terça-feira, 30 de outubro de 2018

CRÔNICA SOBRE CRÔNICAS

Cheguei na primeira aula de Oficina de Leitura e Produção Textual na faculdade.
Já sabia o esquema de pseudônimos graças às dicas dos veteranos. O professor lançou o
primeiro tema da crônica: falar sobre uma figura pública sem citar seu nome. Como
diabos eu ia fazer um negócio desse? Pensei em uma imensidão de figuras, mas nada
bom saía. A minha primeira crônica teve o título “De Cabo a Rabo” e até que fiquei
feliz com o resultado. Falei sobre o candidato à presidência, cabo Daciolo, e das
doideiras que dizia. Nunca pensei que, hoje, no segundo turno, sentiria falta de seus
discursos. Primeira missão cumprida, beleza. Até que foram lidas na sala de aula as
crônicas da galera, que, por sinal, escreve muito. É briga de cachorro grande e percebi
que eu não passo de um chihuahua.
A segunda crônica foi sobre traumas. Achei maneira toda aula de psicanálise ou
coisa parecida do professor. É pura doideira, mas interessante. Já imaginei a quantidade
de coisa que seria exposta nos textos. Fiz sobre uma menina “quieta no banco de trás”,
sob este mesmo título e relatei o abuso sexual que sofreu por dias no caminho para a
escola.
A terceira eu não fiz. O tema era sonho e eu nunca lembro dos meus sonhos.
Sem condições, professor. Mas aí veio o quarto tema.
Em resumo, política. Assunto que eu tanto evitei abordar por tanto tempo...
Preguiça. Mas fui lá e fiz. Já estava na hora de começar a me posicionar sobre isso, de
começar a pensar sobre isso e falar sobre isso. A vida adulta vem que a gente nem vê de
onde. Saudades me preocupar em manifestar só sobre a falsa promessa do “na volta a
gente compra” dos meus pais. Era para falar sobre a iminência de eleição do 17. Dei o
título de “Você Sabe Quem”, fazendo alusão ao mundo bruxo de Harry Potter, já que
preferimos nem citar o nome do maluco.
Logo depois, tivemos que fazer uma carta para um eleitor desse candidato,
dizendo o que sentíamos sobre seu posicionamento. Fiz para um “quase mais que
amigo” e mostrei na carta como isso afetou possíveis relacionamentos amorosos.
Depois era para escrever uma resposta à carta. Desculpa aí, professor, mas
minha criatividade é muito pouca para gastar com esse prego do “Brasil acima de tudo”
e sei lá mais o que. Acabei não fazendo.
E aí o outro tema: “Suavidade”. O zé ruela da turma tinha que abrir o bico e dar
ideia para o professor. Tudo bem. Tranquilo, cara. Acontece. Não tinha pensado em
como falar sobre isso, até que escrevi em uma noite um pouco sobre. O deadline já tinha
estourado, mas enviei mesmo assim e dei o título “Melancolia das Onze”. E aí, como se
não bastasse, o tema seguinte é este que escrevo. Uma crônica sobre minhas crônicas.
O professor prometeu que a partir de agora os temas vão ser mais tranquilos.
Algo sobre natureza, talvez. Qualquer coisa que amenize a realidade brutal em que o
Brasil acaba de entrar.

Edmundo Pevensie

Tempos Novo Romano

Mais uma vez atrasado, meu ônibus passa pela praia. O mar que outrora esteve calmo,
se revolta, lançando, contra o limo escorregadio que reveste as rochas, sua espuma alva.
Sinto cheiro de mar.
Uma rocha em particular chama minha atenção. Aquele velho índio esculpido pelo
próprio tempo como uma obra de Milo, lança em mim seus olhares aterrorizados. Essa
tribo é atrasada demais. Sinto cheiro de medo.
Cochilei e perdi meu ponto, perdi meu tempo, perderam-se infâncias, criaram-se gênios.
Ó Saturno, porque tanto nos tortura? Tu que arrancas-te, com sua foice, o saco escrotal
de seu próprio pai, deve estar gozando no céu estrelado, assistindo-nos arrancar, com
nossos caninos, os seios de nossa mãe gentil. Sinto o cansaço.
Minhas tamancas estão cada vez mais sujas. Minhas mãos, cada vez mais cansadas.
Minhas frases, cada vez mais curtas. Sinto o próprio tempo me esculpir como fez com
aquela rocha. Sinto as lápides sendo lapidadas. Sinto as perdas e os ganhos. Eu sinto
muito.

3 crônicas, 10 comentários.

Eric Cleptomaníaco

domingo, 28 de outubro de 2018

O que eu posso falar sobre os meus textos ?

Me mandaram falar sobre as crônicas que eu escrevi esse ano, então, minha memória é meio ruim e a preguiça que move o meu corpo não me permitiu ficar relendo todas as crônicas novamente, sendo assim falarei das que eu lembro, juro que tentarei meu máximo.
Então, não sei se todos vocês se lembram do meu começo… Eu escrevi aquela crônica sobre o Faustão que ficou meio ruinzinha, foi descuido meu, confesso, não me dediquei muito e não me importei em revisar depois, ela até tinha um potencial para ficar boa, mas aquele espírito preguiçoso que habita minha alma não permitiu.
Graças ao bom Deus as outras foram melhores, teve aquela sobre o sonho, me recordo que demorei muito pra fazer, nunca conseguia lembrar dos meus sonhos, cheguei a dormir com um caderno do lado, mas a preguiça de escrever assim que acordava era tão grande, que eu apenas o ignorava. Chegou uma hora que eu consegui escrevê-la, ficou mais ou menos, ainda seria capaz de fazer algo melhor.
Chegou aquela sobre traumas, essa foi bem pesada, não só pela minha crônica que me fez lembrar de coisas ruins, mas pelas dos outros, foi muito difícil ler os outros textos, mais difícil ainda ouvir eles sendo recitados na sala. De qualquer forma esse meu texto ficou melhor que o passado, porém ainda não o considero bom.
E finalmente teve as crônicas sobre política, que sinceramente foram as minhas favoritas de escrever, foi uma oportunidade de colocar para fora tudo que eu estava e estou sentindo com a atual situação política do país. Essas eu já posso considerá-las boas, eu as escrevi com prazer, me dediquei, escrevia uma frase, apagava, escrevia duas, apagava, começava a escrever outro texto paralelo ao que eu já estava escrevendo, até que no final saía um resultado que me agradasse. Esses textos foram também os que tiveram as melhores repercussões no blog, talvez esses seja o meu estilo, escrever crônicas sobre as minhas revoltas políticas.
Assim, definitivamente houve uma evolução, não posso negar, fui desenvolvendo um certo gosto pela coisa, não sou nenhum Machado de Assis, mas até que eu não sou tão ruim não.

