deixaram nas mãos de uma mulher, a responsabilidade de uma nação?

Porque você é protagonista de uma história que não é exclusivamente sua. Ministros, deputados, governadores, vices-presidentes, mas a culpa é de quem recebe o maior cargo. Um país desenvolvido sob corrupção e desonestidade se torna culpa apenas sua. É sua a acusação.

"Podem me derrubar, quem é que pode tomar o meu lugar?"... "Quem poderia esquecer o peso na consciência?"... Pessoas que estiveram ao seu lado. Não monstros, não desconhecidos, não inimigos. Parceiros. Com interesses próprios, interesses de outros, disfarçados de interesses nacionais, não cabe a você julgar. Mesmo com tudo desmoronando, sente que pelos menos parte de seu papel foi cumprido.

A primeira presidente do país. Julgada de ser muito durona, muito "masculina". Mas você não liga. Nasceu uma mulher forte, uma líder. Seu interesse logo cedo pela leitura e pela militância mostraram que você não era como as demais jovens. Estudar, se tornar professora, não pertencia aos seus planos. Tinha maior interesse em devorar a biblioteca da sua casa e atuar na Política Operária.

Burra. É o que dizem.

Mas você se lembra da sua trajetória para conseguir o diploma de Economia. Os dois anos de estudos perdidos na UFMG, jubilada por ter sido acusava de subversão. Então finalmente a conclusão na UFRGS, que abriu novo caminho para sua caminhada política.

Caminhada, essa, nascida de sua militância, passou por tão distintos momentos. A dor é sentida, aguda e horripilante, ao voltar em certos momentos do passado. Voltando para as lembranças da ditadura. Lembranças de tortura e resistência. O escuro, as palmatórias, a nudez, o sangue, os choques.

E no dia de ser deposta, são lembranças ressuscitadas com homenagens à seu torturador.

Homenagens. Nenhuma para você.

Porque você não quer e não vai se fazer de coitada para conseguir homenagens. Você é mais do que uma mulher que sobreviveu à tortura, você é mais que uma mulher que venceu o câncer, que se impôs em um cenário machista e misógino. Você foi e é amante, amiga, mãe, avó. Mas tal complexidade nunca entenderão.

Você se tornou a sua política. O seu partido. Um número. Mais uma que deu errado, mais uma que fez merecer o impeachment. Condenada ou não, criminosa ou não, você é só mais uma voz silenciada. Como as vozes de tantas mulheres que são silenciadas dia a dia. Mas essa é só uma tentativa.

O ano é 2016. Você é Dilma Rousseff. E acaba de sofrer um golpe.

Por Mary-Louise P.

Larissa de Macedo Machado

Logo na infância, a carioca que morava no subúrbio e vivia uma realidade extremamente humilde, assim como várias outras jovens que não nasceram em berço esplêndido, tinha um diferencial. Já anunciava seu sonho e objetivo: “quero ser artista, rica e famosa.” Seus avós maternos ao perceberem essa convicção de que estava destinada aos holofotes, vinda de uma menina de apenas 8 anos, tiveram a iniciativa de apresentá-la ao coral da igreja. Através de seu primeiro contato com a música, mesmo tão nova, Larissa já começava a sobressair e confirmar sua vocação de que nascera para brilhar. Na adolescência, demonstrava sua vontade de melhorar de vida, que transparecia inclusive em sua vida acadêmica, almejando ter sempre a maior nota da turma. Aos 15 anos, ao invés de um baile de debutantes, pediu a sua família uma sala de estar, pois morava em uma casa muito pequena e nunca havia tido uma. Enquanto cursava o Ensino Médio, Larissa concomitantemente finalizou um curso de administração e começou a ter aulas de dança de salão e de inglês. Tudo isso para complementar e saber lidar com a carreira que sabia que iria ter um dia. Na mesma época, conseguiu um estágio em uma mineradora e, como não tinha dinheiro para comprar roupas para usar no trabalho, arranjou um serviço temporário em uma loja de vestuário. Sempre muito ambiciosa e sonhadora, Larissa sabia que seria cheia de obstáculos sua jornada para que sua voz fosse ouvida por todos os públicos, de todas as idades. Começou então a fazer covers na internet, até que seu talento foi reconhecido e terminou por assinar contrato com uma famosa gravadora. Assim, se tornou um fenômeno em ascensão, que tanto buscou e trabalhou para ser. Hoje em dia, aos 25 anos, casada, já tendo conquistado um programa de TV para chamar de seu, além de seu nome ser reconhecido internacionalmente, pode-se dizer que sim, Larissa realizou seu sonho de infância. Para conseguir tudo isso tem que se ter presença. Presença de Anitta.

Por São Valentim.

Michael Jackson

Um ícone como o mundo do POP e da música nunca havia visto ou verá novamente. Um
homem bondoso que mobilizou o mundo e voltou seus olhos para a África e os problemas
da miséria, que com certeza tinha suas dificuldades, assim como cada um de nós tem. Esse
foi Michael Joseph Jackson.

Infância turbulenta com a fama precoce e um pai extremamente rígido, adolescência
focada em trabalho e música. Com isso, sua vida adulta foi influenciada por seus traumas.
Acidentes como o da PEPSI, que o fez ficar viciado em analgésicos, vitiligo causando
vergonha do seu corpo, o qual ele tentava esconder ao máximo, acusações de pedofilia que
nunca foram comprovadas.

Hoje, quero fazer você, meu leitor, a pensar. Não quero trazer uma imagem perfeita de um
homem comum, porque o que o difere de nós como seres humanos? Mas será que todos os
escândalos que o envolveram, eram verdadeiros, ou foram somente as necessidades de
alguém de aparecer e sujar a imagem do artista? Apelidos foram criados, como também
estereótipos, não conseguimos lembrar de Michael sem pensar na imagem negativa que ele
carregava e tudo isso por causa de preconceitos e talvez, falsas acusações.

“Who’s bad?” era uma frase constantemente falada e cantada por Michael, e pensando
bem, quem nessa história toda é realmente mau?

Por Lady Richie.

Kylie Jenner

A estrela de tv americana Kylie Kristen Jenner nasceu em 1997 na California. Filha da ex-atleta olímpica Caitlyn Jenner e da personalidade televisiva Kris Jenner, ela viveu toda sua infância e adolescência em Calabasas, cidade emblemática por ser o lar de estrelas de Hollywood e dos esportes. Aos 10 anos, sua vida muda completamente e Jenner passa a viver cercada por câmeras e luzes durante todo o dia, que cercam sua família e suas famosas irmãs na série de realidade, Keeping Up With The Kardashians.

Com o grande sucesso do programa, Kylie aos poucos se torna uma das jovens mais conhecidas e assistidas do mundo. Suas redes sociais atingem mais de 100 milhões de seguidores, levando a mídia a ficar cada vez mais sedenta por informações, fotos, curiosidades... verdadeiros pedaços dela. E ao passo em que o sucesso de suas irmãs aumentava, isso só fazia com que cada vez mais querer se distanciar de todos e de tanta exposição fosse se tornando um desejo crescente nela.

Ser parte de um reality show e estar presente na mídia faz com que as pessoas pensem que têm uma ideia perfeita de quem aquela jovem é, por um vídeo do Snapchat de quatro segundos... e falsas notícias, histórias, capas de revistas do mundo. Quando na realidade, essa é uma imagem que é vendida. Ninguém sabe quem ela é exceto sua família e amigos próximos, e mesmo com o ânimo dela de se mostrar verdadeiramente, o medo ainda se faz presente, pois não faltam pessoas para julgarem hoje em dia.

Assim como uma moeda possui lados tão antagônicos de significados, Kylie possui duas personalidades muito distintas. A garota 'Kylie' e a ‘marca Kylie' são duas coisas muito diferentes. Existe uma imagem que ela se sente constantemente pressionada a manter, em ordem de continuar relevante para o público, levando-a a viver conectada em aplicativos sociais como Instagram e Snapchat por horas, só para agradar seus fãs. E existe a pessoa real, que luta contra inseguranças, medos, traumas e ansiedade, imagem essa que nunca é discutida por ninguém, já que é mais interessante falar que ela está com o corpo cada vez mais definido do que sua doença psicológica.

Hoje com 20 anos Kylie já considerada como uma mulher que já viveu tudo da vida. Se tornou mãe, construiu seu próprio império de maquiagem, comprou todos os carros, roupas e casas que queria, criou seus vários cachorros, e conheceu o amor de sua vida. Porém, sempre há mais a se alcançar. A felicidade, auto aceitação e auto suficiência ainda são construídas com o tempo. Porque no fim do dia, a felicidade de poder ter o que quiser dura praticamente 2 segundos.

