quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

Para todos os homens,

 Quem vocês acham que são para insultar um mulher andando na rua? Quem vocês acham que são para

encostar no corpo de uma mulher sem o seu consentimento? Por que vocês acham que um olhar malicioso

de cima a baixo vai ser agradável pra quem recebê-lo?

Vocês têm medo de alguma coisa? Eu acredito que sim.

Pois bem, o medo anda conosco todos os dias ao sair de casa e, em alguns casos, até dentro dela. Toda

vez que um homem age dessa maneira nós sentimos raiva e medo. Medo de ser perseguida, abusada,

estuprada, espancada, morta. A raiva vem no pacote porque estamos de saco cheio. A gente não aguenta

mais ver mais de nós sendo abusadas e morrendo só porque vocês acham que são nossos donos e podem

fazer o que quiserem. Não é assim que funciona, mas não é mesmo.

São raras – raríssimas – as vezes que saio na rua e não tem um de vocês para mexer comigo falando

alguma imbecilidade, para me comer com os olhos ou para me seguir e tentar qualquer coisa ruim. Se

vocês soubessem o quanto isso é insuportavelmente desagradável... Ah, espera! Vocês sabem.

Eu tenho certeza que alguma mulher já mandou vocês para aquele lugar quando "elogiaram" ela no meio

da rua, ou alguma que já quis dar um belo tapa na cara de vocês mas foi impedida; ou então, que uma

mulher próxima a vocês já deu algum toque de como esse tipo de situação é desconfortável para nós.

Estamos no século XXI, em 2021, não adianta virem com o papinho de que fazem essas coisas nojentas

porque as mulheres gostam. A gente odeia, o-d-e-i-a. Vocês estão cansados de saber disso.

Mais uma vez tentando esclarecer, mesmo que bem resumidamente, o que já estava mais do que

esclarecido, porque vocês parecem ter um bloqueio para entender. Espero que dessa vez fique (mais)

claro.

Aos homens que não se encaixam nesses perfis, parabéns por fazerem o mínimo. Nos respeitar é o

mínimo. E aos outros que sabem que se encaixam: mudem, melhorem, evoluam. É tudo que a gente

espera – há muito tempo.


Alice no País das Loucuras

Terraplanismo e nostalgia

 Esse texto eu escrevo aguçada pela indignação, pela raiva e principalmente pela minha falta de compreensão com todo o negacionismo que nos cerca. 


Eu jamais vou ser capaz de entender esse senso de intangibilidade do ser humano. Se sentem inalcançáveis do topo de sua torre de insensatez, tão alta e tão protegida que nem mesmo um vírus é capaz de ultrapassar os seus portões. Honestamente, não faço questão de entender, prefiro continuar abraçada com a minha indignação até que tudo isso passe, porque esses não são passivos de compreensão, muito menos de tentativas. 

São egoístas. Se recusam a aceitar o óbvio porque a situação não é festiva, e sem festa, eles não ficam.  

Preferem correr o risco de tirar meses de vida das pessoas que os cercam, do que ficar meses sem se divertir. De alguma forma essa matemática parece fazer sentido na cabeça deles. Mas na minha não. E está longe de fazer. 

Saem pra rua, dançam a noite toda, trocam suor com outros ignorantes, voltam pra casa, beijam os pais e os avós, e então dormem uma noite de sono tranquila para que no dia seguinte o ciclo continue.  

Não existe peso na consciência na terra dos negacionistas.  

Desmotivador mesmo é ligar a TV e ver, que no executivo, há alguém ainda pior, que além de não fazer absolutamente nada pra amenizar a situação, incentiva que a mesma continue ocorrendo. Bom, mas ainda bem que ele não é coveiro, né? Não faz parte do trabalho dele. Ninguém avisou o pobre coitado que uma crise de saúde estava nos planos... 

Saudade de quando a pauta negativista era liderada pelos terraplanistas, pelo menos eles me faziam rir. 

 

Paty Maionese

Basta!

 Rio de Janeiro, 8 de Fevereiro de 2020

 

Os termômetros da cidade maravilhosa marcavam 36 graus Celsius quando eu e mais 4 amigos, todos brancos, resolvemos que daríamos um “rolê” pela praia, afinal, não existe melhor maneira de enfrentar o calor carioca. Pegamos o famoso ônibus da linha 474 , que  leva “ suburbanos tipo muçulmanos do Jacarezinho a caminho do Jardim de Alá”. Quando passamos pelo túnel Rebouças, o ônibus é parado por uma blitz da polícia militar, um elemento tradicionalíssimo da paisagem carioca, e, após uma revista no veículo, sou levado para fora do ônibus junto com mais três jovens igualmente negros. Além dos constrangimentos que passei nesse dia ( revista, descer do ônibus, perguntas dos policiais e piadas dos mesmos) , esse acontecimento me fez abrir os olhos para aquele que é um dos piores males da nossa sociedade: o racismo , velado ou explícito, direto ou indireto.

Essa história é minha, mas poderia ser do João, da Carla, do Daniel ou da Karol, moradores do subúrbio do Rio, de São Paulo, Belo Horizonte, Nova York ou Minneapolis.

Até quando nós seremos  sempre os principais suspeitos para todo e qualquer crime?        

Até quando  uma vaga de emprego será definida por uma cor de pele ou por um cabelo?                                                 

Até quando a arma da polícia vai nos matar?                                                                     

Até quando vão nos oferecer sempre o elevador de serviço?                                                                               

Até quando seremos vistos como mero objeto de desejo sexual?                                                                         

Até quando o amor negro será mal visto, desvalorizado e questionado?     

Nós precisamos pôr um fim em tudo isso e gritar em alto e bom som: Basta!!

Black Lives Matter

 

 

 

Jubiabá

                                                                     

                

Eu não sou como as outras garotas, eu sou pior

 O mundo odeia mulheres. Tudo que é produzido por e para mulheres se torna automaticamente fútil, bobo e sem valor, e se você é mulher e se interessa por assuntos ‘’sérios’’ você na verdade não entende nada do assunto, só quer aparecer. Amizades femininas são formadas por apenas dois elementos: inveja e falsidade; Então se quiser ser reconhecida e feliz, ande com os meninos. Homens gostam de garotas fora do comum: as que leem livros em vez de revistas, ouvem Rock Antigo em vez das músicas que estão na Billboard Hot 100, preferem calça jeans, coque frouxo e all star, não minissaias, batom e salto alto. Em toda produção audiovisual, a menina má vai ter uma aparência impecável e caráter duvidoso; a boazinha? Só teve sua beleza revelada nos últimos 5 minutos de filme quando soltou o cabelo e tirou os óculos. 