7 cronicas | 21 comentários

Oswaldo da Jae

Até agora

Confesso não me lembrar de escrever crônicas antes de nossas aulas. Talvez tenha
acontecido uma ou duas vezes no ensino fundamental, realmente não me recordo. O
foco da minha escola era que aprendêssemos a fazer dissertação argumentativa, já que é
o exigido pelo ENEM. Portanto, aprendi aquela forma engessada, passei e cá estou. A
cada semana, tenho que me aventurar e me desafiar na escrita. Alguns temas são mais
fáceis, os textos saem naturalmente. Outros já exigiram um esforço maior e ainda têm
aqueles que, infelizmente, saíram.
Na primeira, tivemos que escrever sobre um artista sem citar seu nome. Como o assunto
“Copa do mundo de 2018” ainda estava fresquinho, resolvi falar de uma grande
jogadora – Marta. Talvez por ser a primeira crônica, foi uma das que me exigiu certo
esforço e, ainda assim, não me deixou satisfeita. Logo depois, tivemos que falar sobre
um trauma e, ao ouvir o tema, eu sabia exatamente sobre o falar. Sabia exatamente a
história com que todos se comoveriam, mas o texto não saiu... Talvez tivesse que ter me
esforçado mais. Talvez me fizesse bem dividi-lo com outras pessoas, mas, naquele
momento, não consegui. Tivemos também que falar sobre sonhos e os meus sempre têm
relação com a minha vida real. Então, foi fácil associar o sonho que tive, na noite de
quarta-feira, com o que estava acontecendo em minha vida. Falamos três vezes sobre o
nosso cenário político, sobre o presidenciável que nos negamos a falar o nome, o
“coiso”. Em meio a tamanha tristeza que eu sentia pós segundo turno, não consegui
escrever um dos textos sobre ele. Não queria falar sobre política novamente, as brigas
em casa por conta disso haviam sugado toda minha energia. Mas me recuperei e escrevi
justamente a crônica onde nos colocamos no lugar de um eleitor do “coiso”. Nos
colocamos no lugar dos nossos pais, tios, primos, vizinhos. Foi um grande exercício de
empatia. E agora estamos recuperando os sentimentos que as crônicas escritas até aqui
nos despertaram.
É um fato que todas as crônicas nos despertam algum sentimento, mesmo aquelas que
ficaram só na imaginação e não foram colocadas no papel. Venho percebendo o quão
gostoso é dedicar um momento para criar ou apenas relatar histórias da melhor maneira
possível. É ótimo poder escrever o que pensamos sobre diversos assuntos, aprendendo a
usar as palavras, os sinais de pontuação, os inúmeros recursos textuais. Apesar disso,
acredito que faça parte não ter ideia do que escrever em algumas semanas, pensar
“nossa, que tema chato” em outras, às vezes, realmente desistir de alguns textos. Ou
talvez eu só esteja falando isso para tentar me sentir menos culpada pelos que eu não
fiz. O que eu sei é que tem sido muito gostoso esse exercício de me aventurar e me
superar.

Crônicas feitas: 5
Comentários feitos: 35


Cecília Meireles


Os últimos meses

A minha vida nesses últimos dois meses foi uma montanha-russa. Houve momentos
lá embaixo e outros no topo. Os sentimentos oscilaram entre desespero e
esperança. Medo e coragem. Entre os dias que chorei e desejei que o tempo
passasse rápido por que não queria sentir aquela angústia, e os dias que senti
esperança, como quando minha sobrinha me contou que tinha criado um grupo
sobre feminismo na escola dela. Vou levar em minha memória as manifestações na
cinelândia, a faixa antifascista do curso de direito e a noite do primeiro turno,
quando em meio aos gritos de “Bolsonaro 2018”, um senhor berrou de sua janela
“resistência” e em seguida vários “Ele Não” ecoaram na rua onde moro. Hoje, do
alto do meu apartamento, eu vi um homem gritar “Bolsonaro vai acabar com isso
aqui” enquanto sacudia uma sacola com alguns mantimentos. Ver aquele homem
sacudir sua sacola na cara dos meus vizinhos privilegiados, me fez concluir que
apesar de tudo, a resistência vem e virá de todos os lados.

Crônicas: 4
Comentários: 10

Regina Phalange

ODE AO AMADURECIMENTO

 Acho que irei prestar o vestibular esse ano novamente.  Disse a jovem, a insegurança andava ao seu lado.
 Mano, pra quê? Acredita em mim... você vai passar!  A mais velha quase gritava ao soltar as palavras que pareciam não entrar na cabeça da menor.
 Olha, eu vou pagar! Se eu entrar pra faculdade, ótimo, mas se eu não entrar, terei uma garantia para o ano que vem. Eu não posso perder muito tempo.
 Você deveria acreditar mais em mim, eu sei o que estou falando, mas não... você é teimosa, sempre foi tão teimosa.  Seus olhos se reviraram, não aguentava com o discurso daquela menina. Ela estava duvidando da sua palavra?  Eu não vou falar mais nada. No final, você vai ver que eu tinha razão, assim como em muitos outros momentos da sua vida...

 O tempo passou, a jovem realmente fez como havia dito. Estava decidida de que iria prestar o vestibular, passaria no próximo ano e cursaria o que tanto almejava. Começou a estudar e realmente se dedicou aquilo que estava fazendo, não iria perder o foco. Mas, seus olhos não saíam da lista de espera. “Vai que passa, não é?”, pensava. “Não custa nada olhar...”
 E como tudo na vida passa, ela também passou.

Euforia (significado): substantivo feminino.
estado caracterizado por alegria, despreocupação, otimismo e bem-estar físico.