Para ela, sair dos holofotes diários, da vida sempre assistida e das constantes preocupações com a mídia, ainda são sonhos distantes. Mas, a jovem estrela aos 30, almeja sair do mapa, criar sua família na fazenda em Malibu, juntamente com algumas galinhas. Sendo uma pessoa normal, que pode acordar meio dia e não se preocupar em andar sem maquiagem e desarrumada, ela não será mais “A” Kylie Jenner, ela será a melhor versão de si, ela mesma e nada mais.

Por Aurora Munds.

Fausto Fanti

 - Bruno, você leu as notícias de hoje?

- Não, por quê?

- Sabe aquele comediante Fausto, do programa Hermes e Renato? Ele está com depressão!

- Ah, mas ele vive sorrindo, faz programa de humor... que eu saiba gente depressiva não ri. Esses famosos... adoram virar notícia.

Esse diálogo, o qual eu tive o desprazer de presenciar, aconteceu no dia 30 de abril. Exatamente 3 meses depois, no dia 30 de julho de 2014, Fausto Fanti Jasmin, comediante brasileiro que iniciou a sua carreira no MTV Brasil em 1999, aquele que nos arrancou diversas risadas nas noites de quinta-feira, tirou a sua própria vida aos 35 anos de idade. Sim, aquela pessoa que vivia sorrindo também tinha problemas. Parece que os holofotes colocados sobre os famosos nos cegam. Ficamos totalmente tranquilizados, sem se dar conta de que eles não vivem em um espetáculo 24 horas por dia. Esquecemos que, antes de ser humorista, ele era ser humano.

A verdade é que ser artista pode custar muito caro. Se colocar no papel da contradição humana, saindo de si mesmo para traduzir o intraduzível, pode nos levar a ser um ator o tempo todo.  Abrindo, assim, portas para o mundo imaginário de uma vida perfeita. Espero eu que, diante dessa calamitosa morte, seja possível refletir sobre como guiamos as nossas mentes, distraída e silenciosamente, em caminhos que, em algum momento, viram miragens de ruas sem saída. A morte chegou. Agora é tarde. Ele se foi enquanto você dizia que isso era impossível de acontecer, afinal, ele vivia rindo, não é mesmo?

Por Andrea Melo.

Antônio Francisco Bonfim Lopes

Antônio Francisco Bonfim Lopes, o famoso "Nem da rocinha”, é considerado pelo tecido social um dos piores traficantes que o Rio de Janeiro já teve. Está preso desde 2011 e ainda responde a 8 processos. Foi condenado a 16 anos e 8 meses de prisão por tráfico de drogas e formação de quadrilha.

Podemos observar pela ficha criminal e pelo tempo de pena que, o “Nem da Rocinha” não é nenhum anjo, pelo contrário, é um criminoso. O objetivo desse texto não é fazer você virar “fã” ou apoiar um traficante, mas sim, enxergar o ser humano atrás de um rótulo de "monstro”.

Para uma reflexão melhor: O que você faria se tivesse uma filha de nove meses e descobrisse que ela está com câncer? Uma situação complicada, certo? E se você e seu marido - ou mulher - tivessem desempregados e imergissem em uma dívida de vinte mil reais, o que você faria para salvar a vida da sua filha? Ficaria mais difícil, não é?A última pergunta: Será que alguém  iria emprestar vinte mil reais para um casal desempregado que mora em um  pequeno cômodo na favela? Um cenário árduo de imaginar.

Após não encontrar uma saída e não conseguir respostas para as perguntas anteriores, "Nem" subiu o morro e começou sua carreira no tráfico. Depois de sucessivas guerras na favela da Rocinha, ele virou chefe do morro. Durante seu “reinado” na comunidade, foi criado campo de futebol para os jovens,  passagens foram distribuídas para que as pessoas pudessem visitar as famílias fora do estado e até mesmo cestas básicas foram dadas para os necessitados¸ segundo o escritor Misha Glenny, autor do livro "O dono do morro: Um homem e a batalha pelo Rio". Por outro lado, a droga que ele vendia e a guerra que fazia destruía a vida de muita gente.

Atualmente, “Nem” reside isolado em uma prisão de segurança máxima, mas com a certeza de que salvou a vida da sua filha.

"E você, seria capaz de virar o Herói da sua filha e o vilão do estado?"

Por Lispector de Assis.

Edir Macedo

O pouco espaço disponível para esticar as pernas lhe era estranho, fazia muitos anos que não ficava restrito a tão pequeno espaço. Lembrar que, há cinco dias, estava na catedral apenas passando a palavra de Deus para fiéis parecia uma memória tão distante quanto seu tempo de garoto. Era quase irônico, mas seu destino nunca pareceu passar longe de grades, e agora ele se encontrava atrás delas.

Filho de pais pobres, Edir precisou largar os estudos diversas vezes para ajudar a sustentar a família. A responsabilidade de ter seis irmãos pesou em seus ombros, que nunca reclamaram do fardo. Seu primeiro trabalho foi ao lado do pai, em um bar. Então, conheceu o vício. Via clientes voltarem todos os dias para suportar a rotina sufocante, mas percebia que o álcool enrolava cordas nos pescoços de cada um deles. Logo, os clientes voltavam para chorar pelas famílias destruídas, os sonhos mortos. Edir decidiu voltar aos estudos.

Terminar o ginásio e conseguir entrar numa faculdade tiveram o sabor delicioso de comida boa, feita pela mãe. E assim foi comemorado o acontecimento: a família toda reunida ao redor de uma mesa simples, mas preparada com muito amor. Rezaram, comeram e conversaram. Era possível ouvir o burburinho de dentro da pequena casa. Relembraram momentos de quando moravam em Petrópolis e escutaram a história de romance dos pais. Mas também houve pesar e o silêncio decaiu sobre eles ao pensarem nas tragédias que também viveram. Puderam dizer, quando já estavam bocejando e colocando pijamas, que eram uma família abençoada por Deus. Edir sentia isso em seu coração, mas não conseguia compreender porquê suas conquistas não traziam o mesmo brilho nos olhos que traziam para sua família.

Meses depois, Elcy, sua irmã mais velha, adoeceu. Edir ajoelhou ao seu lado na cama e pediu a Deus que livrasse sua irmã de tanto sofrimento. Ele foi à Igreja Católica todo domingo, rezou todo dia antes de dormir e se confessou com frequência. Nada parecia surtir efeito, e sua mãe recorreu a diferentes tipos de fé. Edir conheceu o Candomblé e o Espiritismo, porém sua irmã continuava a tossir e ter febre alta. Todos os métodos haviam falhado, então ele passou a deixar a irmã sozinha, ouvindo rádio. Elcy ouvia um pastor evangélico o dia inteiro e, anos depois, continuou afirmando que foi a palavra daquele homem que a havia salvado. Então, Edir entendeu porque a faculdade não despertava alegria em seu espírito. Agora ele sabia sua vocação.

Anos pregando a palavra de Deus trouxeram grandes alegrias. Edir fundou uma grande igreja evangélica. Mas via que em seu caminho ainda haveriam desvios. Não compreendia sua estadia na prisão em Brasilândia e sabia que havia chances de voltar a viver em alguma cadeia, porém também conhecia sua determinação e sua fé em Deus. Confiava que sairia dali para honrar sua promessa perante o Senhor e esperava não decepcioná-Lo. Então, para ele, só restava se sentar na pequena cama e ler a Bíblia como fazia todas as noites quando ainda era apenas um garoto. Novamente esperando que Ele mostrasse o melhor caminho.

Por Jaci Roman. 

José de Alencar

José de Alencar foi um filho bastardo de um padre, em uma época que ser um filho bastardo só não era pior do que ser filho de um representante da santa igreja.

José de Alencar foi um político conservador, em uma época conservadora por si só.
José de Alencar escreveu romances que ficaram para a história da literatura brasileira, dentre eles alguns -dos mais famosos- tem mulheres como protagonistas.

Devo dizer que Senhora é o meu favorito. A história da mulher rejeitada que fica rica e compra o homem que antes a deixara. Eles se casam, quase que por vingança, quase que para mostrar como o dinheiro compra um marido. E manda quem o detém.

