quarta-feira, 21 de junho de 2023

Á Baía

Criação divina é essa paisagem a qual tenho privilégio de ver quase todos os dias. Sempre quando caminho em direção ao novo Iacs e me deparo com essa vista, observo atentamente tentando absorver todos os detalhes nela contida. Costumo dizer que ao horário do entardecer parece uma pintura, pintada com as mais belas cores, em perfeita harmonia, é o meu horário preferido de observar a natureza. 

Enquanto olho, penso também na composição monumental. O Cristo Redentor que está sempre de braços abertos para nós, sempre quando olho lembro de um dia que me marcou muito, o dia da prova do Pedro II, realizei essa em Humaitá, aos pés do Cristo, quando olhei pra cima me deparo com ele de pertinho, me deu um ar de esperança, nunca esquecerei do sentimento, e, olhar para ele a beira da Baía me dá a mesma sensação. Logo quando acompanho os olhos para o lado observo o Pão de Açúcar, outro monumento que me marcou, passeios para lá acompanhada com os meus amigos do colégio, um passeio muito especial com a minha família depois que minha mãe descobriu um câncer e estava em tratamento, tantas lembranças. A fisionomia do outro lado da ponte me encanta, e não posso esquecer de observar a ponte e lembrar do frio na barriga toda vez que atravesso ela.

São tantas vertentes, tantas vivências, tantos detalhes que não são possíveis por em palavras. Nem se eu tivesse uma lupa conseguiria ver todos os detalhes dessa paisagem. Como eu disse no começo, criação divina, para mim não existe outra explicação para tamanha perfeição, digna de quadros, pinturas, retratos e ainda assim não seriam capazes de transmitir a sensação que é observar a maravilhosidade que é esse lugar.

-Silvio Santos

Que sorte a nossa

Leve, relaxante, calmo, sereno, gostoso... Poderia ficar aqui durante horas apenas enaltecendo essa vista que temos a honra de apreciar pelo menos uma vez ao dia. Inevitavelmente o que chama mais atenção é a ponte, que é tão longa que quase não conseguimos ver seu início. A ponte é esteticamente muito bonita, sustentada por pares de colunas, que aparentam ser mais altas em seu meio. Muito bom ficar vendo os carros passando, parecem até Hot Wheels de tão pequeno que são. Os barcos, por outro lado, parecem gigantes, alguns feios, outros bonitos. A direta eu vejo um morro coberto por árvores, embaixo várias casinhas, uma em cima da outra. O céu aqui parece maior que o normal, são muitas e muitas nuvens. Outra coisa maravilhosa são os muitos sons, que não causam uma poluição sonora, pelo contrário, só aperfeiçoam o ambiente. Ouço as árvores se mexendo, o barulho do mar batendo, os passarinhos e gaivotas voando, de vez em quando até dos aviões subindo e descendo. Que sorte nós temos de ter a nossa disposição esse ambiente. Com certeza essa vista foi a principal responsável pelo carinho que criei pela UFF em tão pouco tempo. Quando estou cansado olho para ela, quando estou ansioso olho para ela e impressionantemente tudo melhora um pouco. As paisagens realmente conseguem mudar e criar sentimentos genuinamente gostosos, que sorte a nossa. 

-Artubou da Lua

domingo, 18 de junho de 2023

Baía de Guanabara

 Olhando a Baia de Guanabara tenho a impressão de olhar uma imensidão indefinida. Águas turvas cortadas pelo constante tráfego de barcos, barcas, garças e cardumes. 

 Ao longe vejo um grande conjunto de construções, espaços empilhados envoltos de cimento,tijolos e vigas. Alguns empilhamentos se destacam e apontam verticalmente.
O dia é chuvoso e a neblina revela algo voluptuoso, encoberto pela névoa branca quase cinzenta.
A barca que atravessa uma cidade a outra trás consigo muitos compromissos, andarilhos urbanos, que andam apressadamente ao soar do tic tac do relógio. Os sapatos firmam e descolam os pés, as estacas de madeira do píer saltam por vezes dos parafusos e as estruturas de ferro rangem ao roçar na proa. 
A Bahia de Guanabara aparentemente mansa aos olhos se contrapõe ao lapso de tempo constante que atropela os fazeres e aqueles que os fazem. Me pergunto se esse registo feito pelos olhos será o mesmo caso eu retorne amanhã às 17:13.

Dentro de cada carro.

     Hoje, minha paisagem diária é o monumento que em meus desenhos mais desleixados, ocupava todo espaço em branco do meu material escolar. O homem que agora vejo no topo da colina, me acolheu de braços abertos, quase como se soubesse da minha necessidade de abraçar as magoas que guardo por ter deixado tanto para trás. 

    Meu olhar, agora não mais turista, ganhou um novo sentido. Tornou-se impossível encarar a ponte Rio-Niteroi como um simples pedaço de estrada carregando rodas e rotas. Agora vejo a ponte transportar as histórias que ainda não tive tempo de escrever. 

     Olho pro trânsito e vejo carros e cargos, recém-contratados, atravessando a ponte com o som no máximo, preenchendo aquele automóvel com uma música vazia mas perfeitamente adequada para ser a trilha sonora daquele momento de euforia fugaz. Euforia daquele que dirige ansioso pra chegar na casa da sua avó para contar a toda família sobre o novo emprego, no almoço de domingo. 

     No tumulto, há carros lotados de amor e desamor. Um carro de 5 lugares ocupado por uma família de 6, que foi pega de surpresa com a chegada do novo integrante. No outro, um casal apaixonado ansioso pra ter o seu primeiro encontro enquanto cantam "Friday I'm In Love"  , traçando planos clichês pro seu futuro e escolhendo o nome de seus futuros filhos. Naquele carro prata da lataria amassada, um rapaz frustrado pois sabe que aquele atraso resultará na sua demissão do emprego de anos... atraso esse causado pelo engarrafamento da via... engarrafamento esse que só aconteceu porque justamente naquele dia, o garoto que já reprovou 3 vezes no teste da autoescola marcou sua prova. Garoto aquele que reprovou pela quarta vez.

    Naquele Jeep vermelho, empunhando o volante com o coração palpitando em alegria, um pai levando sua filha ao Maracanã pela primeira vez, me fazendo implorar, por um breve momento, que aquela menininha fosse eu. 

     Mas mais importante que o que vejo na paisagem, é tudo aquilo que não vejo. São os quase 3 mil quilômetros que me separam do cuidado do meu pai, do jantar á mesa com a minha mãe e daquela live do Casemiro que não tem a mesma graça sem os comentários dos meus irmãos. Essa maldita distância que é a proximidade que eu sempre sonhei. Distancia curta o suficiente pra me fazer acreditar na possibilidade de um dia ser eu a pessoa na ponte ouvindo músicas vazias pra comemorar meu novo emprego... emprego esse que me permitirá um dia ser eu, naquela ponte, justamente naquele trânsito, com o coração palpitando em alegria, dirigindo meu Jeep vermelho, levando meu pai ao Maracanã, pela primeira vez.

-Meu Primeiro Fake

FOTOGRAFIA EM CHAMAS

Águas vorazes que devoram as almas decadentes.

Os peixes e os corpos em um mórbido encontro de fúria e desejo, desejo de

morte, desejo de ódio. Delicado horror macabro. O que se encontra entre uma ponte e a

câmera de um telefone.

Os carros brilham, luminosos veículos em uma baía amaldiçoada. Beleza e

terror, águas pútridas, a cidade em encontro com a maré. O lixo de uma melancolia

fúnebre. Esgoto estrutural, onde estão os corpos em meio a sujeira e aos peixes?

Um avião que passa, um sonho. As sirenas cantam, as sirenes cantam, a matéria

voa e a matéria cai. Ofélia entra em um rio com suas flores, na Dinamarca, em um reino

distante, as águas clamam a juventude.

Onde estão os vermes em meio a fluidez da decomposição aquática? Suas

ambições desprezadas no fundo de um Rio de Janeiro atordoado. A cidade sorri, todos

se esquecem, e a humanidade permanece agonizada.

         Temerosas mãos, temerosas pernas, um mausoléu em meio às águas.

Sepulcral eternização.

Gigantesca lápide que transpassa os séculos. Origem, invasão, colonização,

império, ditadura, onde jaze os trabalhadores dessa república?

Visão hedionda, visão monumental. Os jovens passam e choram e riem e se

sentam diante da extensão de um futuro indefinido. Há música e há a vitalidade da

ignorância.

Mergulho fatal, um rapaz adentra as águas entorpecido. Há o álcool e há a dor.

Alucinação obtusa, onde está o sangue? Decisão de partir, não há retorno entre a ponte e

a água. Baía de desespero, baía de angústia.

A sensibilidade de um pecado, consome e corrói as estruturas da ponte Rio-

Niterói.

Crônica

 Fico emocionada só de pensar na orla do Gragoatá. Tenho certeza de que

tem algo místico nela. Sua vista me deixa completamente hipnotizada. Pode até ser

que um dia ela se torne banal, assim como tantas outras coisas que um dia foram

novas para mim, mas que já se tornaram rotineiras. Não sei, alguma coisa dentro de

mim me diz que não é esse o caso.

Olhar para essa vista resgata memórias que eu não quero esquecer. Não

quero esquecer dos dias em que estar numa universidade pública era um sonho. E

ele parecia tão distante de mim, como o horizonte da Baía de Guanabara e o seu

infinito azul do céu. Não quero esquecer de tudo que me trouxe até aqui. Quando

olho para a Ponte Rio-Niterói ou para o vai e vem das barcas, penso no vai e vem

da nossa vida. Penso no caminho que trilhei para chegar até aqui (a música do

Cidade Negra nunca foi tão real) e em tudo que ainda construirei - afinal, esse é só

o início!