 Olha só, o Pena quer que a gente escreva uma crônica baseada em todas as crônicas que já fizemos antes...  A fila do ônibus só parecia aumentar, o cansaço não ajudava e ainda estava chovendo.  Como eu vou resumir tudo em um texto só? Nós falamos sobre famosos sem trabalhar com o nome deles, traumas, sonhos, falamos daquele candidato lá... ô, como falamos dele! E até mesmo da leveza do Gabriel.
 E o que você entendeu sobre tudo isso?  Indagou, ansiosa e curiosa pela resposta.

 A jovem a sua frente parecia abatida e cansada, mas tomou fôlego e pensou enquanto deu mais dois passos para frente, aquela fila finalmente estava andando. Havia tantas pessoas ali na sua frente, desesperadas para chegarem em casa, assim como também desejava. Porém, parecia que seu destino era a fila para um show do Maroon Five. Seu devaneio fora interrompido quando escutou o choro de uma criança ecoar próximo dali juntamente a todo aquele movimento de pessoas conversando, ambulantes tirando o seu ganha-pão, ônibus indo e vindo, e questionou-se rapidamente: Qual era o motivo para querer cursar Jornalismo? Sair todos os dias da sua casa, não saber o horário que o ônibus passará e ficar plantada no ponto esperando e ainda ter que encarar o engarrafamento de Niterói? Porque, tenha piedade.... Seu atraso não era por querer, e sim devido aquele maldito trânsito.
 A fila finalmente tomou um bom ritmo, e a jovem subiu os três degraus do ônibus em que fazia a mesma rota de segunda à quinta-feira, o “boa noite” do motorista era garantido e agradecia por conseguir um lugar confortável pra sentar. Mas, a pergunta ainda era essa: Por quê?

 Enfrentar uma faculdade federal foi um desafio  começou, seu olhar estava distante, mas ela tinha ali sua ouvinte , eu estava tão assustada e com tanto medo... E se me rejeitassem? E se não gostassem? E se eu não fosse suficiente?  Indagou aquelas perguntas maçantes que rondavam sua mente.  Mas no fim, deu tudo certo! Resumindo todas as crônicas que o Pena nos mandou escrever, eu diria que a palavra certa foi "amadurecer", resumiria todos esses textos como forma de amadurecimento e crescimento, entende? Agora, eu me sinto um pouco mais preparada para expressar o que penso, o que sinto e ver as coisas com outros olhos. Aprendi a encarar os desafios. Você acha que é fácil falar sobre algo que não está dentro da sua zona de conforto? De você ter que saber lidar com críticas, mesmo que ninguém saiba quem você é?!  Não esperou nenhuma resposta, mas podia ver a mais velha que tanto acreditava em si em grande concordância  Não é, mas essa é a vida. Essa é, e foi a nossa maior lição de vida: o crescimento, o amadurecimento e a nossa coragem.  Um sorriso breve apareceu em seu rosto.  Não sei se estou pronta para a guerra, mas te digo, a primeira batalha eu já estou enfrentando.
Billie Jean.
Escreveu oito crônicas e fez 41 comentários.

Divagação

Parei pra ler cada parte das linhas que continham uma enxurrada de lágrimas que eu escondia no travesseiro todas as noites. Compartilhei-as como num surto, e talvez quisesse pensar em algo melhor pra compor o quadro que sou. São tormentos que me engajei em tornar leitura. Tempos em que me sinto desprotegida e não sinto o afago das palavras que tentam me guardar. Sonhos turbulentos sobrepondo os dias, sonhos esses que me guiam a um ciclo vicioso, onde não sinto pernas, mãos nem face.  
Nessa madrugada que vos escrevo, tenho a leve impressão de desapontamento. Levantei disposta a me permitir mostrar que não sou eu quem está descontente, é o entorno, e esse descontentamento tem me rodeado. Não sei se faço parte de lugar algum, nem se o que escrevo é o que tanto sangra aqui. Meu caderno de poemas que fica trancado, sente minha falta, e talvez, por ter perdido toda minha vontade de redigir, eu tenha esquecido.  
Estamos correndo perigo, aqui, lá. O período é sombrio, mensagens de ânimo chegam como abraços mal dados, proposições que ignoram os dias que fingimos dormir pra não ver o tempo passar. Falta verdade para sorrir além da boca, atingir os olhos e recordar sem horror dos sombrosos dias. Este dia me faz pensar nos próximos que virão, que tranquilamente falo sobre rancores, não sabendo se daqui a uns poderei sequer levantar uma palavra. Se eu resisti em cada vocábulo durante meus relatos ontem, convivo com a amedronta agora. Mas, persigo como nunca antes, por cada pausa, pra cada choro que engolimos para que pudéssemos exteriorizar o grito.   
Cada ponto final, vírgula, são como bilhetes ao meu eu, que precisa ser alimentado e se não encontro nas palavras o espelho para o que me torna inteira, afogo. Sempre tive esse encontro terno com a escrita e poder escrever para espectadores sedentos por inovo, é mágico. O uso dos meus referenciais do hoje nas minhas narrações são discretamente minhas linhas mal compreendidas aqui fora, que quando compartilhadas tem uma potência jamais entendida. Me olhar pelos olhos dos que me leem torna tudo ímpar. 

4 crônicas|15 comentários  

Lua Cortes

Pierrando

Pierrot, como muitos de vocês já sabem, é um personagem da comédia adelarte. Resolvi
escolher este pseudônimo porquê acho encantadora essa contradição do palhaço triste. É uma
imagem que me agrada, e queria criar uma identidade do meu pseudônimo com o tipo de texto
que eu pretendia escrever. Eu tinha a pretensão de escrever textos mais melancólicos, dai veio
a idéia de colocar um palhaço triste no pseudonimo. Começei com um texto sobre o Malcom X,
acredito que consegui o que estava me propondo, minha primeira crônica teve um aspecto
mais melancólico e com uns detalhes pesados, como quando descrevi sua morte enquanto
palestrava. Depois escrevi uma crônica sobre o meu avô, que tem um significado muito
especial para mim.

A verdade é que minha escrita variou muito conforme a temática da crônica, não consegui
implantar um estilo de escrita como eu estava imaginando que iria conseguir. E o mais
engraçado disso tudo, é que minha crônica sobre o sonho em que eu estava pelado em uma
academia foi a que mais repercurtiu, veja bem, queria dar um tom mais melancolico a minha
escrita e minha crônica que obteve maior repercussão foi justamente aquela em que eu chutei
o balde para o script e escrevi um texto de humor. Só mais uma entre as milhares de
"contradições" que embelezam nosso cotidiano. Para falar a verdade, até agora acho que
acabei honrando com meu pseudonimo, afinal na contradição do palhaço triste nasceu o
crônista que queria escrever sobre tristeza e ganhou voz falando sobre felicidade.