Lucíola é a história de outra heroína romântica nada tradicional. Uma prostituta de luxo jovem, requisitada e bem paga. E claro, não podemos esquecer de Iracema, a virgem índia que largou sua família e suas responsabilidades com os rituais tradicionais de sua tribo para viver ao lado de um estrangeiro por quem havia se apaixonado.

Tudo isso no século XIX. A igreja, sem dúvida, chamaria essas mulheres de pecadoras. A sociedade machista recriminaria todas. As próprias mulheres da época não compactuariam com tais atitudes se fossem vividas fora dos livros.

No entanto, um homem deu voz a essas mulheres. As heroínas românticas de Alencar não seguiam as normas da época, eram complexas, levavam o leitor a, até certo ponto, torcer por elas, mesmo que as mesmas transgredissem os valores de sua época.

Mas Alencar ainda era um homem, um homem de seu tempo que não conseguiu não julga-las também. Alencar não conseguiu deixar de punir suas heroínas. Alencar não conseguiu ir até o fim. A literatura da época era carregada de valores moralizantes e a mulher que transgredia esses valores, ou se rendia, ou pagava. Aurélia se rendeu ao casamento, Iracema e Lúcia morreram.

José de Alencar. Filho bastardo. Político conservador.

José de Alencar, você foi fraco e não conseguiu não julgar e punir essas mulheres ou você queria que as pessoas lessem histórias de mulheres que pagavam por não seguir a moral da sociedade escravagista que você defendia?

José de Alencar, covarde algoz ou perverso moralista?

Por Rodrigo M. S.

J.K. Rowling

Fui introduzida ao universo literário antes mesmo de eu aprender a caminhar. Lembro-me bem de como achava um milagre poder viajar para um mundo totalmente novo e inexplorado, sem ao menos sair de minha casa. Dentre inúmeras aventuras, uma das mais memoráveis foi junto à Harry Potter e seus amigos. Por isso, sou imensamente grata à J.K. Rowling por ter criado toda essa magia em minha vida.

Muitos acham fácil a vida de ser escritor. Pensam que é apenas escrever, publicar e pronto: milhões de fãs aos seus pés e quantias enormes de dinheiro no seu bolso. Ingênuos, ou até ignorantes, os que pensam que tal tarefa é simples desse modo. A trajetória de Joanne  Rowling é a prova de que tamanho sucesso não surge sem esforços.

Nascida em 31 de julho de 1965, Jo cultivava uma paixão arrebatadora por livros desde criança, o que a levou querer ser escritora. Aos 6 anos escreveu sua primeira estória o que daria o pontapé inicial de uma carreira brilhante. Entretanto, nem tudo eram flores. Ela teve uma adolescência conturbada, tinha que lidar com a doença da mãe e a pressão da vida escolar. Apesar de seus grandes esforços, não conseguiu passar para a universidade de Oxford e acabou se formando em línguas na universidade de Exeter. Seguindo a vontade dos pais, trabalhou para a Anistia Internacional como secretária bilíngue.

Com a morte de sua mãe, abalada, Joanne passa a viver em Portugal, onde dava aulas de inglês. Em Porto, ela conheceu Jorge Arantes, com quem viveu um casamento conflituoso e teve sua filha, Jéssica. Em 1994, Jo separa-se do marido e vai com sua filha morar na Escócia perto de sua irmã. Foi nesse período que ela finalizou o primeiro livro da saga Harry Potter. Passando por necessidades e estando depressiva, seu manuscrito foi negado por diversas editoras, até o ano de 1997 quando ele finalmente foi publicado.

Tudo passou a andar na vida de Joanne. Por meio das vendas de sua primeira obra, ela parou de dar aulas e focou somente na escrita, como era seu sonho antes. A série obteve tanto sucesso que foi capaz de transformar uma desempregada em uma das pessoas mais ricas do mundo.

Além de ter uma linda história de superação, J.K nos entrega a fascinante saga do bruxinho que mudou a vida de muitos, inclusive a minha. Por isso, muito obrigada.
     
Por Lilac Sky.

Bruno Carneiro (Fred)

A história de Bruno Carneiro começa como a de muitos garotos brasileiros, com o sonho de ser jogador de futebol. O final desse sonho é como o da maioria dos jovens que tentam essa carreira, frustração. Diante da paixão pelo esporte mais popular do mundo, que crescia a cada vez que ia ao Palestra Itália ver o Palmeiras jogar, Bruno sempre quis participar mais do que via e conhecer os bastidores do futebol, que o fizera feliz tantas vezes.

Durante a escolha do curso que iria fazer ele levou em consideração seu sonho e sua personalidade e acabou por fazer jornalismo. Com a dificuldade de encontrar um emprego em sua área de atuação, depois de formado, chegou a trabalhar em diversos ramos para se sustentar, inclusive como gandula de tênis e animador infantil. Eis que o maior canal brasileiro de futebol do YouTube, com 5 milhões e 500 mil inscritos, o Desimpedidos abriu uma vaga para apresentador após a saída de Felipe Andreoli. A vaga seria preenchida após uma série de fases para seleção dos melhores, o primeiro passo era mandar um vídeo criativo explicando porque queria a chance. Foi definido o prazo até sexta-feira para enviar os vídeos e Bruno desistiu pois não tinha tempo devido ao trabalho. Até que, inesperadamente, o canal ampliou a data de envio até terça da semana seguinte, dando ao jornalista a oportunidade de fazer o vídeo no final de semana.

Com a ajuda da irmã, Bruno fez um vídeo que foi muito bem aceito pelos internautas e pelo staff do Desimpedidos, acabou ganhando a vaga e realizando seus maiores sonhos, como viajar o mundo cobrindo jogos importantes, se tornar amigo pessoal de diversos jogadores mundialmente conhecidos e até encontrar o seu maior ídolo, Cristiano Ronaldo.

“Sonho esse que não é só meu, e sim de todas as pessoas que me ajudaram a chegar até aqui, desde todos os profissionais da NWB e principalmente vocês, que me permitiram sonhar e que viveram comigo todo esse tempo de espera, gostaria de agradecer também a minha família e meus amigos, que mesmo quando eu não tinha o mínimo motivo pra sonhar, sempre acreditaram em mim como eu mesmo e caso me permitam gostaria de deixar um recado que seria: Permitam-se sonhar pois eu nunca deixei de acreditar que isso aconteceria afinal, parecia um absurdo, algo totalmente distante, mas aconteceu. E hoje eu estou aqui muito orgulhoso, não só da conquista final mas sim de todo o passo que foi dado até esse dia.”

Por thecreator.

Anísio Abraão David


Aniz Abraão David, mais conhecido simplesmente como Anísio, se tornou um dos mais temidos contraventores do Rio de Janeiro.

Você sabe de quem estou falando?

Nascido em família de origem libanesa e erradicado em Nilópolis, Anísio ganhou notoriedade como bicheiro na Baixada Fluminense e por ser o patrono da escola de samba Beija-Flor de Nilópolis, além do fato de sua família ter construído um verdadeiro império na região, com influência política e social. Anísio dá as cartas em Nilópolis das mais diversas formas.

Para entender como Anísio chegou lá, é necessário entendermos retornarmos à época da ditadura. Seu primo, Jorge David, servia de delator aos militares. Foi o suficiente para alçar ele e seu irmão Simão Sessim (este na ativa até os dias atuais) à política. Mas também foi útil a Anísio, que pôde ampliar seu esquema de Jogo do Bicho em diversos pontos sem o incômodo dos militares.

Mas não só isso. Anísio ainda recrutou militares atuantes em centros de tortura como seus homens de confiança.* Sabendo sempre com quem estava lidando, se tornou amigo íntimo de vários.

Simultaneamente a esse fato, existia a Beija-Flor. Com o intuito de fortificar ainda mais sua fortaleza, o libanês foi o manda-chuva por trás dos desfiles que transformariam a escola nilopolitana na grande potência do carnaval. Anísio se tornara o homem daquela festa.

Com o fim da ditadura, Anísio não perde força. Pelo contrário. Junto com outros bicheiros ligados à escolas de samba funda a Liga das Escolas de Samba (Liesa), com a premissa de "organizar o carnaval carioca", mas que além de tudo, foi a chave para manter os contraventores unidos.

Em 1989, Joãozinho Trinta, na Beija-Flor, se colocava como um dos grandes carnavalescos da história no enredo "Ratos e Urubus, larguem minha fantasia", recheado críticas sociais, na qual surgiu a famosa imagem do Cristo Mendigo (imagem) - proibido pela justiça a pedido da Igreja Católica. No meio da multidão estavam lá, velhos amigos de Anísio, torturadores da Casa da Morte, em Petrópolis. Fantasiados de garis, certamente numa enorme incoerência pelos seus atos nas décadas anteriores.