O que faz uma garota ‘’não ser como as outras garotas’’? Não gostar de rosa? Não usar maquiagem? Ou seria apenas se sentir superior por não fazer nada disso? 
E o que faz um homem subjulgar uma mulher pelo que ela consome, faz e fala? O incomodo com a futilidade? A falta de conexão com seres tão superficiais? Ou apenas o fato de que eles se acham bons demais para reproduzir e apreciar comportamentos originalmente femininos? 
Por qual motivo personagens (tanto fictícias, quanto reais) precisaram renegar a feminilidade para serem vistas como competentes, poderosas e sérias? 
Bem, a resposta sempre esteve evidente para todos nós: sucesso profissional e performance de feminilidade nunca foram termos que estavam do mesmo lado. A Capitã Marvel não conseguiria correr em cima de um trem de salto alto e a Miranda Prestley de ‘’O Diabo Veste Prada’’ não teria a mesma imagem se estivesse sempre usando rosa. 
Acho que não posso terminar esse texto de forma melhor que citando a maior e talvez mais polêmica cantora de música para ‘’menininhas’’, Taylor Swift:
‘’Eu estou tão cansada de correr o mais rápido que consigo, imaginando se eu chegaria lá mais rápido se eu fosse um homem’’ (ou pelo menos se eu me comportasse menos como uma mulher).

Maria Antonieta 

Um amor chamado Toronto Raptors

 Assim como a maioria dos brasileiros eu sou apaixonado pelo esporte, mas diferente da

maioria dos brasileiros o esporte que eu amo não é o futebol, mas sim o basquetebol. Descobri

esse meu amor recentemente, faz pouco mais de 1 anos que comecei a acompanhar a NBA, a

liga de basquete americana, depois de algumas semanas assistindo os jogos pela TV decidi que

precisava de um time para torcer e o time que eu escolhi torcer foi Toronto Raptors, e posso

dizer com absoluta certeza que essa foi a pior decisão que eu poderia ter tomado. Veja bem, o

Toronto Raptors é um bom time, muito forte defensivamente, o estilo de jogo deles é lindo de

se ver, sem contar que eles têm um dos melhores técnicos da liga, mas as vezes eu tenho a

impressão que esse time simplesmente não gosta de ganhar! É tanto erro bobo que os

jogadores cometem, é cada rotação sem sentido que o técnico coloca, e quando não é pra o

time ganhar parece que tudo conspira contra, o time começa a errar todas as bolas mesmo

estando completamente livre, ao passo que o time adversário acerta todas! Claro, todo time

tem seus dias bons e seus dias ruins, acontece que os dias ruins do Raptors são muito

frequentes, até as vitorias são sofridas, eu não consigo me lembrar da ultima vez que o

Toronto ganhou uma partida com tranquilidade. Eu tenho a sensação q toda vez que eu

termino de assistir um jogo as entradas no meu cabelo ficaram um pouquinho maiores. Como

se isso já não bastasse, o Toronto Raptors é o único time da liga que é situado no Canadá e

nenhum jogador da liga quer ir pro Canadá! Em 2019 o Toronto Raptors foi campeão da NBA, o

grande astro do time naquele ano era Kawhi Leonard, que havia vindo para o time de Toronto

(contra a sua vontade) por uma troca com o Time de San Antonio, no ano seguinte o contrato

de Kawhi com o time de Toronto acabaria, mas com certeza ele renovaria com o time não é?

Afinal de contas eles haviam sido campeões! Não! Ele não renovou contrato com Toronto, ele

saiu do time e se tornou o único jogador da história da NBA a não renovar contrato com um

time que acabou de ser campeão. Mas porque ele fez isso? Porque era Toronto, e ninguém

quer jogar em Toronto! Enfim, estou escrevendo isso à 1:17 da manhã e o Toronto Raptors

acabou de perder pro Miami Heat por 116 a 108.


Homem Macaco

Como assim, professor?

 Uma vez um professor me pediu para escrever um texto sobre algo que me deixa com

raiva.

De início eu pensei “nossa vai ser fácil!” porque é fácil me deixar com raiva.

Meus pais, minha irmã, o presidente, as pessoas que não têm um pingo de sensatez,

quando alguém fala alguma coisa preconceituosa, quando me ignoram/me deixam no

vácuo, quando alguém me critica, até o BBB me deixa com raiva.

Mas sabe que não foi nada fácil escrever aquele texto.

E isso sim me deixou com raiva.

Eu sempre quis ser a melhor em tudo o que eu faço. Bem Mônica Geller, eu sou

competitiva e determinada. Às vezes não consigo ser a melhor, mas uma coisa é certa:

eu sempre tento.

Mas naquele momento. Agora. Eu não sei o que escrever.

Então, sabendo que não vou conseguir ser a melhor, isso me deixou com raiva.

É péssimo saber que você, mesmo se esforçando, não consegue se destacar. Estudei e

estudei e não tirei mil na redação do Enem, não fui bem na prova de humanas e não fui

como gostaria na de exatas. Tentei e tentei e nunca fui a melhor nos esportes que tanto

gosto de jogar.

Eu odeio ser a pessoa que gosta de fazer tudo -e até sabe fazer um pouco de tudo- mas

nunca se destaca em nada. Nunca é extraordinária, apenas mais uma ordinária.

Inclusive nesse texto: por mais que eu tente, eu sei que ele não vai ser o melhor.

Pode ser fútil, mas isso me deixa com raiva.


Ellis Bell

Palavras virtuais

 Na segunda, ela publicou em suas redes sociais que ficar em casa nesse tempo difícil é

questão de empatia.

Na terça, escondida das câmeras, reuniu-se com os amigos em uma festa clandestina da

cidade.

Na quarta, preocupada com o PCR positivo de uma amiga, reforçou a importância de se

cuidar e permanecer em isolamento social. No Instagram, como sempre, repostou nos

stories palavras bonitas e genéricas.

