sexta-feira, 20 de novembro de 2020

O retrato de Filha de Oyá

 Há aprendizado em escrever sobre si mas o eu visto pelos meus olhos que nunca sequer viram meu rosto é prisão, é espelho embaçado, reflexo do que tento ser, do que criei de mim e dessa busca incansável do que nunca sei se sou, então, usando de toda licença poética que Lizzy Bennet me deu, vou ser abstrata. 

Lizzy escreveu sobre minhas palavras e por mais vago que tenha parecido pra alguns as vezes penso que elas são as partes mais reais de mim ou pelo menos os únicos pequenos reflexos do eu em que posso confiar cegamente - pois ainda assim não me enxergo de longe. 

De longe, quando não está escrevendo suas pseudo profundidades sem compromisso nenhum com o uso correto de vírgulas, você pode ver Filha de Oyá na praia em um dia nublado, perdendo no mínimo meia hora pra escolher um sabor de sorvete, chorando pela política mundial, discutindo fervorosamente sobre música pop, rodeada de amigos, sozinha no canto da festa ou defendendo que Loki, na verdade, nunca foi o vilão. 

Assim, no final do dia, Filha de Oyá não é revolução como gostaria de ser, por mais que seja revolucionário existir em seu corpo; Ela é sobrevivência, principalmente nos seus clichês e fundamentalmente é apenas o meu eu lírico, essa fração de um dos muitos cacos da figura completa, essa pequena porção do que foi preciso ser criado pra não perder a cabeça, a poesia e as sustentações; com os pés descalços firmes, fincados na terra, entrelaçados em raízes ancestrais enquanto segura universos internos nas costas. E sua escrita, como disse Bennet, é seu amor no mundo. 

A repetição involuntária dos Mundos na crônica de Lizzy, notados tantas vezes nos comentários, escrevem também por si só, de forma divertida (e preocupante) pra mim, sobre a sufocante busca de tentar salvar todos mesmo em constante afogamento em si. Essa falsa sensação de que ela pode curar o mundo com palavras bonitas e versos floridos, esquecendo que é preciso se resgatar dela mesma primeiro. Esquecendo que por mais viva que a palavra seja não só dela pode se viver. 

Ela, que às vezes sou eu e em outros momentos nem perto de mim chega, existe nessas nuances de não saber em qual dos espelhos realmente mostra sua imagem e qual deles está apenas lhe mostrando o que ela quer ver; mas, por agora, se contenta em existir em algum lugar entre as poesias desse blog e a imaginação dos olhos de quem me lê. 

Depois de mais um monólogo pseudo profundo deixo aqui esse retrato inacabado de mim em palavras e frases mal pontuadas, aberto a interpretações. É a beleza de conhecer o interno antes de conhecer o externo, mesmo a gente ainda não sabendo bem quem realmente é, nem por fora, nem por dentro.


                                                                                                        Filha de Oyá


19 comentários:

  1. Você escreve bem demais e sua sensibilidade é notável, meus parabéns, mais um excelente texto!

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  2. Que texto bom de ser lido. Parabéns. Amei de verdade. E essa forma de fazer o leitor ficar sujeito a interpretar como quiser deu muito certo. Abraços da Formiga!!!

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    1. Este comentário foi removido pelo autor.

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    2. Elogio vindo de você me deixa. uito feliz <3 Amo seus textos!

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    3. HAHAHAHAHA me deixa bobinho assim. Também amo os seus!!

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  3. Por que a insistencia em se dizer pseudoprofunda? Se foi um relato honesto de si mesma, então é profundo e pronto.

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  4. porque sinto que minha escrita é dramática sem necessidade de ser mas não sei mudar isso kkkkkkkkk inseguranças etc

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  5. Tive dificuldade de compreender seu texto devido a falta de pontos finais com majoritariamente apenas vírgulas. Talvez tenha sido a intenção, não sei, mas infelizmente não consegui alcançar a compreensão de sua poesia dessa semana! 🙁

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    1. eu nem tinha reparado mas obrigada por dizer e sinto muito que tenha ficado difícil de compreender 😟

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  6. Infelizmente, talvez por um gosto pessoal, senti a crônica um pouco extensa. Não sei dizer se foi pela formatação ou pelo tamanho (coisa que normalmente não me importa), mas me perdi um pouco ao longo do texto. Entretanto me deliciei com o pseudonimo e a imagem que se descreveu e fiquei ansiosa para conversar com ela sobre Loki e cultura pop

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  7. Muito lindo o texto, Filha. Muito boa a sua sensibilidade com a crônica da Lizzy, que você, ao meu ver, complementou. Parabéns.

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  8. Texto muito lindo, achei interessante como você escolheu falar sobre si. Só acho que poderia ter pontuado melhor as coisas que Lizzy acertou sobre você conforme ia desenvolvendo a crônica. No mais, parabéns!!

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    1. Muito obrigada, Gato! Então, eu tentei fazer isso, o texto da Lizzy era curtinho e falava mais sobre minha escrita do que sobre mim. Eu tentei pontuar oq achei interessante, no geral a base desse texto foi o texto dela.

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  9. AH, eu adoro sua escrita e chega a ser injusto que não tenha conseguido fazer justiça a 1% disso na crônica da semana passada haha. Parabéns pelo texto! <3

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  10. Eu amo o jeito que você torna os temas poéticos, me impressiono positivamente toda semana. Amei o texto e a forma que você se descreveu nele. Sou fã!

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  11. Eu adoro suas crônicas e essa é mais que eu adorei! Cada crônica que leio sua, tenho mais vontade de te conhecer.

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  12. Belíssimo texto, poesia e sensibilidade puras e longe de ser pseudo profundo. Parabéns, amei demais.

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  13. Sua crônica está linda, foi muito bem escrita, parabéns!

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