Anísio teve vários filhos. Um dos mais notórios é Anderson Muller. Atuou em várias da Globo, como no conhecido papel de Abel, em Caminho das Índias. Seu par com  Norminha (Dira Paes) caiu nas graças do povo.

Em meados de 2017, seu filho mais novo, Gabriel David, estudante de Administração, deu a ideia do enredo de sua escola para o carnaval de 2018. Era basicamente uma crítica a Deus e o mundo, denunciando "tudo de ruim que aflige a população brasileira". Tal samba enredo foi replicado por diversas lideranças progressistas no período carnavalesco. A Beija-Flor se consagraria novamente campeã.

Em 1987, Anísio criara um projeto social dentro de sua escola de samba. Um educandário com aulas de ensino fundamental, oficinas de percussão, aulas de passistas, ou seja, tudo aquilo necessário para formar novos componentes da escola. Além disso, cidadãos longe da criminalidade. Mais além ainda, uma forma de perpetuar a influência de sua família na cidade.

E como entender Anísio? Com o passar dos anos, de suas atitudes, é possível traçar um aspecto, de, alguém que não tem ideologia, sequer se interessa por isso. Anísio vai apenas em busca do que é melhor para si e para aumentar seu poder. Dançar conforme a música é evidentemente algo que o bicheiro sempre fez. Desde organizar enredos ufanistas e de exaltação a ditadura (como nos anos de 1973 a 1975), ou autorizar temáticas sociais (1989 e 2018). Desde ser acusado de desaparecimento de inimigos, fazer aliança com militares, a construir escolas, realizar projetos sociais. Se adaptar às épocas, e ainda ser amado.

Por Almirante João Cândido.

*Algumas informações do texto foram retiradas do livro "Os Porões da Contravenção - Jogo do bicho e ditadura militar: a história da aliança que profissionalizou o crime organizado" de Chico Otavio e Aloy Jupiara

Edmundo

    Animal? Bad boy? Bobo da corte? Craque? Assassino? Edmundo Alves de Souza Neto talvez se encaixe em todas essas categorias. O atacante ídolo cruzmaltino sempre foi conhecido por ter o pavio curto e não pensar muito antes de agir. Seja em momentos simples, como fazer uma dança no primeiro jogo de uma final – só acaba quando termina amigo – ou em momentos estúpidos, como no de fazer uma decisão de dirigir embriagado com mais três  pessoas no carro.

   Edmundo, enquanto jogador, disse o que quis, e como era de se esperar, ouviu o que ninguém gostaria de ouvir. Desde a briga com o baixinho, seu antigo parceiro bad boy, a coros de assassino das torcidas adversárias. Seu temperamento lhe custou caro em alguns momentos, como em 94, ano do tetra, em que Edmundo não fez parte do grupo campeão e o treinador Carlos Alberto Parreira admitiu que o motivo da não convocação foi o medo de seu comportamento explosivo.

    Além de brigas com companheiros, técnicos e dirigentes, Edmundo também estrelou momentos escuros fora dos tabloides esportivos. Em uma noite de 1995, Edmundo se envolveu em um acidente de carro, enquanto estava alcoolizado, levando a vida de três  pessoas que estavam no carro junto à ele. O julgamento  percorreu durante anos e o ex-jogador não foi condenado.

    Dito tudo isso, Edmundo foi um craque dentro dos gramados. Torcedores do Vasco da Gama e do Palmeiras podem o considerar um ídolo. Porém, não é possível se negar seu histórico fora de campo, que afetou a vida de muitas pessoas, inclusive a sua. Ou seja, para as peguntas que eu fiz no início, quais seriam as respostas? Provavelmente sim para todas, uma coisa não exclui a outra, a vida tem disso.

Por SharkDuck 15

Joaquim Maria Machado de Assis

Quando pensamos em famosos, normalmente lembramos o ponto alto da carreira de cantores ou atores. Contudo, grandes nomes só se tornaram renomados com o esforço individual (seja muito ou pouco). Se na atual conjuntura tecnológica já é trabalhoso obter sucesso, imaginem para um mestiço, epilético e gago de origem humilde durante o século XIX.

Enquanto muitos filhos de ricos brasileiros saíam para estudar na Europa, Machado de Assis passou pouco tempo na escola pública, mas isso não diminuiu sua ambição pelo conhecimento. Seu esforço, somado ao auxílio – para a leitura e escrita - de “conhecidos” fez com que aos 16 anos publicasse seu primeiro poema e partir daí o laço com a literatura fosse criado até o fim de sua vida.

Nascido em 1839, passou pelo período de escravidão com uma contribuição pequena a essa causa se comparado aos escritores da terceira fase do Romantismo, preocupados com a abolição.  Normalmente, Machado de Assis abordava essa temática sob a concepção de outros personagens e não diretamente às situações sofridas pelos escravos. Na maioria das vezes, escrevia sobre a burguesia e seus conflitos morais.

 Apesar de não esquecer suas raízes, para um homem interessado em possuir uma posição social relevante na sociedade, temas sociais eram pouco relevantes, já que ser negro já se tornava um empecilho. Nesse sentido, é possível perceber que para se tornar um notável escritor, teve de deixar um pouco de lado as lutas de seus companheiros para alcançar um posto intelectual majoritariamente branco. Tanto é que sua aparência era modificada em muitas fotografias da época para aparecer com um tom de pele mais claro.

Mesmo após sua consolidação como escritor, Machado pouco citou sobre a luta de seu grupo. Assim, percebe-se que para chegar ao auge, além do esforço individual, muitas vezes, é necessário deixar alguns de seus preceitos de lado.

Por Capitu.

PS: Esse texto foi baseado em pesquisas superficiais pela internet, podendo conter informações incorretas ou falsas.

quinta-feira, 22 de março de 2018

Relevância, Irrelevância na história e sotaque

Diversos fatos mudam o curso da história. Costumam-se citar vários. Sempre os maiores e mais marcantes. Normalmente guerras. As mais notáveis, e o que modificaram na configuração do mundo atual. E principalmente, o que de relevante mudou na configuração atual.

Justíssimo! Nossa vida é da maneira de ser, porque algo aconteceu para que ela fosse assim.

Porém, o que existe de expressivo que ocorreu no passado, remodelou tanto, mas tanto, que além de alterar as coisas relevantes, alterou as irrelevantes. E coisas irrelevantes são o interesse desse rabiscador.

Voltemos à França numa das passagens mais conhecidas da história: Revolução Francesa. Brioche. Queda da Bastilha. Guilhotina. Corte decapitada. Quando através do 18 de Brumário, Napoleão assume o poder na França. Durou poucos anos para se tornar imperador. Endoidou de vez. Invadiu todo mundo. Menos a Inglaterra. Decretou o famoso "Bloqueio Continental". Portugal não segue as ordens francesas. E Napoleão resolve invadir o território lusitano. É o momento em que a corte portuguesa foge para o Brasil.

Foi o suficiente para influenciarem na nossa cultura de todas as formas. Na comida. Nos hábitos. E no jeito de falar. O 'S' chiado do carioca é uma característica adquirida aos falantes da região, diretamente ligada à este episódio ocorrido à mais de 200 anos. Pois era dessa forma que os portugueses pronunciavam as palavras. Junto ao Pará (por influência jesuíta), os únicos estados no Brasil que utilizam tal fonema. O quindim que conhecemos hoje é um ancestral da "brisa-do-liz" portuguesa.

Por que eu falei isso tudo? Porque eu gosto de histórias e de coisas irrelevantes. Mas também para mostrar que, um fato, por mais que pareça isolado - apesar de importante - se relaciona conosco a todo momento e a toda hora. A Revolução Francesa fez a gente falar paxshtel. Napoleão fez a gente comer quindim.

Por Almirante João Cândido.

6:01 nas montanhas

Caminhar até o topo da montanha não estava sendo uma tarefa fácil, porém, para ele tudo iria valer a pena quando a visse. Seu esforço para ascender era louvável, já que não mais tinha a destreza e sagacidade da juventude ao seu lado, suas palmas, agora rubras, estavam enrijecidas e emanavam um característico odor ferrífero. A dor se tornara sua companheira naquele momento. Mas isso não importava, faltava pouco para ele chegar até seu destino final, ela. Tão pouco, que já podia enxergar sua forma sugerida entre o emaranhado de rochas acinzentadas.