Sinto que essa vista é uma linda recompensa de todas as escolhas que eu fiz

para mim e por mim, as quais eu tenho imenso orgulho. Um dia, tirei uma foto dela e

enviei para a minha mãe. Ela respondeu que a vista do quarto onde nasci também

era muito bonita e que também dava pra ver o Cristo de lá. Depois dessa resposta,

eu, que antes nunca tinha pensado em estudar na UFF, mas que tive o privilégio de

a escolher, comecei a entender um pouquinho da mística desse lugar. Tinha que ser

aqui.

-


Dissimulado e Oblíqua

Flutuando na Guanabara

 Às vezes queria ser como as gaivotas, voar acima das águas sem se preocupar com nada além do essencial. Ou como os aviões, que alcançam alturas estratosféricas em segundos, raramente ameaçando queda. Serei sincero, ultimamente não tenho me sentido bem. Apesar de estar cursando a graduação que sempre sonhei em uma universidade de prestígio, estou me sentindo solitário. O ambiente universitário é frio e mesmo quando estou inserido em uma roda de conversa fico deslocado. Dias nublados como este têm sido comuns, às vezes o sol ameaça aparecer, mas no fim o que permanece são as nuvens cinzentas.

 Não tenho a mesma empolgação de quando o semestre havia iniciado, a rotina transformou a minha montanha-russa em um engarrafamento na Ponte Rio-Niterói. Os são como a brisa, em um dia ela me refresca, me traz alívio, no outro é desconfortável, hostil e tudo piora quando ela vira uma ventania forte o suficiente para agitar o mar, quando isso ocorre me sinto como se fosse uma canoa balançando, prestes a afundar em meio as furiosas ondas da Baía de Guanabara.

 Talvez tudo que eu preciso é um norte, um lugar ao sol, um farol que sinalize que os ventos fortes são passageiros e em breve poderei navegar rumo ao horizonte, tão lindo quanto a vista para o Rio de Janeiro. Assim, creio que meu sorriso será tão radiante quanto a Cidade de Niterói. Mas até lá, vou ficar na orla do Gragoatá, refletindo sobre gaivotas e aviões.

-

James Clarkemann

Crônica

 Refletindo sobre o horizonte, consigo ver carros passando de um lado para o outro da ponte, barcos

navegando e no fundo os prédios e morros do Rio de Janeiro, definitivamente uma vista privilegiada,

conseguir de apenas um ponto ter um vislumbre de uma cidade, imaginar que do outro lado,

milhões de pessoas estão se movimentando e correndo atrás de seus sonhos individualmente e que

cada uma possui suas motivações e desejos, me faz ficar fascinado. Em momentos assim, vejo quão

grande é a capacidade do ser humano, o coração de uma cidade e o que mantém tudo de pé somos

nós, através da força de vontade trabalhando em conjunto em várias áreas distintas da sociedade. A

vista da cidade do Rio é um tanto quanto poética, um dos pontos que mais me chamou atenção é

claramente o Cristo Redentor, contextualizando sua história e seu significado, é de uma beleza sem

tamanho o que a simples silhueta de uma das Sete Maravilhas do Mundo pode representar em um

fim de tarde para alguém como eu.

Após alguns minutos, decidi deixar um pouco de lado o fundo da paisagem e focar no que estava

mais próximo de mim, observar a orla e a Bahia de Guanabara foi um trabalho definitivamente mais

complicado. Nesse momento começaram a surgir dúvidas dentro de mim, e fui tomado por um

sentimento de tristeza, a imensa e reluzente Bahia de Guanabara traz uma vista linda consigo, uma

harmonia que preenche os olhos de qualquer um que a observe, no entanto, isso se limita somente

à estética, uma vez que não preservamos tal patrimônio da natureza. A poluição sem precedentes,

concentrações excessivas de lixo e abuso desse recurso natural, causa a morte de milhares de

espécies e depreda a Bahia que conhecemos, tornando-a inviável até mesmo para banhistas em

alguns pontos. Por um momento imaginei que eu estava pensando demais e deixando de apreciar a

vista, mas eu não conseguia arrancar isso da minha cabeça, talvez em outra oportunidade minha

interpretação teria sido diferente, mas nesse fim de tarde com as nuvens cobrindo o céu e um

cenário digno de filmes dramáticos se formando no horizonte, essa narrativa melancólica e reflexiva

pareceu mais plausível.

Após refletir por um bom tempo, minha dúvida agora era sobre o futuro, se conseguiremos

preservar o que temos ou continuaremos sendo ingratos com o que a natureza nos deu. Esse

pensamento não é focado em mim, mas sim focado nos próximos alunos da universidade, que em

alguns anos sentarão na mesma posição que estou hoje e apreciarão uma boa paisagem(eu espero).


-Dez

Barca

     Da Praça Arariboia pra XV e da Praça XV pra Arariboia, essa é rota que várias e

várias pessoas fazem dia após dia. Daqueles que não tem habilitação para optarem pela

ponte àqueles que só escolhem o caminho mais rápido de atravessar a Baía de

Guanabara. De onde estão vindo? E para onde vão? Essas são perguntas que só elas

mesma podem responder.

     Pra mais ou pra menos, são basicamente 20 minutos de uma experiência variada

que, querendo ou não, acaba sendo uma característica de grande parte dos transportes

públicos do Rio de Janeiro. Com uma bela melodia de um violino, poder escutar uma

boa música do Ed Sheeran, apreciar uma rima improvisada bem ali, diante dos seus

olhos, ou então, tentar aprender alguma estratégia de marketing com os inúmeros

vendedores de carteiras, fones de ouvido, balas e chicletes. Se você é uma dessas

pessoas e não presta atenção em nenhuma dessas coisas, é… Seu sinal de celular só

pode ter sido enviado pelo Elon Musk mesmo.

     Mas é isso mesmo que você leu, talvez por ser algo do meu cotidiano, se meu

sinal não fosse ruim, eu não teria esse percepção. Só passaria o tempo vidrado nessa

telinha digital enquanto espero chegar no meu destino. Perderia essa oportunidade de,

mesmo sendo um “entretenimento”, é uma realidade de muitos que não usam a barca só

como meio de transporte, é a vida daquelas pessoas ali e mesmo sendo humanas, para

muitos elas parecem nem existir.

-

Taylor Swift da Cantareira

Instante na Orla

    Tudo segue normal na Baía de Guanabara. O vento passa, transmitindo vida à água

que, sem ter outra alternativa, se deixa levar. Os barcos balançam, seguindo o movimento das

ondas. Ao longe, como se para lembrar que estamos em um ambiente urbano, os prédios

mostram-se presentes. Mais para a direita está a ponte, monumental, que diariamente

transporta milhares de carros. Cada um percorre seu caminho, realiza suas tarefas, vive sua

vida.

     De repente, algo se destaca na paisagem. Um momento forte, potente. Duas pessoas

se reencontram. E tudo acontece de forma tão calma, como se o mundo tivesse parado para

presenciar. Um abraço apertado, daqueles que por si só já dizem tudo o que as palavras não

são capazes de traduzir. É impossível precisar o tempo que os tinha separado. Se foram

semanas ou somente alguns minutos. E tampouco que relação mantinham. A única coisa

possível de se afirmar é que foi um desses momentos que, apesar de simples, só são

realmente compreendidos quando paramos para observar.

     Após o longo abraço, eles se sentam de frente para a orla. Não dizem nada; afinal, não

é preciso. Apenas ficam juntos, como se o silêncio compartilhado fosse o lugar mais seguro

do mundo. O sol começa a se pôr, com a certeza de que já cumpriu seu objetivo : iluminar

aquele instante. A vida passa, e todos continuam no seu caminho. Tudo segue normal na baía

de Guanabara.


- Noite da grande paz dos teus olhos

Lembranças Acinzentadas

Olhando daqui, tudo fica tão pequeno. Menor que a menor formiga que neste instante, enquanto escrevo, sobe pelo meu pulso. Essas partes de movimento, tão reduzidas pela distância - e talvez um pouquinho mais pela minha miopia - são vidas inteiras. Mundos inteiros.

Tem alguém no carro que atravessa a ponte, alguém no barco que passa pelas águas escuras, alguém no avião que decolou há cinco minutos. O Cristo. Posso não vê-los, mas os turistas estão ali. O bondinho que sobe e desce de tempos em tempos.

 Reconheço que fui um pouco além e me deixei levar pelo imaginário. Caso queira, então, uma descrição mais simplista, posso apenas dizer que, hoje, temos um céu acinzentado, a grande ponte e os montes estampados ao fundo, as águas não muito claras da baía e a grama não tão verde da orla. 

Paro e observo. O que mais gosto aqui são as pétalas das flores, de uma árvore cuja espécie não sei dizer, que caem nessa grama não tão verde. Isso só acontece quando o vento age como um guia. O brilho do sol, antes escondido nas nuvens, reflete cristais cristalinos sobre as águas da baía. Quando olho rapidamente, são quase como luzes natalinas. Na verdade, pode ser só impressão minha. Mas acho bonito, então quis compartilhar com você também.

 Confesso, agora, que a vista não está tão linda hoje. Está cinza como o sentimento da falta, da saudade. Para alguém que nunca esteve na orla, talvez ela esteja maravilhosa. Essa é a graça da paisagem. Alguns notam somente o Cristo Redentor, outros percebem as pessoas que por ali passam. Alguns deitam e olham para o céu, outros sobem as escadas do Instituto para ver tudo de cima. Ângulos e detalhes. Diferentes detalhes para cada um de nós.

