Botafogo, 29 de julho de 2017

 Estamos deitadas na sua cama. E sim, somos amigas, mas tem algo diferente, como se alguém tivesse esbarrado em um botão escondido no nosso controle. Não consigo mais ouvir o desenho animado passando na TV porque minha mente está focada na sua respiração pesada no meu ouvido. Era para ser apenas mais uma visita e você ainda está com aquele garoto. Mas suas mãos nas minhas costas me puxam para perto. E eu sei que não deveria, mas me deixo ir completamente entregue. É como se eu estivesse esperando por isso há anos. Uma pausa quando nossos narizes estão se tocando e seus olhos estão cravados na minha boca. Então de repente eu penso - isso é errado. Eu preciso parar.

Então você me beija. Desesperadamente. Meu peito vai a mil. No que eu estava pensando?! Não me lembro. Tudo dentro de mim se resume a uma vontade enorme por você. Meu. Deus. Suas coxas, sua cintura. Você pega minha mão e a coloca em lugares que eu teria muita vergonha de tomar a iniciativa de tocar. Pele macia. Eu preciso…

Desculpa, perdi a linha de raciocínio. Não consigo me concentrar com sua língua no meu corpo. Já não lembro quem somos. Espera, lembrei de uma coisa. Sua cortina está aberta. Seus vizinhos estão vendo a gente? QUEM SE IMPORTA? Foda-se os vizinhos. Foda-se os seus pais no quarto ao lado. Foda-se essas últimas roupas no nosso caminho. Foda-se o meu orgulho. Você já jogou o seu fora quando tirou a blusa e sentou só de calcinha em cima de mim.

Me permito ficar viciada no gosto do seu corpo e no som da sua respiração falhada. Nada nunca tinha sido tão natural para mim quanto foi me encaixar em você. Nem o calor do Rio de Janeiro é capaz de separar nós duas enquanto esperamos nossos batimentos se acalmarem. Daqui a pouco eu tenho que ir embora, mas enquanto minha hora não chega, me perco nos seus detalhes te vendo descansar ao meu lado. Você é linda até mesmo quando vira o meu mundo de cabeça para baixo.

Souza Queiroz