Sua imponente estatura, sua forma irregular, seus cortes bruscos e brutos, não havia quem negasse a beleza peculiar daquela cadeia de montanhas, era realmente espetacular. Para ele, entretanto, nada mais eram do que vários caminhos diferentes para unicamente admirar a beleza de sua amada, que sempre vinha de encontro a ele, envolta de toda sua glória, potência e ardor de uma vida marcada pela reciprocidade emocional. Ele acreditava apenas em sua beleza e nenhuma outra. Ele a amava.

Adiantado como sempre, chegou ao topo e olhou ao redor, foi nesse instante que ele notou não estar mais sozinho, ela estava próxima. Sentou-se à sua espera, e com todo seu esplendor, ela se mostrou presente. Com seus longos cabelos louros e dedos mágicos ela tocou o céu, antes escuro e sem vida, e com perfeição o encheu de cores. Com os olhos envoltos de lágrimas exclamou seu nome: AURORA!

Ele se apaixonara novamente, com igual intensidade e beleza do espetáculo que ela carregava em si. Ele agora em sua presença possuía face corada, olhos brilhantes e sangue fervendo de amor e admiração. A efemeridade de seu amor se renovara mais uma vez, mais um dia, mais uma manhã.

 Ela já havia terminado, e ele sabia que essa seria a hora dela o deixar novamente. Entretanto, já havia passado por isso por toda sua vida. Ele podia não entender muito sobre amor e o mundo, mas sabia que quando ela se desse por satisfeita, caminharia rumo ao horizonte que lhe convidara, mas deixaria novamente a ele, a promessa do amanhã.

Por Aurora Munds.

Sobre um novo olhar

O mundo me fascina, e a cada dia, poder descobri-lo me inspira a viver e a encontrar o que há dentro de mim e quem realmente sou. Novos sonhos, fantasias, pensamentos e perspectivas surgem e lidar com tudo isso acaba se tornando um desafio diário. É preciso aprender e tirar bom proveito até mesmo das coisas que parecem ser inúteis, sem sentido ou até mesmo das que nos parecem ter feito mal.

Não sei se o leitor me entenderá, mas sabe quando vamos ao oftalmologista, descobrimos que estávamos com problema para enxergar e quando os óculos chegam, é como se nossa visão ficasse em alta definição? Sendo assim, os óculos são as nossas vivências, que nos ajudam a não tropeçar e a enxergar ao redor com mais clareza e exatidão. Precisamos ver mundo a cada dia como uma experiência diferente, e que caso estivéssemos sem o que carregamos de bagagem do que já vimos e aprendemos, não seríamos capazes de olhar e entender aquela situação do jeito correto que a mesma deveria ser enfrentada. Muitas vezes, nem notamos a falta que enxergar bem nos faz, só percebemos quando os ¨novos olhos¨ estão conosco, tendo a certeza que sem eles, tudo seria mais embaçado e fora de foco.

É por tudo isso que eu permito novas experiências e as valorizo, pois essas podem moldar o jeito de ver a vida e tornarem-se como uma lente para enxergar e nos capacitar a lidar com as pedras que são parte do trajeto. Que ao cair estejamos aptos, não apenas a levantar, mas a dar a devida importância ao novo olhar que com certeza teremos depois da queda.

Por Lady Richie.

Mais um dia nas cidades

Imagine o céu ao fim da tarde de um dia ensolarado. Uma amálgama de cores quentes em perfeito contraste com o branco das nuvens, tão lindas de tal forma que nem mesmo Michelangelo conseguiria reproduzir.

Agora imagine esse mesmo céu visto de cima de um enorme prédio em uma enorme metrópole. E dali a visão perfeita daquela curiosa e complexa cidade...pessoas indo e vindo, prédios sendo construídos, senhoras atravessando as ruas, ônibus lotados, crianças brincando e olhem, é possível até mesmo ver um assalto.

Esse lugar, no qual o tempo não para, foi capaz de me trazer diversas emoções. Já  fui muito feliz porém também muito triste, já me senti forte como um touro mas fraco como um recém nascido, me senti bem por fazer algo bom a quem precisava mas igualmente frustrado por não conseguir abraçar a todos...viver em sociedade me trouxe de tudo. Mas com um tempo um sentimento muito valioso foi tirado de mim, a paz.

Esse eterno misto de sensações e vivências me tirou a paz, de uma forma que mal conseguia lembrar da última vez que já a tive. Porém, a existência de um lugar para apreciar esse tão belo céu talvez tenha trago uma sensação parecida. Como se toda a minha inquietação pudesse ser anulada por tal bela criação divina.

Enfim, os dias passavam e eu me apaixonava cada vez mais por essa sensação. Até que decidi refletir e decidi que faria de tudo para que minha vida não se resumisse unicamente a esses momentos. Percebi que precisava de algo que me salvasse. Decidi mudar.

E aí eu me joguei do prédio.  A morte me trouxe o que eu precisava. Enfim, consegui mudar. Consegui ser salvo. Consegui novamente que a paz estivesse comigo.

Por Jon Luvon.

Eu, eu mesma e o tempo.

Quando pequena, nunca tive problemas em fazer novas amizades, era só perguntar "quer ser meu amigo?" e o laço era formado. Contudo, a vida adulta é diferente, principalmente para mim. Devido a minha timidez, tudo se torna um obstáculo. Com o ingresso na faculdade, deveria me sentir madura, espontânea, comunicativa. Afinal, comunicação social. Pelo contrário, me sinto insegura e muito mais tímida. Até questionei se jornalismo era mesmo para mim.

Vejo grupos de amigos rindo, indo e vindo, enquanto eu fico estagnada no tempo da solidão. Quando estou envolvida de pessoas, não me sinto aberta o suficiente para conversar e, no fim, a fala fica engasgada na garganta. Eu desejo falar, mas acho minha ideia é ruim, ou não vai agregar à conversa, ou não vai ser tão interessante quanto à da colega ao lado. O problema é comigo? Por que durante a infância foi diferente? O que aconteceu durante essa transição?

Bem, os tempos de criança não irão voltar, com isso, só me resta a saudade da aurora da minha vida, da minha infância querida que os anos não trazem mais!

Por Capitu.


Beijo na chuva

Quando eu tinha por volta dos meus treze anos eu sonhava em beijar na chuva, achava chique o quanto Gabriella e Troy – mocinhos de High School Musical – ficavam lindos em um clima de romance se beijando após dançarem (e cantarem) no terraço do colégio.  Naquela época eu ainda não havia beijado, quem dirá na chuva, mas era um dos objetivos de vida bestas que todo pré-adolescente tem.

Em um dia de chuva, toda a minha panelinha da escola foi fazer trabalho de grupo na casa de uma das meninas e todas as minhas amigas – que eram bem mais evoluídas romanticamente – combinaram um horário com seus respectivos “crushes” e pela primeira vez eu vi um beijo na chuva pessoalmente. Foi cômico na verdade, bem diferente do meu sonho ilustrado pelo casal fofo da Disney. Minha amiga havia feito chapinha um dia antes e só foi se lembrar disso no meio da troca de salivas e gritou aos sete ventos: “MEU CABELO VAI ENCOLHER” e quando correu para a marquise pisou em falso em uma poça d’água espirrando água suja por toda a saia jeans.

Mas nada desse trágico acontecimento com a minha amiga fez com que o meu sonho se dissipasse tão fácil. Foi então que em um dia qualquer de 2015, meu namorado na época, foi me visitar na casa da minha vó e na hora dele ir embora estava uma chuva fraca, que logo se tornou forte. Foi então que eu pensei: Esse momento é meu. Nos aproximamos e eu tive o beijo tão idealizado debaixo da chuva, porém vi que realmente nada é como nos filmes adolescentes. A realidade é bem diferente disso tudo e idealizar situações que ocorrem em filmes é embarcar em uma desilusão assim que você acha que conseguiu o que sempre quis. Mas é um tanto que ingênuo da minha parte achar que as pessoas – e até mesmo eu – vão deixar de querer vivenciar situações de grandes romances, porque é isso que nosso cérebro faz quando vemos algo que toca profundamente no nosso coração e nos faz ter inveja daquele lindo casal de mocinhos.

Afinal, quem não queria ser Gabriella Montez e ouvir juras de amor de Troy Bolton na chuva?

Por Dandara Davis.

