sexta-feira, 9 de novembro de 2018

Viagens de família

-Olha mãe, olha... Quantos barcos!
-Senta aí menina, e olha sentada.
Era impossível disfarçar minha alegria quando a gente passava pela ponte Rio-Niterói, eu
nadaria de costas nas águas da baía de Guanabara de tanta felicidade, ainda mais com toda a
família reunida. Lá em casa, nós acordávamos bem cedo, e mesmo assim nos atrasávamos,
meu tio sempre nos apressava e ameaçava ir sozinho, mas ainda assim, esperava. O meu pai
sempre bem pronto pra gastar só em passagem nos 4 ônibus, o dinheirinho conquistado
durante o final de semana, no bico que fazia de segurança. Mas mesmo assim, ficavam todos
bem sorridentes e animados para o Natal.
-Olha! ali era onde o seu avô trabalhava, na manutenção dos aviões, não era mole não!
Trabalho pesado.... E ali ó, foi onde o seu avô segurou minhas mãos pela primeira vez, e bem
mais pra lá, lá pra baixo mesmo, foi onde ele me deu o primeiro beijo na testa. Dizia a minha
avó apontando pra qualquer lugar do Rio de janeiro que podia ser visto pela ponte, mas ela
parecia estar bem convicta da localização.
Ela sempre fazia questão de contar todos os detalhes das histórias da juventude dela no Rio, e
tinham muitas, até Jacarepaguá ia ter papo... E a gente amava ouvir, meus irmãos, meus
primos e eu, e claro, rir. Os passeios sempre eram muito divertidos, e só a viagem de não sei
quantas horas já valia muito. Hoje eu percebo como era a situação de verdade, sinônimo de
simplicidade deveria ser a família “Young” viajando pro Rio final de ano, com malas e
mochilas da escola, sacola plástica de supermercado para colocar os tênis sujos do meu
irmão, e o que não podia faltar... O saco de papel, por que ele sempre vomitava em algum
momento da viagem.
-Mãeee, tô com fome!
-Toma aqui, eu trouxe um lanchinho.
Eu perguntava na esperança dela dizer que íamos descer no chinês para comprar um italiano,
mas ela tirava um potinho com cream cracker amanteigado, já amanteigado, acredita?
Quando a gente chegava na casa da nossa tia-avó, era a maior festa, o meu primo já tirava a
bermuda para tomar um banho no chuveirão de cueca, e eu ficava irritada por que ainda tinha
que colocar o biquíni. Privilégios né...
Depois de toda a tour que já era de costume pelo condomínio chique, e a competição de
corrida na quadra, nossa tia já imaginava o que estávamos aguardando, nos acostumou mal...
-SORVETEEEE! Gritava o meu primo.

-Nada de encher a colher de modos feio em. Ele falava bem sério pro meu irmão, mas nem
ele mesmo respeitava.
E é claro, eles comiam tudo, quem é que deixa um pote de Nestle de napolitano na mão de
crianças?
Esses eram sem dúvidas, um dos melhores momentos do ano, a família reunida, a mamãe e o
papai juntos e felizes rindo das nossas graças, nenhuma criança desejaria nada a mais, a
família estava completa!!! Mas aí ela acabou. E hoje, quando olho pra ponte, são desses
momentos que eu lembro.

Alasca Young.

Um comentário:

  1. Me fez lembrar de quando fui pra UFF me matricular, levei minha vó comigo e ela foi passeando pelo centro contando as histórias da antiga (só parou de falar na barca, porque atacou a labirintite rs). Hoje não tenho mais minha vó, mas tenho seu texto pra me lembrar desse momento

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