sexta-feira, 14 de junho de 2019

Meu véio

 Estava ouvindo mais uma de suas histórias hoje mais cedo. A mesma que já me contou algumas vezes, mas sempre com algum detalhe diferente. Mesmo as repetindo, você sabe que adoro ouvi-las, discutir sobre elas, relembrar um passado que não vivi.
 Uma das que mais gosta de contar é sobre como o seu pai era apaixonado pela música e tocava violão como ninguém. Gosto que você acabou herdando e, apesar de não praticar o instrumento com o mesmo afinco, deixava sua mãe de queixo caído quando tocava o clássico "Jeux interdits" e o velho - como você sempre o chamou - morrendo de raiva quando ela dizia que você transmitia muito mais emoção interpretando tal canção. Certamente isso explica o quão longe você parece estar quando põe essa música para tocar. Nostalgia e saudade, sem dúvidas, se fazem presentes.
 Tais sentimentos me fazem lembrar, também, de quantas vezes fica cantarolando pela casa "tão longe, de mim distante, onde irá, onde irá meu pensamento" (Quem sabe - Carlos Gomes). e fala palavras nessa música que eu sequer sabia da existência;.Outra que adora relembrar é a das "touradas de  Madri". Ah, essa eu sei a história de cor e salteado. A famosa música entoada por mais de 150.000 vozes no Maracanã na Copa de 1950 quando o Brasil depachou a Espanha por 6x1 e que você era uma delas.
 Entretanto, nem só de quinquilharias é composto seu acervo musical. Lembro como se fosse hoje de quando me pegou ouvindo "Spending my time" do Roxette e se apaixonou ao primeiro ouvido. Na juventude dos seus mais de 80 anos, seu olhos brilharam, parece que haviam escondido um pote de ouro de você por anos e eu o entreguei na sua mão. Me fez colocar essa música até de toque do seu telefone. Outra que adora é "You're the still one" e, essa, confesso, também me faz viajar bastante. Lembro daquele seu Fiat Tipo, do cheiro das bugingangas que carregava nele e de todas as músicas daquele CD que parece que era o único que existia. Essa era a primeira delas.
 Ah, meu véio, só queria dizer que apesar de repetitivas, eu amo suas histórias.
 Muito. Mesmo.
 Olha, eu gostaria, de não mais gastar meu tempo mais com caprichos, por que sei que você ainda é o único. E sempre será.

E
U

T
E

A
M
O



 Meu melhor amigo. Meu pai. Meu véio.
Ana Thais Mattos

Mágica

Nos poucos segundos  de música já fico arrepiada, como mágica vem a sua imagem na minha cabeça. Ou melhor, a nossa imagem! Naquela praia, falando sobre o nosso futuro incerto eu só penso o quanto eu queria ter cada minuto do futuro ao seu lado.
Por que tão longe ? Por que tantos km nos distanciam assim? Todos aqueles momentos intensos que descrevo aqui nunca mais vão sair da minha cabeça. 

Como mágica você me beija, passa a mão na minha cintura e eu não me contenho. Um arrepio toma conta do meu corpo. Nunca senti isso por ninguém! Como pode uma pessoa que só vi uma vez, mexer com meus sentimentos ?
Quer saber... Eu me rendo! Me rendo a essa sensação incrível que é estar ao seu lado.

Me beija mais, não me larga. Por favor, não me larga! 
Puxa meu cabelo, me enlaça devagar, beija meu pescoço, tira toda minha roupa e me faz a pessoa mais feliz desse mundo. 
Como mágica você faz aqueles minutos serem os melhores da minha vida. 

O ritmo da música dita o nosso ritmo, e que ritmo incrível o nosso! Poderia passar o resto da vida naquele quarto ao seu lado, sentindo seu cheiro de Blue Chanel e me aconchegando no seu peito. 

Você me deixa em casa, me manda uma mensagem despedindo. E como mágica você se vai. 
Mas a nossa história não terminará como mágica, ela terá um final feliz, dignos de uma mágica super bem sucedida que todos aplaudem de pé. 


E quando me perguntarem:  Você  acredita em mágica ? Yes, I do.
Luz Luar

Raindrops keep falling on my head

Sem a música, a vida seria um erro. Não sei quem escreveu isso, mas essa pessoa tem toda razão. Como seriam aquelas festas de criança que a gente come feito vikings aloprados sem a música do "Super Fantástico, o balão mágico”? O que seria da entrada do Darth Vader sem a trilha sonora assustadora? Acho que se até o Mickey aparecesse com essa trilha eu sentiria medo. Como seria Phineas e Ferb sem a música icônica na abertura da série ou os comerciais sem o Dollyinho cantando a mesma música todo ano?