Não odeie o jogador, odeie o jogo

Se eu te dissesse que um objeto, um sabão por exemplo, seria capaz de garantir a presença de uma determinada universidade nas semifinais de futebol americano universitário, e para isso acontecer, tudo que você precisa fazer é entregar para os jogadores e eles usarem. Você estaria interessado em tal objeto? Eu particularmente acredito que a maioria das pessoas falariam coisas do tipo “me vê 4 desse". Mas se eu te falo que não é um objeto, mas sim uma pessoa capaz de fazer isso, você tem a tendência de desmerecer, tentar explicar motivos sem ser o talento e o esforço dessa pessoa, criam até uma semana de ódio à essa pessoa. Se eu te disser que existe uma bebida, um café especial, capaz de dar ao seu time de futebol 2 torneios continentais e 2 mundiais e sem contar 3 glorias máximas futebolísticas para um país. Você gostaria de adquirir uma iguaria dessas? Eu com certeza ficaria mais que feliz em ter algo parecido. Mas mudando a figura de novo para o um ser humano, muita gente tenta desmerecer tudo isso, falando que o jogo era mais fácil, os adversários mais lentos e etc. Resumindo, todos querem a fórmula vencedora para o seu time do coração, mas quando ela acontece com outros times, não ficamos só chateados, tentamos desmerecer todo o trabalho feito tudo pelo simples pecado da inveja. Assim, nos sentimos um pouco melhor tentando achar falhas nos esforço dos bem sucedidos, simplesmente porque aqueles que apoiamos não se esforçaram o bastante ou não são talentosos o bastante para chegar a tais feitos. Então, em vez de tentar diminuir dinastias esportivas, tente aproveitá-las pois odiá-las não vai fazer mais fácil atura-las.

Por SharkDuck 15.

A língua é falha

"Eu te amo", dizia ela enquanto me envolvia num abraço sem fim. Uma eternidade de apenas quatro segundos, mas que até hoje me leva a questionar o verdadeiro significado daquelas palavras. Não que eu duvidasse do que havia sido dito, mas não era capaz de dimensionar o seu sentido para além do literal, frio e objetivo.

Mesmo passados seis anos, aquela frase que ouvi aos doze segue como evidência da imperfeição da língua nas nossas comunicações diárias.

Sim, a língua é falha...

É falha porque nunca é capaz de transmitir uma mensagem sem a interferência de outros fatores senão a própria intenção do emissor. Por vezes, um “eu te odeio” enfático pode representar muito mais afeição do que um “eu te amo” vazio. Por vezes, um “eu te amo” realmente representa mais afeição que um “eu te odeio”.

É tudo relativo...

Se a conversa acontece por mensagens a distância, é mais relativo ainda. Se face a face temos a oportunidade de analisar as expressões faciais e as entonações das coisas que nos são ditas, por mensagens contamos somente com a interpretação fria daquele texto. E, como cada vez menos buscamos entender e ser entendido, o resultado é catastrófico. Desavenças e hostilidades por puro desentendimento, justamente a falta do entendimento.

Isso tudo é muito óbvio, eu sei, mas não custa lembrar. Em tempos em que brigamos e nos ofendemos por tudo, que tenhamos mais sabedoria no uso da língua!

Por Suco de Caixinha.

Velho para ser jovem

Heraldo decidiu escrever um livro sobre sua vida. Aos 50 e poucos anos. Cansou de contar suas histórias para os seus filhos, pois eles já não tinham mais tempo para ouví-las. Novas histórias ainda podiam ser criadas entre pai e filhos, é claro. Mas todos estavam cansados demais pra tomar uma inciativa.

Entre a correria do trabalho e dos compromissos, gostava de escrever suas lembranças. Descreveu primeiro sua infância, sua convivência com os quatro irmãos, a vida humilde dos pais. Depois passou pela vida adulta, com momentos de riso, tragicomédia, perda, saudade...Nos espaços de tempo, esta se tornou sua maior distração. É claro, além dos programas de TV. Viu que seu tempo livre era melhor gasto com distrações superficiais, já que a maior parte de sua rotina era ocupada pelo estresse. Gostava de ficar em frente a TV, pensando em - quase - nada. E então às vezes voltava a refletir sobre o passado, os momentos de glória, as vivências que nunca voltarão.

Já não vivia como antes. Escrevia sobre o pôr do sol na praia, mas nunca mais voltara a apreciá-lo. Contava aventuras sobre quatro rodas, mas há muito tempo não sabia o que era dirigir. Se contentou com as lembranças, porque, afinal, já era um homem velho. Pelo menos se sentia. Com tanto tempo gasto em frente a TV, seus joelhos doíam cada vez mais ao menor esforço. Mas antes velho de corpo, era velho de mente. Dos que já se cansaram da vida. Se cansaram do esforço. Esforço pra se manter jovem.

Mas quem é verdadeiramente jovem? Talvez seja aquele que simplesmente viva. Com menos passado e mais presente. Sem o ‘sobre’, apenas ‘vivência’.


Por Mary-Louise P.

A perna de João

O futebol carioca possui a tradição de ter clássicos que antes mesmo de serem jogados, já conquistam seu lugar na história. Sem dúvidas, são partidas que param as ruas, atravessam muros, esvaziam as passarelas das praias. Entretanto, está havendo uma perda gradativamente maior da sua atratividade em relação ao povo, englobando torcedores ou não. Domingo, no Estádio Nilton Santos, pode-se perceber um dos reflexos da atual conjuntura do futebol do estado do Rio de Janeiro, o que é infelizmente uma realidade que merecemos.

Nas arquibancadas, menos de 15 mil presentes para acompanhar Botafogo x Vasco. Dói imaginar que a partida já foi palco das atuações de Garrincha, Dinamite, Jairzinho, entre tantos outros artistas da bola. Com o relógio rolando, a percepção da decadência foi visível logo de início: com apenas 4 minutos, em meio a uma disputa acirrada, um jogador do Vasco quebra a perna de João Paulo, capitão do Botafogo. Não quero entrar no mérito de discussões futebolísticas, nem mesmo à intencionalidade do jogador cruzmaltino, mas adianto que eu (e mais tantos analistas, comentaristas, espectadores) concordamos que o deveria ter sido aplicado um cartão vermelho ao jogador vascaíno. O que não aconteceu. Nesse instante, foi possível perceber o quão caótico estava o cenário do futebol carioca.

A perna de João Paulo teve 2 ossos fraturados: a fíbula e a tíbia. A fíbula quebrada espelhava o despreparo da arbitragem do campeonato estadual, que é fraca, destreinada e rouba os holofotes das partidas mais decisivas, quando sua função era apenas mediar o espetáculo. Ao seu lado, a fratura da maior osso, a tíbia, refletia na atual Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro, a FFERJ, que é a mandatária do esporte no estado. Não são poucas as críticas à instituição, afinal, é a maior vilã dos torcedores assíduos dos estádios, cuja grande parcela é a favor do fim do campeonato carioca. Enfim, eu poderia abordar melhor os motivos da triste realidade do futebol no Rio, mas estamos nos acréscimos e o juiz já pediu a bola.

Por Maria Joana.

Eles sempre voltam

Dia desses vi um filme alemão chamado "Ele está de volta". O filme mostrava, de forma fantasiosa, como Hitler saia dos anos 1940 e era transportado para a Alemanha dos dias atuais. A partir daí, o fascista perpetuava em nossos tempos todas as ideias que ele conseguiu difundir no século XX. Isso não é um spoiler, se aquiete, mas ele conseguia.

Acabei o filme me fazendo a mesma pergunta dos tempos de escola: "Como?". Sabemos que o discurso ideológico de Hitler convenceu muita gente, o que não sabemos dizer é como o povo da época comprou essa ideia, mais inacreditável ainda é imaginar o mesmo se repetindo nos dias de hoje, no tempo dos esclarecidos, dos avançados e desconstruídos.

Passei uma noite pensando nisso. No dia seguinte sai para trabalhar com a conclusão de que era tudo um exagero. Assim como a passagem de Hitler dos anos 1940 para hoje era fantasiosa, a ideia de que ele obteria o mesmo êxito em seus objetivos também era.

No caminho para o trabalho resolvi tomar um café em uma padaria. Na TV do local passava um desses programas matinais que recebe convidados para entrevistas, o convidado do dia era um senador famoso por seus discursos polêmicos e de forte cunho conservador. Eu tenho uma certa vergonha de transcrever o discurso, mas em suma: Ódio, em nome de Deus. Ódio, em nome da instituição familiar.  Ódio, em nome de um tempo da história brasileira que daríamos riquezas para que não tivesse existido. Ódio, em nome de assassinos e torturadores.

