sexta-feira, 4 de outubro de 2019


Sem palavras

3, 4, 5 da manhã. O ronco do meu pai parece debochar da minha incapacidade de dormir. Mas eu não ligo. O que vivo agora é mais urgente, me reviro na cama, enfio a cara no travesseiro involuntariamente tentando conter o meu riso. Hoje só preciso e quero repassar na minha cabeça cada toque e movimento do que vivemos mais cedo, que sei que não da para esquecer, mas tenho que revivê-los em mente antes que qualquer mísera oportunidade deles caírem no esquecimento surja.
Você tem um jeito tão seu de fazer coisas banais se transformarem num espetáculo... Fui te ver usando meu vestido branco meio surrado, que você diz que ficar lindo na minha pele morena.
Quando eu cheguei no seu apartamento, você me saboreou, me comeu com os olhos e fez minhas pernas bambearem só por emitir aquele sorriso de orelha a orelha seguido de uma passada de língua pelos lábios, igual quando estamos famintos e vemos comida.
Você tem paladar. Você não tem pressa, mas eu tenho e tenho muita. Você me deita no sofá e eu me abro para você. Você levanta o meu vestido, quando vi a calcinha já estava no chão. Mas você não tem pressa, pousa o rosto entre as minhas cochas, e ignorando a urgência com que te preciso, analisa o meu umbigo, da uma risada olhando dentro dos meus olhos e diz que ele é muito bonitinho e propício para se botar um piercing. Não tenho nem forças para te responder, aliás, você me deixa assim, sem palavras.
Me abro ainda mais para você esperando talvez por um consolo, ou quem sabe uma punição pelo vácuo em que te deixei. Sinto seus dentes sendo cravados em minha pele, e então seus lábios em meus lábios, você me beijando como se isso fosse a única coisa a se importar no mundo, e beijando tão fundo que até minha alma se sentiu desejada. Mas eu quero sempre mais, sou assim mesmo, insaciável.
E como nas lutas de artes de marciais em questão de segundos já estamos no chão, na verdade, estou em cima de você.  Sendo sua, me dando de presente à você, o Natal está chegando né? Nesse momento somos um só lugar, um só desejo, um só prazer, uma só dor.
Meu Deus, é o melhor lugar do mundo, sinto gratidão por estar viva, seu corpo no meu, minha pele na sua. Rio e mar, desaguamos um no outro. E no fim, quando eu volto a ser só minha e você só seu, você nem precisa perguntar se foi bom, porque meu corpo já te respondeu isso minutos antes.
E agora já são 6h da manhã, desisto do sono e resolvo me levantar. Vou ao banheiro lavar o rosto e quando me olho no espelho rio sozinha quando percebo que perdi uma noite de sono para reviver mentalmente aquele nosso momento. Será que você também pensou em mim esta noite? Não sei...
Irônico como você me faz sentir tão singular num dia e tão plural no outro...
Singular e plural são flexões gramaticais para indicativo de número de substantivos e adjetivos, mas como deixei claro antes, não há substantivo, adjetivo, palavra que me faça descrever como você me faz sentir. É que depende do dia. O jeito que você me trata é tão irregular quantas regras gramaticais do nosso português. Mas para o meu prazer (ou pavor), você sempre volta e me deixa sem palavras.
Metamorfose Ambulante

9 comentários:

  1. Quero aproveitar esta oportunidade para agradecer ao Dr. Padman. por me ajudar a recuperar meu amante depois que ele me deixou alguns meses atrás. Enviei amigos e meus irmãos para implorar por mim, mas ele recusou que tudo acabasse entre nós dois, mas quando conheci o Dr. Padman. ele me disse para relaxar que tudo vai ficar bem e realmente depois de apenas dois dias eu recuperei meu homem. muito obrigado Dr. Padman. aqui está o e-mail desse grande homem, se você precisar da ajuda dele, pode entrar em contato com padmanlovespell@yahoo.com

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  2. Amei seu texto, apesar de simples tem uma visão bastante pessoal e sensível em relação ao que foi vivido pela personagem, muito bem escrito, parabéns.

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  3. caraca, que real! você conseguiu dosar muito bem o sentimentalismo com o sexo. essa foi uma das minhas favoritas até agora. parabéns.

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  4. Dá pra ver a emoção que você põe no texto, sem pecar por excesso de sentimentalismo. Texto muito bem equilibrado, amei!

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. Eu amei! Muito envolvente o texto e a forma como você descreve o momento, inclusive a maneira como começa no presente com você tentando dormir, mas se desenrola na descrição de sua lembrança, o que nos faz sentir como se estivéssemos ali. Me atentaria somente à alguns erros de pontuação e ortografia como "cochas" e não "coxas".

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  7. O texto é envolvente demais e sua brincadeira com o uso do português torna a crônica gostosa de ler no último parágrafo.

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  8. Gostei muito! A relação com o português, as metáforas utilizadas e a emoção que você conseguiu passar fazem deste um texto muito envolvente. Muito bem escrito, adorei o modo como a história e o sentimento vão se desenvolvendo e progredindo naturalmente. Parabéns!

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  9. Gostei de como fez o titulo da cronica ter um sentido mais profundo dentro da narrativa, até fechando o texto com as mesmas palavras. curti essa sua escolha estetica, parabens.

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