terça-feira, 1 de novembro de 2016

  DE QUEM É A ESCOLA?

   Nós não somos, de forma alguma, vagabundos. Não estamos fazendo o que estamos para ocupar nosso tempo. Temos idéias, preocupações e direitos que precisamos preservar. Por isso estamos aqui. Mas olha, vou te contar que é muito difícil. Ter que sacrificar vida pessoal, social, e até mesmo a estabilidade emocional pra não receber sequer um comunicado escrito exige uma força enorme.
   Eu mesma abri mão de muita coisa pra lutar aqui na ocupação. Estive ajudando a Karen, uma amiga minha que vai ser mãe solteira. Pobre, negra, periférica e menor de idade. Não digo a ela, mas rezo baixinho para que a sociedade pegue leve com toda essa situação dela. Também rezo muito pelo Lucas. Dois dias depois do enterro dele, vi a mãe dele ontem no mercado. Melancólica, e com toda razão.
   Conciliar todos esses acontecimentos com a ocupação é desgastante. Por lá também não está muito bom. Tem dia que faltam suprimentos, colchões, coisas de necessidade básica. Damos um jeito, como sempre. Temos que dar. Acho que o mais injusto é o jeito que o governo ta tratando tudo. Nenhum diálogo, nenhuma troca de idéia, nenhuma empatia. Só polícia, polícia, polícia. Esta que, no caso, foi treinada pra destruir seus inimigos ao invés de proteger o cidadão.
    Hoje de manhã vieram ter uma conversa séria comigo. “Ana Júlia, a gente quer ter uma conversa muito séria contigo”. Eu meio que já sabia o que estava por vir. Assim que percebi que seria eu a voz de milhares de estudantes, professores, e pessoas comprometidas pelo futuro da educação, me deu um medo no fundo, mas esse é um sentimento que eu devia sufocar. Há coisas maiores em jogo.
                                                            ...
  Tô saindo agora da assembléia. Nem sei como e de onde tirei tudo o que disse. Foi muita preparação, claro. Mas assim que vi aqueles rostos, os rostos que deviam nos amparar, proteger, tudo ficou branco. Não importava, tinha que falar. Tentaram por diversas vezes me silenciar durante minha fala, tive que engolir choro e me manter de pé por todos nós. Felizmente, cumpri meu papel. E espero que nunca esqueçam: “vocês têm sangue nas mãos”.


Kane 3000

15 comentários:

  1. O texto atendeu à temática proposta e apresentou algo leve de se ler. Bem como a apresentação de questões psicológicas em relação à personagem apresentada. Lingaugem simples e é fácil leitura.

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  2. Interessante o relato rotineiro do POV. Gosto do final forte. Por ter tratado diversas coisas, talvez tenha ficado um pouco corrido e assim veio uma impressão da falta de uma costura geral no texto. É tranquilo de ler e objetivo.

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  3. Um texto realmente fácil de ler e que rompe as correntes do lead. Além disso, ultrapassa os definidores primários abordando o psicológico da personagem em questão.

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  4. A linguagem utilizando termos como "vou te contar", "pegar leve", aproxima o leitor para o texto, mostrando ligação e informalidade, como uma conversa do dia-a-dia e isso é magnífico além de todos os pontos destacados anteriormente como fatores psicológicos e o POV

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  5. Achei interessante a contextualização da Ana Julia, entrando bem no tema e tornando seu texto criativo. Exerceu a cidadania por ter mostrado um pouco o sofrimento da estudante, e provavelmente dos outros ocupantes também. Gostei bastante do último parágrafo.

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  6. Acho que o que mais gostei no seu texto foi a oralidade usada, dá a sensação de que estamos em uma conversa, faz com que haja uma proximidade entre leitor e texto. O fato de o texto ter sido escrito no POV da Ana Júlia foi bem interessante, faz a gente se colocar no lugar dela e imaginar o que ela sentiu.

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  7. Houve algumas repetições que deixaram o texto cansativo, como se vc tivesse se perdido na hora de narrar coerentemente. A ideia de ser o POV da Ana Julia é otima porém um pouco clichê.

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  8. Acho que ficou meio corrido como falaram aqui em cima, e achei que algumas partes não ficaram tão amarradas, tipo "Hoje de manhã vieram ter uma conversa séria comigo". Mas gostei da oralidade!

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  9. O final é a melhor parte. O decorrer pra mim ficou um pouco desconexo, muito fato pra pouca palavra. Mas é um bom texto, e a questão da oralidade agrega bastante.

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  10. Achei que a proposta do texto é boa, mas nao sei se do início dá pra perceber que é a história da Ana Julia. Acho que se tivessem mais alguns elementos da representação do movimento fosse mais fácil de identificar. Ao invés das reticências, acredito que ficaria melhor explicar como foi a preparação para o discurso. O texto foi bem escrito!

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  11. Achei que a proposta do texto é boa, mas nao sei se do início dá pra perceber que é a história da Ana Julia. Acho que se tivessem mais alguns elementos da representação do movimento fosse mais fácil de identificar. Ao invés das reticências, acredito que ficaria melhor explicar como foi a preparação para o discurso. O texto foi bem escrito!

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  12. Clodoviu viu uma boa aproximaçao do texto com o leitor, o levando a realmente entender o ponto de vista de outra pessoa.

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  13. Achei seu texto criativo, boa ideia escrever no ponto de vista dela, ao contrario da Valdea Bennet achei legal o jeito que você escreveu e foi uma surpresa agradável perceber que estava vendo a situação pelos olhos dela.

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  14. Achei interessante o pov ser sobre a própria Ana Júlia. Mas achei o inicio massante, poderia ter uma abordagem melhor do discurso

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