Morena misteriosa
Levantou da cama e foi sextar,
naquele dia frio até pensou em hesitar, só não sabia que no fim encontraria
motivos para naquele dia nem acordar.
Nossa história começa no Flamengo,
não o time, o bairro. Lembro de ver o relógio marcar 19 horas, quando o
passarinho, preso na gaiola do meu celular, entoou seu canto. Era aquela
morena, de anos, que jogou um “oi sumido” e saiu em disparada. Achei estranho,
mas embarquei nessa aventura, era dia de gol do ? Fui até a cozinha e peguei
aquele único pedaço de mortadela, juntei a um pão semi velho que logo deu
“match” nessa mistura. Hoje era o dia!
Boemia carioca, cenário de inúmeras
histórias de amor e tristeza, de romance ou de dor, chegava pela Lapa por
volta das 22 horas daquela noite gelada como a cerveja que me aguardava ao
lado daquela bela morena de lábios carnudos, cabelo sedoso, corpo quente e
pele macia. Um beijo viciante, sem igual, de fazer arrepiar qualquer pelo do
corpo, e trazer um calor instantâneo e inexplicável .
Depois de algumas horas de
conversas, debates, ensinando ao mundo a selar a paz, saímos daquele bar e
entramos na madrugada pelas gafieiras locais. Ela indicou e nós fomos. No
caminho me surpreendi com tamanho conhecimento dela por aquelas ruas, mesmo
morando pra lá da zona oeste. Chegando no berço dos bambas, a música era tão
contagiante que ela logo me puxou pelo braço e fomos entrando, sem qualquer
tipo de identificação nem nada. Ah, curtimos uma bela noite...
Ao fim, quando me arrumava para o
complemento da noite, fui até o banheiro dar aquela última ajeitada no cabelo
antes de um convite formal. Quando entro, escuto dois caras elogiando uma
morena que dançava na pista. Até ai tudo certo, me fiz como homem possessivo
e ri daquela cena, já que a morena me acompanhava. Foi então, que os dois
começaram a apelar um pouco nos comentários, o que não foi muito de meu
agrado e me fez ter a brilhante ideia de misturar o álcool e a valentia, dois
inimigos de qualquer ser humano, e trocar algumas belas palavras com os
amigos de toalete. Com alguns elogios trocados, resolvi mostrar ao baixinho
de camisa preta que a água do banheiro estava limpa, mas a da privada não. O
fiz olhar o mais perto possível, mas seu amigo não deixou o colega aproveitar
o momento de observação e resolveu me fazer um carinho com sua mão fechada.
No primeiro cruzado, meus olhos abriram e descobri que o baixinho na
realidade era quase da altura da porta do banheiro, não achei isso legal. E
ele veio até me abraçar, num ato de bondade?
Só lembro de acordar encostado em
uma parede branca e sentado em um chão molhado e meio cinzento, um pouco até
grudento. Talvez o agora grandão de camisa preto tenha me colocado ali para
apoio ao belo cochilo que tirei naquela noite. Mas e a morena? Sumiu pela
madrugada da Lapa, sem deixar qualquer mensagem, ainda me deixou a pagar
sozinho todas as contas daquela noite.
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sexta-feira, 4 de outubro de 2019
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Seu texto mistura descrições interessantes e formas de narrar pouco usuais, mas comete alguns deslizes que podem ser aprimorados em outros trabalhos. Não sei se foi alguma experimentação, mas há uma mistura de tempos verbais nos primeiros parágrafos, como "levantou", "começa" e "lembro". Isso proporciona uma estranheza em relação ao narrador ser, ou não, personagem. Digo, se a história será narrada em 1ª ou 3ª pessoa. Além disso, tome cuidado com a repetição de palavras e as aliterações. No começo, pensei que você faria um texto rimado, mas percebi que não era o caso. Contudo, gostei da forma como induziu o leitor a criar uma determinada expectativa que seria quebrada no final. A mesma frustração que o personagem acaba vivenciando também. Outro ponto positivo do texto é a maneira como você constrói a atmosfera da Lapa e da narra com dinamismo a "mudança aleatória de bares". A cena da briga também possui uma "leveza", sem exageros desnecessários. Espero que meu comentário te ajude de alguma forma. :)
ResponderExcluirNão seja tao rude...O texto é ótimo,ele descreve perfeitamente o clima da Lapa,dos bares da Lapa,as pessoas da Lapa...Só quem frequenta a Lapa entende.Além disso é encantador a forma que ele lapida a imagem da morena,até eu quero conhece-la e leva-la para beber...Na Lapa!
