Drummond escreve sobre Drummond

Admiro o grande cronista e poeta que Carlos foi e considero complicado escolher uma apenas crônica, mas como é necessário, começarei pelo fim. Escolho Ciao, sua última crônica, porque gosto de despedidas e a melancolia do momento me emociona e propõe muitas reflexões acerca de todo caminho percorrido. Drummond se despede com maestria do ofício de cronista, como um jogador que "pendura as chuteiras" após uma gloriosa carreira.  

- Sobre o que pretende escrever?

- Sobre tudo. Cinema, literatura, vida urbana, moral, coisas deste mundo e de qualquer outro possível.

Escrever sobre tudo com uma genialidade singular, traço característico de Drummond. Não desejo ser como ele porque o considero inigualável, mas questiono diariamente se, quando eu estiver prestes a "pendurar as chuteiras", terei o mesmo orgulho em escrever sobre minha carreira, minhas memórias e vivências. Espero que sim. Espero que o meu "ciao" também seja repleto de boas lembranças e motivos para me alegrar, desejo olhar para trás com gratidão, como Carlos olhou.

 "E é por admitir esta noção de velho, consciente e alegremente, que ele hoje se despede da crônica, sem se despedir do gosto de manejar a palavra escrita, sob outras modalidades, pois escrever é sua doença vital, já agora sem periodicidade e com suave preguiça."

Escrever é nossa doença vital, isso temos em comum. Escrever é sempre um prazer, uma forma de escapar, uma maneira de sentir, provar, questionar e deixar registrado todo sentimento latente e toda vontade incessante. Tudo que precisa ser lembrado, eu escrevo.

Agradeço a todos pela atenção e por cada dica, conselho e palavra de apoio. Quando chegar o momento de dizer tchau, lembrarei de cada um.

Por Drummond