terça-feira, 1 de novembro de 2016

Cálice

shhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!!!!!
Gasto uma linha em reprodução ao que se ouve todo dia. Ou em memória do que se poderia ter ouvido, de fato. Começou com uma aula em que indagamos a Revolução Francesa, segunda feira, primeira horário. Já estava beeeem acordada - perco o sono às cinco, meu sono leve me permite sentir a hora chegar. Sala cheia e eles olhando com certo medo transpassado pelo respeito e por tudo mais que falam de mim pelos corredores. Falamos de Revolução, das não datadas nos livros. Cada um de nós tem que fazer a sua própria revolução, dentro de si. Em silêncio, via cada um repensar minha fala umas duas vezes. Dois ou três anotaram na lateral da página. Eles já sabiam, porque está na mocidade.
Quando tentaram nos fechar como escola eu os vi chamando um por um para a luta. Acompanhei com minhas passadas demoradas suas revoluções ideológicas, as auroras e suas vozes cheias de vida e esperança. Sua mãos, leves, seguravam cartazes e toda a construção que fizeram, sozinhos, me fazia acreditar. Me faz. E quando mais uma vez se faz necessário voltar a unir vozes, as deles, que não se separam, entoam o que pode ser liberdade no futuro e, então, fundem-se a sua segunda casa e de lá chamam e gritam por educação. Não mais alinhados, em grandes quadrados e cabeças baixas e pulsos cansados.
Hoje, mais uma vez, estou ao lado deles. E, enquanto de medo e nervoso tremem com sua juventude ao tentar desbravar o que aflora revolução e pede por voz, perde-se ela meio a repreensões de microfones dominados pelos duros que representam a censura. As vozes e votos são de acordos deles para o futuro nosso. E nossa luta é por cada um que foi em luta. Luto. Deles foge a culpa e deles sai a responsabilidade. E se não é tua a responsabilidade do sangue que escorre, pergunte de quem é. Te ensino isso enquanto o tempo em sala me permite, enquanto minha idade gasta ou eles não me impedem. Porque de tanto escorrer está se enchendo e fadadas de silêncio as gotas ressoam o transbordar de todo esse
Cálice.
Derrube-o! Enquanto tua boca ainda é livre.
Ou restará bebê-lo.


- Oliver Fagundes

9 comentários:

  1. Ótima referência e metáfora com,
    "cálice", muito bem escrito, parabéns!

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  2. Ótima referência e metáfora com,
    "cálice", muito bem escrito, parabéns!

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  3. O texto todo está muito bem escrito, mas o final é o que sela a crônica como um texto forte. A referência foi muito boa!

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  4. O texto todo está muito bem escrito, mas o final é o que sela a crônica como um texto forte. A referência foi muito boa!

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  5. Achei que faltou uma pontuação mais adequado pois deixou o texto muito pesado. O conteúdo é bom mas pouco desenvolvido.

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  6. Adorei a metáfora com "cálice", e as referência foi ótima!

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  7. Linguagem forte, introduziu o texto de forma diferente da usual. E fez bem ao fazer uma referência totalmente inclusa no contexto atual

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  8. Achei o texto muito bom ainda mais essa referencia do cálice que usou com perfeição, porém achei a leitura tão fluída e um pouco confusa nos primeiros parágrafos. Outra coisa, bem legal começar o texto desse jeito

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