sexta-feira, 8 de julho de 2022

DOR

Muito difícil escolher um tema em cima de tantas coisas que se deve ser dito, mas para esse texto em específico, escolho a dor.

A dor de ter sido calada, a dor de ter sido tratada de formas inimagináveis e desrespeitosas, a dor de ter que viver em medo, a dor de não poder andar pelas ruas em paz, a dor de ter sido abusada. 

Isso mesmo. Um belo dia você é uma criança de 8 anos que fica feliz e animada para passar um dia entre as primas brincando na casa de sua tia. No dia seguinte, você é uma criança de 8 anos que teve seu corpo violado pelo seu tio. Anos depois, você ainda sente dificuldade de transar com o garoto que você ama, pois não se sente confortável em deixá-lo tocar as partes do seu corpo que nem sempre foram de total controle seu. 

Depois desses anos todos ainda sinto a dor, o cheiro, a sensação que foi estar naquele local, meu choro ecoando e ele apenas dizendo que estava tudo bem, e eu sem ter forças para fazer algo, em algum momento apenas me calei.

Anos depois aquele monstro faleceu de câncer, nada culpada, tenho a certeza que foi o pagamento por tudo que ele foi capaz de cometer quando ainda estava aqui, sinto que ele mereceu. 

Espero que um dia, e que esteja próximo, essa dor se vá, que suma e me deixe tomar as rédeas de meu corpo novamente, sei que tenho esse direito. 


-Manu Licore

Por Manuela Licore

4 comentários:

  1. Manuela, é de uma tristeza absurda que uma criança de apenas 8 anos perca sua infância por causa de um monstro nojento repugnante. Ninguém merece passar por essa situação que, como você escreveu, afeta suas relações até hoje. Espero com todas as minhas forças que o nojento que fez você passar por isso esteja pagando, nem que seja espiritualmente, por toda a dor que te causou.

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  2. Manuela, parte o meu coração saber que dividimos a mesma dor, isso nunca deveria acontecer a ninguém, menos ainda com uma criança. Contudo, te digo que é possível seguir em frente e reassumir o controle do seu corpo e da sua vida, não dê poder ao outro dessa forma. Você conseguirá, tenho certeza e torço muito para que isto aconteça logo, fique bem!

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  3. Manu, venho acompanhando seus textos e me compadeço da sua dor. Sinto algo muito forte sempre que te leio. Talvez seja a mesma força que te manteve viva e te trouxe até aqui, mesmo depois de tudo o que passou. Mas agora você não está sozinha: você tem a nós, aqui e para além dos pseudônimos. Conte comigo sempre que precisar.

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  4. Você trouxe um texto muito forte, Manu. Suas palavras me atingiram com força. Não consigo imaginar como é sofrer essa dor mas compadeço do que você descreveu.

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