Casamentos seriam um saco sem uma playlist aleatória durante a recepção. E se não existisse a música “Parabéns para você”? O que cantaríamos em todo aniversário? Além disso, tenho certeza que todo mundo já conheceu um professor de matemática que criou uma pequena canção para que os alunos gravassem fórmulas que aparentemente eram impossíveis. O Carnaval, sem os hits inusitados de todo ano, seria um evento fúnebre.

A vida seria bizarra sem música.

Bem, eu preciso de música, para ser mais específico,  preciso de "Raindrops kepp falling on my head". O Homem Aranha conheceu bem essa música quando perdeu os poderes. Tento não dançar ao ouvi-la, mas é impossível não começar a sorrir com esse clássico. 
Momentos novos são sempre assustadores. A gente não sabe o que pode acontecer.  Março de 2019. Primeiro dia de trote na faculdade. A turma já tinha trocado mensagens, mas agora era “ao vivo”. Conhecer gente nova sempre foi assustador pra mim. “Vou ter que ficar pelado? Vou ter que dançar na frente de todos? Vão pintar meu cabelo para pedir dinheiro?A tinta azul costuma não sair direito”. Bem, mil coisas passaram pela minha cabeça e para tentar me acalmar... “Raindrops keep falling on my head”. Senti paz. Não tinha que me preocupar. Vai ficar tudo bem. 

Agosto de 2017. O câncer havia se espalhado em diversos órgãos do meu tio e a situação agora era grave. Eu nem conseguia olhar para ele deitado no hospital. De alguma forma, ele mantinha o sorriso. Naqueles momentos assombrosos aguardando por notícias, eu só queria paz e alguns minutos para acreditar que tudo ficaria bem. E então, mesmo com lágrimas, eu estava ouvindo a mesma música. “Raindrops keep falling on my head”.

Esses momentos sempre surgirão e vou buscar paz na melodia. A felicidade costuma não demorar quando toca essa canção.

Traduzindo quem sou em melodias improvisadas,
Joey Tribbiani

DREAM A LITTLE DREAM OF ME

Subversor justamente quando não é, o Cinema me captura pelos olhos, pelos ouvidos, pelos poros, pela ponta do pé: meu primeiro Nike veio daquele clássico do Tom Hanks, meu penteado é uma imitação barata do galã de ocasião, enxergo através de planos americanos, me visto de peça de marketing. Sinto que estou sempre em cena, sou um homem-cartaz, não pertenço a mim. 

Vivo como num filme de Chaplin, que é surdo em vez de mudo: eu sou capaz de capturar sons, os espectadores é que não. A maior força dessa simbiose reside na impossibilidade de viver qualquer cena sem trilha sonora mental, cadência dos meus passos.

Boas trilhas são chicletes de sucessos. Grandes trilhas são remakes eternos. Trilhas para a vida são sinestésicas. Quem me acorda é a sinfonia de Wagner, triunfo a Darth Vader. Porque músicas odiosas é que despertam, as sublimes fazem cafuné; em seguida, vou ao banheiro com o hit de Missão Impossível - cena censurada; meu Nescau tem gosto de Tim (-tim!): é chocolate que eu quero beber, dizia o merchan; sou Gene Kelly, quando tem água quente no chuveiro; o suor que me esbarra nas barcas exala o hino novelístico de Zé Ramalho; se eu chapasse, seria com os meninos de Liverpool e Lucy; e cada linha aqui é um degrau subido por Rocky Balboa. Como ele, qualquer dose homeopática de talento é potencializada por cavalares de afinco.

Troca a música, pois essa noite Ella veio me visitar. O elenco do quase ménage somos eu, Ela e de vez em quando uma discreta Norah Jones - voyer de sussurros. Entro fora do tempo, Ela diz que estou acima do tom, mas nada grave. Finalmente, entramos no compasso. Dedilho até ganhar aplausos do público. Eu que também assisto o solo. Brincamos à capela no refrão. Venero o clímax de seus agudos, até que peça bis. Nesse show de realidade, não há competição, apenas um dueto. Nessa guerra de saliva e papilas, não há vilões ou derrotados.

E é disso que trata a sinestesia: um híbrido entre erro cognitivo e percepção transcendental. Assim, toda noite recebo sua visita sem que suspeite. Os sopros d’Ella sempre trazem ventos D’Ela. Conheço tua textura através de notas. Sinto sem ter vivido. Que dó: não passa de um pequeno sonho de mim mesmo que assisto toda noite. Até que a música vai se esvaindo, sobem os créditos dos meus olhos sonolentos e novamente tenho que lidar com o fato de que não há som que se propaga no vácuo da solidão.
João Cadeado

Nightingale

O ano é 2013. Eu era apenas uma adolescente conferindo as mais novas músicas de
uma cantora que gosta. Uau, essa é muito dançante! Nossa, que letra profunda!
Caracaaa, achei a música pro crush! Pera, o que essa letra quer dizer? Me faz pensar
tanto em vovô, mas parece que ele morreu e estou cantando pra ele. Credo! Não vou
nem pensar nisso! Sim, ele é meu rouxinol. Amo tanto quando canta pra mim... Não
quero perdê-lo nunca!
Chegou 2017. Meu pássaro voou para o céu. Que dor é essa... Acho que jamais senti
algo parecido.

