sexta-feira, 20 de novembro de 2020

Detestável Glen Coco,

 Agora que chamei sua atenção espero que leia até o fim, minha amada amiga. Antes de tudo, tenho 1,85 cm. E de pequena, apesar de formiga, apenas a fé em Deus. Negro, gay, anarquista. Black Bloc. Sem medo, sem juízo, nunca me apego aos bens materiais. 

O isqueiro sim está aqui. A maconha eu dispenso. O cigarro eu amasso cada maço. De março a março. Aliás, sou ariano. Não amo, não clamo, não chamo por ninguém. 

Anti-sistêmico. Destruo banco e derrubo ônibus. Pichação é arte sim. E que vá para o céu a lei 9065/98, pois o inferno é bom demais para receber gente assim. 

Vivo suado. De sangue, de água, de sede. De correr e apanhar da polícia. No fim, sou um preto da favela. Mais um. Que escapou da escravidão, mas segue levando tapa na cara e sendo pisoteado. Do asfalto ao morro. Preto de Deus e do povo. 

Sou formiga pois sou igual a todas as outras. Sou negro, pobre, fudido. Calça rasgada, chinelo de dedo desgastado e regata suja. Vivo em um formigueiro, resisto neste puteiro. Me visite um dia, Glen, será um prazer tê-la entre o bem e o mal. Mas lembre-se: do lado de cá a bala não é de borracha e a bomba não é de efeito moral.



                                                                                                                Formiga Atômica

O retrato de Filha de Oyá

 Há aprendizado em escrever sobre si mas o eu visto pelos meus olhos que nunca sequer viram meu rosto é prisão, é espelho embaçado, reflexo do que tento ser, do que criei de mim e dessa busca incansável do que nunca sei se sou, então, usando de toda licença poética que Lizzy Bennet me deu, vou ser abstrata. 

Lizzy escreveu sobre minhas palavras e por mais vago que tenha parecido pra alguns as vezes penso que elas são as partes mais reais de mim ou pelo menos os únicos pequenos reflexos do eu em que posso confiar cegamente - pois ainda assim não me enxergo de longe. 

De longe, quando não está escrevendo suas pseudo profundidades sem compromisso nenhum com o uso correto de vírgulas, você pode ver Filha de Oyá na praia em um dia nublado, perdendo no mínimo meia hora pra escolher um sabor de sorvete, chorando pela política mundial, discutindo fervorosamente sobre música pop, rodeada de amigos, sozinha no canto da festa ou defendendo que Loki, na verdade, nunca foi o vilão. 

Assim, no final do dia, Filha de Oyá não é revolução como gostaria de ser, por mais que seja revolucionário existir em seu corpo; Ela é sobrevivência, principalmente nos seus clichês e fundamentalmente é apenas o meu eu lírico, essa fração de um dos muitos cacos da figura completa, essa pequena porção do que foi preciso ser criado pra não perder a cabeça, a poesia e as sustentações; com os pés descalços firmes, fincados na terra, entrelaçados em raízes ancestrais enquanto segura universos internos nas costas. E sua escrita, como disse Bennet, é seu amor no mundo. 

A repetição involuntária dos Mundos na crônica de Lizzy, notados tantas vezes nos comentários, escrevem também por si só, de forma divertida (e preocupante) pra mim, sobre a sufocante busca de tentar salvar todos mesmo em constante afogamento em si. Essa falsa sensação de que ela pode curar o mundo com palavras bonitas e versos floridos, esquecendo que é preciso se resgatar dela mesma primeiro. Esquecendo que por mais viva que a palavra seja não só dela pode se viver. 

Ela, que às vezes sou eu e em outros momentos nem perto de mim chega, existe nessas nuances de não saber em qual dos espelhos realmente mostra sua imagem e qual deles está apenas lhe mostrando o que ela quer ver; mas, por agora, se contenta em existir em algum lugar entre as poesias desse blog e a imaginação dos olhos de quem me lê. 