Na quinta, mais uma vez, juntou-se a outro grupo de amigos e passou boas horas de sua

noite em um barzinho lotado. Nunca havia bebido e se divertido tanto em sua vida! Voltou

para casa apenas ao amanhecer do dia.

Na sexta, assistindo ao jornal da noite com sua família, disse não entender como esse vírus

consegue afetar tantas pessoas em tão pouco tempo. “São esses comércios abertos!”, ela

disse.

No sábado, não aguentando o calor, foi para a praia e fez amizade com o grupo da barraca

ao lado. Conversaram e trocaram contato, prometendo se encontrarem em algum dia da

próxima semana.

No domingo, dia de culto, orou e pediu que Deus protegesse todas as vidas do país e do

mundo. Só pela graça Dele esses tempos escuros iriam embora.

Na semana seguinte e na outra também, repetiu todo o processo. Em um dia, palavras

virtuais. No outro, gestos reais.

É assim que a vida segue.

E um dia termina.


Honey Lemon

Hoje eu ̶n̶ã̶o̶ tô feliz, ̶n̶ã̶o̶ matei o presidente.

 "Hoje eu tô feliz, matei o presidente".

Quando bem mais novo, achava essa frase da música do Gabriel O Pensador muito impactante. Agressiva, até.
"Caramba, como é capaz de alguém ficar feliz com a morte de outra pessoa? Pior, ser a própria a matar!" - eu pensava.
Naturalmente, ao envelhecer, você vai adquirindo novos sentimentos, novas ideias, novas informações, novos pensamentos. Sem querer entrar numa discussão filosófica - mas entrando rapidinho - Jean Jacques Rousseau disse, lá em 1700 e tantos, que "o homem nasce bom, mas a sociedade o corrompe". Em vários aspectos eu diria que verifiquei isso em mim mesmo, e nesse tema específico não foi diferente.
Mas calma, não quero ter papel de Deus para julgar quem merece ou deve morrer e quem merece ou deve viver. Longe de mim, quem sou eu! Eu apenas tento - e gostaria que fosse mais real, confesso - seguir e acreditar na 3a lei de Newton, a da ação e reação. Para cada força aplicada a um corpo, há uma força de mesma intensidade e mesma direção, mas sentido oposto, a um outro corpo (claro que fui conferir no Google). Popularmente conhecida como karma, talvez? Mais fácil, né. Foi mal, Newton.
Não é possível que uma pessoa que abertamente defenda e homenageie torturadores, tenha comportamentos fascistas, repita incessante e compulsivamente comentários xenofóbicos, machistas, racistas e todo tipo de falas desprezíveis (além de criminosas e/ou mentirosas) fique impune nesse "tribunal da vida". Deixando de lado aqui a vida após a morte de credos religiosos, não há justiça terrena?
Quer dizer que tá tudo bem você deliberadamente apoiar atos a favor de ditadura? Falar que o erro foi torturar e não matar? Abertamente repudiar diversas minorias? E veja, não estou falando de políticas econômicas que afetam diretamente a parcela da sociedade que ele tanto ataca e odeia. Nem entrei nesse mérito para não me alongar ainda mais aqui. Estou apenas citando (des)condutas morais e traços repugnantes de personalidade, ética, comportamento.
A pessoa parece ser recompensada por tudo isso. Uau, se tornar presidente!
No meio de uma pandemia, você afirmar que não vai adquirir uma vacina que salvará, literalmente, milhares de vidas por causa da origem do país? É isso mesmo? O destino da VIDA de milhões de cidadãos está nas mãos disso? Como? Por quê? Nesse dia eu chorei, presidente, não só de tristeza por todos os acontecimentos acumulados do passado. Não só por todas as vidas perdidas e, infelizmente, por todas que ainda serão perdidas. Foi também de ódio. Repugnância. Acho que a síntese da maioria dos sentimentos mais asquerosos que um humano pode sentir em relação a outro ser humano.
Apesar de querer acreditar que não desejo o mal a você - o que não teria problema algum, pois como bem disse Lulu Santos: "não desejamos mal a quase ninguém" - desejo apenas as reações das suas ações, tal qual Newton pregou.


Rosto Fosco

 Sou nascida e criada no Complexo da 40. Uma pequena comunidade, dentro de um bairro menor ainda (se é possível assim dizer), mas com muitas histórias para contar.

 Cresci ouvindo os contos da minha gente: “...fulano levou um tiro bem naquela esquina ali...”, “...sumiram com o corpo dele, Dona Cleide nem pôde enterrar...”, “...aquele ali não passava fome, almoçava e jantava pó, e o café da manhã era a pedra...”. Sempre foi uma triste realidade, gente da gente, um irmão, um primo, um amigo de infância... Parecia que o tempo passava e arrastava os nossos para esse caminho sem luz, sem fim.

O Ricardinho era gente boa demais, vivia aqui no quintal com meu tio, mas depois, vi sumir aquele brilho tão único dos olhos dele. Está preso há mais de 10 anos. O Izael vivia aqui pela rua, andava de bicicleta com a molecada e sempre ganhava os concursos de dança na escola. Foi encontrado morto em um terreno na descida do morro, desfigurado, provavelmente torturado. E o Marcos, que... ainda não sei nem descrever. O Marcos era um molequinho de pouco mais de 1,60. Estava sempre brincando na rua com a gente, e paquerando a minha irmã quando conseguia. Lembro do “jeito sem jeito” que ele tinha, e a forma que trocava as pernas ao andar. Marcos foi morto na sala de casa, na frente de sua mãe. Sumiram com o corpo dele. Marcos tinha 16 anos.

 Hoje, me pergunto o tamanho da importância ou da influência dele, ao ponto de ter um fim assim... Onde será que tudo isso começou? Ou melhor, quando irá acabar?

 Ter a oportunidade de estar onde eu estou hoje, escrevendo para vocês como é esse mundo tão isolado e próximo ao mesmo tempo, jamais passou perto dos meus colegas. Eu vejo as mesmas histórias de 30 anos atrás, percorrendo as mesmas ruas, invadindo as pequenas casas de tijolos e brasilit. O que me intriga é saber que nada mudou, que muitos Marcos e Izaéis ainda vão existir enquanto esse sistema tão bem articulado estiver presente em nossas favelas, ruas, TV’s e celulares. Tudo foi perfeitamente calculado (desde que uma certa princesinha assinou uma certa carta) para a exclusão, e consequentemente, extermínio dos nossos.

