Já estava quase escurecendo. O céu ficou com tons azuis arroxeados. A grama pinicava minha coxa e sua cabeça repousava no meu colo. Olhei para o relógio, são 17:43, a próxima aula começa às 18 horas e eu pouco me importo. Só consigo pensar em traços. Os seus traços. Bochechas rosadas por causa do calor e sobrancelhas grossas acima de olhos azuis escuros, feito a água da Baía quando vista da parte Orla que estamos.
Meu coração acelerado faz o mesmo barulho de quando atravessamos a ponte de carro. As rodas giravam cima dos vincos dela que, suavemente, nos erguia e nos baixava. O cheiro da grama se funde ao cheiro da água e ao seu cheiro. Uma mistura de todos eles entram pela minha narina e me deixam em êxtase.
Eu encosto minha boca na dele, nossos olhos tremem com o beijo. Suas mãos se cruzam nas minhas costas, me falta a ar e minhas pernas começam a formigar. Eu não consigo te soltar.
Silêncio. O céu está escuro, sem estrelas. Mas ele emana uma certa luz, e eu me guio por ela. Você faz questão de me olhar nos olhos enquanto passa sua mão pelo meu pescoço. Abaixo a cabeça e olho o relógio, 20:45. Parece que me enraizei nessa terra escura e meio molhada. Sou incapaz de falar. Ouço de fundo a água batendo nas rochas e o vento balançando as folhas, o mesmo vento que bate em minha espinha e me faz arrepiar. Deito meu corpo no chão, acomodo-o na aspereza da grama e sinto as flores a minha volta com as mãos. E nesse momento, só consigo pensar em como ele consegue fazer sempre comigo, o que a primavera faz com as flores.
Cigana Oblíqua e Dissimulada 47
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