Depois de mais um monólogo pseudo profundo deixo aqui esse retrato inacabado de mim em palavras e frases mal pontuadas, aberto a interpretações. É a beleza de conhecer o interno antes de conhecer o externo, mesmo a gente ainda não sabendo bem quem realmente é, nem por fora, nem por dentro.


                                                                                                        Filha de Oyá


A Jornalista da Casa da Serpente

 Sento em minha cadeira na redação do Profeta Diário, localizado no Beco  Diagonal, com meu vestido verde, cabelos loiros, óculos vermelhos e minhas  expressões marcantes me acompanham. Do jeito que todos me conhecem. O editor  chefe se aproxima de minha mesa e elogia minha matéria publicada naquela manhã, a  qual falava dos depoimentos dos integrantes do Torneio Tribruxo. Ele sempre dizia que  eu escrevia como ninguém, era a melhor dali, mas aquela tinha sido a melhor de todas,  já que foi uma das edições mais vendidas do jornal. Imagino que seja pelo fato de que  Harry Potter era um dos participantes e tinha “quebrado” uma regra das inscrições. 

No fim de todos os elogios, ele diz que os bruxos querem conhecer mais sobre  mim e pede para eu escrever uma matéria falando de toda minha trajetória e como eu  me sentia entrevistando acontecimentos marcantes. E foi aí que ocorreu o que minha  amiga, A Mulher do Fim do Mundo, disse, era uma “prova” e eu deveria falar sobre  mim. Demorei, analisei as paredes, reparei nas corujas voando, mas consegui, te garanto  que não foi a melhor matéria que produzi, talvez esteja entre as piores. 

Falar um pouco de mim... Sempre fui uma mulher muito expressiva, extrovertida, simpática, misteriosa, curiosa e sempre almejei meu sucesso, tanto  profissional quanto pessoal. Porém, não sou como falam de mim, sou o oposto. Odeio e  sempre fui/sou a primeira a criticar quem propaga e escreve notícias falsas. Sempre fui  criticada por falar o que eu penso sem papas na língua e isso sempre foi motivo para me  chamarem de metida e nojenta. Além do fato de que eu sou da Sonserina, e as pessoas  mal informadas criam todo um perfil errado sobre quem é dessa casa. Nós não somos  ruins, os melhores e os piores saíram de lá, mas não é porque Você-Sabe-Quem é de lá,  que todos são ruins. Vejam só o Malfoy, mentiu para Bellatrix sobre Harry. Acho que  deveriam se permitir a conhecer mais sobre nós antes de nos criticar. 

Sou uma pessoa bem ousada nas minhas escolhas e relações pessoais. Quando  sou posta sob pressão sou bem realista, direta e confiante. Nunca pensaria em desistir ou  forjar um desmaio. Se me esforcei e batalhei por aquilo, vou até o fim, mesmo que isso  seja posto em xeque e eu tenha que provar. 

Uma coisa minha amiga, a citada lá em cima, tem razão, sei como ninguém ser  precisa em poucas palavras quando é necessário. 

Eu tenho uma autoestima boa. Mas, claro, tem dias que está baixa, como  qualquer ser humano. Imagino que os trouxas tenham mais desses dias, até porque, qual  a graça do mundo deles? Falo demais, sou uma tagarela e, pode parecer que não, mas  tenho muita empatia, muita mesmo. 

É, Mulher do Fim do Mundo, muita coisa sobre meu pseudônimo não estava  como realmente é, mas em relação a quem está sentado aqui digitando, você, talvez, um  dia descubra se acertou ou não. 


                                                                                                    Rita Skeeter


Uma verdadeira manhã com a Princesa Jane

 Levanto-me com o susto do despertador e logo corro para desligá-lo. Vestida com o meu pijama azul escuro de bolinhas brancas preferido, me espreguiço. No banheiro, fujo do espelho para não ver o meu rosto de sono desengonçado. Logo prendo o meu cabelo cacheado que todos os dias insiste em acordar armado.

Faço a minha vitamina para o café da manhã, sem esperar pelo restante da família, e logo me sento na minha escrivaninha, no meu quarto. A partir desse instante o tempo é o meu inimigo. Termino de beber a minha vitamina e limpo a minha boca que se camufla no tom da vitamina de chocolate. Ligo o meu notebook. A luz da tela logo me desperta. Me sinto pronta para começar o dia.