  A ilusão é financiada pelos  mesmos que dizem querer acabar com ela. E do lado de cá, nós já os conhecemos bem.


Renascida das Águas

Ensino a distância

 Hoje eu acordei, não por inteiro, deixei uma parte de mim na cama. Queria ter dormido mais, mas to cheia de trabalho pra fazer.  Tomei café, bom jeito de começar o dia. Sentei na minha escrivaninha. Abri o computador.  Li textos, não entendi nada.  Li de novo, que cansaço. Fiz o trabalho da faculdade. Será que tem algum feriado chegando?  Almocei. A comida estava gostosa, mas eu quase dormi em cima do prato. Tomei um banho, tenho que despertar pra aula. Peguei meu caderno, separei meu estojo. Entrei no Google meet.  Assisti à aula. Que sentimento estranho de impotência, não consegui prestar atenção. Comecei a chorar, gritei, não sei bem o motivo. Assisti à outra aula. Deitei, vou ficar aqui uns minutos. To cansada, to frustrada. Ignorei meus pensamentos, tenho mais trabalho pra fazer. Acabei. Jantei a mesma coisa do almoço, não tenho do que reclamar. Tentei começar uma conversa com meus pais, mas fiquei com preguiça de continuar. Estou cansada. Será que eu deixo para ler o texto amanhã ou leio hoje? Quem eu to querendo enganar, todas minhas forças foram sugadas. Chegou um email do professor, ele mandou um vídeo pra turma assistir. Já to cheia de coisa pra fazer amanhã, vou ver o vídeo agora. Que vídeo chato. Já ta quase na hora de dormir. To com sono.  Tem bbb daqui a pouco, acho que vou ver um episódio da minha série enquanto não começa. Gostei desse episódio, mas não consegui sorrir, acho que to muito cansada pra isso. Só vegetei enquanto o bbb passava, será que eu não consigo mais achar graça de entretenimento? Espero que consiga. Deitei. Uns amigos me mandaram mensagem. Estou sem força para responder, mas não quero ignorar eles. Até que eu gostei da conversa. Mexi no instagram, que sem graça. Abri o twitter, fiquei uma hora vendo coisas desnecessárias. Caramba! Já ta tarde, 1 hora da manhã. To cansada, mas poderia desbravar o twitter por horas. Vou dormir. Dormi. Acordei, não por inteiro, deixei uma parte de mim na cama. Queria ter dormido mais, mas to cheia de trabalho pra fazer.

                                                                                  Letra x do alfabeto.

Morre a empatia, morre o cidadão

 Essa pandemia devastadora que assola nosso dia a dia poderia ter sido mais uma

“gripezinha”, mas não foi, por inúmeros motivos o coronavírus tomou proporções

(in)imagináveis no Brasil e dá para dizer até que estamos em um dos piores momentos

desde o início de tudo.

A mídia, o Governo e a população tentam buscar culpados para todo esse caos vivido

de março de 2020 até hoje, porém, o que todos tem em comum, é que não olham para si

e enxergam o que, de fato, faz mal a todos nesse país. A falta de empatia. Isso traz

consequências horrendas para os que são mais vulneráveis a esse vírus, os tão falados

grupos de risco.

O que não faltou nesse período de pandemia, foi a desinformação que veículos de

comunicação e Governo disseminaram, através de falas e comunicados, menosprezando

a doença, divulgando medicamentos e tratamentos ineficazes. Pôde-se notar também

que, os políticos sempre zombaram da situação que os cidadãos viveram esse tempo

todo e não mediram esforços quando o assunto era promover aglomerações e mostrar

seu desdém as mais de 250 mil vidas perdidas nesse período.

Parte da imprensa e da população (em sua maioria) criticam o Governo desde o

princípio, em contrapartida, o mesmo povo que vive critica a negligência

governamental, é o que lota praias, bares, festas e shows Brasil afora. Esse conjunto de

fatores trouxe o país para essa situação trágica, prestes a completar um ano da

“chegada” do vírus aqui. Por esses motivos, não consigo compreender tanto egoísmo e

falta de empatia com o próximo, dado que minha indignação e tristeza só aumentam ao

ver os noticiários com mais e mais mortes. A mudança deve partir de cada um. Será que

é tão difícil ser consciente e não participar dessas aglomerações? Será que não dá para

pensar no sofrimento que essas “saidinhas” podem causar em uma família? A verdade é

só uma, só dói mesmo quando acontece com alguém próximo de nós.


Sarah da KGB

Querida Estrelinha

 Querida Estrelinha,


Venho aqui falar sobre algo muito intenso: a raiva. Convenhamos que não equivale-se ao ódio, mas que aproxima-se. Por isso, antes de tudo queria lhe desejar muita força e dizer que você é muito especial. Mas sabemos que nem tudo é tão perfeito quanto parece e todos nós temos os nossos defeitos… Digo isto pois sei que todas as formas de esperar, te dão raiva. Mesmo acreditando que paciência é para os fortes, nem sempre você terá tudo como quiser.


Sei que sente raiva ao perceber que sentem pena de você, pois isso te faz sentir pena de si mesma e sabemos que autopiedade não vale leva a nada. Esse sentimento te deixa triste e com raiva, pois não pode controlar. Sei que sente raiva quando debocham das coisas que faz, pois sente como se fosse menos e que pode nunca ser o suficiente. 


Entendo que fique brava quando gritem contigo, pois você acaba gritando também e perde a sua razão, tornando-se uma pessoa que não gostaria de ser. Compreendo que fique irritada quando implicam contigo, pois, você se sente diretamente ofendida mesmo em uma brincadeira. Para você, nunca é tão engraçado, como pode ser para as pessoas de fora. Admito, seu senso de humor não é dos melhores, apesar de rir das maiores besteiras.


Percebo como te dá raiva se sentir sozinha, pois odeia esse sentimento. A sensação de nem sempre conseguir controlar suas ações, muitas vezes se transborda em choro. Porque é impressionante uma pessoa que chora ao sentir raiva e sente vontade de gritar e externar um pouco isso, mas não sabe se isso é devido.


