Existe aquele telefonema que as pessoas odeiam ter que dar, mas odeiam mais ainda receber. Pensam nas melhores maneiras de amenizar, procuram os mais diversos eufemismos possíveis, mas, na maioria dos casos, não foge muito de “seu/sua”, o parentesco e o famoso “se foi”. Seu avô.
E é assim, depois de uma curta ligação que o mundo se torna infinitamente mais pesado. É mais difícil prestar atenção no que falam contigo. É mais difícil segurar o copo d’água ou digitar no celular sem esbarrar em outras teclas pela tremedeira. É mais difícil se imaginar saindo daquela situação. É mais difícil sorrir sem sentir culpa. Tudo por causa de uma chamada telefônica.
Dormir se torna uma tarefa impossível. A mistura de sentimentos aparece: vontade de ver o rosto da pessoa pela última vez e o medo de ver o rosto da pessoa que você sabe que nunca mais verá. A única solução possível é travar uma batalha contra o sono até não poder mais, e o medo se tornar realidade.
E é neste momento, ao deitar a cabeça no travesseiro para dormir, que você se lembra. A sensação volta como um arrepio pelo corpo. Minutos antes da ligação, a “mão” que cuidadosamente deslizou pelo seu ombro. A “mão”, aparentemente sem dono, que te fez imaginar que era coisa da sua cabeça o sentimento de despedida. A “mão” que traz aquela sensação de conforto e empatia. A “mão” que finalmente te faz conseguir pegar no sono, depois daquele terrível telefonema. A “mão” que nunca existiu fisicamente, mas que confortou seu coração nos piores momentos.
- Isadora Carvalho
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