ExcluirNão acho que P.J tenha sido rude Somália, foi uma critica pertinente. O texto é bom, sim, e também gostei da forma como ele descreve o ambiente e a morena, mas realmente esses pequenos "erros" incomodam um pouco, algo que Brócolis Verde pode aperfeiçoar depois dessa dica.
ExcluirComentário de nenhuma forma foi rude! Me indicou algumas coisas que nem havia percebido, por isso agradeço. Só queria destacar quanto a rima, momento em que tentei captar a atenção do leitor, e que de certa forma deu certo pelo seu destaque no comentário.
ExcluirConcordo com P.J Souza,que as mudanças de tempo verbal causam uma certa estranheza e podem confundir o leitor,acho que no próximo texto vc poderia se atentar a isso,mas não é nada que tire o mérito da sua crônica gosto muito da forma com que vc constrói a narrativa criando uma certa expectativa,que no final não é correspondida achei muito interessante e funciona muito bem.
ResponderExcluirComo já foi dito em sala, no começo do texto achei que seria algo relacionado a sexo, mas você mudou totalmente o rumo da história e acabou que contemplou os dois temas com uma quebra de expectativa bem legal. Parabéns!
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirTexto muito agradável de ler, com um desfecho genial e muito criativo! Creio que o estereótipo da "morena" tenha sido proposital para nos apontar uma direção supostamente óbvia, enquanto, na verdade, nos aguarda uma grande curva no final. Parabéns!
ResponderExcluirgostei de como o texto cria uma expectativa de que a história vai seguir por um caminho, no caso o sexual, mas no final é que descobrimos que na verdade trata-se de uma crônica sobre brigas.
ResponderExcluirGostei da quebra de expectativa e da maneira que foi relatado a situação. Bem interessante olhar pra história pela perspectiva dada.
ResponderExcluirNão sei se isso foi feito de maneira consciente, mas para mim seu texto permeou de alguma forma todos os temas sugeridos pelo professor: o sexo, a briga e o ciúme... Adorei isso, pois considero a ideia de envolver e reunir múltiplos sentimentos e enfoques bem criativa e, principalmente, humana. Outro ponto que destaco é o da utilização do ponto de interrogação neste trecho: "E ele veio até me abraçar, num ato de bondade?", pois apreciei muito a sua escolha, uma vez que você poderia ter introduzido a "dúvida" do personagem de outras formas mas, com o "?", escolheu a transformar, para o leitor, em um pensamento solto/livre do personagem... Isso traz uma sensação de dinamicidade e envolvimento ao texto e ao leitor. Também gostei bastante da forma que você escolheu para narrar a briga e determinadas passagens, carregada de "eufemismos", metáforas e ambiguidades, como em: "... resolveu me fazer um carinho com sua mão fechada", "... tenha me colocado ali para apoio ao belo cochilo que tirei naquela noite" e "... me deixou a pagar sozinho todas as contas daquela noite". Essas são estratégias bem interessantes, leves e divertidas para complementar o seu texto e a experiência do leitor... Continue utilizando-as, mandou bem!
ResponderExcluirAgradeço pelo comentário e pelo retorno.Foi sim minha intenção ao tentar abordar os três temas propostos em sala, mas não saiu bem como eu queria, já que você acaba tendo que abrir mão de alguns detalhes para não alongar muito o texto. Obrigado pelo retorno!
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