Esta carta é sobre a dona raiva e vejo o medo e raiva que tem de si mesma, ao sentir que pode um dia, fazer mal a alguém mesmo que sem querer. Sei que nunca desejou ou fez mal a alguém, mas é como nos 'jogos' das aulas de sociologia da escola onde nos é dada uma situação extrema e nos pergunta o que faríamos, o problema é esse, não ter a certeza se escolheria o pior lado, mesmo sem querer. Levando para a vida, estrelinha, é assim mesmo. A pergunta está lá à espera de uma resposta e não saber se faria a melhor escolha, te deixa confusa e com raiva, mas eu e você nunca faríamos mal a ninguém e eu sei disso. Espero que você saiba também. 


Enfim… Como disse no início, esta carta é sobre um sentimento bem profundo e acredito que tenha dito quase tudo que precisava. Talvez um dia diga mais. 


Até lá, Estrelinha, me aguarde! 


Estrela do Mar


Já pensou que talvez eu não goste de você?

 A menina de 5 anos já tinha sua futura profissão definida. Ansiosa com a descoberta,

foi correndo contar para mãe.

- Mãe, quero ser uma bailarina.

E ela começou a dançar em círculos em torno de sua progenitora rindo.

- Agora que você entrou no fundamental, já está na hora de pensar na sua

profissão. O que você quer ser quando crescer, Tessa?

- Não sei, tia. Talvez alguma coisa como publicidade.

- Faz isso não. Não dá dinheiro. Faz medicina que você vai ser feliz.

E a menina não sabia o valor do dinheiro. “Medicina vai me fazer feliz” pensou ela com

um livro debaixo do nariz.

- A Tessa é tão quietinha. Não fala nada. Nem conversa com a gente.

- Ah, ela é assim mesmo. Sempre lendo. Ocupada.

- Ela vai para o ensino médio agora, né? Medicina mesmo, Tessa?

- Pois é, tia. Medicina…

- Tem que estudar muito. Você sabe, né?

- Uhum.

E o nariz continua debaixo do livro.

- Mãe, um menino quer sair comigo.

- Ele não quer sair com você. Ele quer é o que todos os meninos dessa idade

querem. Só vai sair se ele vier aqui em casa pedir permissão.

E o nariz no mesmo lugar.

- Sua tia disse que seu primo já tá ganhando 40 mil por mês. O Antônio tá

fazendo uma prova que custa 10 mil e sua prima vai ganhar 30 mil com o novo

cargo dela. E você aí. Não faz nada da vida.

- Pois é, mãe.

E o nariz.

- Que roupa é essa, Tessa?

- Ah, eu comprei esses dias. Tava na promoção. Gostou?

- Tá pelada. Igual uma puta.

- Acho que eu devo ir para a esquina então, mãe. Talvez assim eu ganhe

dinheiro.

Silêncio.


Tessa Gray

Você precisa saber disso

 Espero que você leia isso um dia, antes de me perder, antes que eu vá, antes que você morra. 


Espero que você saiba o quanto precisei de você aos 6 anos de idade quando perdi a inocência, perdi a confiança nos adultos, perdi a confiança em você. 


Espero que você saiba que aos 12 anos, não conseguia fazer amigos, não conseguia abraçar pessoas, não conseguia confiar nelas e muito menos me abrir com você. 


Espero que você saiba que aos 18 anos, precisei de você mais do nunca, precisava desabafar, um ombro para chorar, um colo e ouvir que tudo vai ficar bem. 


Hoje quase 24 anos e você ainda não sabe quem sou, o que passei, não conhece o próprio filho, os medos dele, os sonhos dele, o quando ele quer ser alguém na vida, o quando ele está com medo, o quão ele é inseguro consigo mesmo, ele precisava que você estivesse ali aos 6 anos e dissesse que “tudo ficaria bem”. 


Mas você apenas disse que o meu silêncio é o melhor para a família, mas que familia?


  • Milles Elliot

Mulheres fodas é pleonasmo

 Não dá pra andar na rua de short, calça ou burca. Não dá pra voltar sozinha de noite e

nem acompanhada. Não dá pra ter o mesmo salário. Não dá pra pra pegar táxi sem ser

assediada. Não dá, não dá, não dá. Ser mulher é como nascer com uma faixa bem

grande na sua testa escrito: “sou mulher, me desrespeite”. Afinal, não é pra isso que

nascemos? Pra suprir as necessidades físicas e morais dos homens?

Nós somos tão objetificadas que já nos tornamos objeto: saco de pancada, máquina de

sexo, enfeite de Instagram. Nós somos tão menosprezadas que a igualdade salarial, se

ocorrer, será daqui a 200 anos. Nossa vida vale tão pouco, que uma de nós é morta a

cada duas horas. Somos tão oprimidas, que comemoramos com alegria direitos

básicos, como o de poder dirigir.

Ser homem dever ser tão fácil. Meu Deus, como deve ser boa a sensação de pedir um

Uber e não precisar suspirar de alívio ao ver que quem dirige é uma mulher. Como

deve ser bom andar na rua de bermuda ou sem camisa e não escutar aqueles “fiu fiu”

idiotas e muitas vezes até pior. Como deve ser bom, meu Deus, ser tratado como

gente.

E como se não bastasse tudo isso, ainda surgem movimentos que defendem “o direito

dos homens sob a ameaça feminista”. Sério, tem que ter muita paciência. Mas se tem

uma coisa que ainda me faz acreditar nesse mundo é saber que todos os dias nascem,

da “fraquejada” dos homens, mulheres cientistas, engenheiras, mães, donas de casa,

escritoras, médicas, enfim. Mulheres fodas. Ou, pra não ficar redundante, mulheres. E

eu tenho fé que um dia, mesmo que eu não esteja mais aqui pra ver, esse texto não

seja mais necessário.


