sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Em uma sexta-feira 13

Mel sempre foi a minha companheira de todos os anos. Aos 4 anos, ganhei ela ainda filhote e, desde então, crescemos juntas. Seus olhinhos dourados quando me encararam pela primeira vez, fez eu querer ser mãe de uma gatinha aos 4 anos. Seus pêlos negros como meus olhos, reluziam na luz do meu quarto. Mansa, dócil, silenciosa, e aconchegante, me ouvia sempre que o mundo me calava. Quando menor, ela brincava de se enfiar na minha gaveta de roupas e me deixava desesperada pensando que ela tinha escapado. Ela foi ficando grande tão rápido e eu ainda tão pequena... Parecia que era ela que cuidava de mim. Nunca fui de ter muitos amigos na escola. Sempre muito sozinha, eu aguardava o momento de chegar em casa e ser recebida toda feliz pela minha gata. Eu sentia que ela era a única que me queria no mundo. A forma que ela pulava no meu colo e se embalava nos meus braços, me fazia esquecer todos os motivos pelo qual eu não queria existir. Vi nela uma forma de escapar da minha solidão. Conforme ia crescendo, minha companheira de todas as horas, foi ficando mais saidinha. Porém, ela sempre voltava. Eu contava algumas horas e ia esperar por ela na janela do meu quarto. Enquanto esperava, olhava as estrelas, observava a lua, não pensava em nada e nem conseguia. Minha mente era uma bagunça, mas assim que via duas bolas de gude me encarando na noite, eu me acalmava. Quando eu era pequena, ouvi minha mãe conversar por telefone com algumas amigas, e ela dizia que a gata estava sendo meu melhor remedio. Eu não entendi na época, mas agora, passado os anos, eu entendo com mais clareza. Em um dia, por volta dos meus 11 anos, em uma sexta feira 13 , voltei mais cedo da escola  por ter brigado com uma menina que havia me batido. Na época, fiquei atordoada, e só conseguia pensar em desabafar com Mel. Cheguei em casa procurando por ela desesperada. Vim o caminho todo quieta, enquanto minha mãe tentava conversar comigo. Abri a porta de casa e minha gata não estava por la. Olhei dentro da gaveta, olhei de baixo dos móveis, e ela não estava lá. Mamãe me tranquilizou, e disse que ela deveria ter ido dar uma volta. Então, como de costume, esperei na janela até o cair da noite. O sol desceu e as estrelas subiram e nada da minha bebê aparecer. Eu que já não tinha minha mente muito clara, esperei por muitas horas. Mamãe me chamou pra comer, pra ver televisão, pra brincar, mas não queria sair de la. Mel podia chegar a qualquer momento e se sentir triste por não recebe-la como ela faz comigo todas as noites. Mas depois daquele dia, ela nunca mais voltou. Fiquei por mais uma semana, aguardando todas as noites por um retorno que nunca aconteceu. Não derramei uma lágrima. Nem podia, nem tinha como. Depois daquele dia nunca mais fui eu mesma. Só fui descobrir que ela havia sido morta alguns anos depois, por um grupo de pessoas doentes com superstições de gato preto. As vezes, por egoísmo e ignorância, as pessoas fazem coisas que ferem as outras e, nesse caso, seres tão inocentes. A falta de senso, levou naquele dia, a minha companheira, e com isso, minha vontade de ser mãe de algum ser novamente.

Capitu Fiel

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