Sou fã das teorias
da conspiração, não porque acredite nelas, mas porque acho que elas dizem muito
sobre quem nós somos enquanto sociedade e nossos desejos individuais. Elas
criam a possibilidade da existência de um outro mundo, afinal, esse aqui é
chato demais.
É mais legal acreditar que a chegada
do homem à Lua foi uma armação americana, ou que o mundo é controlado por uma
sociedade secreta, ou que Michael Jackson forjou a própria morte e está
escondido em algum lugar, feliz e curtindo a vida no anonimato.
Quem segue essas teorias tem
praticamente o mesmo espírito de pessoas que acreditam até hoje na mitologia
grega, por exemplo. Ou dos que acreditam na influência dos signos. Vai da fé de
cada um, e quem sou eu para criticar? No entanto, mesmo histórias totalmente
ficcionais (como Star Wars, Harry Potter ou Senhor dos Anéis) guardam os seus
'fiéis'. Como explicar?
É a possibilidade de desvendar esses
universos secretos que alimenta as teorias da conspiração. Afinal, quem não
quer ser o herói que sabe o que ninguém sabe e revela grandes mistérios? A
excitação de ser o "arauto da verdade" muitas vezes é incontrolável.
O problema é quando a imaginação
passa a se sobrepôr a verdade. Um torcedor que diz que o Brasil vendeu a Copa
está preferindo o conforto da mentira do que a dor de perceber que não fomos
capazes de ser campeões. Abre-se a brecha para que um Trump vença a eleição
dizendo que aquecimento global não existe. Crescem ideias como "nazismo de
esquerda", "terra plana", olavetes e bolsominions. O
conhecimento técnico e científico perde força para o senso comum.
Quando eu era criança, gostava de
imaginar que estava em outros lugares, outras épocas, outra realidade. Era
divertido, mas sabia que era apenas uma brincadeira. Tomara que os adultos
também consigam manter sua lucidez. Ou será que já é tarde demais?
Polycarpo Quaresma
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