quinta-feira, 21 de setembro de 2023

Véspera de feriado

O número 6 é assombrado. Não porque dizem por aí que ele pode ser demoníaco ou por

seu significado na numerologia, mas porque, coincidentemente, há 6 anos atrás ele se

tornou o dia mais dolorido do meu calendário.

Quarta feira, 6 de setembro de 2017.Lembro perfeitamente de cada detalhe. Véspera do

feriado da Independência. Terminando de me arrumar para viajar, meus pais entraram no

meu quarto pra me alertar sobre os cuidados que deveria tomar na viagem, mas foram

interrompidos por uma ligação da minha melhor amiga. Nós deveríamos estar no curso de

inglês que fazíamos juntas. Não fui por causa da viagem, não daria tempo. “Por que ela

também não foi? O que será que aconteceu?”, pensei. Atendi na mesma hora. “Eu não

tenho mais mãe”, foi a resposta que ela me deu. Oi? Como assim? Devo ter entendido

errado. “A minha mãe morreu. Ela se matou”. Foram essas as palavras que amaldiçoaram

os dias 6 pra sempre.

Tínhamos 12 anos, nossas preocupações eram que caneta usar pra anotar uma matéria

qualquer de Ciências ou Matemática no caderno e qual tênis usar pra ir combinando na

festinha do final de semana. De um dia pro outro se tornaram como seria pra ela terminar a

escola, já que seu pai morava na Barra e sua mãe era sua única familiar em Niterói.

Praticamente adotada pela minha família, moramos juntas por 4 meses e nossa relação se

tornou uma irmandade. A dor da perda da sua mãe era minha dor também. Seu luto

também era o meu. Vê-la sofrer e não poder fazer nada era o pior castigo que eu poderia

receber. Chorávamos juntas, sofríamos juntas, tudo que doía nela, doía em mim, quase que

por telepatia. Mas o tempo foi passando, no final do ano letivo ela foi morar com pai e eu

agora tinha uma irmã à distância.

A gente sabe que, apesar da Ponte Rio-Niteroi entre nós e dos rumos na vida totalmente

diferentes, o coração dela sempre teria o meu pra acolhê-lo quando a lembrança do trauma

viesse à tona. E não há nenhuma distância capaz de impedir que a gente esteja perto todo

dia 6 de setembro pra se proteger da solidão específica que esse dia causou nas nossas vidas.


- Juno Lino

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