Há quem diga que a cidade não é a mesma sem você. Há quem diga também que as semanas estão mais longas do que de costume e os dias mais cinzas. Há quem diga, ainda, que eu não sou mais a mesma. Você deve estar se perguntando agora quem diz isso, não é mesmo? Está bem, vou te contar. Eu digo. Eu digo porque dar uma simples caminhada a tarde com o Marley tornou-se um desafio sem você. Ele está cada vez mais forte e me puxa quando passeamos. Você prometeu comprar uma coleira mais resistente. Ele sente sua falta, sabia? Todas as noites começa a latir e vai até a janela na esperança de te ver entrando no prédio. Confesso, ele não é o único que te espera. Também te espero, mesmo sabendo que não vai voltar. Jantar fora também se tornou algo difícil, acredita? No nosso restaurante não servem prato para uma pessoa. Lá é romântico demais para ter uma noite sozinha e silenciosa, como as que eu tenho tido nos últimos meses. Outro dia o garçom, aquele garçom, o Renato, me perguntou sobre você. E o que eu respondi? Bem, eu não soube o que dizer. Acho que o pior lado da saudade é esse: não saber. Não saber se você está bem, se ainda tem aquela mania que eu detestava de dormir com a luz acesa ou se já terminou de ler aquele livro que compramos na minha livraria favorita. Você nunca gostou de ler, lembra? E, aqui, sentada nesse banco na praça tenho em minha mão um livro que você me deu. Sorrio. Sorrio porque valeu à pena. Sorrio porque não ouso mais chorar. Nada é perene. É o que dizem. Logo eu que sempre contestei tudo o que me diziam, acreditando em uma frase feita. Irônico, não? Talvez. É um grande problema quando essas frases começam a fazer sentido nas nossas vidas. A essa altura, você já deve estar bem longe daqui. Em Roma? Talvez. Penso que poderia me mandar uma foto ou, até mesmo, um cartão postal. Mas você não vai fazer isso. É só mais uma dessas coisas que eu espero que você faça, mas você não faz. Vamos voltar a falar de Roma. É uma das cidades da nossa lista de lugares para conhecer. Lembra de quando a escrevemos? Naquela noite fria, você fez um chocolate quente que eu simplesmente adorei. Adorei como tudo o que você fazia. Mas, enfim, eram tantos lugares que mal coube em uma só folha. Nós sonhávamos em conhecer tudo. Eu ainda sonho. Espero que você também. Dizem que sonhar é importante. Eu decidi acreditar em mais uma frase feita. O que há de errado comigo? Pode ser saudade. E eu, que nunca fui a menina que esperava por um príncipe encantado, o vi em você. Em você e só em você. Ainda sentada num banco qualquer, observo as pessoas passando. Vejo diversos casais. Alguns sorrindo e outros, bem, nem tanto. A questão é: tantos tipos de casais por aí. Os felizes, os que se aturam, os que se amam e os que se detestam. E eu nunca consegui definir nós dois. Acho que não há definição possível. Nenhuma palavra das milharesdo dicionário pode nos definir. Indefiníveis. Talvez seja essa a nossa palavra. Mas o que eu quero que você saiba é que vou sempre me lembrar de cada detalhe, porque é ali que mora o amor. Nunca vou me esquecer daquelas flores no meu aniversário, eu fiquei toda boba, tão feliz. Acredita que guardo uma pétala até hoje em um caderninho? Guardo nele algumas fotos nossas, bilhetes seus e saudade sua. Você me ensinou a amar e me fez crescer como mulher e eu serei eternamente grata por isso. Fomos sortudos em ter sentido amor. O que for para ser, será. Não é isso que dizem? Quem sabe um dia a gente se encontra numa dessas tardes chuvosas de janeiro, e então, você me roubaria beijos e, o mais importante, me roubaria outra vez para você.
Stella Fati
Achei esse texto muito bonito mesmo, Stella! Tem um tom triste e, ao mesmo tempo, otimista por ainda ver as coisas boas do relacionamento e ter a crença de que irão se reencontrar. Como situações como essa acontecem por toda a história da humanidade, essa crônica se torna atemporal, perene. Além disso, ela mostra uma profundidade nos relatos, nos dá uma ampla visão da situação e ultrapassa os limites do cotidiano por meio das reflexões. Apesar de contar tais pontas da estrela, não consegui identificar o exercício de cidadania e a potencialização dos recursos jornalísticos. Mas o texto é muito bonito, adorei!
ResponderExcluirBem bonito. Você diz no texto que "nada é perene", e ironicamente perenidade foi a primeira coisa que notei no texto hahaha. Também tem muita profundidade e ampliação do cotidiano. Não notei muito os recursos do jornalismo e senti uma dificuldade de ler, pela falta de parágrafo :(
ResponderExcluirOlá amiga Stella! Gostaria de dizer que adorei seu texto. Como nossa companheira Amelie mencionou acima, ele tem um tom triste mas ao mesmo tempo é otimista. Seu texto foi totalmente perene, também consegui identificar uma visão ampla da realidade e a ultrapassagem dos limites do cotidiano. Porém (como ja mencionado acima), também senti falta de recursos jornalisticos e o exercício da cidadania. Parabéns pelo excelente trabalho.
ResponderExcluirBeijos perfumados de sua querida Maria Antonieta.