“Se ela fizer isso de novo é direto para a ala psiquiátrica”. Essa foi a primeira coisa que ouvi naquele dia, depois de acordar em um sala toda branca com luzes fortes. Nesse dia pensei em Sylvia e sobre como não queria mais viver sendo lentamente cozida em uma redoma de vidro, sobre como existiam diversos figos que eu nunca poderia comer, sobre a vida que eu mesma criei pra mim. Traumas são presentes na vida de qualquer pessoa, mas nunca soube lidar com os meus não soube lidar com o fato de crescer com uma mãe doente e um pai exigente. Via os dois presos sob suas próprias redomas, vi os figos de minha mãe apodrecerem enquanto ela cuidava de mim e nunca pude evitar de me sentir culpada por deixar isso acontecer. Já os do meu pai, assim como os meus, foram desperdiçados, poderiam ter sido usados, mas graças aos nossos problemas nunca nos achamos dignos deles, então apenas deixávamos que eles caíssem diante de nós.
Minha figueira passou anos escondida atrás das outras, vivi uma vida para agradar e ajudar as outras pessoas a colherem seus figos e saírem de suas redomas, mas nunca sai da minha. O constante medo de decepcionar não deixou, se eu saísse daquele cozimento eu poderia começar a tirar notas baixas e decepcionar meu pai, minha mãe poderia me odiar ainda mais e despejar mais de seus problemas em mim, eu estaria exposta a desaprovação das outras pessoas. Então comecei a me fechar, minha redoma já não me incomodava mais e lá eu estaria segura dos julgamentos. Mas um dia o ar começou a queimar as narinas e a sufocar, não conseguia mais ficar lá dentro, criei um ambiente hostil para mim mesma e não tinha como sair de lá. A solução mais plausível era, talvez, respirar o ar que saia do forno e assim como Sylvia me cozinhar, porém não mais no sentido figurado.
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