Pierrot

Crônicas produzidas: 6

Comentários: 23


Podcast 013 Rogerinho do Querô

Chegamos até aqui, como diz o Milton Mendes, "Que beleza hein!". Na minha primeira e digníssima crônica, eu fiz você, caro leitor, pensar comigo em qual artista eu falei sobre. Ficou muito fácil pra quem conhece e até pra quem não conhece. Se você não leu ou não sabe quem é, me faz um favor, volta lá e lê de novo. Depois que ler e entender, volta aqui e continua lendo. 
Agora você sabe leitor, quem foi o cantor maravilhoso que eu falei. O famoso ruivo, nosso gordinho. Enfim, após essa a próxima parada foi. Calma ai, tive que ir aumentar o volume da TV, tô aqui escrevendo com todo amor pra você e o Galvão deu um grito no gol do River. Chupa porcada, Mengão vai te pegar. Continuando, a segunda crônica foi sobre traumas e meu trauma foi da sardinha. Meu pedido não foi respeitado e você riu quando eu pedi pra não rir né? Agora você está lembrando que riu e está rindo de novo, moral tá em falta mesmo. Mas é sério meu povo, tá dando certo. Meu Mengão tá bem pra cacete no campeonato, rumo ao título! Máximo respeito à sardinha. Nossa terceira viajem foi pro mundo dos sonhos, meu sonho foi doideira. Nem eu entendi, sonhei com a minha ex, minha atual, fim do mundo, uma mulher que é chata pra um cacete que veio acabar com a minha vida e o pior de tudo, o mais assustador. Minha ex e minha atual eram AMIGAS, isso mesmo, amigas meu parceiro. Pra pôr um fim nessa loucura toda, fechei com chave de ouro a carta para minha prima, eleitora do Bolsonaro. Foi uma crônica morna, eu sei. Perdão, porém isso expressa realmente o meu sentimento sobre o tal acontecimento, sobre a política, na qual não aguento mais discutir. Foi um prazer inenarrável ler as crônicas de vocês, caros amigos. Comentar 28 vezes e fazer vocês lerem minhas 4 crônicas. Agora vou fazer um show, DJ Rogerinho não para, vou tocar lá no Querô. Quem sabe eu não faça uma crônica sobre esse show? 

DJ Rogerinho Do querô

Sobre Todas Elas

Já passava da meia-noite quando comecei a escreve-la. Estava nervosa pois era a
primeira, e não tinha muita noção do colocar nela, até que tive um estalo e percebi:
Porque não falar de alguém que contribuiu na minha decisão de fazer jornalismo? Ela
não possui título, mas é uma das minhas favoritas. Fala sobre sentimentos, infância,
ditadura e de anseios da juventude. E é engraçado como mudei. O medo que me invadia
na crônica da primeira semana não fez morada. Hoje, ele já não existe mais.
Em meio a sala escura eu digitava as palavras mais difíceis que escrevi. Sóis, mãos,
coxas, olhos e cheiro de Whisky. Foi a minha segunda. Um trauma que não é meu, mas
me afetou tanto que me dá arrepios até hoje quando lembro do som da voz de umas das
pessoas que mais amo nessa vida ao dizer ‘’ Ele abusou de mim ‘’. Crua e ríspida. Mas
com um final feliz, que também aconteceu na vida real.
Sonhos. A terceira. Foi a mais fácil de ser escrita, o sonho que mais tive na vida pôde
virar uma crônica leve e divertida. Além do mais, quem não gosta de sonhos,
superstições e bebês?
A quarta, foi escrita em uma quarta-feira. Não sabia o que escrever sobre o tema, pois o
que não saia da minha cabeça eram as coisas que queria me lembrar, caso algo
acontecesse. E foi assim, que minha lista de coisas para eu não esquecer foi feita. Ela é
especial para mim pois significa tudo aquilo pelo o qual passamos, e se tornou um
mantra na minha vida.
Aquele que não deve ser nomeado foi o tema das próximas duas. Cartas, não me
lembrava da última vez que tinha escrito uma, ainda mais sobre algo que me afeta. E
nossa, como a primeira me afetou. Foi difícil descrever os medos, sentimentos e a
sensação de revolta nela, principalmente, porque foi preciso dedica-la a uma pessoa
conhecida. Escrever para responder como se fosse essa pessoa, que um dia foi muito
querida, me obrigou a olhar ao redor com outros olhos. Mas logo, voltei aos meus
próprios. Eu não queria ver o mundo daquele jeito, jamais.
Infelizmente, não fui atingida pela ‘’Leveza de Gabriel’’ e não consegui escrever sobre
o último tema. Mas cá estou eu, com um sorriso no rosto e uma mão dormente,
digitando essa crônica sobre crônicas e percebendo que, a leveza que deveria ter
aparecido semanas atrás, finalmente chegou.

Cigana Oblíqua e Dissimulada 47

N° de comentários: 24
N° de crônicas: 6

Calourei.

Imagine o ecoar do Pena dizendo que o intuito é no final do período ficarmos felizes com a
evolução de nossas crônicas. Escrever cada semana tentando entrar na cabeça de vocês,
leitores, tentando saber qual entonação vocês vão ler o que eu queria muito que fosse agudo,
mas acaba numa grave reprodução. Sempre esperando que Alcione comente um “nessa você
atingiu o ápice do seu potencial, eu sempre disse que acreditei em você”, fantasiando
claramente uma possível nova amizade no final do curso. Ou aproximação de uma já existente.
A oficina proporciona essa produção para uma bolha tão fechada mas que permite escrever tão
mais livre a cada semana… Doces do ofício. E é da preparação da playlist enquanto escrevo -
que é quase uma soundtrack pra cada tema - até o aprimoramento a cada semana, nem que
seja microscópico, mas existente, na cega troca de ideias entre na sala do 401B do bloco A,
todas as quintas.
Agora na metade do curso, perto da confirmação de evolução, a busca pela identidade da
escrita quase desabrocha. Seja na inserção de valores morais, do coração partido, da mera
criatividade, escrever se torna o mais novo hábito de nossas vidas.

