quarta-feira, 25 de maio de 2016

FÁCIL COMO UM FILME


     São 17h de uma tarde chuvosa de outono. Me encontro naquela inércia de final de filme. Começo a me questionar, quem sabe pela octogésima terceira vez, sobre o porquê eu gosto tanto de comédias românticas, com o mesmo enredo tipicamente idiota e o desfecho facilmente previsível. Se eu fosse assim, bem menininha, faria mais sentido, porém, esse não é o caso. Acho que o que eu queria era que as coisas fossem simples como num filme hollywoodiano. 
     Como um rio em busca de um mar, meus pensamentos sempre acabam de alguma forma desaguando em você. Então percebo que você não tem nada dos filmes que vejo na Netflix. Incerteza é seu sobrenome. E pego a pensar como é intrigante o fato de parecermos um casal. Conversamos com a frequência de um casal, confiamos um no outro como um casal, até discutimos como um casal. Em tese, deveríamos ser um casal, mas não somos. 
     Se nós fossemos um casal, eu poderia ir a sua casa e assistiríamos juntos uma das muitas séries que você fez despertar a minha curiosidade. 
     Se nós fossemos um casal, poderia dizer para minha mãe que chego tarde no domingo porque fico horas conversando com você.
     Se nós fossemos um casal, você poderia encostar na minha perna por mais de 3 segundos, sem que ficasse desconfortável.
     Se nós fossemos um casal, faria sentido eu me sentir mal por achar alguém interessante.
     Se nós fossemos um casal, eu não precisaria esconder o meu ciúme, e me torturar ao guardar isso só pra mim.
     Se nós fossemos um casal, eu poderia te dizer que escutei tal música e lembrei de você. 
     Se nós fossemos um casal, eu poderia tirar foto com você sempre que quisesse.
     Se nós fossemos um casal, eu ia poder brincar com o seu óculos sem que parecesse estranho. 
     Se nós fossemos um casal, eu ia fingir que me irrito quando você bagunçasse meu cabelo. 
     Se nós fossemos um casal, eu ia te convencer que assistir filme no cinema tem uma magia diferente.
     Se nós fossemos um casal, eu poderia te abraçar incontáveis vezes, não só na despedida.
     Se nós fossemos um casal, eu poderia te dizer que sei quando você está chegando, pois sinto seu perfume de longe.
     Se nós fossemos um casal, eu poderia te contar que sonhei com você.
     Mas nada disso pode acontecer. 
     Vai fazer um ano, sabia? Eu só não sei bem de quê, porque a gente não é um casal, mas também não somos amigos. Não ficamos à vontade como amigos, não brincamos como amigos, nem sequer nos cumprimentamos como amigos. Então, por todos os deuses gregos,que diabos nós somos?! 
     Gostaria de poder me livrar disso que me prende a você. Mas é que você é o tipo de pessoa que vicia,entende? Com isso, comprovo que por trás das câmeras, fácil mesmo seria ser fria como pedra. Mas aí eu lembro da primeira vez que seu sorriso despertou algo em mim. Não dá, não consigo. Você tem uma coisa que me deixa sem equilíbrio. Você é um desafio,

Maleficient000

11 comentários:

  1. Maleficient, ótimo texto. Me identifiquei do início ao fim, a forma como ficamos inquietos ao não saber como rotular aquele relacionamento que passamos, é namoro ou amizade ou simplesmente algo sem nome? Não precisamos de rótulos, quem se descreve se limita. Mas em relação às sete pontas, pelo que notei o texto está dentro de todas as características: é perene, rompe o Lead, além de romper bem com o cotidiano já que reflete às inquietações do eu lírico.

    Um aperto de mão do amigo Régis Jr

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  2. Olá, gostei da crônica! Achei com uma mensagem bonita e escrita de forma delicada. A repetição do "Se nós fossemos um casal" deixou tudo mais sonoro também. Concordo que o texto é perene e você tem uma visão ampla da realidade, ultrapassando os acontecimentos do cotidiano e relatando os fatos com profundidade. Por exemplo, quando você descreve o que um simples toque na perna produz na personagem. O texto não se foca tanto no exercício da cidadania, mas também, para o assunto que você estava escrevendo, esse talvez não devesse ser o foco mesmo. Parabéns!

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  3. Concordo com os comentários anteriores, a crônica se tornou bem sonora pela repetição de expressões. É um texto bonito, não cansativo e que se relaciona com vários relacionamentos, já ganhando assim, a ponta da estrela que fala sobre perenidade. Também relata tudo com profundidade e sai do cotidiano ao reproduzir os pensamentos e sensações da personagem. Gostei!

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  4. Olá querida Maleficient! Gostaria antes de tudo, lhe parabenizar pela excelente abordagem do tema. Seu texto foi escrito com uma sensibilidade que me possibilitou sentir o que a personagem sentia ao descrever os acontecimentos. Tal situação que me fez enxergar uma das sete pontas, pois seu texto me proporcionou uma visão ampla da realidade relatada. Parabéns!
    Beijos perfumados de sua querida, Maria Antonieta!

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  5. Gostei muito da crônia! Como meus colegas já mencionaram, sonoridade muito boa do texto. Apresenta-se uma clara perenidade ao retratar os fatos por ser uma história em que muitos de nós já podem ter vivido. Além disso, não foi um texto superficial e demonstrou uma visão ampla da realidade. Texto muito bem escrito!

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  6. Belíssimo texto, Melficient! Além de bem escrito e ter uma fluidez harmônica, o texto também possui alguns traços literários interessantíssimos, a exemplo de sua acronia e de sua fácil relação com a vida amorosa de milhões de pessoas ao redor do mundo. Ótimo trabalho!

    Att.
    Simone do Saxofone

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  7. Posso dizer que seu texto também está entre os meus favoritos! Mesmo falando em primeira pessoa e descrevendo os sentimentos do eu lírico, você conseguiu transmitir aos nós, leitores, uma identificação e aproximação incrível. Quanto as pontas, você rompe totalmente com o lead, o que me fez ter mais vontade de ler até o final para saber o desfecho. Acredito também que você fugiu dos definidores primários e transborda perenidade. Posso ler seu texto daqui a 20 anos e continuarei me identificando. Parabéns!!!

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  8. Excelente.Tenho certeza que muitas pessoas se identificam com a situação descrita. Seu texto é muito atual e, daqui uns anos, continuará sendo!! A perenidade, sem dúvidas, é uma das pontas da estrela mais fácil de se identificar nele. Mas não é só isso, ele rompe as correntes do LEAD, evita definidores primários e ultrapassa os limites do cotidiano. Parabéns.

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  9. Gostei muito da temática do texto! É um tema comum na vida da cotidiana e que permite uma fácil identificação do leitor. Em certos casos, uma pessoa nos envolve e não sabemos ao certo como definir essas sensações e a crônica aborda isso de uma forma bem sensível e interessante. Percebo a perenidade, rompimento com o lead, preocupação com os detalhes, garantindo maior profundidade e, portanto, a não superficialidade, que são fatores relacionados à Estrela de sete pontas. Parabéns pelo texto!

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  10. Olá companheirx. Muito interessante o jeito que abordou o tema, apesar da repetição me cansar um pouco. Acho que da estrela, você conseguiu romper com as correntes do lead, além de garantir perenidade e profundidade aos relatos.
    Tom

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  11. Adorei o uso da repetição no meio do texto. Realmente é um texto que muitas pessoas vão se identificar! Eu consegui encontrar nele perenidade ,rompimento do lead e profundidade!
    Quero ler mais textos seus,continue assim:)

    H.machado

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