 Releio este texto que agora está em suas mãos e olho para a vista. Tiro uma foto. Capture, lembre-se.

Lia Navarrette

Não Existe Amor em Niteroi

 Após mais uma aula chata, me sentei na frente do novo IACS. Não é como se fosse minha primeira vez, mas agora havia um propósito. Um propósito bem chato na realidade. Acho que estou de saco cheio de Niterói e tudo que me faz lembrar dessa cidade. Me deitei na grama e olho para o céu e não vejo nuvens. Nunca vejo nuvens em Niterói. Tudo é péssimo e o calor e o sol me estressam mais ainda. Assim que me levantei estressada e sem paciência, querendo ir embora, vi ele.

      Não sei quem ele é, o que ele cursa, sua idade e nem por que ele estava ali naquela hora, só sei que ele é a pessoa mais linda que já vi. Meu mundo congelou e eu senti todas as emoções existentes me atacando ao mesmo tempo. Cada passo que ele dava com seu tênis rosa ecoava na minha cabeça como uma serenata, todas feitas para mim. O balançar de seus braços faziam o ar se curvar a mim, como se eu estiver sendo puxada pelo seu simples andar. Eu estava passando mal.

      Foram os segundos mais lentos da minha vida. Cada batimento cardíaco durou eternidades e a minha respiração sumiu. Tudo que eu queria estava ali na minha frente, bastava eu ir até ele e puxar um assunto, independente de qual fosse. Eu queria, pelo menos, ouvir sua voz. Enxergar melhor seu rosto, de mais perto. Mas eu não consegui. Fiquei parada observando-o, como se fosse uma paisagem, uma das maravilhas do mundo. E ele foi embora. Assim que notei, tudo tinha ido por água abaixo. Parecia que mais uma vez eu ia ficar na esperança de conhecer alguém novo para amar. Tudo por conta da minha timidez e falta de confiança. Peguei um galho de árvore e comecei a me bater.

     Logo em seguida, acordei. Minhas costas estavam cheias de grama, as formigas devoraram meu braço por inteiro e, coincidentemente, havia caído um galho na minha cabeça. Tudo havia sido um sonho. Levantei confusa, sem entender o que tinha vivenciado, se tudo que sonhei tinha sido mesmo um sonho. Olhei para o meu celular e percebi que perdi meu horário. Mas que bela merda. Niterói realmente é o purgatório terráqueo.

 

- Flash Casanova


Outras Coisas Mais

       O frio que a brisa da orla me causa contrasta com o calor atrelado à paz que a

visão me traz. A esplendorosa beleza de um entardecer frente a capital carioca ao final

de mais um dia, parte de mais uma semana corrida.

A ambiguidade de uma paisagem simultaneamente tão natural e urbana,

manifestada na presença das barcas que atravessam a água pacata, do som das hélices de

um helicóptero que corta o céu, tentando abafar o farfalhar das folhas e gramíneas. A

civilização de ambos os lados repartida pelo indomável poder do oceano, a fria rotina

semanal atravessada por momentos calorosos inesquecíveis.

       A sutileza que o gradiente de cores do céu transmite à transição do pôr do Sol

para a água, com tons que variam do azul ao laranja. Transição que flui, que une o mar

ao céu em um toque suave, mas decidido, como quem chama para uma última dança, ou

para um último abraço de despedida, que precede um longo período de separação. As

leves ondulações que refletem o brilho outrora cristalino, agora alaranjado, até que o

encontro finalmente ocorra, e o momento quente seja substituído pelo manto gélido da

noite.

        A sensação de que algo que se repete diariamente pode ser único, a delicadeza

presente mesmo em elementos naturais tão grandiosos, a calmaria mesmo entre a

intensa movimentação urbana, e outras coisas mais.


-Alek Johnson

Singularidades

 Sentada na grama da orla do Gragoatá aprecio a paisagem e sinto o vento gelado na

minha pele, na verdade, diversas pessoas fazem o mesmo. Não tenho certeza se é a

ponte com seus infinitos carros passando, cada pessoa com uma história de vida, ou se é

a vista do Cristo Redentor, que não tem como não reparar, talvez seja a infinita água

refletindo a barca e a luz do sol, ou a junção disso tudo, mas tem algo que faz nós

passarmos por ali e admirarmos a paisagem de alguma forma, seja com pressa nos dias

mais corridos, ou com calma para aproveitar o momento, tanto que algumas pessoas

chegam, abrem suas cangas e as colocam no chão, ou simplesmente sentam e deitam na

grama enquanto outras pessoas passam rapidamente, mas sem tirar os olhos da

paisagem. Além disso, uma árvore bem diferente das outras, ela é mais baixa e bastante

frondosa, com um verde bem vivo e com o vento esvoaçando suas folhas num ritmo

parecido com o da água não passa imperceptível, na verdade, acho que ela complementa

toda a paisagem, essa árvore é tão única quanto a vista da Ponte Rio-Niterói e faz parte

da orla. Aliás, um grupo de amigos acha o mesmo, tanto que resolvem se aconchegar

embaixo da árvore, e ficam conversando e rindo enquanto observam o pôr do sol e

fotografam a orla, e eu, um pouco mais longe, observo tudo se complementando, a

árvore, as pessoas observando e tirando fotos do cenário, os barcos e a barca passando

em meio ao pôr do sol refletido na água, o avião transpassando o Cristo Redentor, as

nuvens no céu, os diversos prédios a distância, a vista da água em direção ao horizonte e

da Ponte, além daquele momento em que o anoitecer bate à porta. De alguma maneira

sempre aparece um detalhe diferente e novo toda vez que paro para admirar a vista e

nunca me canso de assistir a tudo que ela contempla, com a incessante sensação de que

escapa algum detalhe para apreciar.


Marimar

Passado, presente e futuro

Observo os contornos da cidade do Rio de Janeiro de longe. A brisa do mar acariciando a

minha pele, acalmando-me, quase que me ninando.

Será que algum dia eu estarei em uma daquelas torrezinhas, trabalhando e fofocando com os

meus colegas de trabalho? Será que eu terei que pegar essa barca toda manhã e finzinho de

tarde? Será que eu vou gostar de ser essa possível eu? Não tenho resposta para nenhuma

dessas perguntas. Pelo menos, não agora.

Mudo o meu foco para o Cristo Redentor. Não posso deixar de pensar em “A Arma

Escarlate”. Como seria legal, se, por obra de uma mágica do acaso, eu recebesse uma carta

para estudar Magia na Korcovado. Desculpe-me, UFF, mas a senhora ainda não consegue

superar o universo bruxo que habita em meu coração. Imaginem: aprender a curar feridas

com um feitiço; ligar e apagar a luz sem precisar sair da cama; entrar em cômodos repletos de

uma magia que transmuta os seus mais loucos sonhos, os seus maiores desejos em uma

pseudo realidade temporária. Continuem a imaginar: poder voar; mudar a cor de seu cabelo

num piscar de olhos; viajar quilômetros em segundos…Seria muito incrível.

Nenhuma realidade, por melhor que ela seja, consegue superar a imaginação humana. Uma

triste e feliz constatação.

Relembro de como é a vista do Rio na minha cidade natal. Muito mais distante, e bem menos

etérea. É hipnótico ver daqui o trânsito da Ponte Rio-Niterói. Os carros indo e vindo, alguns

fazendo o trajeto com muito mais frequência que outros. Eu vou muito pouco pro Rio, mas

quando eu vou, gosto de ver os prédios históricos. Vocês já foram na Santa Casa de

Misericórdia? Os corredores dela têm um pé direito alto, um chão estilo xadrez, paredes

brancas e sempre uma figura católica em seu final mal-iluminado. Tem também uma

escadaria larga, com quadros antiquíssimos de já falecidos que administravam o hospital. Lá,

olhos de tinta à óleo de trezentos anos de idade te seguem para todo o lado. Cenário perfeito

para uma novela das seis ou para um filme de terror.

Um casal chega à orla e senta a poucos metros de distância. Não olham para a vista, nem para

o pessoal dançando ali do lado e muito menos para mim. Só olham nos olhos um do outro.

É. Talvez a gente só enxergue aquilo que queremos enxergar.

-Camélia.

Lua, olhe para mim

Não sei se todos já tiveram o privilégio de assistir o sol se pondo e a lua surgindo da

Orla do Gragoatá- caso não, façam esse favor a vocês mesmos. Simplesmente sentar na

grama e observar a paisagem, e ocasionalmente ser atacado por formigas, já é algo

encantador. Olhar a imensidão da Baía de Guanabara, escutar o barulho das ondas que

me acalmam e o vento que traz uma brisa fresca. Mas ver essa troca da tarde para a

noite, o sol cedendo seu lugar para a lua, tem algo de especial.

Em minha última ida à Orla ao entardecer, observei os aviões que saíam do aeroporto,

um em seguida ao outro. Quantos sonhos esses aviões estão carregando? Quantos

desejos, amores e expectativas estão sendo levados? A filha de uma mãe poderia estar

naquele avião indo para outro estado para estudar. Um jovem poderia estar se mudando

porque conseguiu o emprego que tanto queria. Um casal de apaixonados poderia estar

indo comemorar o dia dos namorados em algum ponto turístico. Mas e os sonhos que

não estão sendo levados? E as vontades que ficaram? Quem lembrará e torcerá por

esses? Pela menina que não pôde ir para a faculdade porque a família não tinha

condições de mantê-la longe. O jovem que não foi promovido porque “não tem as

características correspondentes ao cargo”. Talvez a lua olhe para eles, para nós. Mas não

cabe a um satélite natural mudar as desigualdades e injustiças do mundo.

