quarta-feira, 27 de março de 2019

Frenética

 Não muito certa de que dia era, ela abriu os olhos, se acostumando lentamente com a claridade e com os sons que invadiam o quarto. Carros de corrida pareceriam lesmas em comparação com o ritmo frenético com o qual os pensamentos invadiam sua mente. Mesmo meros segundos depois de acordar, lá estava, pairando sorrateiramente por todas as células de seu corpo. Ansiedade. Era como se dormir fosse a única forma de desligar sua mente, como se uma bateria infinita sustentasse seu cérebro.
 O transtorno de ansiedade fazia parte de sua vida a tempos, era verdade, mas naquela semana o seu velho e inoportuno companheiro parecia fazer questão de saudá-la a todos os monentos. Horas de viagem, e se você se atrasar? Será que você vai conseguir pegar o ônibus? Você faz ideia do dinheiro que  gasta todos os dias pra isso? Seu pai sempre reclama do quão exaustivo o trabalho está se tornando, você não deveria tornar isso pior. Fechou os olhos. Suspirando, levantou-se rapidamente da cama, tentando ignorar a voz irritante com quem tinha que dividir diariamente a parte sã de sua consciência. Aquele era seu sonho há anos, e ela nunca deixaria suas inseguranças e sua saúde mental abalada atrapalharem algo que finalmente estava se tornando realidade, nem que pra isso tivesse que se afogar em seus remédios. Talvez isso não seja uma má ideia. Mais algumas pílulas e você pode acabar com tudo isso... CHEGA DESSA MERDA! O silencioso grito de sanidade foi o suficiente para que ela escapasse da espiral de paranoias que a atormentavam, e assim ela começou o dia.
 Sim, toda aquela situação era nova, diferente, e aquilo mexia com sua cabeça. As coisas não estavam acontecendo exatamente do jeito que ela haiva planejado, e talvez novas apreensões estivessem se juntando às antigas, talvez algumas questões não estivessem se resolvendo de maneira tão simples como ela pensava. Apesar de tudo isso, ela sabia que precisava continuar. Assim, caminhou pelo quarto até chegar na frente do espelho, onde via o reflexo de seus olhos brilhantes, que escondiam todo um universo dentro deles. Suspirando mais uma vez, se encarou e sorriu para si mesma. Havia sobrevivido até ali, passado por tantas situações em que se sentiu sem saída que nem ao menos poderia contar. Ela passaria por isso, tinha certeza. Sabia que conseguiria, mesmo que a parte irritante de sua mente insistisse no contrário. Enfim, tomou coragem e foi fazer o que desejava há muito tempo: viver.
Leena Charpentier

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