sexta-feira, 4 de outubro de 2019


O amor é cego

  Ele não teve dificuldade para abrir a porta, ele a pegou pelo braço delicadamente e a guiou para dentro do novo cômodo, ela tateou ate suas mãos entrarem em contato com a maciez dos lençóis. Quando ouviu os passos de seu possível amante sentiu que deveria ter aceitado a taça de vinho antes oferecida, ela o desejava intensamente desde o primeiro momento que sentiu seu rosto com as mãos experientes. O medo a consumia de dentro para fora, mas logo deu lugar ao “fogo que arde sem se ver” quando as mãos de Augusto deslizaram de seus ombros desnudos até abaixo dos pulsos, ela o sentiu afastar os cachos de seu cabelo do pescoço para plantar ali um beijo que deixou um arrepio percorrer seu corpo.
  “Amo seu cabelo” Augusto sussurrou em seu ouvido. Ela fez uma anotação mental para se lembrar de agradecer à Rosa por ter arrumado seus cachos. Eles finalmente estavam de frente e Márcia sentiu que ele a olhava, para retribuir esse ato ela passeou com os dedos pelo seu peito já nu, pelo que pode sentir, até lhe tocar a face e sentiu suas covinhas se acenderem e as bochechas se afofarem. De repente seus lábios foram invadidos pelo gosto do pérgola, aquele beijo quente era tão cheio de significados, mas a mente de Márcia já havia se consumido de paixão para pensar em qualquer um deles, ela sentiu ser levantada e afastou os joelhos para agarrar o homem que mais desejou na vida.
  Pousaram na cama sem desgrudar seus lábios por nenhum segundo. O contato se perdeu finalmente quando Augusto a despiu do belo vestido branco rendado que lhe dava tanta excitação. Ela não usava sutiã, então quando os olhos dele encontraram aquele espetáculo sua reação instantânea foi levar sua língua até aquele seio tão bem feito e sugar gemidos prazerosos daquela doce e incomparável mulher. Márcia instintivamente buscou os cabelos de seu homem para puxa-los enquanto se deliciava com aquele frenesi de prazer. Ela sentiu um dedo sorrateiramente se arrastar até a calcinha cuja cor ela não sabia e acariciar sua área mais sensível, ela emitiu um som que o fez olhar para o rosado em suas bochechas, as sobrancelhas franzidas e o beiço inferior que estava entre os dentes. Aquela imagem o fez pensar se ela... “se pudesse ouvir o olhar, E se um olhar lhe bastasse, Pra saber que a estão a amar”. Ela o levou ao auge quando pronunciou seu nome com uma voz úmida e suave, quase como um suspiro.
  Ele recolheu seu dedo úmido, ela se remexeu em protesto, mas logo se acalmou quando percebeu estar totalmente livre de sua roupa de baixo, sentiu o vento frio de outono perpassar seu rosto e presumiu que a janela estivesse aberta, mas o calor que dominava seu corpo era maior que o do próprio centro da terra. Beijos suculentos espalharam-se por seu corpo até o lóbulo de sua orelha então ouviu com clareza “você me deixa louco, vou fazer o mesmo por você!”. Então ondas de prazer foram emanadas por toda sua extensão como as que são geradas ao atirar uma pedra no rio e alastram-se pela superfície. Tê-lo dentro dela era algo que nunca havia sentido antes, e pela primeira vez não almejou seu sentido perdido. Naquele momento ela podia ver mais que qualquer um, além de qualquer horizonte, sua alma se transcendia a outro nível. E por fim, o ápice do incêndio foi atingindo, com chamas que alcançariam até mesmo o olimpo e causariam inveja até mesmo em Afrodite.
  Eles aninharam seus corpos e entrelaçaram as pernas mantendo as testas unidas e sentindo a corrente elétrica diminuir e dar lugar a uma harmonia melódica e silenciosa, quase como se pudessem ouvir ou o rouxinol ou a cotovia, mas nenhum deles se preocupava em partir. Naquele momento eram eternos. 
Margo Blue

10 comentários:

  1. Texto muito bom!!! As metáforas conseguem exprimir muito bem o que as personagens estão sentindo, achei muito legal a citação de um dos versos Camões. Interessante também que tanto a personagem feminina, como a masculina são narrador-personagem.

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  2. Achei o ótimo o novo sentido que você criou para o título do texto. Uma frase já conhecida, mas agora usada por você de forma literal. A inclusão é sem dúvida um dos méritos de seu texto, além das metáforas já comentadas pelo Metamorfose Ambulante. Você também conseguiu descrever de forma eficaz e clara o que a cena representava para cada personagem. Acho que o maior problema é a pontuação. Tente fazer uma revisão ao final da escrita, verificando a fluidez e ritmo do texto. Mas isso não excluí os pontos positivos de sua crônica! ;)

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  3. Conseguiu expressar bem a forma que o sentido da visão foi, num momento de prazer, substituído pelos sentimentos da personagem, com uso de metáforas. As citações de Camões e Fernando Pessoa também se encaixaram bem na proposta do texto

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  4. As referências e o uso das metáforas foram usadas como um efeito no texto. Parabéns.

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  5. A forma detalhista com que você descreveu a cena me fez conseguir senti-la de verdade, assim como os personagens. As citações também se comunicaram muito bem a proposta do texto e agregaram na sua descrição. Concordo com P.J. Souza, seria bom uma revisão na pontuação. Algumas frases do seu texto ficaram muito longas atrapalhando um pouco o ritmo da leitura. Mas independente disso, o texto está ótimo. Parabéns!

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  6. Olá, Margo. Gostaria de elogiar a sua capacidade de descrever as cenas de maneira tão fiel que consegue nos fazer imaginar completamente cada ação delas. Adorei também a citação do poema de Camões logo no primeiro parágrafo e o fato de você ter usado uma linguagem bem mais romantizada para falar do sexo e, ainda assim, não tornar o texto tão clichê. Apenas gostaria de chamar a atenção ao fato do uso exacerbado do pronome pessoal, especificamente a 3a pessoa do singular, não sei se foi usado dessa forma com algum propósito, se foi não consegui entender muito bem. No mais, ótimo texto.

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  7. Gosto como usa muito bem as palavras e como descreve os detalhes me fazendo parecer muito mais real.

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  8. Parabéns pelos detalhes que fizeram toda a diferença no texto.Soube usar muito bem as palavras para descrever as cenas.

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  9. Cada detalhe descrito por você fez com que eu me sentisse na cena, sua escrita foi muito bem feita e me fez conseguir imaginar cada cenario construído por ti. Parabéns !

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