sexta-feira, 15 de julho de 2022

Futuro

Eu desisti de planejar o futuro há muito tempo. Não que eu não sonhe, não aspire, não anseie. Eu simplesmente abri mão do compromisso de entregar meu fôlego a algo que nunca possa se concretizar. Com meu próprio país não é diferente. A política não é o tipo de assunto que me motiva a discutir e debater, e ninguém me verá fazendo campanha para nenhum candidato quando as eleições estiverem perto. O mundo político brasileiro é dotado de uma hipocrisia centenária, onde numa "democracia", o único poder que nós temos é o de apertar alguns botões e esperar alguns anos pra repetir o processo. Independente de quem escolhemos, o sistema sempre acha uma foram de se reorganizar e se proteger, o que não abre possibilidade alguma pra qualquer mudança significativa na qualidade de vida das pessoas. Pouco me importa o alinhamento religioso ou cultural de candidato X ou Y, o que me importa é que a fome tem assolado, as secas têm matado e a falta de infraestrutura e investimento no setores carentes são problemas que ninguém resolve, e nós como cidadãos democráticos não podemos interferir. Não podemos derrubar projetos de leis, não podemos nos organizar e fazer emendas serem aprovadas. Somos telespectadores de um jogo no qual não importa qual face do dado caia para cima, os resultados nunca diferem muito uns dos outros. 
Não tenho esperança de que qualquer candidato que se eleja vá mudar essa realidade. Me chame de pessimista, eu vou concordar com você. Sou cético em acreditar na utopia de que nosso país vá divergir muito do que já foi. Acredito sim numa curva mais positiva, mas é impossível nos próximos 4 anos irmos de um emaranhado de preconceito, violência e pobreza para um estado utópico. Não tenho esperança, não aguardo por nada. Quem sabe assim eu me surpreenda positivamente. Só sei que nas próximas eleições, espero estar em qualquer lugar, menos aqui. Boa sorte pra quem ficar. 
Vocês ainda vão ouvir falar de mim, mesmo que isso te irrite ou te alegre. O nome Argus vai lotar as manchetes e as threads, e eu espero que nesse dia eu não tenha vergonha de falar que sou brasileiro. Meu único desejo que deixo aqui registrado é que eu não apareça nas estatísticas dos assassinados, apagados e silenciados. Mesmo que eu morra, minha voz vai ecoar. Prefiro não morrer, mas estou preparado pra ser um mártir. Não tenho cruz para carregar nem uma humanidade para inspirar, mas tenho certeza que sou relevante e que não vou ser desprezado.  
Mas, caso isso não aconteça, espero que eu e Você sobrevivamos, espero que possamos nos formar e pelo menos dar um passo além do que deram nossos pais e avós. Espero que nossas vozes não sejam mais representativas, mais ativas. Até lá, não espere notícias minhas. Sentirei saudades de Você, meus estranhos tão familiares.
Com incerteza, amargura e incredulidade,
Argus Stoneheart.
Por Argus Stoneheart

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