sexta-feira, 8 de julho de 2022

A crônica do cansaço 


Estou cansada. Esse foi o jeito mais sincero que encontrei de começar esta crônica. Eu poderia falar sobre mil coisas, ser muitos personagens diferentes, criar uma narrativa poética e envolvente. Mas, eu não consigo. Estou cansada fisicamente, mentalmente e emocionalmente. Só não digo que estou exausta porque tenho dormido muito ultimamente. Dormir é o meu refúgio, me faz esquecer do quanto estou cansada. 

Seja dona de casa: mantenha os cômodos arrumados enquanto os outros insistem em desarrumar; limpe a sujeira que os outros fazem e nunca limpam; faxine o quarto do seu irmão mesmo que ele volte à sujeira no dia seguinte; cozinhe bem e com vontade; lave o quintal todos os dias; cuide dos animais e das plantas. São muitas cobranças em cima de uma única pessoa. Mas, é como ela sempre diz: “A mulher nasceu para fazer as tarefas domésticas. Você, como mulher, deveria gostar de realizar todas essas tarefas. Um dia você terá a sua própria casa.”

Às vezes, sinto raiva por ter nascido mulher. Como vou gostar de dividir as responsabilidades com a minha mãe enquanto os outros dois não fazem absolutamente nada? Todas essas tarefas poderiam facilmente ser divididas pelos quatro moradores da casa. Mas, é socialmente aceito que um durma até o meio dia e o outro passe o dia inteiro no celular. Infelizmente, minha avó educou minha mãe para ser dona de casa e servir ao marido. Minha mãe tentou me educar da mesma forma, mas não conseguiu. 

Não quero. Não aceito. Não faço. Caos instaurado. Ou seria revolução? 

Desde cedo, impuseram a mim muitas responsabilidades e cobranças em excesso. Como eu sempre fui questionadora, uma hora ia dar merda. E deu! Agora, simplesmente digo não e prontamente me retiro. Antes, eu até discutia. Mas, como estou cansada, passei a evitar certos desgastes.

Por Elizabeth Bennet


5 comentários:

  1. Elizabeth, seu texto me fez refletir sobre meu papel na sociedade e dentro da minha própria casa, já tentei melhorar mas acho que posso ainda mais. Parabéns pelo texto, a forma como você escreveu fez com que eu me sentisse cansado durante a leitura, e não por o texto ser ruim, mas sim por você deixar explícito esse cansaço e ir estabelecendo todas as tarefas que te impõem.

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    1. Querido Freddie, fico feliz que esse texto tenha sido uma reflexão pra você! Com carinho, Elizabeth.

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  2. Querida Elizabeth, compreendo perfeitamente a sua exaustão e a raiva de ter nascido mulher, é algo que lido todos os dias, pois sinceramente é muito difícil sobreviver nesta merda de sociedade sendo uma mulher. Entretanto, a caminhada fica mais suportável quando encontramos amigas ou colegas que nos ajudam a seguir, a resistir. Então, como um gesto de carinho e conforto, deixo a seguir um trecho do meu poema favorito, de uma escritora Nicaraguense, a Gioconda Belli:

    "... Se és uma mulher forte
    se proteja com palavras e árvores
    e invoca a memória de mulheres antigas.

    Saberás que és um campo magnético
    até onde viajarão uivando os pregos enferrujados
    e o óxido mortal de todos os naufrágios.
    Ampara, mas te ampara primeiro.
    Guarda as distâncias.
    Te constrói. Te cuida.
    Entesoura teu poder.
    O defenda.
    O faça por você.
    Te peço em nome de todas nós."

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    1. Querida Lilith, muito obrigada pelas doces palavras de sempre! É reconfortante saber que eu não estou sozinha, como também não passo raiva só. Agradeço pela sugestão do lindo poema, eu amei! Com carinho, Elizabeth.

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  3. Obrigado por compartilhar conosco esse desabafo, Elizabeth. Na minha casa, fomos ensinados que todo mundo deve saber fazer de tudo, que a casa é de todos e todos devem cuidar dela. Infelizmente nem todos os lares são assim e a maioria ainda reproduz costumes retrógrados. Seu texto me lembrou de quando ouvi um amigo falar "lavei o banheiro pra ajudar minha mãe". Achei um absurdo e perguntei se a mãe era a única que usava o banheiro naquela casa.

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