Mas ainda há beleza em olhar para essa vista. Talvez um dia eu olhe para essa vista sem

me preocupar com as questões que nos cercam, mas agora não. Enquanto isso, sigo

admirando essa paisagem e pensando no que um certo volta-redondense e Milton

Nascimento escreveram: a lua é uma garrafa, olhando para nós.

- Sargento Santiago

Crônica

 Me encontro no local mais aconchegante em que já pisei, longe dos problemas urbanos,

lotado de árvores e com a tal baía de guanabara ao meu redor. Ultimamente, passo mais

tempo nesse espaço do que na minha própria residência, para futuramente colher os

frutos e buscar me tornar um grande profissional. Mais especificamente, passo as tardes

na orla do prédio da minha faculdade, observando essa bela paisagem, rodeado dos

pássaros que cantam, ventos que nos deixam totalmente descabelados, navios que vão e

vem, sem falar do ar puro, que acalma até o cidadão mais estressado. A paisagem pode

ser utilizada por meio de diferentes formas, seja para ler um livro ao som da natureza,

para fazer um piquenique com os amigos ou até mesmo dormir no gramado para

abstrair, repousar a mente. Além disso, tem muitas vantagens como a ausência do ruído

dos carros e o contato direto com o meio ambiente, que despertam sentimentos positivos

no ser humano, como a redução da ansiedade e a melhoria da saúde, especialmente pelo

contato com a natureza. Durante o período em que estou aqui na orla, reflito muito

sobre minhas escolhas diárias e costumo escrever textos, com os mais variados temas,

assim desenvolvo um pouco a minha criatividade e busco treinar a evolução da escrita.

Mas a parte que eu particularmente mais me identifico, é com o pôr do sol, no fim da

tarde, já que eu adoro registrar esse momento do dia com a minha câmera. Também

criei uma memória afetiva com a natureza, pois me desperta emoções e milhões de

sentimentos e minhas experiências aqui ficarão registradas pra sempre na consciência.

Por fim, faço uma oração, agradecendo à Deus pelo privilégio de estar com saúde,

estudando e rodeado dessa paisagem maravilhosa, que é essencial para embelezar o

local da faculdade e me manter focado.

-Francisco Salles

REFLEXO DO MUNDO

     Encarando a triste Baía da Guanabara, algo me chama mais a atenção que a água rolada e o

céu de aquarela – o movimento. Os carros na ponte e sua correria, as barcas com seu lento flutuar,

os aviões e seu vertiginoso planeio, as pessoas vagando de todas as maneiras pela dita cidade

maravilhosa. Tudo se move.

     Mais que isso, a vida, por si só, se move. E é completamente louco pensar que por trás de

toda essa paisagem há uma infinidade de vidas e histórias, não é? Daí, fica totalmente

compreensível o sentimento do poeta ao chamar a baía de triste. Ao seu redor e sob suas águas estão

os desiludidos de amor, os frustrados e os infelizes. Os adoentados, condenados à morte. Está ali, se

deslocando para o martírio, quem todos os dias é submetido à exploração para que, com muito

esforço, se ponha o pão na mesa.

     Ao mesmo tempo, nesse mesmo cenário, há quem está realizando a viagem dos sonhos,

quem está prestes a reencontrar alguém amado, quem está iniciando uma fase desejada da vida. Na

ponte ou de barca, diversos estudantes e professores indo ou voltando para a Federal Fluminense.

Tudo isso no mesmo panorama.

     A baía, triste, reflete o desengano do poeta. A baía, feliz, reflete a euforia dos felizes. A Baía

de Guanabara, em seu espelho d’água, reflete todas as emoções que um ser humano pode ter. Ela

sabe pôr no mesmo quadro a riqueza e a carência da cidade mais famosa do país. Talvez agora eu

possa dizer o que mais me chama a atenção na baía: seu poder sintetizador. Síntese de gente. Síntese

de cidade. Síntese de vida. Baía que pode ser triste, feliz, esperançosa, angustiada e até poluída, mas

sempre é da Guanabara.


Suco de Soja

17:50

Era um fim de tarde tranquilo, com o sol prestes a se despedir no horizonte e tingir o céu com uma paleta de cores magníficas. Os raios dourados do sol refletiam nas nuvens, transformando-as em pinceladas suaves de laranja, rosa e violeta. Era um espetáculo da natureza que sempre despertava sentimentos singulares nas pessoas, e naquele momento, mexeu comigo também. 

 Enquanto observava o sol se pôr lentamente, minha mente vagava pelas memórias e trazia à tona uma figura querida: minha avó. Ela era uma mulher de alma pura e coração generoso, que sempre valorizou os pequenos momentos e a beleza das coisas simples da vida. A cada pôr do sol que presenciava, eu me via envolvido por suas lembranças e ensinamentos. 

 Minha avó costumava sentar-se na varanda de sua casa todas as tardes, esperando ansiosamente pelo pôr do sol. Ela me chamava para se juntar a ela e compartilhar aquele momento especial. Sentados lado a lado, observávamos o céu se transformar em um verdadeiro quadro vivo. Ela me contava histórias, lembranças de sua própria infância, e aqueles ensinamentos típicos que muitas vezes nem levamos a sério. 

 Enquanto o sol mergulhava no horizonte, minha avó costumava dizer que cada pôr do sol era um lembrete de que o dia havia sido um presente precioso e que a noite era uma oportunidade para descansar e renovar as energias. Suas palavras me ensinaram a apreciar a passagem do tempo e a importância de refletir sobre os momentos vividos. 

 A cada pôr do sol, minha avó expressava sua gratidão pela vida, e eu absorvia sua sabedoria com carinho. Ela me ensinou a encontrar beleza nas coisas simples, a valorizar a família e a enxergar a magia escondida nos momentos cotidianos. Eu sou completamente apaixonado pelo pôr do sol e tenho certeza de que grande parte desse amor é por influência dela. 

Enquanto contemplava o pôr do sol naquele dia, senti uma profunda conexão com minha avó, mesmo ela não estando mais fisicamente presente. Era como se suas palavras viessem na minha mente e eu revivesse aqueles momentos. 

Que ironia

 Ah, meus amigos, por onde começar. Há tanta coisa nessa vista, barcos, passarinhos, o

sol, e tantas outras que a gente consegue perceber. Que orla de tirar o fôlego. É meus

companheiros, somos privilegiados.


Porém, quero falar de um ponto central dessa beleza: a Baía de Guanabara. Ela não é

apenas um meio que as barcas utilizam para locomover as pessoas para os centros das

cidades (Rio e Niterói). O reflexo do sol ao bater nesse mar chega aos nossos olhos

como um feixe de luz, incomodando a nossa visão, mas mesmo assim, é um fenômeno

admirável. E o que dizer das ondas do mar, elas soam igualzinho a uma bela música,

talvez parecida com a canção All Star de Nando Reis. Uma verdadeira terapia aos meus

ouvidos.


Nesse meio de belezas naturais essa Baía tem algo que todos sabemos: a poluição.

Como pode essa orla ser o point para tirarmos fotos lindas ser um dos principais males

para as vidas marinhas. Um local de terapia aos seres humanos, um ponto maléfico para

os animais marinhos. É difícil imaginar que existe animais aquáticos nesse mar tão

imundo, mas existe. Vira e mexe nos deparamos com alguns pescadores pescando nessa

orla, buscando peixes para conseguirem sobreviver. Nessa orla esculpida por Deus

percebemos uma camada que separa o belo do “não belo”.


Se essa Baía de Guanabara estivesse cuidada poderíamos nadar nesse mar, escuta isso

gente, nadar. A gente, estudantes universitários, teríamos a oportunidade de relaxar

dando um “tibum” após o fim das aulas, isso seria incrível, principalmente nos dias de

calor. Mas não, a praia do Gragoatá há anos é impropria para esse tipo de atividade. Mas

enquanto essa situação não muda, aproveitaremos essa orla se expondo ao sol (mais

melanina para nós), escutaremos a orquestra do vento e das folhas das árvores que,

quando se cruzam, provocam uma bela harmonia. E claro, as ondas desse mar poluído

que, por ironia, esse barulho suave e o cheiro de água salgada são as melhores coisas

dessa orla magnífica com água poluída.

— Pérolas do Cleber Machado (vulgo, o Machadão)

Reflexões

     O que você vê nunca é apenas o que está diante dos seus olhos, mas o que está diante

dos seus olhos e, por qualquer motivo que seja, tenha algum significado. Eu vou para a

orla do Gragoatá sempre que eu estou na universidade sem nenhum compromisso

imediato, seja por um cancelamento de uma aula ou por eu estar simplesmente adiando

ir embora para casa enquanto jogo conversa fora com meus amigos. Eu sempre estou

olhando para o mesmo lugar, o prédio dos meus avós, que é um pontinho branco em

meio a um amontoado de coisas visto de Niterói.

     Eu olho para lá pensando em como eles foram os seres-humanos mais perfeitos que

eu já conheci. Minha avó é gentil, porém rigorosa, adora planejar grandes almoços para

amigos e família, além de ser a maior amante de cachorros do Rio de Janeiro, não

resistindo fazer carinho em todos que vê enquanto caminha pelas ruas. Meu avô, com

seus 96 anos e diversos problemas cardíacos acumulados, é o ápice do bom humor,

sempre alegre e contando suas diversas histórias, seja a que, segundo ele, seria titular da

seleção brasileira se não tivesse machucado o joelho ou a de sua mãe, que não tinha

decidido qual seria seu nome até seus 4 meses de vida, deixando-o sem registro civil até

então. Os dois sempre foram extremamente atenciosos e cuidaram de mim sempre que

meus pais não estavam por perto.

