A crônica do cansaço
Estou cansada. Esse foi o jeito mais sincero que encontrei de começar esta crônica. Eu poderia falar sobre mil coisas, ser muitos personagens diferentes, criar uma narrativa poética e envolvente. Mas, eu não consigo. Estou cansada fisicamente, mentalmente e emocionalmente. Só não digo que estou exausta porque tenho dormido muito ultimamente. Dormir é o meu refúgio, me faz esquecer do quanto estou cansada.
Seja dona de casa: mantenha os cômodos arrumados enquanto os outros insistem em desarrumar; limpe a sujeira que os outros fazem e nunca limpam; faxine o quarto do seu irmão mesmo que ele volte à sujeira no dia seguinte; cozinhe bem e com vontade; lave o quintal todos os dias; cuide dos animais e das plantas. São muitas cobranças em cima de uma única pessoa. Mas, é como ela sempre diz: “A mulher nasceu para fazer as tarefas domésticas. Você, como mulher, deveria gostar de realizar todas essas tarefas. Um dia você terá a sua própria casa.”
Às vezes, sinto raiva por ter nascido mulher. Como vou gostar de dividir as responsabilidades com a minha mãe enquanto os outros dois não fazem absolutamente nada? Todas essas tarefas poderiam facilmente ser divididas pelos quatro moradores da casa. Mas, é socialmente aceito que um durma até o meio dia e o outro passe o dia inteiro no celular. Infelizmente, minha avó educou minha mãe para ser dona de casa e servir ao marido. Minha mãe tentou me educar da mesma forma, mas não conseguiu.
Não quero. Não aceito. Não faço. Caos instaurado. Ou seria revolução?
Desde cedo, impuseram a mim muitas responsabilidades e cobranças em excesso. Como eu sempre fui questionadora, uma hora ia dar merda. E deu! Agora, simplesmente digo não e prontamente me retiro. Antes, eu até discutia. Mas, como estou cansada, passei a evitar certos desgastes.
Por Elizabeth Bennet
Elizabeth, seu texto me fez refletir sobre meu papel na sociedade e dentro da minha própria casa, já tentei melhorar mas acho que posso ainda mais. Parabéns pelo texto, a forma como você escreveu fez com que eu me sentisse cansado durante a leitura, e não por o texto ser ruim, mas sim por você deixar explícito esse cansaço e ir estabelecendo todas as tarefas que te impõem.
ResponderExcluirQuerido Freddie, fico feliz que esse texto tenha sido uma reflexão pra você! Com carinho, Elizabeth.
ExcluirQuerida Elizabeth, compreendo perfeitamente a sua exaustão e a raiva de ter nascido mulher, é algo que lido todos os dias, pois sinceramente é muito difícil sobreviver nesta merda de sociedade sendo uma mulher. Entretanto, a caminhada fica mais suportável quando encontramos amigas ou colegas que nos ajudam a seguir, a resistir. Então, como um gesto de carinho e conforto, deixo a seguir um trecho do meu poema favorito, de uma escritora Nicaraguense, a Gioconda Belli:
ResponderExcluir"... Se és uma mulher forte
se proteja com palavras e árvores
e invoca a memória de mulheres antigas.
Saberás que és um campo magnético
até onde viajarão uivando os pregos enferrujados
e o óxido mortal de todos os naufrágios.
Ampara, mas te ampara primeiro.
Guarda as distâncias.
Te constrói. Te cuida.
Entesoura teu poder.
O defenda.
O faça por você.
Te peço em nome de todas nós."
Querida Lilith, muito obrigada pelas doces palavras de sempre! É reconfortante saber que eu não estou sozinha, como também não passo raiva só. Agradeço pela sugestão do lindo poema, eu amei! Com carinho, Elizabeth.
ExcluirObrigado por compartilhar conosco esse desabafo, Elizabeth. Na minha casa, fomos ensinados que todo mundo deve saber fazer de tudo, que a casa é de todos e todos devem cuidar dela. Infelizmente nem todos os lares são assim e a maioria ainda reproduz costumes retrógrados. Seu texto me lembrou de quando ouvi um amigo falar "lavei o banheiro pra ajudar minha mãe". Achei um absurdo e perguntei se a mãe era a única que usava o banheiro naquela casa.
ResponderExcluir