Não importa a correria do dia, eu sempre paro para admirar o céu. Até nos dias nublados há beleza. Mas confesso que os meus dias preferidos são os ensolarados. É nesse momento, eu e o céu, que o meu relógio para. É nesse momento que encontro esperança, só de sentir a luz do sol tocando a minha pele morena. E é também nesse momento que dou o meu sorriso mais sincero do dia. Eu gosto de mantê-lo por aqui, por ser a minha característica favorita.

Mais uma manhã no meu reino, meu quarto. Que eu considero assim por ser o meu local preferido da casa. É o meu aconchego, minha fortaleza, onde me escondo todos os dias. E, além do mais, desde pequena me chamam de princesinha. Esse apelido deve ter sido escolhido por causa da minha delicadeza, mas hoje em dia as princesas estão mais fortes.


                                                                                                                 Jane Austen

Em resposta à Biruta

 Olá, caro Biruta

Se você jogasse na mega sena certamente marcaria uma quadra agora! Fiquei um pouco surpresa com suas suposições acertadas.

Eu realmente adoro comer, mas quem não? O problema é que engorda, tá difícil ser feliz hoje em dia! Haha O quesito liderança acho que não seja tanto o meu forte. Pra liderar é necessário calma e paciência de Jó, coisas que me faltam.

Eu também gosto bastante de me comunicar. Meu rolê favorito é ficar sentada em um banquinho qualquer rodeada de amigos conversando desde assuntos que envolvem a política nacional até papos escatológicos. Sinto que a troca humana me faz mais humana, e viva!

Com isso, já dá pra matar que também gosto de socializar, mas tenho minhas ressalvas. Nunca gostei daquela conversa quase que forçada e mecalizada em pontos de ônibus em que o desconhecido inicia um papo sobre assuntos banais, como a temperatura do dia, porque o sujeito não gosta de lidar com a própria solidão. Apesar de interagir muito e eu realmente gostar disso, ficar sozinha também é legal. É bom pra se ouvir e entender seus sentimentos e emoções.

E por mais que eu adore falar, eu também amo ouvir! Conhecer as histórias de vida das pessoas me fascina. Entender de onde aquele sujeito veio, suas realidades, vivências, experiências... Talvez por isso eu também tenha escolhido esse curso.

Eu não sei se sou uma boa conselheira. Por mais que eu acredite que seja alguém que pese todos os lados pensando nos prós e contras antes de emitir um conselho, acho que acabo me embolando nesse emaranhado de caminhos devido ao meu grande senso de indecisão.

Assim, dá pra perceber também que não sou uma das melhores em tomar decisões. Nunca me pressione para decidir algo rapidamente, provavelmente escolherei qualquer coisa sem ao menos refletir sobre isso! Mas nessa até que saiu coisa boa. Agora acho Mônica Magali um bom nome, por exemplo. Me vejo um pouco na Mônica, gosto de comer como a Magali (porém a sociedade julga) e adoro MM's.

Biruta, te confesso que nunca gostei da sua geração no desenho. Sempre fui Nutella e preferia assistir a versão dos anos 90 aos domingos de manhã. Mas você parece ser um cara legal, então espero que em breve possamos dividir um pacote de salgadinhos e rir de aleatoriedades juntos. Com carinho,


                                                                                                        Mônica Magali

Para Rita Skeeter, ou à que se interessar

 Querido Rita Skeeter,


Me diverti muito lendo o que você imagina sobre mim. Confesso que até acertaste em alguns pontos. 

Bom, te dizendo a verdade, se não estivéssemos em período pandêmico, eu com certeza estaria sentada na areia da praia, lendo algum romance e tomando um suco de laranja bem gelado ou quem sabe um belo açaí batido com guaraná e bastante morango. 

Gosto mesmo de parar, sentar e analisar tudo o que acontece à minha volta, enquanto escuto uma playlist aleatória no spotify, e penso em tudo… Qual será a música preferida dessa linda garota que passou por aqui? Ou por que será que esse senhor estava tão apressado? Enfim, respostas que nunca receberei.