Se isso tudo não fosse ruim o bastante, mais perplexo eu fiquei ao perceber que pessoas da padaria ouviam aquilo satisfeitas. Um atendente chegou a chamá-lo de herói.

A realidade passou a me incomodar mais do que a história do filme. A sociedade que se diz a mais evoluída até o seu tempo, a sociedade tecnológica dos esclarecidos e avançados comete os mesmos erros ao invés de aprender com eles. Dizem que a história é cíclica, pois bem, colheremos no nosso tempo o fruto plantado pelos demônios que criamos.

Por Rodrigo M. S.

A busca incansável pelo amor

Eu vivia procurando o amor. Procurava na esquina da minha casa, mas ele nunca estava lá. Procurava na rua de atrás, porém nunca estava lá também. Às vezes, procurava até dez quarteirões depois da minha casa, mas adivinhe: não estava lá também. Certo dia resolvi parar de procurar tão por perto e comecei a procurar em todos os bairros da minha cidade. Depois planejei uma viagem. Fui para outro estado, mas também não encontrei o amor. Fui para outro país e não o encontrei também. Depois de perder quase todo o dinheiro que eu possuía, resolvi parar de procurar o amor. E foi assim que o encontrei. Estava dentro de mim e eu não o vi.

Por Andrea Melo.

Será mesmo que existe a luz no fim do túnel?

De volta ao Rio de Janeiro, após algumas semanas cansativas de viagem à trabalho aos Estados Unidos, finalmente voltei para a minha terra; terra essa que a cada dia posterior a minha chegada não reconheço mais como minha, mas sim deles. Não saberei responder se me perguntarem quem são eles, pois não é função minha confirmar quem quer que sejam, por isso, só suponho.
Estão sendo os noticiários, as pessoas com quem encontro no dia a dia e especialmente os fatos que me fazem refletir quem são os protagonistas, melhor; os coadjuvantes. Os verdadeiros protagonistas se foram, e dia após dia, estão indo. Por isso, eu que sou roterista já a anos, utilizaria "Brasil: país onde os que lutam, morrem." para denominar uma novela dirigida por mim. Entretanto, perdoe-me a minha ignorância de segundos atrás, mas novela não, nesse momento em que vivemos, muito melhor seria um filme de terror ou, muito pior.
Minha avó, até mesmo a minha mãe dizia: existe uma luz no fim do túnel! Luz essa que nunca achei e sigo desacreditada de encontrar. Mulheres morrem, homens matam, crianças pedem por abrigo, pais abandonam, minoria implora por ouvintes mas uma dita "maioria", os calam. Nem a tragédia grega se compara a essa em que estamos imersos, pois a grega necessita de um fator transcedental, como o destino, e talvez, se deixássemos o nosso futuro a mercê somente do destino, estaríamos muito melhor do que estamos agora.

Por Ermyniana Valente.

Para ela

Era dezembro de 2015, e no calor do verão carioca, chegou em minha vida a pessoa que mudaria ela por completo, para sempre. Eu estava vivendo a clássica fase da adolescência, formando  e descobrindo as coisas ao redor. Diante desse cenário é natural que um jovem de classe média-alta que sempre ganhou tudo sem esforços não sofra sérias intervenções em sua vida e amadureça de forma mais lenta e tardia que uma pessoa não privilegiada dessa maneira. Nesse sentido que destoo do restante dos adolescentes na minha convivência social.

Laryssa chegou em minha vida de forma bruta, me chocando desde o primeiro contato. Adolescente, com 15 anos ela não parecia fazer parte do grupo de pessoas da sua idade. Eu a conheci exatamente no dia em que terminei um namoro duradouro, o acaso – ou o destino- fez com que nosso primeiro encontro fosse na praia, mas não na areia, e sim no mar, parecia que, ao contrário do habitual, Iemanjá que me oferecera um presente. No primeiro sorriso, no “Oi, prazer”, entre as ondas do Oceano Atlântico, ela me conquistou. Em pouco tempo já estávamos muito íntimos, quase como amigos de infância, o que faltava era aquela linda menina compartilhar comigo os motivos que a fizeram ser tão diferente das outras pessoas.

Sempre notei em sua personalidade um certo distanciamento voluntário da realidade e sempre soube também que cada pessoa carrega sua bagagem emocional, restava saber o que ela guardava consigo. Desde o primeiro momento pensei que minha história com ela seria de amor, hoje percebo que foi uma história de superação. Durante o que pra mim eram só noites em que cedi minha casa para hospeda-la, para ela, era o único teto que tinha, pois havia sido expulsa do seu próprio lar por ser bissexual. Todo amor e carinho que naturalmente dou a todos, para ela, foram uma das poucas vezes em que recebeu esse afeto. Ao ver o pai sendo preso por bater na mãe ela perdeu a única pessoa que servia de referência e apoio. Hoje sei que eu fui essa pessoa para ela. Esse texto é para ela.

Por thecreator.

Carta destinada a qualquer um

Olá, lembra-se de mim? Não? Pois bem, vou contar-lhe um pouco da minha história.

Eu nasci e renasci muitas vezes, reencarnei em vários lugares diferentes e em todas as épocas possíveis. Viajei ao redor do mundo e visitei os mais belos pontos turísticos. Visitei também as residências dos pobres e dos abastados mais poderosos do mundo. Presenciei diversos eventos históricos.

Sempre me ergo em momentos difíceis, nos quais suas vozes clamam por minha presença. Porém, mais que seus gritos, suas salvas e reverências chamam-me a atenção.

GESTICULE! AJA! É ISSO QUE EU QUERO!

Com certeza você já me viu ou ouviu, e talvez já tenha até me invocado. Estou no quintal do vizinho, sob o mesmo teto que ti ou até ao teu lado. Mesmo sem ser percebida, estou à espreita, o observando. Muitos já tentaram me matar, porém não tenho corpo. Sou a soldada de qualquer um. Penso, portanto, que me tornei habitual.

Então, já sabe quem sou?

Por Rogerinho do Ingá.

Vou-me embora pra Tristão da Cunha

Moro em uma rua estreita. Tão apertada que era até possível ouvir os batimentos cardíacos
dos vizinhos ecoando... Antes fosse apenas isso. Muitos dizem que o Mal do século é o
câncer, outros afirmam que a culpa é da tecnologia, já a minha teoria é de que o grande
problema humano é a fofoca.

Frustrações, conquistas, viagens, tudo é passível de se escutar na vizinhança. A verdade é
que morando em um ovo fica fácil saber todos os passos alheios e julgá-los, isso não requer
grandes esforços. Na falta de uma privacidade digna, a rua inteira fica sabendo quando a dona
Joana está recebendo os amigos do marido em casa (de novo) ou quando o seu Zé está
jogando na loteria pela milésima vez.

No ramo das fofocas bem quitadas, as de cunho negativo sempre parecem ser as preferidas.
Não sou nenhum pesquisador do IBGE, muito menos banco de dados, mas sei que o ser
humano tem prazer ao ouvir a desgraça alheia. Boas notícias, na maior parte das vezes,
passam despercebidas por aqui.

É por esse motivo que pretendo me mudar. Preciso de ares novos na minha vida. Chega de
ouvir relatos dessa vizinhança invejosa e infeliz. Quero um tempo só para mim, sem
interferência externa. Não sei por quê, mas acho que o melhor lugar para ir é Tristão da
Cunha.

Por Lilac Sky.

Cidade maravilhosa?

Atualmente, contamos os dias da semana com mortes de cidadãos na cidade do Rio de Janeiro. Aliás, essa guerra está tão corriqueira que já estamos acostumados com ela em nosso dia a dia. No café da manhã, comemos pão ao som de tiros, e logo mais tarde, no almoço, temos a confirmação que mais uma pessoa veio a óbito, fruto de uma bala perdida. Em alguns lugares, nem a janta se pode participar, pois todos ficam deitados no chão esperando a "chuva" de tiros acabar. 

Sentimentos aos sírios que sofrem com anos em guerra, sempre vamos oferecer, mas antes precisam fazer o "pray for Rio" pois o povo carioca não aguenta mais sofrer.

Sem esquecer de falar das crianças, que brincam nas escolas de  "esconde esconde", não para se divertirem, mas para não ficarem expostas ao fogo cruzado.

Todos crescem escutando a marchinha de carnaval "cidade maravilhosa", mas está difícil de acreditar no restante da frase, pois a "cidade maravilhosa ,cheia de encantos mil", infelizmente sumiu.