     Portanto, a minha reflexão é sobre como é impossível agradecer a certas pessoas que

se dedicaram tanto para fazer da sua vida melhor sem querer nada em troca. Entretanto,

o que nós todos podemos fazer é exercer a mesma função que meus avós tiveram para

mim, na vida de alguma outra pessoa. Se todos se dedicarem para melhorar a vida de

um único indivíduo sem esperar nenhuma recompensa, o mundo se tornará um lugar

muito melhor.

-Linguini

segunda-feira, 12 de junho de 2023

“Eu protegi teu nome por amor”

Quando criança, em uma das minhas apresentações de balé, dancei uma música que

me marcou profundamente. Lembro até hoje da primeira vez que a escutei, em um dos

ensaios. A melodia era calma, tranquila, e a voz do cantor me impactou de forma instantânea.

Senti algo que até então era desconhecido para mim.

Foi só depois de muitos anos que novamente tive contato com esse artista, e acabei

conhecendo quem ele realmente era. Diferente da música que tinha ouvido, descobri uma

pessoa explosiva. Oito ou oitenta. Um rebelde, perdido sem pai nem mãe, inconformado com

o mundo que o cercava. Ele cantava para as pessoas fracas, denunciava a hipocrisia existente

no país.

Se pudesse representá-lo por uma cor, com certeza seria o vermelho. Não apenas pela

sua intensidade, mas porque ele cantou o amor. Tudo em nome do amor. Amor tranquilo,

amor para se distrair, amor inventado. Amor de mãe... Até porque, só elas são felizes.

Mas me considero feliz também. Feliz por ter sido apresentada a esse poeta. Por ter

escutado boas novas em suas canções. Por admirar alguém tão complexo, tão enérgico, que

passou como um raio neste mundo. E gosto de pensar que, até hoje, cada vez que escuto uma

de suas músicas, me torno parte de seu show.


-Noite da grande paz de seus olhos

Para todos os olhares

Um caminhar simples. Ainda jovem, cheia de sonhos, pensava no esporte. A vida, porém, reservava um outro rumo. 


Descoberta? Sim. Por acaso? Também.

Primeira seleção. Segunda seleção. Terceira. E foi: do Brasil para o mundo. Ainda jovem, cheia de sonhos. Quarenta e dois testes. Passou? Sim. De primeira? Não. 


Bastou um olhar e tudo mudou. Agora, tinha um nome, um apelido. De um caminhar simples para um caminhar em construção. Saudades de casa? Sentia. Vontade de crescer ainda mais? Tinha.


Foi símbolo brasileiro. Foi musa angelical. Foi referência e inspiração. Foi polêmica. Histórica. Um caminhar, enfim, consolidado. 


Na passarela da vida, desfilou.


  • Lia Navarrette

Vida dupla

Depois de um dia aproveitando a praia de Malibu com meus amigos, quando cheguei

em casa fui direto tomar um banho e lavar meu cabelo que tem um tom de castanho que

gosto muito. Após isso, fiquei vendo um filme com meu pai, aproveitando a paz que

tenho quando meu irmão implicante não está em casa. Já na manhã do dia seguinte,

acordei cedo pois tenho um show para realizar. Nos dias de apresentação sempre é uma

correria, já que esconder um segredo não é fácil e parece que sempre acontece alguma

coisa para atrapalhar. Basicamente, tenho uma dupla personalidade, no dia a dia sou

uma menina normal que vai para a escola e se diverte com os amigos, no entanto, nos

dias de show me apresento como sendo uma outra pessoa, uso uma peruca loira, roupas

diferentes e canto outras músicas. Aliás, meu pai é meu produtor musical e me ajuda

com tudo. Apesar da correria e confusão que sempre surge, realizo o show e chego em

casa já tarde da noite, dessa vez, minha melhor amiga Lilly veio dormir aqui em casa,

passamos a noite conversando e dançando, entretanto, isso tudo aconteceu antes do

aniversário dela, onde tudo começou a desandar. Brigamos pois um paparazzi me seguiu

até a festa dela e isso gerou toda uma confusão, já que tive que manter minha aparência

de celebridade. Além disso, meu pai diz que estou perdendo minha essência sendo essa

grande cantora do pop, então, ele resolve me mandar para a casa da minha avó no

Tennessee, com o objetivo de me reencontrar. Apesar de no início achar terrível morar

lá, muita coisa aconteceu e no final reencontrei minha essência, deu tudo certo com

minha família e amigos, além disso, também consegui manter o segredo da minha dupla

realidade para conseguir viver minha vida normalmente(o melhor possível).


Marimar

FACE EM FLUXO

Quem és vós?

Semilouca, semimística.

A mulher e seu cigarro, a escrever as palavras de uma feiticeira, perdida entre as letras

de uma máquina de escrever.

Estelar retorno ao âmago da solidão.

Essência humana aterradora. Há a mulher e há o inseto, ambos estão em uma mesma

sala, a catarse é encontrada em meio a repugnância. Não sei o que vivi, mas procuro, estou

procurando.

Quase estou morta, esse rosto longínquo... esse que veio do frio, mas que dele não se

recorda.

Desvendar-te-ei como um enigma dado ao tolo, se você existe, mulher permeada pelo

passado, farei da questão a destruição. A resposta, um desenho e um rabisco. Quem não

reconhece a sua face, cego és.

Fluxo, impressão, donde está o pensamento? O modernismo na odisseia de Ulysses.

Monólogo de perturbação.

Aprendizagem gradual.

Viver em sua arte, é encontrar como final perene a morte. Se acredito, torna-se real.

Incógnita do instante, a consciência se registra diante de uma última entrevista.

Panorama humano, caótico, permeado pela ousadia da timidez. O segredo da mulher...

melancolia tenebrosa.

Quando escrevo... ora, se escrevo... acho que estou morta.


Christine Daaé

Sobre ela

Por que escolhi falar sobre essa pessoa?

Talvez por ter sido jornalista. Apesar de poucos conhecerem esta faceta de sua vida,

essa pessoa contribuiu brilhantemente para a profissão. Escreveu para jornais como o

Comício, Correio da Manhã e Diário da Noite, sempre sob pseudônimos para distinguir

seus textos jornalísticos de suas obras literárias. Mesmo com o anonimato, o que lhe

garantia certa liberdade, muitos de seus textos continham seu expressivo estilo de

escrita e até mesmo assuntos abordados em seus livros.

Ou então por sua notoriedade na literatura brasileira. Com seu modo de escrita intimista,

retratava os aspectos psicológicos de seus personagens, sempre apresentando

questionamentos profundos, conflituosos e complexos, principal marca de suas obras.

Em seus poemas, abordava diversos assuntos como o amor, a vida, solidão, perda,

morte e pensamentos reflexivos. Atualmente, muitos ainda acham suas obras difíceis de

serem entendidas, mas como ela mesma disse, são para serem sentidas, são para tocar.

Sensível- no sentido mais forte da palavra-, arrebatadora, expressiva e admirável. Esses

são alguns dos adjetivos que podem ser usados para qualifica-la. É muito lembrada pelo

olhar marcante e por sua grande influência no modernismo brasileiro. Escritora,

jornalista, poetisa e pensadora.

Ela que viveu Perto do Coração Selvagem, não era nehumA Imitação da Rosa, sabia se

impor e abriu caminho para muitas outras, era Estrela Perigosa. Sua Hora da Estrela

chegou em 1977, vítima de uma doença já mencionada nessa oficina, mas o seu legado

permanece vivo, encantando e sendo sentido por diversas pessoas.

Finalizo este texto fazendo uma alusão a uma de suas frases mais famosas: sim, minha

cara, a liberdade é pouco para nós.

- Sargento Santiago

Eu sou o Batman

Um grande homem, que todos se intimidam com ele mesmo não esboçando sinal nenhum

de ser alguém agressivo ou violento. Seus papéis em diversos momentos tentam forçar

esse estereótipo, talvez por seu tamanho, talvez pelo fato de ser preto. Seu discurso de

mansidão muito enfatizado, pois quando mais novo viu seu pai agredir a mulher, essa no

qual é a mãe dele, que quando pode a defender surrou o pai e não se sentiu melhor, afinal a

solução do problema não era retribuir o mal que o pai já havia causado a casa.

O seu personagem é em diversos momentos caricato, muito alegre, por outro lado em

outros momentos ele é um casca grossa, um mercenário, ou um jogador de basquete com

facinho em mulheres loiras, que canta música da Vanessa Carlton. Em sua vida profissional

ele começou como jogador de futebol americano, teve uma boa carreira e mesmo assim se

encontrou como um ator, com ênfase na comédia, onde vivenciou um professor de

academia, um Tenente, o irmão de uma mulher obesa, um pai de família que não tinha

tempo para estar em casa pois estava sempre trabalhando. Ele simplesmente te pergunta:

“achou que eu estava brincando?”, e cantar “i will survive”. Não faz ideia de quem ele seja?

Bem, vamos ter que ir mais longe então, quando você usa o desodorante do lenhador

lembra dele, sua altura, cabelo raspado(por opção própria. Seus dois empregos, “i need

you... i miss you”. Quando perguntarem sobre ele, estará dançando. “Eu sou o Batman”


- Giorgio Armani

Ídolo

O sentimento de torcer por um clube de futebol é inexplicável, mas creio que

aqueles que assim como eu são amantes do esporte consigam compreender. Apesar

disso, acredito que torcer para o maior deles, seja um sentimento diferente.

Cresci assistindo jogos, me acostumei a ver muitas derrotas, não era capaz de

idolatrar nenhum dos jogadores. Até que o indivíduo sobre o qual escrevo chegou, não

foi de primeira, mas em pouco tempo foi conquistando a torcida, da qual faço parte.

