palavra sequer, uma parte de quem somos.
Estou sentado na grama da orla da faculdade, na beira do mar, olhando alguns
navios atracarem e outros partirem. Essa cena se repete há muitos anos. Engraçado
perceber, por exemplo, que toda vez que chego à praia, passo os olhos pela linha do
horizonte procurando um vestígio seu, mesmo sabendo que não vou encontrar.
Escrevendo esse texto sobre você, escuto aquela música que cresci ouvindo no rádio do
seu carro, que cantamos até hoje como se fosse a primeira vez escutando juntos.
Mais um navio entra na baía de Guanabara. Não sei se pode ser você, mas hoje
já me acostumei com a espera da sua volta. Hoje aprendi a lidar com suas partidas.
Agora eu sei guardar as novidades para depois. O entrar e o sair dos navios na baía
define uma parte de mim. Nos define. Toda vez que for para o lado de lá, do lado de cá
eu vou estar te esperando voltar. O mar que nos separa é o mesmo que te traz de volta.
Olho o calendário no celular. Logo vou receber uma ligação sua avisando que
chegou. Quando eu atender vai ser a hora de contar tudo que guardei para depois. Que
bom que o depois sempre chega. Que bom que você sempre volta. Já posso ouvir sua
risada alta quando eu contar o que meu irmão aprontou no último final de semana. Já
consigo sentir o cheiro do seu feijão de domingo. Já consigo te escutar tocando violão
na sala logo cedo e acordando a casa toda. Já posso me permitir sentir sua falta.
Que nossas despedidas sejam um eterno reencontro.
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