quinta-feira, 22 de agosto de 2019

   A anti-antologia de Felipe Pena, professor de Jornal 2019.2, busca a ressignificação de entretenimento e critica o papel dos escritores da contemporaneidade, que se preocupariam apenas com a vaidade intelectual de suas obras, e não com quem as lê. Trata-se de "Geração Subzero'', uma seleção de contos e autores que, apesar do apelo popular, andam na contramão em relação às críticas literárias.

   Eu diria que atribuir aos doutores acadêmicos a completa culpa à falta de interesse comum pela leitura é um pouco precipitado. A crítica, elitista por natureza, de fato contribui para que autores insistentes em retomar os experimentalismos e eruditismos dos séculos passados sejam elevados a um patamar acima daqueles que escrevem sobre completar 15 anos de idade; mas isso não ocasiona - nem ao menos impede - o sucesso ou fracasso de um ou outro. Paulo Coelho, por exemplo, é o escritor mais vendido de língua portuguesa de todos os tempos, e, com um eufemismo hiperbólico, não é muito bem visto pela crítica em geral. Ocorre assim, no livro, uma supervalorização da importância atribuída à crítica literária. Contudo, concordo que a própria imagem intelectualizada que se criou em volta da literatura, na verdade, é o que a afasta das grandes massas. Pena, portanto, propõe seduzi-las pela palavra com enredos ágeis e cativantes - o que não significa superficialidade, afinal, "escrever fácil é muito difícil" - e assim criar uma nova base de leitores e escritores a partir do "Manifesto Silvestre".  

   Há quem não saiba que um livro pode ser tão legal quanto uma novela ou um vídeo no Youtube, e que você não precisa ter lido toda a obra de Machado de Assis ou saber a biografia de todos os heterônimos de Fernando Pessoa para mergulhar nas letras e se afogar em uma boa história. A "Geração subzero" é uma oportunidade para descobri-lo. E quanto aos críticos, uma solução diferente, ao invés de tentar mudar suas opiniões enraizadas a partir de anos de estudos e preconceitos, seria simplesmente ignorá-los. Deixemo-los em suas cátedras de mogno, contanto que haja espaço para banquinhos de carvalho. Quem sabe um dia todos possam sentar.
Adam Sandler

3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Ótimo texto,repleto de coesão. Entretanto,a presença de uma linguagem complexa dificulta o entendimento completo

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  3. O texto é muito bom e coeso, chegando ao ponto de dificultar o completo raciocínio pela pluralidade de elementos... parabéns!

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