Obrigado
Um dia cotidiano de trabalho, o sol nasce frio, os ventos são
calmos e o clima ainda é de uma cidade que está acordando, os passarinhos ainda
estão dormindo e apenas alguns cantam, não há carros na cidade, apenas os
ônibus passam, cheios, mas as pessoas mesmo em situação de desconforto por
alguma razão encontram-se solidárias e felizes, embora sonolentas.
Candelária, 5:40 da manhã, centro da cidade do Rio de janeiro, na
rua Buenos Aires, algumas ruas depois da igreja, o jornaleiro abre sua banca e
começa a limpeza da calçada que estava repleta de sujeira, esse não era o
trabalho dele, mas o lugar ainda estava vazio, não havia ninguém espiando,
então ele não via problemas em fazer um pouquinho do que vai além do seu
ofício, ele varreu toda a calçada que é grande, e então depois disso ele voltou
a banca e começou a destacar os jornais. A padeira chega cerca de 5 minutos
depois e compra um jornal, cumprimenta amistosamente o homem, abre a padaria e
começa a fazer os pães, então com muito afago ela já costumeiramente pega um
pão e passa a manteiga, esquenta o café e leva até o Padeiro que muito
agradecido toma o seu primeiro café, isso se repete sempre.
No ônibus o motorista cumprimenta os passageiros com um sorriso
muito bonito, embora faltem alguns dentes, e mesmo que inapropriado um
passageiro que era advogado senta próximo ao painel do veículo, e começa a
conversar amistosamente com o trabalhador. Nas ruas, o mendigo entrega suas
latinhas ao ferro velho que fica próximo a Providência, e recebe seu trocado,
que logo gasta justamente na Rua Buenos Aires, aonde tem o seu velho amigo o
jornaleiro que lhe vende a raspadinha, após o advertir sobre o gasto excessivo
do dinheiro nesse vício, e com suavidade o morador de rua agradece, e logo
atrás dele um toque de uma mão cheia de calos envolve seu ombro, uma voz
nordestina lhe cumprimenta com um bom dia, é o motorista, que acabará de chegar
ao ponto final e fazia sua parada de descanso.
Com um pão fresco na mão, o motorista o estende ao pobre homem, a
padeira observa feliz de longe a atitude do motorista. De repente todos olham
pra trás, era o Advogado desligando o telefone, e então cumprimenta todos, e
compra mais um jornal, e então começa a conversar sobre futebol com o motorista
e o homem de rua, era mais uma goleada do flamengo sobre o fluminense de 4 a 1,
e todos brincavam com o advogado tricolor e padeira logo se aproximou para
participar da rodinha.
No dia anterior, a padeira tinha arrumado a casa inteira, ela
estava muito cansada, e pensar que o jornaleiro tinha varrido o chão e
adiantado o serviço dela, foi maravilhoso, um verdadeiro alívio. Obrigado... O
jornaleiro sempre acorda atrasado e nunca toma café em casa, entretanto a
padeira sempre lhe entrega seu pãozinho com café e mata sua fome. Obrigado... O
motorista tem uma rotina estressante, mas dirigir de manhã com os passageiros
mais simpáticos reduz o seu nível de stress, ele agradece. O mendigo passou
fome a noite, e está agradecido pelo pão que comeu graças ao motorista. O advogado
estava triste pela derrota do seu time, mas ficou feliz porque seus amigos
animaram o começo do seu dia.
Mais um dia no Rio de Janeiro, a cidade que todos se lembram pela
sua violência, desigualdade, sofrimento. E que todos se esquecem da sua
solidariedade, da gratidão do carioca.
Piper Chapman