Você pode ser o meu rouxinol?
Cante para mim, eu sei que você está aí
Você pode ser minha sanidade
Me trazer paz
Cante para eu dormir
Diga que você será meu rouxinol
Alguém fale comigo
Porque estou me sentindo no inferno
Preciso de você para me responder
Estou sobrecarregada

Hoje, em 2019, escutar essa música me causa as mais diversas sensações...

Eu preciso de uma voz para ecoar
Eu preciso de uma luz para me levar para casa
Eu preciso de uma estrela para seguir, eu não sei
Eu nunca vi a floresta por entre as árvores
Eu realmente poderia usar sua melodia
Querido, estou um pouco cega
Eu acho que é hora de você me encontrar

Você é o meu guia, você é a minha luz. Como me sinto segura ao lembrar da sua
voz... Sabe, vô, sinto agora muitas saudades suas, muitas muitas. Lembro de como
cantava pra mim, de como me olhava, de como me auxiliava em cada passo meu... era
meu maior fã mesmo! Sinto um frio percorrer todo meu corpo, e uma lágrima ameaça
rolar sobre meu rosto. Estive perdida por um momento, mas agora me lembro de você e
posso ficar tranquila novamente! Sei que daí o senhor pede e cuida de mim, e é por isso
que estou bem! Agora é fácil sorrir ao escutar essa música, pois a tristeza da tua
ausência é logo preenchida pelo carinho da minha saudade. Sei que enquanto o seu
canto me guiar, continuarei no caminho certo.
Gratidão é o que sinto por ter dividido essa existência com você. Já já nos
encontraremos e verei a floresta por entre as árvores! Até breve, meu rouxinol!
Baby Shark

Silencie-se para sentir...

Silêncio. Nele eu escuto tudo. Me entrego. Ouvindo nada, escuto a mim mesmo, meus pensamentos, meus desejos.

Deixo fluir, e a cada ir e vir vejo a imensidão de possibilidades. Não me prendo a nada, flutuo entre as ideias. Permeio o que denominariam de impossível e insano. Aqui, no silêncio, eu posso tudo.

Sinestesia ampla, extrema, completa e complexa. Sinto tudo agora. Cada mínimo detalhe, aqui, nesse espaço em branco, nessa calmaria, não me passam desapercebido.

Pensando em cada uma dessas palavras, eu já viajei tanto...Pensei no que tenho que fazer hoje pensei propriamente em lhes escrever. Imaginei como seria viajar para a Itália. Olhei para a televisão e vi o programa da Fátima Bernardes, aff...Voltei ao meu real. 

Mas imaginei mais uma vez...O que as pessoas dessa recepção estão pensando de mim. Deve ser algo como, "ele tem assunto né", "que geração, só sabem se comunicar usando celular". E em partes, podem estar certos. Já que estou escrevendo na sala de espera do dentista, anotando tudo no bloco de notas do celular. Tudo isso porque, o Spotify não queria abrir minha playlist, para que eu pudesse me inspirar. E que contradição, pois cá estou, inspirado. 

Um momento...o que é isso que estou escrevendo.? Pra quem escrevo.? Eu não estou no aeroporto indo para a Itália.? Que cheiro de consultório é esse aqui.? Que barulho irritante de motor. Que revistas velhas e de decoração aleatórias são essas aqui.? Tudo isso na sala de embarque.?

Meu sexto sentido, agora, me diz que sou um mero escritor numa epifania de criatividade. Será.? Me perdi...foram tantas idas e vindas, pra tantas consciências, em diferentes lugares, quantas sensações...Em um simples silêncio. 

Percebi que no silêncio, mora a loucura, o desespero, os sonhos perdidos e distintes. É no silêncio que enxergamos tudo e ficamos calmos. Até perceber que é nele, que mora o caos da nossa sinestesia.

Na simples ausência de tudo. Só eu, aqui, comigo mesmo me descobri mais sinestético do que jamais imaginaria. Toquei-me ou na verdade, tocaram-me de que, somos sensação, sentido, imaginação, sonho, acaso. Somos tudo, somos subjetivos, anfigúricos e infinitos"Es".

Shakespeare Iludido

Singular

MÚSICA: COTA NÃO É ESMOLA- BIA FERREIRA

      Eu não escolhi Publicidade. Nem na graduação, nem na música. Até entendo que é gostoso escutar um Zeze Di Camargo e Luciano, um Justin Timberlake e uma Anitta. Mas sabe quando vocês arrepiam até o ultimo pelinho? A sensação de que aquela música tem uma função social e não apenas comercial? Quando as pessoas aplaudem ao invés de gravarem o show inteiro? É o que a Bia Ferreira faz. Não sei se conhecem, mas deveriam. E nem tentem escutar as músicas dela como se a tevê estivesse no comando: QUEIRA! COMPRE! TENHA!, mas como se o coração mandasse: SINTA! EXPRESSE! AME! 