Alaska Pett

7 crônicas e 35 comentários.

Espero que haja tempo

Caros colegas de classe, começo essa crônica mostrando como me sinto essa semana. Ansiedade, desconforto, só um assunto nos cerca. Eu pego uma carona no fim das nossas aulas para voltar pra minha casa e as pessoas só falam do mesmo futuro sombrio que nos aguarda. Nesse momento, tento parar e refletir sobre os textos que já escrevi e compartilhei aqui. Principalmente sobre esse assunto frequente, eu já cheguei a passar semanas acessando sem parar o perfil de um dos tios que conseguiu que eu o excluísse de vez. Tentei pensar como ele, escrever os absurdos que eu escutei em dias de feriados na casa da tia que gosto tanto. Mas é difícil. Vejam bem, não queria viver uma bolha, mas cada publicação e textão com um tom de superioridade me choca e me magoa. É triste quando alguém que deveria ser nossa base representa o ódio e a falta de compreensão quanto a dor do outro. Em outra crônica sobre o presidenciável militar afirmei que me falta esperança nos resultados dessas eleições e sinceramente acredito que não sou a única. Agora, vejo olhares cansados dos meus amigos e sinto medo de ir nas ruas representando tudo o que acredito. Cada palavra digitada aqui já foi um desabafo em certas semanas. No início do período, escolhi compartilhar um dos momentos de angústia que já presenciei com apenas 12 anos. Acreditem, aquele verão me marcou a ponto de nunca ser tratado como o mesmo e nunca mais ser esquecido. Tinha tudo o que aconteceu como um segredo. Apenas tive coragem de contar anos e anos depois. E não fui a única, outras pessoas aqui me mostraram que isso foi recorrente. No entanto, semana passada optei escrever sobre um amor. Já me sentia esgotada em pensar no contexto caótico que estamos. Descrevi uma manhã calma, de carinho e admiração que me fez tranquila, confortável e consegui me sentir melhor ao lembra-lá e ao escrever cada detalhe. Talvez, em algum momento, nós todos possamos escrever aqui de forma leve de novo, sem pensar no que se aproxima. Como na primeira crônica, que falamos de artistas, onde eu optei escrever sobre uma cantora que tanto gosto, que é considerada uma diva pop, lembro-me de destacar a música em que na letra não importa sua orientação sexual, gênero ou cor, o amor próprio dever ser presente a qualquer momento. Ou quando retratamos sonhos, onde vi grande humor por muitos e eu fui responsável de mostrar uma forma descontraída um momento que deveria ser mais discutido abertamente, sem falar das minhas cismas, que volta e meia aparecem de novo. Mas pra falar verdade acredito que um dia tudo volte a ser como era, sem preocupações. Eu espero... Espero que dê tempo. Ainda quero escrever muito.
8 crônicas
14 comentários

Hippolyte Leon

Um mundo curado

Sempre me peguei pensando como seria estar em uma universidade federal. Queria
experimentar. E a experiência é o melhor curso que uma pessoa pode ter.
Logo de cara, houve um choque de realidade. É como se fosse outra dimensão. Em
poucos meses de UFF, compreendi que o senso crítico era a essência da faculdade.
Permitir reflexionar. Não é à toa que em um país retrógrado, onde uma suposta
“ameaça comunista” aparece incessantemente, a universidade federal seja
generalizada como um “antro de comunistas”.
Aonde quero chegar? Bem, posso dizer que grande parte dessa reflexão se deve às
crônicas.
Crônica sobre o Michael Jackson – ops, entreguei a minha figura pública -, crônica
sobre traumas, crônica sobre sonhos e, claro, as crônicas políticas. Tema, que eu diria
carro chefe do raciocínio.
Entretanto, a crônica que escrevo nesse momento foi, de longe, a mais pertinente que
eu fiz até agora. E o motivo é muito simples. Essa crônica, a meu ver, não é uma
simples junção de temas. É uma crônica empática. Já que, esse é um texto que
desenvolve, mais do que nunca, a empatia.
Foi possível, pra mim, me colocar no lugar do próximo na descrição de uma situação
traumática. Foi possível enxergar as pessoas oprimidas por atuações políticas. Foi
possível aprender a escutar e dialogar com quem pensa diferente. Foi possível e é
possível sonhar.
Acho que é válido afirmar que não sou a mesma pessoa desde a primeira crônica
realizada. E não falo isso apenas na parte da escrita e como estudante de jornalismo.
Falo também, como ser humano.
Fico feliz por ter escolhido, na primeira crônica, o Michael Jackson. Escrevi pensando
no artista que era e nos feitos da sua carreira. Mas acima de tudo, era uma pessoa
solidária e com uma enorme capacidade de provocar sensibilidade. Simboliza o
assunto.
Precisamos mais disso. Ligar para os outros. Afinal, não importa se você é negro ou
branco. Nós somos o mundo. Curá-lo é vital.

Peter Luís

Crônicas: 7
Comentários: 21

Sentido

Queria escreve algo que fizesse sentido, mas nesse momento não consigo.
Talvez seja porque não estou aqui. E, pra ser bem sincero, tem dias que me sinto assim, só metade. Pra falar a verdade hoje sou menos que isso. 
Temido pelo futuro como nunca antes fiz. E tenho lutado por ele de maneira tão intensa quanto.
No momento, consigo apenas fazer uma breve retrospectiva sobre os acontecimentos.

Lembro do medo e da dificuldade sentidos na primeira vez em me pus a escrever. Era tudo tão novo, tão diferente ... Onde buscar referências?
E traumas? Como falar de algo tão sensível com cuidado? Como se fazer compreender sem chocar?
Como escrever para o futuro sobre suas incertezas?
Como aceitar que não se é suficientemente tolerante? Que não se encontra o tom?
Não sei. São perguntas que, em meio a esse tsunami que se aproxima, insistem em vagar pela minha mente juntando-se a tantos outros questionamentos que talvez não façam nem mais sentido.