Asas de Ícaro

Egoísmo nas trincheiras

 Todos os dias a história transcorre em seu passo ininterrupto. Mas esses tempos, no calor do presente, em que escrevo são daqueles que sabemos, com certeza, marcarão presença num capítulo das obras didáticas de amanhã. Falo sobre uma guerra em que a única trincheira entre nós e o inimigo é uma máscara. Abrir a porta de casa é entrar em território hostil. Um inimigo invisível, que não deixa pegadas, nem armadilhas aparentes. Me sinto Ethan Hunt, fazendo malabarismos para cumprir uma missão, que nesse caso é fugir de um microscópico vilão que usa coroa, ou corona no erudito latim científico e quer ir além do micro, conquistando o reino macro da vida. A trilha sonora do intrépido agente do filme toca no pensamento, enquanto higienizo mãos, e pertences ao entrar. Mas o inimigo ainda espreita. Um cenário de perigo, como nos filmes de catástrofe.

O navio afundando. Enquanto a água bate pelos tornozelos, alguns procuram a proveniência do iceberg. Outros preferem ignorar o mar invadindo o salão. Não há nada acontecendo para estes. Toca o barco, se naufragar, e daí? Que os músicos não parem de tocar! Que comemoremos com os sobreviventes, num banquete regado a tubaína. É o que dizem com a água nos joelhos, mas quando chega no pescoço correm aos botes. A diferença é que nossos botes são pequenos frascos, frágeis e limitados. Mas assim como no navio de outrora, empurram quem está na sua frente, para furar a prioridade da fila, condenando outras vidas, num afã egoísta.

A fórmula. A arca perdida dessa história, a qual os corajosos caçadores de jalecos brancos encontraram em árdua tarefa. Mesmo depois de tê-la em mãos, precisam ainda enfrentar os nefastos servos da negação, que promovem festas, que mais parecem tributos ao intangível inimigo; recepcionam-no de braços abertos, tornando-se súditos de um reino de destino trágico. Numa corrida nada divertida, sabotam o carro da imunização, tal qual Dicks Vigaristas às avessas. Digo às avessas pois até o atrapalhado personagem age tentando ganhar. Nesse caso não ganham. Apenas deixam o corredor invisível tomar a dianteira, levando em seu rastro mais de 200 mil, contando só aqui no nosso Brasil.

O Náufrago

O inferno é aqui

 Desde pequenos nós aprendemos sobre predestinação. Quem é bonzinho vai para o céu, quem é malvado, vocês sabem. Mas sabem o que eu acho? O inferno já é aqui. Não é preciso fazer maldade para conhecê-lo, basta ser mulher. E como mulher, já nasci predestinada. Nasci predestinada a me comportar para que olhos malvados de homens que não se comportam não vejam em mim uma "presa fácil". Nasci predestinada a pensar duas vezes na roupa, sapato e maquiagem que vou usar ao sair de casa (às vezes até em casa, pois segura não estou em nenhum lugar). Nasci predestinada a assistir tutorial de como não ser estuprada em um país onde a cada 11 minutos uma de nós é. Cresci condicionada a viver em função dos outros, pois tudo que penso e falo depende de como vão reagir. Condicionada a cruzar as pernas ao sentar, a abaixar o short, a não usar batom vermelho, a tirar minha argola favorita, a não rir de forma exageradaa falar baixinho e concordar com tudo sem reclamar. 

E eu me questiono praticamente todos os dias. Por quê? Por que não pode ser diferente? Mas não é pra mim que devo fazer essas perguntas. Deveria perguntar aos homens. Que tal você não olhar para o meu corpo com malícia na hora que eu passar? E que tal, seu velho safado, na hora que eu estiver descendo do ônibus você guardar essa porcaria desse pinto dentro da sua calça? Já pensou, garotinho travesso em não comentar sobre o tamanho dos meus seios e da minha bunda na frente de outros garotinhos travessos para não me envergonhar e criar em mim inseguranças que eu levarei para vida inteira? Ou talvez, o que acha, homem que sabe tudo, de não diminuir meus conhecimentos enquanto eu falo? De não me rotular como grosseira quando eu me posiciono de maneira firme? Já imaginou respeitar meu não, que realmente significa um não, independente da minha roupa, da minha condição e da minha idade? E você, querido presidente, por que não cala essa boca em vez de dizer em entrevistas que quem quiser vir aqui fazer sexo com uma mulher, fique à vontadePor que não usa sua posição para nos defender em vez de tirar nossos direitos? Hein? Por quê? 

Deveria perguntar, mas a eles não foram ensinadas essas questões, sabem por quê? Porque eles não nasceram predestinados a isso. Nasceram predestinados a fazer das nossas vidas um inferno enquanto vão à igreja e agradecem por mais um dia, amém.  E sinceramente? Por mim que vocês subam para o céu e nos deixem aqui, em paz. 


Elipse

Àquele

 Escrevo esta carta a aquele que achou que um dia a justiça não viria. Àquele que mentiu

e não pensou nas possíveis consequências dessa mentira. Àquele que não pensou em

todo mal que fez.

Me diz qual foi o preço de seu caráter? Da sua dignidade? Me diga por quanto você

vendeu a tranquilidade de ter uma consciência limpa? Você ainda sabe o que é isso?

Não se preocupe, pois não revelarei o preço de sua integridade. A pessoa quem eu sou

dorme muito bem a noite, obrigada. Tem a plena convicção de quem ela é, E DE

QUEM ELA NÃO DESEJA SER! Essa culpa meu amigo não carrego!

Àqueles com quem você quiz me difamar antes, hoje sentem pena de você! Rezo muito

para que se torne uma pessoa melhor e livre de culpa. Hoje faz um ano e tenho orgulho

da mulher que me tornei. Ela aprendeu a ser grata por tudo. Isso a fez mais forte e

melhor!

Quanto àquele? Desejo-lhe uma boa vida e quem sabe, um dia, uma boa noite de sono,

assim como a minha!

Íris M.

Carta pro meu eu do passado

 Oi, não preciso seguir o clichê de perguntar se tá tudo bem, porque eu sei que tá. Aliás, vamos ser justos? Eu sei que tá tudo ótimo. Conheço bem demais  seu jeito imediatista e impulsivo de ser, fazer o que dá na telha e pouco se importar com as consequências. Talvez por isso pareça muito estranho o que eu vou te dizer: sabe a visita semanal que você faz à vó Maria? Aproveite cada segundo como se fosse a última vez que você fosse vê-la. Calma, ela não morreu, mas uma inofensiva visita , hoje, pode qualificar um homicídio culposo.