      A primeira vez que tive contato com a música “Cota não é esmola”, que, até hoje, sou fascinado, foi ano passado. Em meio a tantos vídeos recomendados para apertar no youtube, eu vi um rostinho bravo, sentado numa cadeira sem encosto e segurando um violão como se fosse o próprio filho. Pensei que iria ser só mais uma artista que a gente enjoa de tanto escutar. Mas foi aí que ela começou a falar, falar muita coisa que precisamos ouvir por uma voz de raiva, porém, esperançosa. E lá estava eu, privilegiado por ser branco-alaranjado e hétero, levando tapas e mais tapas na cara durante sete minutos e dezessete segundos.

      Escutar Bia é sentir o Moçambique, os Brasis e o Sri Lanka no corpo. É despertar o que parece estar apagado. É jogar um balde de água fria, enquanto você estava dormindo. É dizer que o povo preto veio para revolucionar e que o belo definiu o feio para se beneficiar. É musica para educar e para se sentir incomodado. Você não vai relaxar, mas vai querer se mover, fazer revolução, escrever texto sobre como a sociedade é um ninho de cobras e mandar todo mundo escutar essa puta artista.

      Não é Caetano, não é Gil, não é Maria Bethânia. É Bia. Lésbica. Preta. Favelada. Militante. Gostosa. Empática. Transformadora. Aquela que quando era menor, chegou chorando em casa porque falaram que o cabelo dela era de bombril, mas a mãe logo resolveu, afirmando que, pelo menos, tem mil e uma utilidades. Pequenas coisas que escutamos nos modifica e, às vezes, para muito.

      Escutem essa incrível mulé. Não comprem a música. Sintam. Transbordem revolta pelo corpo. Dancem, mesmo que todo mundo esteja olhando. Sejam. 
Profundos.
Gato de Botas

Caça-borboletas

    As borboletas  no estômago, na verdade, percorrem o corpo todo. Para alguns elas nem começam lá na barriga. Dizem que vêm de uma batida forte do coração que faz formigar os membros.  Elas partem dali do meio e se espalham pelos pés, mãos e rostos. As famosas pernas bambas, mãos suadas e rosto vermelho. Parece que mexem com o sistema neurológico também porque, de repente, esqueço de respirar, de falar e, principalmente, de agir como eu tinha planejado mentalmente. Pior que elas nem avisam quando vão aparecer- mesmo que a gente tenha uma ideia – e seguem viagem pelo corpo até sumir. Ao menos era o que eu achava.
   “Jovem
   Me faltou ar, mas quero bis”  
  Talvez borboletas hibernem. Ficam ali escondidinhas uma boa parte do ano e reaparecem quando a gente se esbarra pelos corredores. Será que elas não aprendem com os erros?
  “Eu vacilei na primeira regra do rolê
  Fiquei doidão
 Liguei pra você”
  Eu deixei me entorpecer pelo bater de asas. Eu quis, elas não mandaram em nada. Mergulhei de novo nesse nosso turbilhão. Crescidos, com gente diferente e cenário diferente- não tão diferente assim, já que as paredes parecem ter ouvidos em todo lugar. E elas são seletivas também, só ouvem o que querem e quando querem. Têm livre interpretação para rechear a história como desejam e criar um enredo até mesmo para aquilo que era para ser só um epílogo.
“Me sinto jovem”
 Pensando bem, as borboletas não estavam dormindo. Elas tinham mesmo ido embora. Vieram apenas fazer uma visita depois de tanto tempo. Matar a curiosidade. No meio de música, dança e bebida- que momento propício. Mas é assim, não tem lugar, dia ou hora. Previsivelmente imprevisível, são jovens. Somos jovens. Há um mar de possibilidades tremeluzindo à  nossa frente e decidimos voltar atrás. Às vezes, serve para nos lembrar de continuarmos seguindo. 
Toca o barco.
Toninho Rodrigues

Burn the ships

A melodia inicia bem suave trazendo uma paz indescritível. A letra forte e objetiva se mistura a batida que aos poucos eleva, levando os pensamentos ruins pra longe. O que era tristeza transforma-se em esperança. E o que foi solidão, hoje é uma multidão de vozes.

Sentir um abraço ao ouvir a canção nos conduz a certeza que há um novo dia, e que podemos dançar sobre a mágoa. É preciso apenas cortar os laços e dar adeus. Pra que um novo caminho se abra a sua frente.

Mas o que seria da música sem a inspiração. A que você ouve agora talvez somente mais uma entre milhares perdidas em sua mente. Porém, sua história nos diz que um grupo de marinheiros estavam cômodos em seus barcos e não queriam explorar a nova terra. O seu líder unicamente os disse “Temos que queimar os navios. Este é um mundo novo”.