A vida está difícil no Rio de janeiro, aliás, podemos chamar de "Rio de sangue" ou "Tiro de janeiro á janeiro"...o nome já pode mudar, mas a violência precisa parar.

Por Biscoito Gelado.

Sociedade Paradoxal

Falam por aí que hoje em dia as pessoas têm mania de imediatismo. Beatriz e Gustavo, ao contrário, talvez não estejam tão antenados no agora, suas mentes têm pressa e desconfiança. Às vezes, se perguntam se o hoje existe mesmo, pois sempre estão ligados no amanhã, no depois e no outro. 

A tremedeira do coração quando recebem uma notícia não esperada traz sensações estranhas, como se o Hulk os enforcasse e subitamente soltasse, deixando marcas e uma sensação de impotência em relação ao mais forte, que pode ser a vida, os problemas, as pessoas ou, simplesmente, o desespero por não saberem com qual roupa ir àquela festa sábado à noite.

Ah, que sociedade paradoxal! Querem para o presente e vivem em função do futuro, carregando o fardo de possíveis situações que podem acontecer ao longo da vida, sem a mínima certeza de que dessa forma será. 

Beatriz diz ser da madrugada, pois ela lhe faz companhia todos os dias. Vive olhando as horas no celular e batendo o pé no chão freneticamente até o ponteiro do relógio parar onde ela esperava. Gustavo não é diferente, mecanizou o caminho da escola para o trabalho. Enfiou na cabeça que tem que estar em casa às 18h37 para fazer o cardápio do dia que a mãe pregou na geladeira semana passada.

Eles querem a qualquer custo decifrar como serão os próximos passos, sentem-se na obrigação de tirar 10 no semestre e acham que vão conseguir enganar suas mentes dizendo a elas “acalmem-se e não interfiram nos nossos corpos e nas nossas relações interpessoais”. Eles só caem em si quando percebem que seus córtices são desobedientes e castigam, além do corpo, a alma.

Todavia, a questão é que, na maioria das vezes, nem eles próprios entendem como a cabeça funciona e sentam em suas camas na expectativa de não bater mais o pé no chão e parar de calcular a rota. Lá ficam o dia. Em vão. 

Beatriz e Gustavo, Maria e João, Matheus e Rafaela, Fulano e Fulana só precisam encontrar o equilíbrio que eles ainda não sabem que têm. O coração correr a São Silvestre é normal, mas só às vezes, meninos!

Por Emma Alfie.

Reflexões da noite

 Afastamento. É um dom, na verdade. Sabe aquela frase “..., essa arte eu domino”? Então, no meu caso é “me afastar das pessoas com extrema facilidade, essa arte eu domino”. Não sei bem o porquê. É um mecanismo de defesa, imagino. Num minuto nosso relacionamento é (ou parece) ótimo e puf! Enjoa? Cansa?

Afastar-se como mecanismo de defesa pode ser (e é) bem solitário. Eu, particularmente, faço isso sem pensar, na maioria das vezes. Interromper algo antes que exploda – mesmo que, talvez, nunca chegue a explodir. É por causa daquela sensação de sempre estar incomodando, nunca sentir-se no lugar certo. Nunca encaixar. A sensação de parecer sempre forçar algo, atrapalhar.

Acho que é isso. A gente cansa, às vezes. Tentar pode ser cansativo. Eu tento, sempre, mesmo já imaginando o que vai acontecer. São poucas as vezes que dão certo. Mesmo que desistir pareça mais fácil, não o faço.  Afinal, se não estamos tentando, o que estamos fazendo?

Por Floco de Neve.

Uma palavra

Naquele dia, enquanto tomava um ar em algum canto da caótica redação, a faxineira local apareceu. Depois de uma frívola troca de cumprimentos, a senhorinha, de estatura baixa e braços fartos, discorreu sobre seu trabalho e as dificuldades da vida. Muito expressiva, a idosa me envolveu em seus relatos e me fez navegar com ela por seu cotidiano. Em meio às palavras vãs, distribuídas em um bate-papo casual, a mulher se referiu a mim como “fia”. E, desde então, ensurdeci.

“Minha fia”. Aquelas palavras ecoaram em meu peito e lágrimas dispararam incontrolavelmente sobre minha face. A inocência da minha amada avó aparecia nitidamente diante de mim e, por uma fração de segundo, imaginei que a poderia abraçar. Seu afeto, seu toque, seu cheiro de vó. Seu modo de falar, seu passado sofrido, seu silêncio resignado. Quantas como ela existiriam? A maturidade me revelou que muitas. Quatro décadas dedicadas ao serviço fiel aos patrões. Visitas à família somente no Natal. Distância superada pelo amor e pela fé no futuro.

A mulher que mal conseguia escrever seu próprio nome ou ler as matérias do jornal foi a mesma que investiu, com seu pequeno salário de empregada doméstica, nos estudos de sua neta. Nunca entendeu muito bem o que ela fazia, mas apostou em um destino melhor que o seu. Vinte anos se passaram, e seu trabalho estava encaminhado. Era hora de descansar. Ela nada tinha, mas legou a simplicidade. E é nela que permanecerá meu coração.


Por Peripatético Peri.

Nota sobre o tédio em vinte linhas

Fazia calor no quarto, e enquanto observava as últimas horas do dia, e tive a impressão que esse sol, pesado e agressivo, mataria a todos nós se quisesse. Raros são os dias que acordo e não coloco a culpa pelo meu desconforto em algo, seja no sol ou na chuva, no chão do banheiro sujo ou no ônibus lotado. 

A noite chega, e com ela, tudo parece fazer mais sentido. A escuridão que cobre nossos corpos; as luzes quentes que, de tão fracas, lembram lamparinas; os vizinhos que se trancam em suas casas como animais assustados; o medo consome a todos. Nada mais que um reflexo da nossa condição de povo esquecido por Deus. Somos todos reféns do pessimismo que toma nossos dias,  e já aceitamos a perspectiva de um futuro apocalíptico, pois o mundo é cruel com gente que sonha.

Hoje uma vereadora foi morta. Quatro tiros na cabeça. Sem itens roubados. Receber tal notícia é como uma viagem para um tempo que deveria ser completamente estranho a nós, jovens, mas não é. Cada vez menos é. Eu já sei o que esperar da opinião pública, então evito ler os comentários sobre o acontecido, pois já basta de raiva para mim.

Será isto então. Do torpor melancólico, eu aproveito o desgaste que preciso pra dormir. Pois certamente, em tempos de violência escancarada, ódio gratuito e imbecilidade generalizada, é difícil encontrar atividade mais satisfatória que essa. E tudo é tédio.

Por velvet67undergound.

Coisas simples para viver

Aqui estou preso na chuva, olhando o dia a dia nessa cidade um pouco estranha para uma pessoa do interior. Naquela cidadezinha tudo se fazia a um passo de casa, aqui nesta nova cidade preciso de pelo menos um meio de transporte para me locomover por essas ruas até minha atual residência. Sobe e desce, levanta e abaixa, segura, espera... Uma eterna melodia e arpejo de ações dentro desse ônibus. O clima está fresco para essa cidade quente e soalheira e vejo casacos e calças ao invés de vestidos e bermudas mas uma coisa não muda que é a expressão  dessas pessoas, algumas parecendo ansiosas e outras inquietas e alguns , poucos, com cara de despreocupados. De qualquer forma nesse dia que parece natural a todos pude observar em uma breve parada desse ônibus um ser que para a grande maioria passa desapercebido; vejo um mendigo que chega com um pedaço de pão e joga para um cachorro que ,acredito, é seu próprio animal de estimação. Incrível como no meio de tantos rostos só enxerguei plena alegria na expressão daquele mendigo ao alimentar seu animal. Aquela cena me fez refletir ,logo após o veículo começar a andar, que estamos tão cheios de compromissos, estudos e trabalho que não curtimos as coisas simples que dão significado à vida. Posso não ser rico e andar de camaro amarelo mas em questão de bens materiais tenho mais que aquele mendigo ;entretanto, uma coisa sei que aquele morador de rua aproveitou mais aquele instante no tempo do que eu. Apesar dessa vida de eterno ostinato dentro dos ônibus, vale a pena buscar coisas que deixem os momentos mais agradavéis como aquele mendigo me mostrou; procurarei , então, cultivar mais as coisas simples que dão prazer como , por exemplo, chupar uma balinha na volta para meu lar nesse “bus” na cidade chamada “sorriso”.
  
Por Livia Calvant.