Entre tantos gols e vitórias, posso destacar um dia específico que me marcou

fortemente, que o rendeu o apelido de “predestinado”.

Ao descrever a pessoa em si, é possível dizer que seja um dos paulistas mais

cariocas de todos os tempos, e que possui uma personalidade forte, que incomoda os

rivais, o que talvez tenha colaborado para uma identificação tão rápida com os

torcedores.

Polêmico e provocador, duas das características que mais atraem fãs no mundo

do futebol, vide o baixinho Romário e Cristiano Ronaldo, com ele não seria diferente.

Por outro lado, essa mesma característica e o fato de ser um goleador, contribuem para

que seja também um dos jogadores mais odiados do futebol nacional, pelas outras

torcidas. Poderia detalhar mais os motivos da idolatria por esse atleta, mas sintetizo na

seguinte afirmação: ele resgatou o orgulho de torcer pelo meu time.


-Alek Johnson

Músico, Poeta e Revolucionário

Esta é a história de um garoto que nunca fez questão de ser perfeito. Desde os primeiros anos de existência teve que lidar com a ausência de seus pais, era jovem demais para entender os motivos do afastamento mas esse acontecimento o deixou com sequelas até o fim de sua jornada. Ele teve a sua vida transformada ao tocar o corpo de um violão, de início muitos pensavam ser apenas um passatempo, mal sabiam que o encontro daquele rapaz com o instrumento de cordas impactaria a cultura de forma profunda.

 O garoto que outrora era um mero entusiasta da música agora alcançara o topo do mundo de forma meteórica ao lado de sua banda, mas apesar de ter as fronteiras abertas para qualquer país, não se sentia pertencente a nenhum lugar. Tinha notoriedade, mas se sentia vazio e perdido. A partir daí se tornou mais que um músico, virou um poeta, fez do lápis um terapeuta e do piano o seu divã. Suas letras passaram a ser um diário onde registrava tudo que passava em sua mente insana, suas inseguranças, medos, traumas, posicionamentos políticos, angústias e às vezes ovos e macacos.

 Agora  um homem feito (ou algo parecido), teria mais um ponto de virada ao se encontrar com uma mulher. Para muitos ela era uma péssima companhia, mas em seus pensamentos, a moça era a sua salvação, ele a enxergava como a pessoa que abriu seus horizontes e finalmente o tiraria da alienação. Nesta parte é evidente um Complexo de Édipo da persona a qual estou escrevendo, pois ele não via a mulher em questão somente como uma parceira de relacionamento, mas também como uma figura materna a qual ele poderia recorrer caso passasse por alguma dificuldade ou situação estressante. Esta teoria a qual eu defendo é reforçada pelo fato dele ter problemas paternos. Graças a este ser ele passou a ter uma personalidade mais instável, assim magoando muitos ao seu redor, desde amigos do meio musical a familiares. A oscilação de sua personalidade se tornou ainda mais evidente em suas canções, uma era mais amorosa e outra era mais melancólica e vice-versa. De saco cheio das discussões e cada vez mais desinteressado em trabalhar em grupo, decidiu sair da banda e engatar sua carreira solo. As composições da carreira solo, muito influenciadas por sua “salvadora”, passaram a dar mais enfoque aos seus posicionamentos políticos e a pregar mensagens de paz. As suas críticas à desigualdade social e a guerras causaram insatisfação em lideranças políticas, que tentaram de tudo para prejudicá-lo por meios legais, porém todas foram fracassadas. 

 O seu legado tanto para a música, cultura quanto para o mundo é imenso. O músico perdido fez várias pessoas encontrarem um sentido para suas vidas e motivou seus admiradores a transformar o mundo em um lugar melhor e mesmo passando várias décadas de sua partida, a sua influência permanece até os dias de hoje.

-James Clarkemann


MOVENDO A HABILIDADE

Talvez, em algum momento, tenha se sentido um gênio incompreendido. Gênio não, só

incompreendido – a soberba nunca foi um traço marcante seu, embora nunca tenha deixado de

reconhecer seu próprio valor. O começo não foi fácil, mas ainda que dura, essa foi uma curta fase de

sua vida. E não foi por magia, miragem ou milagre, foi pelas voltas que dá o mundo (além de todo o

seu talento, é claro) que ele chegou à exaltação popular.

Acho que a característica que mais me faz o admirar é sua capacidade traduzir o que,

segundo ele, é a força motriz do mundo: o amor. O amor pleno, o amor interrompido, o amor nunca

realizado, o amor de pai e mãe, o amor de uma grande amizade. O amor que nasce, morre e renasce.

O amor pelo qual tudo se faz, até matar e morrer.

Não sei bem ao certo quando se deu sua entrada em minha vida, creio que ele está presente

desde a gestação de minha mãe. Sua permanência na memória e na vivência de tanta gente, geração

a geração, com certeza se deve ao fato de que ele sempre busca o frescor. Apesar de longa e cheia

de êxitos, não considera sua trajetória como concluída.

Ainda que procure se atualizar, nunca perdeu sua essência. Aliás, seja ela andaluza, africana

ou nativa brasileira, sempre foi capaz de exibir seu dom, que até hoje encanta multidões.


Suco de Soja

Trajetória (s)

Hoje, através da permissão desse meu amigo íntimo, contarei um pouco da trajetória

dele. Esse cara foi um menino-prodígio, enquanto brincava de algo que, pouco tempo

depois, viraria a sua profissão, ele foi convidado para ser um dos integrantes de um

pequeño núcleo de comunicação no interior paulista. Isso aconteceu quanto ele tinha

somente 15 anos.

O tempo passou e o jovem prodígio se formou no curso dos seus sonhos, mas agora com

uma credencial, possuindo o diploma da área. Todavia, a primeira faculdade dele não foi

a tradicional universidade, mas sim as suas experiências anteriores antes de ingressar na

facul. Ele passou por algumas rádios no interior de São Paulo e algum tempo após se

formar, o cara estava em uma das principais emissoras de rádio do país. Tenho uma boa

recordação sua, meu bom, antes de você ir para essa gigante radiofônica eu tive a honra

de ter a sua participação em um programa na Rádio Gazeta, o Sábado Esporte era

apresentado por mim e você estava nos comentários. Naquela época eu tinha até barba.

Ah, bons tempos.

Meu amigo, não quero falar apenas da sua vida profissional. Quando o Felipe nasceu,

meu querido afilhado, lembro que esse foi um dos momentos mais felizes da sua vida.

Pouco tempo depois a minha filha Elisa nasceu, e eu te convidei para ser padrinho dela.

Nossos filhos são super amigos, praticamente irmãos, nossas esposas andam coladas

uma na outra. Já você, meu amigo, foi um irmão que a vida me deu. Esse tipo de relação

eu preservo muito, ainda mais quando ela sai da subjetividade e transcende. Que bom

que nós nossos filhos não seguiram a mesma profissão que a nossa, imagina a pressão

que eles sofreriam! Tenho muito orgulho da minha filha que se formou em direito e do

meu afilhado que é um belo engenheiro civil. Sei que nossas vidas são corridas, mas

sempre quando dá sentamos para apreciarmos um bom vinho e escutar algumas músicas

velhas, temos praticamente a mesma idade né, somos dois tiozões.

Voltando a falar um pouco mais da sua carreira, você entrou na empresa em 1998, eu já

tinha quase 10 anos de casa, já tinha sido narrador de duas Copas do Mundo. Era

questão de tempo para conseguir o posto que eu tanto sonhei. Porém, um certo moleque

entrometido “roubou” essa posição de mim. Fiquei 35 anos naquela empresa e ele

completou 25 anos de casa no início deste ano. Enfim, coisas da vida né. Mas saiba que

eu tenho muito carinho por você amigo, se hoje você é o principal daquela empresa

saiba que isso é fruto do seu impecável trabalho. Você tem mais de 650 mil pessoas te

seguindo no Instagram e eu cheguei recentemente na marca de 500 mil seguidores na

semana passada. Em pouco tempo eu vou “roubar” esse posto de você! Rsrs. Sim, há

vida fora daquele conglomerado, a pesar de eu ser extremamente grato pela trajetória

que ela me permitiu construir lá.

Se o ano passado foi mágico para mim, há cinco anos tu viveu o seu apogeu. Naquela

época houve de tudo, emoção ao transmitir os eventos, piadas, e, devido a uma gafe

genuína, você chamou o jogador inglês Trippier de Stripper. E aí meu bom, a internet

não perdoa. Para aquele ano ser ainda mais inesquecível pata ti só faltou algum estádio

tocar uma música do Cudplay.

A pesar dessa magia, um ano após você viveu um drama pessoal. Um grande amigo

nosso, é mestre da televisão brasileira, foi impedido de narrar a final da Libertadores de

2019, mais especificamente, ele sofreu um infarto. Foi uma loucura viajar para Lima em

cima da hora, os aeroportos estavam lotados por conta dessa partida, mas tudo deu certo

e você conseguiu chegar a tempo no seu destino. Ao desembarcar em território peruano,

uma das primeiras coisas que tu fez foi ir visitar o nosso querido amigo.

Chegando ao hospital, o nosso mestre estava dormindo e você preferiu não acordá-lo. A

sua atitude foi ficar ali ao lado dele e isso te tranquilizou para cobrir a partida para todo

o Brasil. A pesar de ter vivido altos e baixos, incluindo um pico de pressão alta, você foi

o cara da emoção para milhares de flamenguista. Tua narração foi genial, perfeita,

chegou ao patamar que o nosso mestre é. Infelizmente ele sofreu uma “contusão de

última hora” antes do jogo começar.