Há tempos não consigo prender meu cabelo em um coque, o curtinho tomou conta de mim. Mas é claro, levo sempre comigo minha echarpe para não bater aquele ventinho no pescoço nas épocas de frio. Tenho várias, estampadas e lisas, mas a verde… Ah, a verde é de longe minha favorita, amo essa cor, amo a natureza (como você mesmo disse), adoro observar tudo que há de maravilhoso nela, desde aquela singela formiguinha carregando um pedacinho de folha até o grande oceano - mais uma das minhas grandes paixões - cheio de mistérios e sabe-se lá o que mais temos para descobrir dentro dele.

Não me descreveria inteligente e forte demais, sou fraca, emocionalmente e fisicamente… Não aguento a dor de um coração partido, uma amizade desfeita ou a dor de um fracasso acadêmico, às vezes, até mesmo um texto que não consigo escrever me faz entrar em colapso. Mas, por mais incrível e contraditório que pareça, não tenho o menor medo de me jogar em coisas novas, gosto mesmo de me arriscar. Amo conhecer pessoas novas, fazer coisas novas, testar coisas novas e ir à lugares novos. Sou de muitos hobbies, já tentei crochetar, bordar (nesse eu arrasei), cozinhar, desenhar, pintar e por aí vai.

Minhas amigas… elas são absolutamente tudo para mim, minhas irmãs. No ensino médio, eu era amiga de praticamente todo mundo, mas depois da formatura, acabamos nos afastando e como já era de se esperar, ficamos eu e elas. Mas tá tudo bem, tem muita coisa pra viver ainda, muita gente para conhecer.

Bom, acho que já falei demais.

Obrigada pelo seu texto sobre mim ;)

Com muito carinho, 

A Garota das Echarpes


                                                                                               A Garota da Echarpe Verde


Um pica-pau reflexivo

“Olá, Lucas Ribamar!

Fiquei extremamente surpreso em saber, através de um amigo, que você escreveu sobre mim. Confesso que de primeira minha reação foi, “seja lá o que for, NÃO FUI EU.”, até que meu amigo fofoqueiro explicou e não era o que eu pensava, ainda bem. Por isso, resolvi te dar essa devolutiva.

Confesso que você observou pontos sobre mim que talvez nem eu consiga definir tão bem nesta carta. Realmente, não sou tão brincalhão como imaginam, mas já fui e muito. No passado, era um Pica-Pau totalmente diferente do que sou hoje, brilhante, acho que brilhava porque era feliz, me divertia a cada momento e sempre aprontava junto com meu grupo de amigos. Também costumava ser mais biruta, não era aconselhado cutucar a ave com vara curta. Você acertou, agora a realidade é bem diferente, aquele brilho se apagou há alguns anos e invejo o meu antigo eu.

Costumo resolver as situações depois de pensar muito como você bem apontou e defendo com garras, unhas e bico os meus ideais. Prezo pela boa comunicação e tento não me alterar, confesso que em certos momentos não consigo expor tudo o que penso por me preocupar em não deixar o clima “tenso” e isso me prejudica. Por mais que eu saiba que tenho amigos para me apoiar, tenho outro defeito, costumo resolver os problemas sozinho e não consigo me abrir com tanta facilidade sobre eles. Porém, como você disse e eu concordo plenamente, sou muito pessimista, não porque quero, mas por medo. Não queria ser assim!

Acho que esse Pica-Pau de tanto que se afirmou e reafirmou como capaz, atualmente, se deu conta que fora do seu desenho a realidade não é tão doce assim. Na verdade, é muito amarga e vem amargando a sua vida todos os dias.

Agradeço pela análise e por me fazer refletir sobre mim mesmo. A propósito, o Durkheim ficou sabendo que você o mencionou, mandou um abraço, mas não quer ver nós dois tão cedo, se é que me entende. Já eu, espero encontrar você em breve, Lucas.


                                                                                                                  O Pica-Pau Biruta.