Amar, um sentimento de carinho e afeto. Tão simples mas tão escasso no mundo.
Antes mesmo de tomar consciência do que era viver, meus pais já tinham me levado à igreja. Lugar onde se pregam boas-novas, prosperidade, redenção e… amor!
Louvores sobre comunhão eram entoados todos os domingos de manhã onde eu estava antes mesmo de poder dar bom dia para minha pobre alma infantil que só queria mais uns minutos de sono, afinal, que criança quer ouvir um coral no lugar de um bom desenho animado? Sequencialmente liam versículos que precedem as pregações com os mesmos discursos, mas mudando apenas quem falava. Chega a ser clichê citar o famigerado “Ame ao próximo como a ti mesmo”, mas aparentemente na igreja dá a sensação de amor profundo ao seu irmão se você ler isso em voz alta (ainda que não praticando).
Passei toda minha infância e adolescência nessa igreja, era amado por todos. Sempre fui uma criança cativante e por isso conquistei diversos espaços na igreja. Me amaram quando eu cantei nos cultos, me amaram quando eu participei de bazares beneficentes, me amaram quando eu vendia doces para arrecadar dinheiro para a igreja, me amavam quando eu era quem eu não era de verdade. A igreja amava o fantoche doutrinado que servia sem contestar nem andar com as próprias pernas.
Eu sempre soube quem eu era. Era doloroso sentir atração pelo mesmo sexo num ambiente que trata como escória quem nasce assim, mas até então eu era querido por todos… nada disso importa, eles me amam! Amam?
Me odiava e me culpava todos os dias por ser quem eu era, fui à retiros torcendo para Deus me livrar dessa “sujeira” que me levaria para o inferno. “Deus, tira de mim essa vontade, eu te imploro, sou seu filho” essa era minha oração por toda minha infância e adolescência. Eu me odiava por conta daqueles que deveriam me amar. Me punia toda vez que sentia atração pelo mesmo sexo: me cortava, me batia, ficava sem comer e cometia homofobia achando que ajudaria em alguma coisa. Eu odiava ser eu, sentia nojo da minha pessoa por conta de doutrinas religiosas.
Resolvi ser eu. Uma escolha que eu acreditava não ser tão difícil por me sentir amado, mas era tudo falácia, eles só amavam o meu eu servo, submisso e infeliz. Como pode alguém te amar e querer sua infelicidade? Sendo eu mesmo, eu vivo e sobrevivo. “Filho do diabo, enviado de satanás, maldição…” Foram coisas que ouvi no lugar em que eu podia jurar que me amavam.
Hoje eu me amo, sou do jeito que eu deveria ser! Não tenho mais nojo ou vergonha da minha pessoa. Não somos pecadores nem aberrações, somos humanos com sonhos e desejos. Desejo de ser amado.
- Vixen Rox
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