É meus amigos, esse mano tem muita bagagem e contribuiu bastante para o esporte

brasileiro, principalmente, narrando jogos dos times cariocas. É seus negros

maravilhosos, já passou da hora. Com fé no pé! Guuoooooolll! Sabe de quem?

— Pérolas do Cleber Machado (vulgo Machadão).

Mil Facetas De Uma Fada

Gostar dela é muito fácil. Acredito que seu talento para atuação e sua beleza delicada marcou toda uma geração. Não conheço alguém que não tenha visto pelo menos um de seus filmes.

A via como uma ninfa, uma fada. Por muito tempo a considerei uma imagem doce e gentil, pois assim eram seus personagens no cinema - fantasiosos, inocentes e etéreos - era o que seus cachos dourados e bochechas rosadas passavam.

Então, isso tudo mudou quando ela participou de uma série em específico. Eu realmente pude ver a verdadeira personalidade dela e não aquela feita para as câmeras. Ela pareceu mais humana e vi como que tal exposição não foi do agrado de muitos. Os comentários em suas redes sociais não podiam ser mais explícitos.

 Ela começou a carreira muito nova, por um longo tempo foi resumida a personagens mais infantis. Mostrar sua verdadeira faceta numa série extremamente adulta - onde piadas nem um pouco castas corriam entre as bocas, tanto na frente das câmeras, quanto por trás - foi um ato que considero corajoso da parte dela.

 A aprecio muito. Tanto como mulher, quanto como atriz, mesmo não sendo uma fã assídua de seus trabalhos. Ainda sim, tenho um carinho pelos suas obras que marcaram minha infância. Espero ansiosamente por mais trabalhos onde ela poderá explorar mais seus talentos.

 — Santa do Nemeton

A estrela que merecia durar mais

Era uma vez um jovem que nasceu com estrelas nos olhos. Desde pequeno, ele mostrou ao mundo que possuía um talento extraordinário. Seu dom encantava a todos que o ouviam e viam dançar. Suas melodias tocavam o coração das pessoas e sua presença era magnética. Ele era um verdadeiro mestre do ritmo, dominando cada nota e movimento com graça e perfeição. Seus passos de dança eram como uma poesia em movimento, cativando multidões com sua energia contagiante. Cada canção era uma história contada de forma única, tocando profundamente a alma de quem o ouvia.  

Mas por trás de toda fama e sucesso, havia um lado solitário. Ele carregava consigo o peso do mundo, vivendo sob os holofotes incessantes e a constante pressão dos fãs e da mídia. Aos olhos de muitos, ele era um ícone, mas poucos entendiam a dor e a tristeza que ele escondia. Apesar de todas as adversidades, ele nunca deixou de acreditar na magia da música. Ele queria transmitir uma mensagem de amor e união através de suas canções, buscando uma conexão sincera com o público. 

Havia uma pureza em sua voz que tocava as pessoas de uma maneira profunda. Ele cantava sobre o poder de mudar o mundo, sobre o valor da bondade e sobre a importância de cuidarmos uns dos outros. Suas letras eram um lembrete constante de que cada indivíduo tem o poder de fazer a diferença. Mas como todas as histórias, a dele também teve seus desafios. Rumores e polêmicas o cercavam, ameaçando manchar sua imagem. No entanto, ele continuou a perseguir sua paixão, acreditando que a música era a linguagem universal que poderia unir as pessoas, superando barreiras e preconceitos. 

Infelizmente, sua jornada chegou ao fim cedo demais. Ele partiu deixando um legado imortal, suas músicas ecoando pelos anos, inspirando gerações. Seu impacto foi além das fronteiras do entretenimento, influenciando artistas de todos os gêneros e mostrando ao mundo que a arte pode transcender limites. Mesmo sem mencionar seu nome, sua presença continua viva em nossas memórias. Ele foi um brilho intenso que iluminou o mundo, um verdadeiro ícone que deixou sua marca indelével na história da música. E, acima de tudo, ele será lembrado como aquele que nos ensinou que a música tem o poder de curar, inspirar e unir os corações de todos nós. 

E lembrem-se, às vezes os mortos se levantam da cova... 


Assinado: Joelma do Calypso

A "pequeno feixe de contradições"

Gênio forte, espírito livre e julgamento mordaz.

Era uma adolescente cheia de si. Adorava flertar e não se importava com piadas sujas.

Corajosa e atrevida, não tinha papas na língua, falava o que pensava e tinha um talento para

demonstrar com veemência poucos de seus sentimentos e esconder os mais verdadeiros para

si.

Alguns professores a odiavam (achavam que ela era do tipo engraçadinha), mas, para as

pessoas que se permitiam conhecê-la, era uma divertida, sagaz e leve companhia.

Amava seu pai. Idolatrava-o e só passou a amá-lo mais quando, mesmo oferecendo o seu

diário para que ele lesse, em um ato de total confiança, Pim preferiu manter a privacidade

dela intacta.

Óbvio que sofrera das agonias rebeldes da adolescência. O seu afastamento com sua mãe, o

ciúme de sua irmã e a saudade de crushes passados. Mas sofreu muito mais que isso.

Sentia-se dúbia, como se uma parte dela, animada e feliz, mascarasse um mar de tristezas

escondidas, sabedorias profundas, uma pureza e ingenuidade juvenis que conviviam

intimamente com sonhos e medos de alguém que já viu demais em tão pouco tempo.

Alguns de seus leitores a chamam de mimada, de egoísta, de teimosa. Digo a eles que não

aguentariam nem um por um segundo crescer por 2 anos presa, em constante medo e silêncio,

tendo como única distração apenas sua imaginação e poucos livros, sem que isso afetasse

profundamente o seu psicológico, suas relações familiares e suas ações no geral.

Uma adolescente que não podia pensar em sair, cantar, dançar e namorar. Bastava uma

descarga na hora errada para que sua vida ficasse nas mãos de desumanizadores. Único luxo

dado a ela seriam poucas páginas novas no Natal para expandir a alma do seu querido, velho

e muito bom ouvinte diário, ao qual nada ocultava.

Deu o seu primeiro beijo em um Peter que não era o seu, em um sótão escuro, no qual

sonhava todos os dias, ao observar as árvores, o sol e as estrelas pela fresta de uma janela

pequena, com o momento em que ia viver livremente de novo: voltar à escola, ver seus

amigos e amores secretos, se tornar uma jornalista que viajaria o mundo e uma escritora de

grande sucesso. Queria crescer e não mais esconder a sua verdadeira eu do mundo.

"Apesar de tudo ainda acredito que as pessoas, no fundo, são realmente boas.” Ela escrevia,

ainda com um resquício de inocência de uma outra época, uma outra vida. Pergunto-me se ela

ainda acreditaria nisso se soubesse que aquele seria o seu primeiro e último beijo, uma de

suas últimas cartas, que o mundo que ela tanto acreditava, nunca, verdadeiramente, se

apiedou dela e de tantos outros que sofrem.

Morreu aos 15 anos, coberta de piolhos, com a cabeça raspada e com seu corpo esquelético,

vestindo apenas trapos de um cobertor, tendo como única companhia o cadáver de sua irmã e

uma lembrança de uma esperança que há pouco ainda fervia. Nunca poderia realizar os seus

sonhos, nunca mais poderia pedalar por Amsterdam num dia bonito de verão, nem ir ao

cinema com suas amigas. Nunca mais veria Pim, Kitty, Mottie, Margot e nem sua querida

mãe. Seus olhos se fecham, secos, já sem mais nenhuma lágrima para derramar. E pergunto-

me como seria o mundo hoje se ela tivesse tido a chance de viver.

-Camélia.

Helena

Comunidade Pavãozinho-Pavão, Mar de Fevereiro, ano 1235, Planeta Fogo. 

Não existem meras associações com a realidade. A realidade dói para alguns. E é doída mesmo. E doida. Então criemos alternativas. Essa é uma delas. O que é real? 

A arte é a realidade que a vida não consegue explicar ou apenas a que gostaríamos de vivenciar.  

“A realidade é fluida, tal qual a ficção.” 

Essa era uma das frases que Helena tatuara. Filha de Zeus ou apenas da mãe que gostava de referências gregas, fez quando tinha quinze anos e escondida. Ela era alguém há frente do tempo do seu povo. Transgressora, por vezes, iluminada e acesa pelos que a cercavam. Fora esculpida, em mente e corpo, como se fosse preparada desde sempre para ser o avatar perfeito para uma entidade cósmica milenar. Algumas unidades são projetadas para existirem. Helena foi projetada para ser a melhor. Em tudo. E ela conseguiu, até onde pôde, absolutamente de forma natural, quase sobre-humana, transformar ideias em ações. Essa é a grande mágica da vida e ela entendia isso. Davam um problema? Ela resolvia. Davam à filha dos deuses uma nota dó menor e ela traduzia isso para uma ópera. Helenística, tal qual.  

Algo maior do que nosso saber criou aquilo, porque para além disso, nada explicava a existência de Helena. O sonho dela era mudar o mundo. Sua irmã, Naomi, queria ser engenheira, seu irmão, Cléber, queria ser narrador de futebol. Vocês sabiam que Cléber deriva de cleaver, que na língua inglesa significa um instrumento de corte que se parece um machado de açougueiro, por isso, existem pessoas chamadas Cléber Machado? Enfim, conhecimento não tão útil sobre o nome do irmão dela compartilhado com sucesso. 