CastroADez

O que arde cura

Nos últimos dias, permanece em mim uma sensação indigesta. Um desconforto. E como
vivemos em tempos modernos, recorro a santa ajuda da internet para aliviar ou
confirmar paranoias. Segundo as pesquisas podem ser gases ou uma doença bizarra que
acomete menos de 1% da população. Estou convencido de ser apenas castigo pela
alimentação pobre das últimas semanas – faço aqui meu apelo ao retorno do bandejão.
Aceito até mesmo o peixe.
Deixo a análise de lado, afinal nunca entendi ao certo ter que explicar “como dói”
somente sentir. Contudo, reconheço a existência de diferentes tipos de desconforto, por
exemplo, uma outra forma desse frio estomacal sem azia ou borboleta, um desarranjo
que só o novo sabe causar. E o novo sempre vem. O princípio das coisas corresponde a
uma questão humana fundamental a qual religiosos, filósofos e cientistas buscam
solucionar. No entanto - para além dos estudiosos - o cotidiano confirma todos os dias
que a vida é feita de novos big bangs. Ali está presente a mais bela queimação de
estrelas. Lembro do nervosismo das diversas primeiras vezes tanto na escola como no
amor. E também da sensação glacial no começo do semestre, que se repetiu no primeiro
texto publicado aqui, provando que assim como no cosmos os medos não se perdem,
mas se transformam.
Devo confessar: não recordo todas as palavras escritas e tampouco sou o mesmo que as
escreveu. Revistei-as muitas vezes, busquei soluções e fui surpreendido por ideias que
julgo mais interessantes ao leitor quando já não havia mais tempo. Diante disso
compreendo que escrever é se expor mesmo quando se usa um outro nome, mas é
também dividir angustias e sonhos que podem fazer sentido ou ser tão-somente
absurdos. Para mim a atração pela escrita nunca foi mediada por vocação, mas pelo
ímpeto do esquecimento. Sinto pavor da possibilidade de qualquer doença relacionada à
memória, ainda que esta não seja concreta, bem como a escrita que pode enganar com
amarguras e alegrias forjadas. Todavia, escrever é por outro lado um instrumento de
resistência à passagem do tempo que ofusca a história. Sendo assim, no momento
presente de amnésica coletiva, tenho como diagnóstico final que o viver permanece em
sentir a acidez ventral de novas palavras.

Brás Cubas 171

Textos: 8 | Comentários: 22

Nunca pare de evoluir

Há quem diga que tudo na vida é questão de evolução. Atitudes, pensamentos e experiências tornam-se derivadas de algo abstrato baseado em uma crença. A evolução, por sua vez, descende da prática, que consiste na intensa tentativa de fazer algo certo. Analisando essa questão sob o ponto de vista da escrita, compreende-se que a evolução está nos dois componentes principais da mesma. A prática da escrita é essencial, uma vez que é necessário obter conhecimentos e mecanismos que irão dar sentindo a um bom texto. Por outro lado, analisamos o que vai ser escrito. E essa questão vem do escritor e da sua evolução pessoal. Ela varia de cada escritor, com base no que se vive, se sente e a forma que ele consegue pôr no papel. Pratique. Viva. Cresça. A evolução vem a partir da prática, seja em qualquer assunto e tema. 

Jerry Uffiano 

4 crônicas e 25 comentários

Um mergulho nos sentimentos

Me pego pensando no que escrever sobre tudo o que tenho escrito e preciso dizer: É um tanto quanto embaraçoso está análise. Escrever nos faz ter sentimentos tão inexplicáveis que não pensamos na hora, apenas o sentimos.  Sempre gostei muito de escrever, mas sempre fui tímida. Ao decorrer do semestre tenho visto e experimentado a sensação que a escrita e a leitura nos causam. Já se foram algumas crônicas e a sensação de poder se expressar, ainda mais anonimamente, tem sido maravilhosa. A timidez se esconde e a coragem e sentimentos escondidos libertam-se de suas amarras. Ser livre. Expressar meus sentimentos mais íntimos. Ler os sentimentos mais íntimos de outros. Sensações. Isso me faz sentir viva.
Escrever sobre temas em que eu nunca havia me envolvido, me fizeram experimentar um turbilhão de sentimentos ao qual eu nunca havia sido apresentada. Tem sido muito gratificante poder vivenciar a todos os sentidos em que a escrita me causa. Chorei e sorri fazendo minhas cônicas de cada semana. Em cada uma delas mergulhei em um mar diferente e me afundei em expressões irreconhecíveis de minha alma. Sigo ansiosamente por mais mares a serem atravessados e vasculhados.

Apenas Lispector

Nº Crônicas: 04
Nº comentários: 06

Progressão

Falar da sua escrita pode ser mais complicado que falar de si mesmo. Eu juro que tentei.
Quem nunca ficou sem saber como se expressar quando a assunto era vc mesmo? Falar
do sentimento na hora da escrita pode ser a solução, tirar o foco de você e levar à arte.
O primeiro sentimento que vem na cabeça é o da angústia do desconhecido, da dúvida
se vão gostar, uma neurose mais relacionada à afirmação.
Cada um mostra um pouco de si na escrita, a cada traço traz uma nova perspectiva,
alguns temas comportam maior expressividade, outros nem tanto.
Independente da temática, as escritas são feitas com a alma, ali está uma amostra do que
você é e sente. Mais importante que isso é a evolução, etapa à etapa, para chegar no
nível desejado e quando chegar, já vai ter um mais na frente esperando por você.