Portanto, nade contra a maré e enfrente os medos. A vergonha já ficou de lado e o que nos aprisionava, afogado está no mar de superação. Podemos respirar novamente. A preocupação foi deixada no cais. E a terra da alegria nos espera.

Então queime os navios e não olhe para trás.

Não olhe pra trás.
Não olhe.
Não.
Srta. Bridgerton

quinta-feira, 13 de junho de 2019

Três Porquinhos

Corre corre na cidade grande. As luzes se refletem nos carros que passam, preocupados apenas em chegar em casa rápido. Vive-se no automático. Um momento de reflexão ou apreciação da vida não existem mais. Tanta gente passa por aqui e estou só. O século XXI vai transformando os humanos em máquinas, e o meu único refúgio nesse ônibus é o fone de ouvido. Abro meu Spotify e boto a minha playlist favorita no aleatório, mas nada me agrada muito. Eu sinto que não adianta muita coisa. Até que decido ouvir algo que combina com esse cenário urbano desumanizado: Pink Floyd.

Pigs (Three Different Ones) - Pink Floyd
Play, Pause ----------o-------------------------------- 11:25

Pra falar a verdade, eu não conheço tanto assim a banda e nem escuto rock progressivo - até porque não tenho três horas do dia sobrando só pra ouvir uma única música, se me permite a hipérbole. Eu sempre imaginei uns tiozões que frequentam moto clubes ouvindo esse tipo de música. Mas até que elas criam um ambiente de certo conforto em meio a tanto caos. Toda a parte instrumental nesses onze minutos de música são espetaculares, e misturados com os grunhidos de porcos ao fundo e a parte lírica sensacional, essa música se torna um clássico instantâneo aos ouvintes.

Consigo me imaginar apenas sentindo as notas musicais da guitarra e do baixo passando pelas minha pele, relaxando todos os músculos. Trazendo uma paz que sinto apenas quando escuto músicas no ônibus - que é uma das melhores coisas de se viajar por muito tempo. O vento sopra pela urbis e trás uma lembrança sua.

Mas estou só.

Já nem sei dizer qual parte do meu corpo dói mais: A mente ou o coração. Bate de repente um desejo de romper limites e sonhar,

Um sorriso de uma criança me observando no ônibus. Isso me anima. Me faz querer viver mais.

A força pra agradecer presente em poucas almas. 
Encontra-se nos lugarem menos esperados.  


E esquece a dor.
Viúva Negra

Quando eu e Olivia dividimos um segredo

 De tudo que já senti na vida, nada foi tão marcante quanto o sentimento de vazio. Quando ouvi pela primeira vez Olivia O'brien cantando que estava vazia por dentro, que não queria viver, mas estava com muito medo de morrer, meu coração ficou apertado. Alguém me compreendia. E compreendia o de mais caótica que morava em mim. 
 Eu queria que essa merda não fosse tão tentadora, mas é difícil resistir quando há muito que eu poderia fazer para me foder. Admito que cogitei tirar minha vida mais do que deveria e gostaria. Seguir me arrastando pelos dias é cansativo, sabe? Mas não tem nada pior do que as coisas que faço pra tentar me manter viva. Eu busco meu sofrimento, minha própria dor. Vazio? Desesperador. Felicidade? Momentânea. A dor emocional foi o que encontrei como solução para sentir algo que durasse mais do que alguns minutos ou horas. Muita coisa acontecendo ao mesmo tempo. Eu gostaria que isso parasse, e eu tentei, mas a vida é apenas uma droga, então todos nós morremos. 
 Essa música deixa minha mente nublada. Me sinto pesada. Como se Olivia estivesse dividindo um segredo comigo. As vontades, as inseguranças, a ansiedade, a solidão, tudo compartilhado entre nós duas. Olivia, sempre que você se pergunta se é boa o bastante, eu me pergunto o mesmo. E eu também não queria um amanhã. Também queria apagar minhas memórias. Também não queria estar fodida. Também dou o meu melhor. Mas, infelizmente, eu também simplesmente não me sinto viva
Nix

( DEIXA by MARO playing...)

