A
culpa não é das estrelas, é das células
Eu
tinha 12 anos quando fui diagnosticada com Carcinoma de Células Grandes, câncer
no pulmão, estágio IV. Aquilo
definitivamente não foi esperado, foi um baque, um choque, um soco bem na boca
do estômago, sabe? Daqueles que doem à beça. Minha mãe chorou durante dias e
meu pai ficava repetindo que aquilo não estava acontecendo. Não com a menininha
dele. E eu só tentava ser forte, o mais forte que eu podia ser. Por eles. No
fundo, eu sabia que ia morrer. Eu só não pensei que ia demorar tanto.
Comecei
o tratamento assim que descobri que tinha uma doença que estava me matando aos
pouquinhos. Minha vida acontecia dentro de hospitais com agulhas espetadas por
todo o meu corpo, eu não ia mais à escola, nem ao cinema, nem brincava com as
minhas amigas. Eu só ia para os hospitais e esperava ansiosamente o dia em que
eu não precisaria mais ir. Meus pais também não aguentavam mais esperar por
esse dia. Mas acho que eu e eles tínhamos uma noção diferente de como ia ser
quando esse dia finalmente chegasse.
Veja
bem, eu não sou suicida. Mas eu já não tinha cabelo, amigos, diversão. Eu só
tinha uma careca e minhas amigas eram as enfermeiras que aplicavam drogas todos
os dias em mim sabendo que aquilo não estava funcionando. Eu tinha pais que
estavam gastando mais do que podiam com um tratamento que não ia me curar. Eu
tinha uma esperança que a velha amiga Morte me buscaria logo. Eu tinha só essa
esperança.
E
ela veio.
Dois
meses depois, faltando uma semana para o meu aniversário de 13 anos, ela veio.
Eu a senti chegando, meus pais também. Minha mãe me abraçou até o fim e meu pai
segurou minha mão até ela ficar gelada igual a um picolé. E aí eu morri.
Aceitei a morte como uma velha amiga e parti desse mundo junto a ela. E
finalmente, eu estava livre.
Afrodite
Ótimo quebra de expectativa, como a descrição/situacao estava bem parecida com a da Hazel Grace eu fui formando um desfecho igual ou parecido na minha cabeca. Foi interessante também por ter abordado o tema da morte como livramento e nao no sentido usual, ruim
ResponderExcluirTexto bem diferente, ótimo! É muito bem escrito e tem estratégia narrativa com operador de intimidade. Legal como a morte é tratada como o objeto de gratidão.
ResponderExcluirPs: o título com referência a Culpa é das Estrelas é muito criativo.
ExcluirMUITO legal esse valor que você atribuiu à morte, num sentido de gratidão mesmo. Acho que as pessoas têm dificuldade em enxergar isso, mas a morte realmente pode ser libertadora em alguns casos. Mesmo assim, acho que todo mundo tava esperando um final em que ela seria grata por ter sido salva, ou algo assim, então o desfecho final foi bem interessante também.
ResponderExcluirGostei muito do texto. O POV apresentou-se em sua totalidade e o título fez-se bem contemporâneo. Muito interessante o debate que a autora trouxe em relação à eutanásia e mostrando como que o individuo lida cm isso, determinando um pouco de empatia e cidadania também. No texto porém, tal procedimento n foi utilizado, mas a problemática homem/morte ainda ficou no ar , em específico na escrita, com a presença da gratidão. A questão psicológica também foi mt bem utilizada por apresentar um personagem marcante, com uma história forte e com conflitos existencais. Entretanto, sinto q a linguagem deveria ser bem melhor explorada, não vejo evolução das palavras que impede um enriquecimento maior do texto.
ResponderExcluirA gratidão implícita na morte é muito interessante. Acho que seria mais profundo se utilizasse um pouco mais de uma linguística mais descritiva e sentimentos por parte do POV. Levanta questões sociais e deixa um questionamento se foi uma morte lenta e, digamos, natural ou se entra o tema da eutanásia. As relações do título com obras já conhecidas é uma sacada para chamar atenção do leitor.
ResponderExcluirEu fiquei esperando que a personagem fosse morrer bem depois, tipo a Hazel mesmo haha. Bom, através da referência à A culpa é das estrelas e utilizando o operador de intimidade o texto ganha empatia dos leitores. A quebra de expectativa no final, tanto por a morte chegar e pela personagem ter gratidão pela morte poderia ser mais explorada, por exemplo, contanto porque ela estava pior, o que tinha acontecido.
ResponderExcluirO título é muito criativo, usando uma referência muito atual. Gostei de como o assunto foi tratado ao longo do texto, e principalmente de como a morte foi retratada. Como um alívio, e não uma derrota. Parabéns.
ResponderExcluirO título é muito criativo, usando uma referência muito atual. Gostei de como o assunto foi tratado ao longo do texto, e principalmente de como a morte foi retratada. Como um alívio, e não uma derrota. Parabéns.
ResponderExcluirAdorei esse texto, muito inovador e profundo. A forma como a morte é tratada, como sendo algo de salvação ao invés de algo negativo, serve para mostrar que, dependendo dos casos, a morte nem sempre é pra ser pensada como algo triste e sim como algo bom para aquele que estava sofrendo antes de ela chegar para ele e esse pensamento pode muitas vezes servir para ajudar familiares e amigos que sofrem com a perda.
ResponderExcluirPS: As referências à "A Culpa é das estrelas" no título e à parte do conto dos três irmãos em "Harry Potter e as relíquias da morte" na penúltima frase também ficaram bastante legais na crônica.
Esse texto tem uma mensagem muito bonita. Aceitar a morte como algo natural e implícito à vida é uma característica bonita no seu POV. Gostaria de um pouco mais de sentimentos trabalhados, mas isso não influi na qualidade do texto. Muito bom, mesmo!
ResponderExcluirTexto bem escrito, mandou bem na familiaridade com a morte
ResponderExcluirBem tenso e emocionante o POV abordado.
ResponderExcluirEmocionante e talvez o melhor título que vi por aqui. Muito bem escrito, só não achei tão original.
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