    Eu imagino que você esteja completamente confuso, mas a faculdade tem me tomado bastante tempo, então eu só posso te dar um breve resumo. No momento que eu escrevo essa carta, um vírus tipo o H1N1 em 2009 já matou mais de 2 milhões e meio de pessoas no mundo e continua tirando, por dia, mais de 10 mil vidas. É, como você deve imaginar, os idosos são os mais afetados e,  pra piorar, o imbecil do Bolsonaro tem a pior gestão do planeta nesse quesito e, 10% das mortes são só no Brasil. Enfim, vou tentar te dar uma dimensão melhor do que tá acontecendo. No dia que eu to te escrevendo isso, o Flamengo tem a maior decisão do ano, se ganhar , é campeão brasileiro. Ainda sim, tá nublado. O time do povo não vai levar milhões às ruas, sequer milhares. Não teve carnaval, as pessoas estão cada vez mais amargas; o calor humano pelo qual a Cidade Maravilhosa é mundialmente conhecida deu lugar à frieza das relações limitadas pelo  uso de uma máscara e uma distância de metros, como medidas de proteção ao vírus.
     É triste, revoltante. Imagino a porrada que deve estar sendo pra você ler esse texto, te adianto que é uma breve sinopse da incalculável desgraça causada pelo vírus. Prepare-se.
    O mundo tá irreconhecível, você tá irreconhecível. Tudo aquilo que  imaginou sobre o início da faculdade, esqueça. Você fez sim uns 6 amigos, mas a relação mais profunda que tem com eles é ligando a câmera do computador pra ter uma fria reunião, num frio quarto, de um frio mundo. Bom, eu imagino que você também não precise perguntar se tá tudo bem, né?

Rato Guaraná

Pequenas coisas irritantes

 Uma das coisas que mais me intriga na minha existência nesse mundo é a minha capacidade de me irritar com coisas pequenas ou fúteis. Poderia por exemplo traçar no meio dessa observação um paralelo para que você que está lendo possa ter uma maior compreensão: quando ocorre algo de força maior por exemplo: ficar preso no trânsito, receber uma notícia ruim eu tento levar na compreensiva e tentar uma forma racional de resolver, agora se você fizer comigo algo pequeno do tipo: rasgar sem querer uma folha do caderno, desapontar o lapis escrevendo algo ou dar uma topada em algum movel da casa eu tenho o poder de conseguir fazer isso mudar meu humor e estragar meu dia, algo que chega a ser impressionante.

 Estava eu pensando no que escrever para o blog (algo que também alterou meu humor por alguns segundos) e tive essa brilhante ideia ao ter uma crise e achar que não seria capaz de escrever uma cronica sobre algo que me irrita pelo simples fato de eu enquanto roía uma unha, ter puxado aquela pele do dedo indicador que ao ser puxada de maljeito, arranca sua pele até a última camada. Após eu me arrepender dessa crise e ver que não era pra tanto, tomei um chá e agora estou aqui refletindo sobre minha personalidade e pensando que talvez eu seja um pouco complicado. E você que está aí sentado lendo esse texto, considera-se uma pessoa de boa quando corriqueiramente acontece esse tipo de coisa no seu dia a dia? to afim de ler pra ver se me identifico ou me irrito com sua visão sobre esse assunto

Quentinha Fria

Tempo perdido

 A incerteza da vida é algo que vem me causando conflito há algum tempo. A velocidade com que tudo acontece num estalar de dedos.A cronometragem de cada segundo das nossas vidas me tira do sério. O tempo é meu maior desafeto por isso, porque eu não consigo acompanhar essa reviravolta frenética e incessante dos ponteiros. Sempre para frente e a todo tempo. Essa coisa louca que me faz escrever com pressa porque só tenho até às 23:59h. E essa coisa mais louca ainda que me faz viver com urgência porque não sei quanto tempo me resta. 

Talvez eu nunca entenda essa coisa do tempo de às vezes durar um milênio e às vezes um milésimo de segundo. Nunca o perdoarei também por fazer noites em lágrimas durarem tanto e os momentos bons passarem num instante. Parece que as tempestades são sempre mais demoradas que os dias ensolarados.

Muito pior que acordar no meio da noite e ser incomodado pelo tic-tac irritante do relógio é estar acordado vendo cada segundo passar na sua frente. Uma vida inteira sendo resumida a cumprir prazos com breves vislumbres de felicidade, é assim que me sinto. Provavelmente agora mais do que nunca eu sinta minha juventude sendo roubada, e sem devolução de um tempo que não vivi, que não aproveitei.

 É sempre sobre correr atrás do prejuízo, “nunca é tarde demais para correr atrás dos seus sonhos” eles dizem. “Sempre em frente / Não temos tempo a perder”, nossos pais já cantavam. Sempre correr, correr e correr. Mas às vezes é tarde demais sim, para dar aquele abraço, para dizer aquele “eu te amo”, para mais um passeio com seu pet, para comer aquela comida gostosa de novo. Quantos momentos de felicidade nos são roubados, e não adianta de nada correr porque o tempo não volta atrás. 

Os lugares se transformam, as pessoas deixam de estar aqui, as oportunidades passam, as relações acabam,os bens envelhecem, tudo muda, menos a constância do tempo. 

Falta tempo para estudar, trabalhar, viajar, namorar, se exercitar, se ajudar... tantos infinitivos e infinitas vontades. Sempre queremos ter mais tempo, mas quando é que de fato a gente tem? Será que temos todo tempo do mundo ou realmente não temos tempo a perder?

 Essa areia escorrendo pela ampulheta ainda vai nos sufocar. 

                                                                                                                 Maya

“Salve o Tricolor Paulista”

 O que deveria ser um cântico de imposição de respeito aos rivais, tornou-se um apelo de seus torcedores. Um time, o qual viveu tantas conquistas e sempre apresentava um primor técnico no gramado, acostumou-se em trazer decepções e vexames aos seus torcedores. 


A vergonha já virou um sentimento comum. A derrota para o já rebaixado e horroroso Botafogo, na última segunda-feira, foi mais uma, o qual fez os trouxas sofreremEstão conseguindo acabar com as alegrias e esperanças até do torcedor mais fanático. Hoje, o são-paulino é motivo de chacota. 


