O número 6 é assombrado. Não porque dizem por aí que ele pode ser demoníaco ou por
seu significado na numerologia, mas porque, coincidentemente, há 6 anos atrás ele se
tornou o dia mais dolorido do meu calendário.
Quarta feira, 6 de setembro de 2017.Lembro perfeitamente de cada detalhe. Véspera do
feriado da Independência. Terminando de me arrumar para viajar, meus pais entraram no
meu quarto pra me alertar sobre os cuidados que deveria tomar na viagem, mas foram
interrompidos por uma ligação da minha melhor amiga. Nós deveríamos estar no curso de
inglês que fazíamos juntas. Não fui por causa da viagem, não daria tempo. “Por que ela
também não foi? O que será que aconteceu?”, pensei. Atendi na mesma hora. “Eu não
tenho mais mãe”, foi a resposta que ela me deu. Oi? Como assim? Devo ter entendido
errado. “A minha mãe morreu. Ela se matou”. Foram essas as palavras que amaldiçoaram
os dias 6 pra sempre.
Tínhamos 12 anos, nossas preocupações eram que caneta usar pra anotar uma matéria
qualquer de Ciências ou Matemática no caderno e qual tênis usar pra ir combinando na
festinha do final de semana. De um dia pro outro se tornaram como seria pra ela terminar a
escola, já que seu pai morava na Barra e sua mãe era sua única familiar em Niterói.
Praticamente adotada pela minha família, moramos juntas por 4 meses e nossa relação se
tornou uma irmandade. A dor da perda da sua mãe era minha dor também. Seu luto
também era o meu. Vê-la sofrer e não poder fazer nada era o pior castigo que eu poderia
receber. Chorávamos juntas, sofríamos juntas, tudo que doía nela, doía em mim, quase que
por telepatia. Mas o tempo foi passando, no final do ano letivo ela foi morar com pai e eu
agora tinha uma irmã à distância.
A gente sabe que, apesar da Ponte Rio-Niteroi entre nós e dos rumos na vida totalmente
diferentes, o coração dela sempre teria o meu pra acolhê-lo quando a lembrança do trauma
viesse à tona. E não há nenhuma distância capaz de impedir que a gente esteja perto todo
dia 6 de setembro pra se proteger da solidão específica que esse dia causou nas nossas vidas.
- Juno Lino
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