Eu me lembro que desde criança sempre gostei do urbano e da ideia do mundo ser um constante caos, sempre gostei mais da noite e do frio, de peixes mais do que de gente e de abraçar árvores. São algumas das coisas aleatórias que fazem de mim quem eu sou e ‘tá tudo bem.
Ser humano é estar no mundo, nessa bagunça toda, significa estar vivo e ter sentimentos. Sentir é estar à mercê das coisas ao seu redor, das pessoas. Sentir machuca e tudo bem querer uma pausa pra respirar. Viver pode ser cansativo ás vezes e, de novo, está tudo bem. Ninguém precisa ser forte o tempo todo, certo?
Essa música é sobre isso, sobre parar e respirar para encontrar a si mesmo, para lembrar o sentido e do porquê estamos aonde estamos. Nós sempre podemos recomeçar. Nós fazemos nosso destino e em alguns momentos precisamos nos afastar e observar de longe para encontrar a solução.
Respira, consegue escutar o nada e o tudo acontecendo ao seu redor neste exato momento?
Consegue sentir o vento tocando sua pele?
Eu consigo e sinto a paz de que as coisas são passageiras e que no fim, isso é incrível.
Por favor, tenha calma e paciência, seja gentil consigo mesmo.
“Não interessa onde
Quando, nem porquê
As vezes é preciso afastar
Então
Deixa deixa deixa deixa
Deixa deixa
Deixa por um segundo
Deixa deixa deixa deixa
Deixa deixa
Esquece o mundo”
Eleonor Dummont

Gaia

Música: Onaagh - Gäa

O sol ainda não nasceu, e eu tive que pular as grades de proteção para entrar no parque. Graças a pouca luminosidade, tudo que vejo são sombras desformes, mas sei que na verdade estou rodeada de árvores de diversas espécies espalhadas pelo gramado, que aqui e ali dá lugar a arbustos floridos. Pego o celular pra checar a hora: 6h12min, o sol está quase nascendo. Junto com o telefone, meus sapatos são descartados em um canto qualquer. 
   Inalo profundamente e fecho os olhos. Toda a minha atenção se volta para a sensação dos meus pés tocando a grama, úmida por causa do orvalho. Mexo os dedos dos pés e sinto uma textura áspera, porém reconfortante. Exalo. O vento gelado do finalzinho da madrugada toca minha pele, causando um arrepio que percorre todo o corpo. Ajeito minha postura. Pés separados na distância do quadril, palmas das mãos voltadas pra cima e separadas do corpo, topo da cabeça voltado pro céu. 
Tadásana, postura da montanha. 
   Aterre-se.
    Ainda de olhos fechados, consigo perceber a claridade que aumenta pouco a pouco. Ao abrí-los, lá está o sol, espalhando seus raios por aí, ainda de forma tímida. O céu começa a mudar de cor, o brilho das estrelas fica pálido com a vagarosa chegada do astro-rei. Embora comparar o brilho dos meus olhos a ele seja ridículo, sei que provavelmente demonstram fascínio completo. Poder contemplar esse espetáculo todos os dias talvez seja o maior presente que qualquer ser humano já recebeu. 
Súrya Námaskara. Saudação ao sol.
    Energize-se.
    Assim como o sol renasce, as outras coisas também. Aos poucos, é possível ouvir o som dos pássaros, insetos e outros animais se agitando. O canto de diversas aves, o bater das asas de uma abelha, as folhas que balançam com o vento... Os sons do ambiente se juntam ao mantra que eu entoo quase inaudivelmente. Loká samastá sukínô bávantú. Que todos os seres vivos vivam felizes e em paz, e que a minha existência contribua para isso.
    Inalação profunda. O cheiro de terra molhada e das flores recém desabrochadas invadem meu nariz. Exalação longa. Respirar fundo, sentir o ar frio entrando pelas narinas na inspiração e o ar quente saindo na exalação, prestar atenção em todos os odores. Estar no aqui e no agora
    Pertença. 
    A pausa para a água não desvirtua a prática. Desfruto de cada segundo que o líquido fresco permance em minha boca. Algumas gotas escorrem da garrafa e caem sendo atravessadas pelos raios de luz. É mais uma das coisas simples e de beleza absurda. 
   Seja grato.
    Cada movimento é feito com calma e fluidez. Alongar, torcer, sustentar. Cada postura carrega consigo um significado, cada transição é feita compassadamente com a respiração profunda e consciente. Viver o presente, olhar para dentro de si mesmo e também pra fora. 
   Conecte-se.
    Perco a noção do tempo e quando julgo já ser hora, me deito sobre a grama. Shavássána, postura do relaxamento final. Deixo todo o peso do corpo ir em direção á Terra, permito que os pensamentos fluam sem prestar atenção neles, e me foco nas coisas ao redor. A grama em baixo de mim, o vento tocando minha pele, o canto dos pássaros, o cheiro das flores...As sensações me inundam completamente. Não há passado ou futuro, há apenas o agora. A maior das sensações é, na verdade, uma certeza: a natureza é luz e vida, e eu faço parte dela. 
    Somos todos unidade. 

Namastê,
Leena Charpentier

É bonita?

