domingo, 11 de novembro de 2018

Peixe fora dágua

Pô, relacionar paisagens e as pessoas foi mais complicado do que havia imaginado.

Bora lá. Lembrei de uma história numa pescaria na Baía de Guanabara embaixo da Ponte Rio Niterói.
Era um dia normal, nem muito calor, nem muito frio. Tava em casa combinando com meus primos de ir ao Maracanã, quando meu pai tem a brilhante ideia de dar uma de torcedor raiz. Fala pra gente ir pescar e escutar o jogo no rádio. Relutamos, mas cedemos.

A ida já foi exaustiva. Com meu primo mais novo vomitando no caminho e um acidente na ponte
causando um congestionamento da porra. Que maravilha. Bauman tava certo. Ocupamos um mundo
pautado pelo agora e ninguém liga pra tal da perfeição. Nos dias atuais, a pressa é uma aliada insana do ser humano. Partiu passar pelo acostamento, porque é urgente. Preciso chegar logo, seja lá pra aonde for.Acostamento, aliás, que já teve até pedido de casamento. Só uma curiosidade.

Mas vamo falar da pesca. E vocês podem me chamar de hipócrita. Ou então, aquilo que a gente fala de processo de evolução. Ao mesmo tempo que fico nessa de chamar a atenção dos indivíduos afobados e desfrutar de uma generalização, tava eu puto pra cacete porque não pegava peixe nenhum e já tinha passado quase duas horas. Juro por Deus que eu nunca havia ficado tão entediado na minha vida. Duas horas de cara pra água, parado. Só faltava eu meditar. Reclamei com geral no barco e todo mundo pedia calma. Calma! Mole falar isso. Além de mim, ninguém ali era novato na pesca, tirando o meu priminho. Isso só podia ser sacanagem.

Enquanto isso, meu tio metia uns papos que podem parecer bobeira hoje, mas pra cabeça de um garoto de treze anos assustava. Era cada estória. Esse barco é velho, vai virar. Cadáveres gerados pela ponte, e a ditadura escondeu muitas das mortes. Ah, mas a ditadura não era tão ruim assim, olha essa ponte. Tamo bem embaixo da ponte, não tem mais Médici, tem Dilma, a ponte vai cair. Opa, por falar em cair, o Vasco tava perdendo. O jogo tinha evaporado da minha mente. Ali perto, no Templo do Futebol, o Fluminense ganhava de 3-1.

Conclusão de uma atividade. Peguei o grande total de zero peixes e tive que ouvir várias abobrinhas domeu tio - vascaíno que tava meio bolado -. Ah, mas pelo menos o Fluminense ganhou, tamo feliz né? Porra nenhuma, deixei de ver os gols do Fred no Maraca pra isso. Pra piorar, meu primo vomitou de novo, dessa vez em cima de mim. Juro que não tô de caô. Taquei o foda-se e caí na Baía. Relação líquida.

Eu poderia formular uma frase de efeito e meter uma moral da história épica sobre a pressa do ser
humano, citar Modernidade Líquida de novo, falar que não há espaço para a preocupação com o futuro e sobre a ridicularização dos esforços a longo prazo. Mas o verdadeiro moral da história é: Meu pai sugeriu alguma coisa? Furada. Nem pro velho chamar a gente pro Pão de Açúcar. Se bem que se a gente fosse no bondinho, meu tio ia começar a falar que a gente ia cair...É, esquece.

Já tinha terminado o texto, porém, pensando aqui, nessa época meu tio falava da Ponte Rio Niterói como se fosse o símbolo da ditadura. Mas pô, ditadura era algo distante. Agora é 2018.

E o Fluminense ganhava do Vasco. Caralho. Depois dessa, tô metendo o pé, fui.

Peter Luís

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