Deseja-se reproduzir uma imagem de deusa grega aqui. Ainda que a divindade dela viesse de matrizes africanas. Filha de Xangô, do fogo, do trovão, da justiça e do equilíbrio; escorpiana com ascendente e lua em Leão. Ela sabia como adentrar na mente das pessoas. Como convencer pessoas de coisas e como saber o que pessoas pensam apenas pelo comportamento ou pelo prazer de passear em suas mentes. Ela lia pessoas, mentes e comportamentos. Como se fossem livretos e como se toda página significasse algo. Acredite. Você gostaria de ter essa habilidade. Em tempos passados diriam que ela era uma bruxa, apenas confirmando a incapacidade humana de entender o que significava ser Helena. 

Era mulher de uma pele dourada, reluzente, semblante calmo, mas mais má e esperta que quase todo ser que conhecera. Como se as curvas do seu corpo, as nuances de sua alma, remetessem sempre a algo maior do que o explicável. A poesia reside na repetição dos radicais. Gramaticalmente falando. Essa é a dica.  

Para além de toda a perfeição que ela pudesse referenciar, para além de uma garota que fez tudo que a sociedade poderia pensar em pedir que ela fizesse, morava num cortiço moderno e isso a limitava socialmente. Modernidade é um termo interessante. Ao passo que significa o futuro, aprisiona pessoas e vivências no passado.  

Ela cursava o último período de psicologia e não estava nesse curso à toa. Entendera que a melhor forma de camuflar seu dom seria nessa profissão. Médicos camuflam seus anseios psicóticos cursando medicina e cortando corpos. Telepáticos se utilizam das profissões da mente.  

Mateus, dono da franquia de óculos escuros, mandou mensagem, marcando um jantar para mais tarde. Ele tinha fotofobia, coitado. Estava sempre de óculos escuros. Por muito tempo o julgaram, até entenderem que a luz do sol era menor do que a luz que ele próprio emitia. Ela apenas ignorou durante horas o jovem rapaz. Até porque estava na serralheria ao lado da sua casa.  

Pense em barulho de ferro sendo fundido. Pense também num rapaz suado, com pinta de brabo, tatuado, moreno, com sal, segurando um esmeril como se disso dependesse a salvação do planeta, como se o orgasmo de alguém dependesse daquela cena, como se ele soubesse que estava sendo assistido a todo momento. Ainda assim, ele só estava trabalhando e Helena perdidamente apreciando tantos bíceps, tríceps e quadríceps que saltavam quase rasgando a sua roupa, já um tanto rasgada. Ele também parecia uma escultura. Não pensada, apenas forjada. Na luta, na raiva contra o sistema. Imagina a cena. Equilibravam-se os dois, sabendo os dois que eles se equilibravam entre si, não sendo isso um problema. O tempo nesse planeta passa diferente. O que demorou minutos para os jovens que se auto apreciavam e sensualizavam intuitivamente, demoraria anos em outros planetas. Ferro, fogo, força, garras, tudo bem condizente com o ideal de estabelecimento de um modelo de sex appeal. O nome do moço era Victor. 

            A personagem principal desta crônica não respondia mais o pródigo possível futuro namorado perfeito, também porque estava grávida. Do seu professor, um mestre em adentrar mentes e corpos alheios. 

- Você já conseguiu juntar informações o suficiente até agora. Basta refletir. Na dúvida, me manda mensagem de noite que eu te transfiro o dinheiro pela manhã.  

            Disse ele na última aula, sugerindo que ela abortasse o filho. Tiveram uma conversa longa há mais de um mês, porém o suposto “pai” só resolveu informar sua opinião há uns dias. Opinião: morra! 

            Helena, acordou cedo aquele dia, fez um chá de camomila antes de pensar em se olhar no espelho, conduziu também todo o rito processual que mulheres permeiam para existir nessas sociedades. Ela estava grávida de três meses, de Xavier. Penteou seu longo cabelo vermelho. Ela habitava uma pele escura, com cabelo naturalmente rubro. Não era normal. Ela não era normal. Pele quente. Olhar hipnotizante.  

Seu único defeito era esquecer um pouco das coisas. Inclusive que naquele dia, indo para a faculdade em Niterói, sua mãe havia dito que tivera um sonho estranho e que ela não deveria ir para a aula. Apenas ignorou o soar das arpas divinas. Sua vida mudaria completamente. Sua vida mudaria. Apenas transcenderia. Ela morava numa região perigosa. Tinha seus horários para tudo, mas estava especialmente atrasada. Ao cruzar o portão de casa... Ouviu um grito. Depois sentiu um vulto:  

- Vaza, vaza. 

- Abaixa a cabeça, sua filha da puta. 

Ela não entendeu nada. Quem entenderia. Se sua vida coubesse nuns segundos, como você reagiria? A dela coube em três segundos. No primeiro ela ouviu “vaza, vaza”. No segundo, fogo. Explosão. Fogueira. Chama. Solar. Ela usou todo seu poder. Ela tinha um poder. Ainda não sabido. Olhou para o cano da arma que apontavam para ela. Preto. O cano era preto. Quem empunhava nem tanto. Coincidências (não!) da vida. O terceiro segundo foi apenas o barulho. Como se em uma onda sonora coubesse, de novo, uma vida inteira e coube. Ela fechou os olhos. Gritou, de forma sobre-humana. Como se não inexistisse em frequências audíveis para humanos, seu desespero. Em centésimos de segundo, ela transformou a dor do seu grito em algo intangível, que nenhuma ciência terráquea pudesse ratificar. Abraçadas por suas entidades teve força para desviar uma bala. 

Foi em outros milésimos também que a bala desviou de seu coração. Helena pegou fogo. Como a tequila queima num shot ardente, como a boca do fogão que queima após o estalar do acendedor, como a Sra. Grey da franquia de mutantes já famosa por aí. 

Tudo brilhou ao redor. 

Uma luz incandescente tomou conta de todo ambiente. 

Épico, transcendental. Deus estava ali. O diabo também. Ambos na terra do sol. Ambos lutando suas lutas. Não deveríamos comparar essas entidades. Pode ser considerado blasfêmia e se formos contra os aparelhos que guiam os Estados, podemos ser repreendidos. O que fazer quando os próprios aparelhos nos derrotam? Eles escolhem tipos específicos para matar. Contenha-se branca da neve. Helena despertou um poder que ela não conhecia. Ela desviou de uma bala. O que ela não sabia era que poderes são limitados. Limitados aos seus próprios conhecimentos. Se ela tivesse ciência disso antes, se tivesse treinado, provavelmente escaparia. Ou não. Em algum momento a gente só morre mesmo.  

O tiro desviou do coração de Helena e de seu filho, mas atingiu uma artéria importante perto da jugular. Apenas um estilhaço na verdade. O suficiente. Jorrou. Cinematográfico. Sangue, vida, amor, vontade de viver, jorrou Deus. Bebeu da fonte, o diabo. Consegue imaginar todo o mundo de possibilidades que se perdeu naquele momento? Não. Ninguém consegue.  

Então as luzes e os sons cessaram. Toda a ação ocorreu em poucos segundos, sob muitas emoções, mas em dado momento o silêncio absoluto tomou conta. Essa é a hora que dói. A hora de contar os corpos. Chega a mãe abrindo o portão de casa assustada com os barulhos: 

- Minha filha, que barulho é esse? Cadê minha filha? 

E lá estava a filha de Zeus. Codinome Fênix. Jogada no chão como um pedaço de carne. A mais barata. Toda a profusão de habilidades tinha se findado. Estava saindo de casa para a faculdade quando cruzou o caminho de dois agentes de repressão que estavam perseguindo um suspeito qualquer, que escapou ileso. Helena foi baleada. O tiro pegou de raspou e a matou. Ela não teve tempo de pensar. Seu filho, inexplicavelmente sobreviveu. Ficou meses dentro de uma incubadora com aquecedor em quarenta graus, contrariando todos os saberes medicinais até então. Pudera, filho do fogo, antes de respirar ar puro já mostrara que seguiria o dom da mãe. 

Fênix, queimou para que o que estava em seu ventre transcendesse. Quase sempre a vida é isso. Queimam para que queimemos. Queimamos para que queimem por nós. Como um ciclo sem fim. Faça pelos outros e farão por você, dizem. Dizem.  

Uma fênix não morre. Ela queima, apaga, renasce. Helena não morreu. Renasceu em seu filho e era vivida todos os dias na memória de sua mãe, já desolada a partir de então. O filho daria seguimento ao legado de luz e calor deixado pela mãe.  

Não existe fim. Ou sim. Mas ele não é aqui.   

Helena é como a ave selvagem que simboliza o renascimento, como um oroboros, como o triunfo da vida sobre a morte, o eterno recomeço. Como uma pantera faria nos anos de luta armada. 

            Pantera, negra, preta, não importa a Terra ou terra. Retinta, importa no Fogo ou no gueto. Taca fogo, taca fogo. Fênix não morre seu bobo. Tem gente que é réu, mesmo sendo um fogaréu de ideias que mudariam até a cor do céu. Tire seu véu.  

Punhos cerrados, serei resistência para chegar aonde quem não mais pode falar, falaria por mim, como provavelmente fizeram em outra existência. Firma, firma e FOGO nos racistas! 

Os policiais que mataram Helena ainda estão à solta. 

... 

 “Todos os dias a Kathlen é assassinada. Ela não foi assassinada só no dia 8 de junho, ela é assassinada todos os dias quando pretos, pobres e favelados passam pela mesma situação. A minha filha é assassinada através de outros corpos. Ela já era antes, e é muito difícil lidar com tudo isso… Eu não tenho outra filha, outro filho. Eu não posso ser vó. Eu chego na minha casa, todos os dias, e parece que a minha casa se tornou uma mansão porque é vasta, enorme, e só tem eu e meu marido. A sensação é de que está sempre faltando alguém.”  

Mãe de Kathlen Romeo. 

 

 

A Fênix