Não há mais jogos para deixar os torcedores em êxtase. Não há Rogério Ceni para pegar cobranças perfeitas, como a de Gerrard no Mundial de Clubes, por exemplo. Vencer três campeonatos nacionais, consecutivamente, voltou a ser algo inimaginável. Dói saber que não é mais um clube digno de respeito e de impor medo nos adversários. 


O tricolor se tornou uma sombra do que já foi. Dirigentes com ideias defasadas, contratações questionáveis, dívidas estratosféricas e os jogadores agindo como verdadeiros neandertais em campo. A soma desses fatores fez com que o clube esteja nove anos sem levantar uma taça. Um jejum vergonhoso! 


Como consequência, há uma queda de surgimento de novos são-paulinos. Afinal, quem quer torcer para um time fadado ao fracasso? Só torcedores mais apaixonados, como eu, obviamente. Ver um jogador renomado como Daniel Alves fazer gracinhas, ao invés de ser objetivo e buscar o gol, deixa os meus fios de cabelo em pé. Não à toa, venho lidando com a queda deles 


Com tantas mudanças a serem feitas e sem uma perspectiva de um futuro melhor, coube aos tricolores paulistas viverem do trecho do hino do clube: As glórias do passado. 

    

Modo Anônimo 

Universidade pública

 “O Brasil vai de mal a pior. A solução é a educação.”

“Gastar milhões com as universidades federais é um absurdo! Um bando de retardados,

alienados.”

“Esses professores são uns manipuladores.”

“Olha! Passou num mestrado, agora não vai fazer mais nada da vida, vai viver de bolsa.”

“Seria bom arrumar um emprego e sair da frente desse computador.”

É o que ouvimos nas esquinas, nas praças, nas salas, nas redes sociais, no Distrito Federal.

Sim, este, de onde deveria sair apoio à educação.

Se virar bandido é por falta de educação, se vai se dedicar aos estudos é um vagabundo,

manipulado. Eu sinceramente não entendo o que passa na mente dessas pessoas. Na verdade

eu entendo, eles querem nos desestabilizar a todo custo, nos julgar e dizer que não somos

bons o bastante. E, principalmente, gerenciar uma população, ou fantoches, ignorantes.


Mas, de repente, em Fevereiro de 2020, uma gripezinha chega ao país.

Isolamento, máscara, descasos, MORTES, entra ministro, sai ministro, MORTES.

Os meses vão passando e com eles o aumento da necessidade de uma vacina.

E agora, José?

“Vai, vai no Bubutantã

Vem no Bubutantã, tã”

É, parece que todos nós dependemos das benditas Universidades.


Estrela Téte

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

Ao primeiro homem da minha vida

 Escrevo, pois não posso mais falar.

Escrevo, pois é a forma que achei de me comunicar contigo. Na verdade estou mentindo.

Lembra quando eu tinha 10 anos e você me disse para olhar as estrelas quando eu sentisse

saudade? É o que faço quando eu não consigo conter a minha tristeza.


Aquela manhã estava linda, um sol brilhante repousando seus raios sobre uma árvore, aquela

na qual você sempre tirava acerolas para mim.

Eu não pude te ver, me despedir, mas eu sei que naquele domingo mais ou menos às 19 horas

você me pediu um abraço, e foi diferente, com olhos fitos sentimos uma emoção. Eu sei que

nossa despedida foi ali, naquele momento.

Perdão!

Perdão por não ter feito mais, por não ter abraçado mais, por não ter dito que lhe amava, mas

eu sou assim, não sei expressar meu amor com as palavras.

Eu, egoísta que sou, o culpei por me deixar tão abruptamente. Desculpe-me por isso!


Obrigada!

Obrigada pelos abraços, pelas gargalhadas, pela pizza de supermercado no meu aniversário

de sete anos. Aquele sete desenhado com ketchup nunca saiu da minha mente, foi o dia mais

feliz da minha vida!

Saudade!

Saudade de suas broncas, seu arrastar dos pés, sua voz boba dizendo que me amava. Saudade

daquele barulho de suas chaves quando estava chegando a casa, todos sabiam que era você.

Por que carregava tantas chaves?

Que pena!

Sua vontade de me ver na faculdade, ver a sua jornalista, você não esperou. Queria tanto que

você visse. Que pena!

Preciso lhe confessar que não suporto ouvir o telefone tocar. Espero o seu nome na tela, e,

além disso, a sua voz melosa me chamando de filhota.

É estranho, tudo me faz lembrar você!


Pai, obrigada por suas carícias, por me fazer sentir amada e protegida.

AMO-TE!

Nesse texto não estão somente palavras. Estão minhas lágrimas. Está meu coração.


Estrela Téte

CERTEZA ENTRE DÚVIDAS

 Meu grande amor,

Não sei o porquê lhe escrevo. Talvez, por não poder dizer frente a frente. Talvez, por ser covarde. Contudo, escrever esta dura e sofrida mensagem está difícil. Acredite!  

Não sei, se foi o ingresso nesta nova etapa, mas as conversas declamadas, já não são mais as mesmas. As risadas, o romance e o tempo, tão pouco. Noites, em claro, passo. Diariamente atormentado pelos tristes sentimentos, os quais expressamos através da tela do celular.

Eu já lhe confessei que não sei. Não sobre meus sentimentos, mas sobre mim mesmo. Se estou no limite com a rotina. Se colocando obrigações e responsabilidades demais, estou. Não sei mais quem sou. A tempestade chegou e você, como um bom marinheiro, espera que a calmaria, um dia chegue. 

Assim como eu, você me confidenciou que não sabe. Se pressente a mesma intensidade de antes, se é só insegurança ou se passarei a sentir desejos por outro, quando, assiduamente, frequentarei o casarão rosa, pelos próximos quatro anos. 

Não sei se conseguirei, como a canção daquela cantora, chorar mais tarde, como o personagem daquela série, viver a vida adoidado ou como aquele amigo, sofrer por quem amou, se optar por me abandonar, mas sei de algo. 

Sei que feliz serei, se auxiliar a reencontrar o meu eu ou ao lado de alguém, que pôde dar a risada que deixei de dar, do carinho que faltei e do companheirismo, o qual você sente falta, tiver. O sorriso estampado em seu rosto, para mim, vem acima de tudo. 

Sei disso, pois sei que amo você. 

Modo Anônimo