DEIXE QUEIMAR
Pernas entrelaçadas, mãos sobre o peito, respiração afobada e olhos escuros, misteriosos. Você tinha gosto de café fresquinho, delicioso, aconchegante, abrasivo. Provocava, em suas mãos eu incendiava o quarteirão. Unhas, pele, beijo, meu cabelo, meus seios. A sua língua era um pecado na minha boca, proibida para mim.
No começo da nossa ópera, as suas palavras soavam como música, uma obra de Vivaldi no meu ouvido, verão, outono, inverno e primavera. As quatro estações e quiçá que mais estações existissem, eu as inventaria se necessário para continuar a me deliciar. Essa boca, tão faceira, ora me alucinava em beijos quentes, ora me partia em pedaços pela indiferença exposta.
Belo Horizonte. Rio de Janeiro. Qual era a probabilidade de dar certo?! Você sabe. Não fomos feitos para durar. A sensação de amar é de longe uma das melhores do mundo, a de perder é a pior. Odiava admitir que perdia, você ganhou todas. Absolutamente. Era mais inteligente, mais culto, ouvia músicas melhores e os seus filmes eram interessantes. Quem era eu? Ninguém.
Não tirarei os meus méritos, lutei até à exaustão, mas todos os guerreiros um dia são vencidos, pelo ego, fraqueza, cansaço. Existem coisas na vida que são impossíveis de se encontrar, eu, por exemplo, nunca encontrei outro igual a você, nunca encontrei alguém que não tenha simplesmente desistido e ido para casa. Infelizmente, existia mais escuridão nos meus olhos do que se supunha a princípio, frisei que era uma bagunça. Esclareço: você pode ter toda força do mundo e não ter força para escapar dos seus demônios interiores. Almas atormentadas? Pois é.
5 ou 6 anos, não sei ao certo quanto tempo se passou, não me recordo de quando a minha mão passou a se soltar da sua, quando o meu riso não se confundiu ao seu ou quando o meu olhar buscou uma nova direção. Teria sido você, menino bonito?! Brilho eterno de uma mente sem lembranças, aqui é onde eu quebro. Não te apaguei, mas gostaria, queria resetar tudo. Quão feliz seria esta que vos fala, não mais virgem, se pudesse viver sem culpa.
A minha penumbra particular não tocava a minha aliança. O prata continuava prata. Entre o silêncio e o inalcançável existia você, eu te sentia perto de mim, mas não estava. Bem, existem flores sobre os meus pés, elas são pratas como a minha aliança era, elas estão sorrindo e indo embora com o vento. Elas têm o seu cheiro, gostoso e suave.
Por favor, perdoe o meu coração confuso e cigano, é que precisava voar para longe. Você me conhece, sou impulsiva. Ao final do dia, sigo perdendo, te deixo no meu travesseiro todas as noites, contudo, é melhor ter amado e perdido do que não ter te amado.
Por Lilith
Lilith, acho que não tenho nada a dizer além de parabéns! Seu texto é uma aventura, é tão rápido, mas ao mesmo tempo é tão marcante.
ResponderExcluirQuerida Lilith, que texto lindo! Me encontro extasiado com todas essas figuras e imagens presentes no seu texto. A leitura é como uma porrada rápida, um fósforo que se ascende, queima e gera calor e, por fim, apaga-se, sobrando apenas a lembrança do que um dia foi seu combustível. Meus parabéns pelo texto e pela forma genial que o construiu, de verdade.
ResponderExcluirCom carinho, Ford.
Querida Lilith, os seus textos sobre o amor são os mais sinceros e envolventes! É como se você quisesse ter dito muitas coisas no momento, mas não conseguiu, e agora consegue libertar-se em forma poética. Obrigada por ter compartilhado tanto conosco! Foi um prazer ler os seus textos. Desejo que você encontre aquele amor que te faça esquecer todos os momentos ruins, as angústias e as lembranças que tanto te atormentam. Com carinho, Elizabeth.
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