A história que eu vou contar é sobre como eu e minha mãe, juntas, na hora do parto, ganhamos vida. E a vida o que é? Diga lá, meu irmão! 
Naquela época, era, literalmente, a doce ilusão de que tudo seria mais fácil: nove meses de gravidez, enxoval comprado, bercinho já posicionado, família ansiosa pela chegada da quinta neta. Tudo certo. Até que chegou a hora. A bolsa estourou. Era o momento. Tudo começou às nove e meia da manhã, no Hospital Geral do Rio de Janeiro. Colocaram minha mãe no soro para aumentarem as contrações. Mas ficaram fortes demais. É o tipo de dor que só quem sente, de verdade, consegue explicar.  
_ Vem desde o início das costas e vai se espalhando pelo corpo todo, parece que a criança vai sair pela tua goela. 
Ela é maravilha ou é sofrimento? As dores do parto são normais, toda mulher que põe um bebê no mundo passa por isso. Mamãe só teria que aguentar um pouco mais: a médica não seria a mesma que nos acompanhou durante o pré-natal, não queriam liberá-la para a sala de parto por julgarem não ser a hora certa. E pergunta se eu queria esperar? Contrações e mais contrações, a dor que se reverbera pelo corpo crescendo, a vontade de me colocar pra fora cada vez maior. Vem a enfermeira. 
Há quem fale que a vida da gente é um nada no mundo. Aquela mulher era uma dessas pessoas. “Quem te enganou que, pra ter filho em parto normal, não dói? Hahahaha Coitada...” Disse a cínica, olhando pra cara de alguém que delirava de dor, pensando que perderia um serzinho que foi tão planejado. Minha mãe gritava, sangrava, se agarrava nas grades da cama, suplicava, pelo amor de Deus, para que alguém salvasse a sua criança. Quando dizem que é luta e prazer, não evidenciam que lutar é tão difícil. Felizmente, a salvação veio. Literalmente, um divino mistério profundo em forma de médica.  
Doutora Patrícia, com sua pele branca e seus traços padrões, foi quem conseguiu, aos poucos, ir trazendo nossa força de volta. Mais de quatro horas já tinham passado. Era a única chance que tínhamos de nos salvar. Luta, mamãe! Por mim, por você. Sempre desejada, lembra? E foi assim: desejada, na raça, com as mãos agarradas nas grades e duas enfermeiras deitadas na barriga que minha mãe se lembrou da nossa música. 
EU FICO COM A PUREZA DA RESPOSTA DAS CRIANÇAS. É A VIDA. É BONITA. VIVER. 
E, de uma só vez, ela conseguiu. Depois de quase cinco horas. Ela, que nunca perdeu a beleza de ser uma eterna aprendiz, com sua generosidade absurda, me trouxe pra esse mundo. Eu, você, ela e até o Gonzaguinha (lá de cima) sabemos que a vida devia ser bem melhor. E minha mãe sempre faz de tudo para que, realmente, seja. 

Repetindo quantas vezes forem necessárias que é bonita, é bonita e é bonita,
Heloísa Dandara Pires

