quinta-feira, 22 de agosto de 2019

            Resenha crítica da introdução de Geração Subzero

Cirúrgico, provocante e influente. Utilizo todos os três adjetivos sem nenhum receio para definir a introdução de Geração Subzero. O organizador do livro começa com uma apresentação curta e grossa de sua intenção ao reunir os nomes subalternos da literatura contemporânea brasileira, desconstruindo o conceito de entretenimento e reinventando seu significado de maneira ácida a fim de cutucar o leitor a embarcar na leitura das obras de seus autores selecionados os quais podem oferecer muito além de uma experiência erudita.

A maior parte da apresentação gira em torno de discutir a questão do conceito de entretenimento. Embora pareça que o organizador esteja com o intuito de proclamar um manifesto contra os cânones consagrados da literatura nacional atual à la Paulo Coelho, seu esforço crítico concentra-se mais em dar voz a escritores talentosos que nunca teriam chance no ambiente de “especialistas” que muitas vezes esforçam-se em voltar ao parnasianismo impondo uma métrica rígida para definir o que supostamente seria a arte digna de apreciação do público. Por isso, sua proposta não seria elevar o gosto do leitor popular, mas tecer um novo olhar sobre a ideia de entretenimento a qual, dentro da literatura, se parar para analisar aproxima-se muito mais de um jogo de sedução que cativa o leitor e o faz entrar em uma narrativa e evocar as mais diversas emoções. Sua ousadia vai mais além quando traz como argumento de autoridade o ilustre C.S. Lewis que melhor que ninguém poderia até mesmo traduzir a literatura como algo “puro e simples”.

Vale destacar também os três critérios de seleção que deu para gêneros execrados pela crítica bem como escritores desconhecidos a margem necessária para a exposição de sua imaginação à luz do “Manifesto Silvestre” que invocaria o naturalismo imprescindível para cada obra.

De modo geral, a introdução de Pena cumpre de maneira satisfatória seu dever de influenciar o leitor não especializado a embarcar no seu discurso e dar chance a escritores não cânones, pois nada melhor do que mostrar o quão próximo do seu cotidiano pode ser a escrita de uma geração fora do panteão dos “deuses” da literatura, deuses que mais parecem escrever para si mesmos do que para pessoas comuns e ordinárias.
DON DRAPER

2 comentários:

  1. Um ótimo texto, só senti falta de mais algumas vírgulas, principalmente no terceiro parágrafo.

    ResponderExcluir
  2. Excelente texto! Um dos melhores dessa "fase inicial"... só tenha mais cuidado pra não repetir alguns erros de pontuação.

    ResponderExcluir