Mim Acher Descubra
6 crônicas| 33 comentários

EVOLUÇÃO DO ALMIRANTE

Em agosto, agora como aluno universitário, iniciei mais uma caminhada, dessa vez como
cronista. Confesso que tive minhas dúvidas em relação ao meu nível de escrita e acredito que a
cada postagem de minhas cartas no blog da turma me incentivo tanto quanto me surpreendo,
tendo em vista as reações de meus colegas de curso ao lê-las.
Não posso dizer que sou uma Alcione77 da vida, mas na real, acho que to no caminho certo.
Tenho em meus pensamentos que ao final do período me aperfeiçoarei ainda mais e quem
sabe, não vira mais um bom atrativo no currículo né não ?
Dei meu primeiro passo relacionando minha idolatria futebolista pelo menino Couto. Vai por
mim, esse cara é um mago de verdade com a bola, uma pena que jogando sozinho não se
ganha uma copa, pelo menos nos dias de hoje.
Na semana seguinte o professor me vem com o papo de trauma e disse que seria o tema da
próxima crônica. Tentei ao máximo não citar meus avós, mas não teve como, colega.
Foram momentos que eu não desejo pra ninguém, papo reto! Imagina, tu sozinho, aos 18
anos, mente só pensando em vestibular, namoro uma merda, sem falar que a relação familiar
nem sempre ajuda, às vezes pega a contra mão. Foi foda, mas eu to vivo né, vida que segue e
eu sigo por eles também.
O terceiro tema era sobre sonho, logo eu, que se me lembrasse o que comi nessa manhã já
posso considerar uma vitória. Detalhe, acordei não faz nem uma hora, mas quem sabe depois
do almoço eu lembro.
Minha crônica seguinte eu considero até agora a melhor, sem caô. Trouxe aquele comédia
facista pro meu mundo e deu pra conciliar legal, na minha cabeça pelo menos. Depois desse
maluco peguei até ódio do número 17, mas não vou guardar rancor, tá ligado.
O número não teve culpa, infelizmente foi mais uma vítima do cara.
A última antes dessa foi pro meu coroa. O admiro muito, porém também chego a me
decepcionar de tal forma que um, desculpe o termo, “pra caralho” se encaixa perfeitamente.
Sei que suas intenções são as melhores possíveis, na mente dele, mas ainda não desisti do meu
careca.
Por fim, me despeço com mais esse passo cronista semanal. Na próxima trocamos mais ideias,
já é? Ah! Mais uma, domingão tá chegando, vota consciente, vulgo 13!
Até por que seria uma “penna” deixar que as noites de sono perdidas pelo professor sejam em
vão.
Forte abraço!

6 crônicas
23 comentários

Almirante

entorpecido por sonolência

para, por favor...
esses sons estridentes que aconchegam meu ouvido não fazem sentido nenhum
me sinto como uma bolha flutuando no céu aberto, esperando o momento de estourar
e quando estourasse, eu só queria desaparecer mesmo
fugir dessa coisa corrida que é esse tal ciclo que tenho que percorrer pra sobreviver
agora dá pra parar?
pois cada vez mais eu queria trocar de lugar com você
parece que não sente nada
e continua flutuando
não sente essa pressão dos meus olhos que arruinou minha infância voltar em momentos de
ansiedade
só olha suavemente o que resta de bom de mim
não sente essa raiva descontrolada que me desconstrói dos meus próprios princípios
só vê o bebê chorão pedindo ajuda lá dentro e sorri
então por favor, para!
não quero sentir essa saudade de uma coisa real
mas que parece um sonho vivo-morto
que passa pelos lábios como cores quentes, amortecedoras
que me fazem dependente de um conforto impossível
desconfortável, pois não se sente
a falta dele é interna
e o que aprendi com isso tudo é que o problema sou eu
e agora, só quero aprender a voar como você

então quando chegarmos lá, não pare
não antes que eu diga

Julian Castella

Se meus pais e minha vó gostam de um texto meu, significa que consegui fazer ele ser bom do jeito que queria.
-Por que essas pessoas especificamente?
-Eles não tem hábito de ler. São pessoas simples mas transformadoras. Quero que minha escrita seja transformadora pra aqueles leitores que nunca perceberam seu potencial de ser a transformação.
-Você acha que sua escrita transforma alguém?
-É o que eu queria.
-E isso te deprime?
-O quê?
-Sua escrita. Te deixa deprimida achar que ela não transforma ninguém?
-Sei lá. Às vezes acho que tô me enganando.
-Como assim?
-Te falei da aula que faço, né? Lá todo mundo costuma curtir minhas crônicas. Fico toda boba. Chega a emocionar. Mas será que não tô falando mais do mesmo pro mesmo grupo fechado?
O terapeuta a observa. Cruza as pernas e franze a sobrancelha.
-Me fala sobre seus textos.
Ela se ajeita na cadeira e desanda a falar. Rápida e interruptamente.
-Olha, é o seguinte: o que eu quero mesmo é que minha escrita chegue em quem Clarice Lispector não chega. Não nasci pra ser Drummond nem Fernando Pessoa. Meus textos são pra quem tá puto no busão conseguir dar uma risadinha. Não vou fazer texto triste pra quem tá amassado no trem sem ar e com uma fome da porra porque o ambulante não tinha pele com bacon.
O terapeuta ouve tudo impassível. A observa com cuidado.
-Já pensou que talvez as pessoas queiram ler Clarice Lispector num ônibus cheio?
Ela não responde.
-Já pensou que o gosto popular às vezes não se limita à comédia?
Ela puxa o celular do bolso e vê as horas. O terapeuta muda de assunto.
-Qual dos seus textos as pessoas menos gostaram?
-Fiz um sobre medo de baratas. Era uma metáfora meio crítica social foda.
-Crítica social foda?
-É. A expressão é meio que um deboche. Sabe quando você se esforça muito pra fazer uma crítica social mas acaba parecendo um Gregório Duvivier?
-Como assim?
-Meio homens brancos que se julgam mais intelectuais do que são e que tentam desconstruir tudo.
O terapeuta arquea as sobrancelhas e dá um riso leve.
-Ué, seus textos não são exatamente assim? Você desconstruiu uma barata.
Mais uma vez, ela se cala.
Depois de segundos em silêncio, prende o cabelo num rabo de cavalo e cruza as pernas em chinês.
-Costumam dizer que nossas críticas são um espelho de nós mesmos, né?
O terapeuta sorri com cumplicidade. A observa com interesse e cuidado.
-Não sabia que você era psicóloga.
-Essa sessão tá me fazendo descobrir mais coisas sobre mim do que eu gostaria.
Pela janela, apenas o som dos carros passando na rua. O terapeuta quebra o silêncio.
-Me diz uma coisa. Qual foi seu melhor texto?
Ela pensa olhando pra vista do lado de fora. Faz menção de começar a falar, mas desiste.
-Difícil escolher?
Ela se ajeita na cadeira e inicia uma fala pausada e lenta.
-Eu sempre quis escrever comédia e fazer as pessoas rirem, mas depois de três textos me desafiaram a escrever algo novo. A experimentar literatura dramática. Fiz um sobre Bolsonaro e meus pais.
Ela faz uma pausa.
O terapeuta faz um gesto pra que siga em frente.
-Nada mais dramático que a relação com nossos pais, né?
-Por quê?
-Acho que eles não dariam muito valor pros meus textos.