Infelizmente adolescente é uma merda

Sempre falaram para não associar música a pessoas, mas ninguém disse nada sobre momentos. Tenho uma convicção que se baseia em, se algo te lembra coisas que te fizeram bem, não tem por que não atribuir nada para lembrar. Por exemplo, Roupa Nova me lembra da infância, Araruama e o meu lugar favorito que havia lá, apelidado de “Restaurante que venta muito”. Sinto o gosto da picanha assim que escuto a letra de Dona.
Então crescemos e as memórias que geram mais felicidade passam a ser no círculo social que nós conquistamos. E a melhor história que tenho é a música que me faz ter o gosto de outra pessoa na boca e arrepios distribuídos por todo corpo: 505 - Artic Monkeys.
Ser adolescente é ser cheio de vida. Isso se traduz para: hormônios a flor da pele e fogo no fiofó. Junte isso mais a euforia das férias e a casa do amigo rico liberada para churrasco e noitada. O resultado só pode ser uma coisa: seres humanos aloprados. 
Então a noite cai, mas o ânimo não. Se antes eram 15 pessoas, agora são 10 e todas dormirão por ali. Na presença dos pais provavelmente haveria aquela divisão bem heteronormativa “Meninas em um quarto e meninos em outro”. Sem eles, dormem os dez em um quarto só. No chão mesmo, dane-se. Isso, lutinha, monta um em cima do outro. Dor nas costas? Nunca nem vi. O que importa é a zona.
Mas como em toda a festa, sempre tem alguém que passa mal.
Essa sou eu.
E não, não dei PT. A minha pressão que caiu mesmo.
Então, minha amiga, Camila, me levou para o quarto no andar de cima. Deitei na cama de solteiro e me entupi de sal e água. Tão rápido quanto veio, o mal-estar foi embora, entretanto nós duas continuamos conversando. Eu na cama, ela no sofá, do outro lado do quarto. Logo, Fernando, rolo da Mila, e Caio, se juntaram a nós. E aí soube que algo estava errado.
Sabe aquele casal de amigos que quer te juntar com alguém só porque sim?
Esses eram Mila e Nando.
Olhei no fundo do olho daquela guria. “O que você pensa que está fazendo?”. Ela não respondeu a pergunta mental, só deu um risinho, a maldita. Já estava planejando a minha estratégia de fuga. Não que o clima criado estivesse ruim, eles me deixavam bastante à vontade, com uma musiquinha do Artic Monkeys ao fundo e papos bem banais, como se estivéssemos realmente só num quarteto de amigos. Mas também não ‘tava bom, estava particularmente constrangida e sentei tão longe do menino que pareceu por um momento que ele tinha algo contagioso.
E não me leve a mal. Não é que eu não quisesse ficar com Caio. Ele era meu amigo, não era feio, nem bolsominion e me fazia rir. E vocês sabem o que falam sobre homens engraçados, né? Uma hora a gente está rindo, na outra está pelada. Só que mesmo assim, na minha cabeça, iria ter arrependimento na manhã seguinte. Com certeza.
Então eu não iria ficar com ele. Não iria.
Mas veja bem. A luz do quarto já estava apagada, a persiana entreaberta deixava o brilho da lua cheia entrar, nos tirando da penumbra completa. O momento estava tão leve a essa altura, e já estava tão mais relaxada que por um segundo achei que ficaria por aquilo mesmo. Nós quatro, dentro de um quarto, no fresquinho do ar condicionado, falando aleatoriedades no escurinho.
Mas não, o casal 20 tinha que estragar tudo ao começarem a se pegar ferozmente no sofá, fazendo os barulhos mais estranhos possíveis.
‘Tá de sacanagem, né.
O que eles estavam pensando? Que assim que começassem a se pegar, por tabela, eu e o consagrado também iríamos? Era ridículo, estúpido, idiota.
Idiota, idiota, idiota.
Tão idiota que deu certo.
Não sei bem, mas os acordes de 505 despertaram algo – e continua despertando toda vez que relembro esta memória tão vívida. Em algum momento entre ele se aconchegar perto de mim, com medo que eu fugisse, e aumentar a porra do volume da música ao máximo para não ter que escutar a transa com roupas ao lado, sentei nas coxas dele e larguei o foda-se.
O balde é meu e eu chuto e busco quantas vezes quiser.
O corpo dele estava quente em contraste com o ambiente, sua mão foi para a minha nuca. A mera lembrança dele puxando os cabelinhos ali presente me arrepia. O hálito mentolado bateu no meu rosto, inebriando meus pensamentos. Por que não queria isso minutos atrás mesmo? Então fechei os meus olhinhos e me deixei levar. Só para ele errar o alvo e beijar o meu nariz.
Isso é o que acontece quando duas pessoas que mal enxergam no claro tentam se beijar no breu. Fiquei congelada por alguns segundos e precisei conter o ímpeto de soltar um: Mano, que porra foi essa?
Decidi que iria ignorar que aquilo aconteceu. Se estava no inferno só restava aproveitar o passeio.
Tentamos de novo. Agora vai. O beijo encaixou direitinho, suas mãos percorreram meu corpo, numa carícia boa demais para a minha sanidade. A barba arranhava meu rosto de uma forma gostosa. Precisei me segurar para não mandar o meu anjinho da moralidade para a casa do caralho quando, depois de um tempo, seus beijos desceram para meu pescoço e colo. Suas mãos foram para dentro da minha camisa, tentando tirá-la e tive que lembra-lo que não éramos os únicos no quarto. Não que ele se importasse. Ou o casal. Mesmo assim preferi fazer com que aquilo não se tornasse uma suruba. Deixa para a próxima.
Tudo ia de acordo com a normalidade quando, do nada, Over the Horizon começou a tocar, interrompendo a batida indie. Em pânico, procurei meu celular, mas nada de achá-lo. Se eu não atendesse meus pais, era capaz de eles se solidificarem ali.
No desespero, quando fui desmontar do garoto, esqueci que aquilo era uma cama de solteiro e não havia mais nada do lado. Caí lindamente no chão, em cima de um violão que ali jazia, fazendo o maior estrondo possível.
Ninguém riu, todo mundo tenso. Levantei rápido, dolorida, e tateei o escuro a procura de onde vinha o som. Achei. Virei a tela para cima e lá estava: “Pai”.
Oi, filha.
- Oi, paizinho. – Não teve sequer um som de respiração no meu lado da linha, o que era estranho pois sempre que eles me ligavam os gritos clichês como “tira o cigarro da boca” surgiam.
Aconteceu alguma coisa? – Afastei o celular e olhei para a tela quase chorando. Como é que você sabe, cara?
- Nada.
A conversa continuou, e as pessoas ao meu redor me olhavam, sem paciência. Ciente de que estava atrapalhando o momento, tentei correr com a despedida. Finalmente desliguei o celular, um suspiro de alívio escapou dos meus lábios ao mesmo tempo que o quarto explodiu em risadas.
Ainda bem que meus amigos não perdiam o humor. Ou a disposição.

“I probably still adore you with your hands around my neck
Or I did last time I checked”
Capitu Oblíqua