terça-feira, 24 de maio de 2016

Saudade do que era

Chovia e fazia frio quando ficamos juntos pela primeira vez. Dentro daquele carro, no final daquela rua, porque ninguém podia saber. Me sentia envolta pelos teus braços, protegida pelo teu abraço e aquecida pela tua alma. Ficamos horas entre os olhares e os melhores beijos do mundo, como se nada mais importasse, só nós dois, ali, juntos.
E foram assim todos os nossos fascinantes encontros. Cada vez mais apaixonantes, cada vez mais envolvidos, cada vez mais querendo mais. Até que nos vimos amantes, nos vimos amados. Completados um pelo outro. Todos já haviam percebido, todos, agora, deveriam saber.
Recebia tuas mensagens todos os dias - aquelas mesmo de bobo apaixonado - me desejando um lindo dia como eu, uma ótima noite me mandando sonhar com você e até aquelas repentinas só pra dizer que estava com saudade ou perguntar como eu estava. Ligações todos os dias à noite, contando como foi o dia e dizendo o quanto queria que chegasse logo o próximo dia de nos vermos. 
E foi assim por meses. Conversas intermináveis, abraços apertados e intensos, sorrisos soltos, risada alegre, amor. Aquele amor que você quer que jamais acabe, aquele amor que você jamais se vê sem. Aquele amor que você só via em filme e agora estava vivendo, pela primeira vez. Me sentia realizada, feliz, repleta, transbordante. 
Uma pena que, aos poucos, tudo isso foi mudando... Uma pena que todas essa frases tiveram que ser iniciadas no passado. Uma pena que nada mais é assim. Uma pena que não vejo mais, no olhar, aquela alegria e vontade de estarmos juntos. Que não vejo mais demonstração de carinho e preocupação como antes. Mensagens se tornaram raras; conversas, rasas; abraços, secos; encontros cada vez mais sem graça, indiferentes. Ontem fez frio e choveu, mas, diferente daquele primeiro encontro, senti ausência do teu abraço, do teu calor, me senti vazia. E pior que sentir falta de alguém que está longe, é sentir de alguém que está ao meu lado.
Uma pena, maior ainda, que só eu sinto falta. Sou boba - literalmente - apaixonada que ainda espera que tudo volte a ser como no começo. Amor? Talvez ainda exista, mas parece que todo aquele sentimento esbraseante, apaixonado, vivo, entusiasmado e aceso se tornou apenas uma chama serena, prestes a apagar. 

Frida Kahlo

3 comentários:

  1. Lindo, Frida. Esse texto mostra um sentimento que provavelmente todos nós já passamos ou vamos passar... As coisas mudam e nem sempre para melhor, né?! Vejo que ele proporciona uma visão ampla da realidade e é perene, pois consegue permanecer no tempo.

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  2. Que lindo! Muito fácil de identificar, infelizmente. O caminho do relacionamento foi muito bem descrito. Do começo, onde tudo é bom e feliz, até quase o final. Seu texto alcançou várias pontas da estrela: é profundo, garante perenidade, tem uma visão ampla da realidade e do cotidiano e rompe o lead. Parabéns!

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  3. Olá amiga Frida!
    Você descreveu com perfeição o caminho que muitos casais percorrem, infelizmente. Consegui encontrar em seu texto perenidade, rompimento do lead e ainda uma visão ampla da realidade. Parabéns pelo excelente trabalho.
    Beijos perfumados de sua querida Maria Antonieta.

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