terça-feira, 13 de novembro de 2018

Um dia de chuva qualquer

Ontem a noite fazia calor, mas hoje, hoje chove. Chove daquela chuva fina, que quando
venta forte parece que nem molha, só machuca. Nosso herói se levanta cedo, ainda na
penumbra. O mundo está taciturno. Os pássaros não ousam cantar nem as ondas bater.
Pode-se ouvir apenas Zéfiro, anunciando a chegada de um novo tempo, o tempo de
desabrochar as flores e aos poucos transformar em cerne, aquilo que era alburno.
Mesmo derrotado pela noite passada, o herói marcha até o forte e sauda a bandeira. Suas
pálpebras estão pesadas e sua mente incapaz de proferir um simples bom dia. Ainda
assim, quando lhe perguntam se deseja servir a pátria, a resposta vem em alto e bom
tom:

-Não. “Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé.”

O general de 10 estrelas que fica atrás da mesa com o cu na mão sorri e o libera. O
jovem está finalmente livre para ir de encontro ao seu destino. É então que, ao chegar na
Orla do Gragoatá pela primeira vez e sentir a luz do Astro Rei que rasga o céu
monótono lhe atingir, ele se dá conta. Ele já não é mais aquele herói e esse já não é mais
o seu show. Afinal, como poderia um homem que já não é mais ter seu próprio show?
Aquele medo, aquela ansiedade, já não era mais. Era agora esperança, era agora
vontade. Aquele que pensava ser Sol finalmente percebeu-se como Lua e hoje em dia
fica sempre a espera de sua estrela. Aquela estrela que não brilhára no primeiro dia,
sempre atrasada, como as manhãs durante as noites de insônia. Aquela estrela que
escondeu-se no brilho das outras, tímida e resguardada, como são os maiores tesouros.
Aquela estrela que guia o beduíno durante sua peregrinação pelo deserto, levando-o ao
oásis sem lhe pedir nada em troca, nada que não seus olhares e a sua companhia. É o
brilho dessa estrela que o nosso novo herói busca refletir.

Eric Cleptomaníaco

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