Crônicas escritas: 6 (7, contando com essa)
Comentários feitos: 29

Alcione 77

Escreveu sua crônica como se fosse a última

GLORIA A DEUS. Eles gritam enquanto exaltam a tortura. Eles gritam enquanto a faca
é amolada, ensaiada e coreografada para atingir em cheio o seio da democracia
tupiniquim. Jovem, frágil e estúpida como qualquer jovem, frágil e estúpido, que usa
camisetas fascistas, que faz sinal de arminha, que dorme na aula de história, que compra
droga do menino da favela e que bate em mulher sempre que pode. Nem sempre com
socos ou tapas, as vezes apenas com um "nossa, ô lá em casa".
Mas são só crianças.
Meninos mimados que regem a nação desde 1500. Enquanto a chuva cai na cidade e
desmancha os arranha céus, ácida e doente, refletindo as almas que circulam por entre
as ruas sujas de papel eleitoral. Enquanto nesse site, falo sobre crescimentos, nesse meio
tempo, eu mesmo cresci. Já falei diversas vezes sobre aquele que não deve ser nomeado,
mas que depois aprendemos que não falar sobre, é pior. Já falei sobre amor, sobre
ausências, escrevi cartas que nunca enviei, chorei dores que nunca tive, escrevi com
meu próprio sangue tantas vezes, que mal consigo me sustentar de pé. Vivo em
constante anemia. O canto da praça perto de minha casa me alimenta. As vezes, é
melhor não ouvir. Sigo escrevendo enquanto escrever é preciso. E sempre é preciso. As
vezes imagino vozes, para não me sentir tão só. Mas assim como escrever e navegar,
estar só, faz parte do caminho. E se tem uma coisa que faço nessa vida, é me entregar.
Envelheço um dia de cada vez, tentando ser um pouco mais forte a cada amanhecer. Um
pouco mais sábio, se eu tiver sorte. Velhos mimados não podem reger a nação por mais
500 anos e eu escrevo isso para me lembrar. E quem sabe, se essas palavras daqui a 500
outros anos insistirem em ecoar: Deus lhe pague.

Ricardo Reis escreveu 8 crônicas
Comentou 20 vezes.

Ricardo Reis

RESUMO ALASCA YOUNG.

O tema era traumas, eu não sabia sobre o que falar. Na verdade sabia, mas eu não queria. O assunto
sempre foi um estopim para brigas lá em casa, e eu sempre viajando, mas é claro! eu só tinha 4,5 ou
6 anos, Mas agora já é tranquilo falar disso, a família da época já nem existe mais, tá um lá outro cá,
é fácil falar de algo que não mais te toca, por isso eu falei. Quando o assunto foi sonhos eu fiquei
maravilhada, imaginando o tanto de sonhos loucos que eu já tive e ia poder compartilhar em
formato de crônicas, mas aí precisei escrever sobre eles e nada passava de 4 linhas, que merda em.
Acabei escrevendo um antigo, um sonho que faz questão de sempre voltar pra mim, não significa
muita coisa, ou se já significou, não significa mais. E quando o assunto foi mais realístico, fiquei sem
muitas palavras, eu vivo isso. É pra falar de como serei afetada com um possível governo do B17 né?
Mais uma vez, usei uma inspiração. Fazer o que se minha família é cheia de dramas?
consequentemente sou afetada. foi triste escrever com tanto sentimento aquela carta, sobre uma
pessoa que significa muito pra mim, e sobre como ela está sofrendo nesse momento e sobre o que
ela ainda pode sofrer, e dessa vez não foi fácil falar, por que me tocou. Nas próximas semanas foi
tudo ficando mais pesado, a vida já estava mais pesada andar pelas ruas de Niteroí estava sendo
uma tortura. Acabei jogando um game comigo mesma, “quem ao seu redor provavelmente votou no
bozo?” Aquela senhorinha ali com certeza não. Fada sensata. Os homens héteros, infelizmente, já
eram julgados sem nem precisarem abrir a boca. E então eu ficava acuada, no meu canto como se
no meu bairro somente eu estivesse lutando contra isso, desgastada. Enquanto os eleitores dele vão
felizes passear. Não era para estar nessa divisão tão bruta. Agora preciso escrever sobre como virar
um voto? Mas eu nem sei o que é isso, meus projetos de debates só geraram bloqueios no facebook,
as pessoas não querem ouvir sobre as minorias, os casos de corrupção então? Fake news! com
certeza. Com tranquilidade eu converso com minha mãe, que sempre foi petista fiel, mas agora ela
está decidida a justificar. “O dia que eles pagarem minha passagem eu voto. Eu que não gasto 3,95
para eles me roubarem depois” Foi difícil, e segue sendo. Infelizmente, fui fraca e pulei os temas
seguintes, nem sobre a leveza do Gabriel eu conseguia falar, parece que tem um peso nas minhas
costas que só me empurram pra baixo, mas eu não pretendo desistir agora.

Nº de crônicas:4
Nº de comentários: 16

Alasca Young.

terça-feira, 16 de outubro de 2018

Oi...

Pensei no que eu deveria estar te chamando no começo dessa carta, mas eu diria que a dificuldade vem pela falta de contato que temos. Há tempos penso em como te contatar, além da incerteza se posso te chamar de vó. 

Além, gostaria de saber como estão as coisas por aí. Fico imaginando se sua pele já acompanha os anos e se seu coração envelhece. Se no chuveirão lá de trás, perto do pé de carambola, ainda estão minha infância e felicidades. Posso querer saber, também, a receita daquela baba de chocolate. Que saudade do nosso fim de tarde. 

Há tempos o ódio me consumia, mas hoje escrevo aqui como uma criança que só quer saber porque brigou com aquele colega, como se o estopim fosse aquele +4 no Uno. Sei os motivos mas não os quero nem os aceito. 

O tempo passou e possivelmente foi por isso que aprendi a lidar com a falta. Não que  algumas lágrimas, as vezes, não sejam descartadas, mas já não te desprezo mais. Sinto saudade das férias na sua cidade litorânea na região dos lagos. Do bronze em minha pele que reluzia o seu cheiro e sua amizade. 

Gostaria muito de poder marcar aquele café da tarde regado na mesa da sua cozinha, onde tenho certeza que a maresia pode trazer a maré mansa pra uma reconciliação. 

Até lá fico na dúvida se pensa em mim quando sente falta de um aconchego familiar, mas tenha certeza que um dia já foi um lar pra mim. 


Alaska Pett