quinta-feira, 12 de agosto de 2021

Meu porto seguro


Quando eu ainda era bem pequena, minha mãe costumava cantar as canções dos

seus ídolos para mim. Ao som de artistas como Beatles e Caetano Veloso, eu ficava

sorrindo e dançando pela casa. Quando eu cresci, o meu gosto pela música cresceu de

forma incontrolável e sempre a usei como o meu porto seguro.

Sentia dificuldade para aprender inglês, usei as letras das músicas dos meus artistas

preferidos para estudar. Tive uma desilusão amorosa, escutei música para chorar e,

depois, para me animar. Acordava de mau-humor, colocava música e o dia parecia

diferente. Decidi estudar outras culturas por causa das músicas que eu escutava.

Sempre fui a que conhecia todas que tocavam nos lugares e fazia várias indicações.

Sabia falar desde o processo da produção da mesma, que eu teria procurado antes,

até cantar a letra inteira. As músicas sempre foram a minha base.

Talvez o problema seja que eu tenha usado elas para me esconder também. Criticaram

os meus gostos. Eu me senti isolada. Tinha poucos que me acompanhavam. Mas o

som no máximo nos fones tampava a confusão de pensamentos e sentimentos dentro

de mim. E, com isso, eu me libertava, dançava e me divertia em todas as situações.


Mundo Ressonante

Bem-te-vi

Celular tocando. Hora de acordar.

Um novo nascer do sol chegou. Mas é um dia frio, mais um dia frio.

As mesmas notícias no jornal... tudo parece no lugar, mas são tempos estranhos.

Saio de casa, dizem que é preciso se manter forte, siga em frente.

Durante meus passos percebo: bem-te-vi.

Seu canto me mudou, me fez voltar ao meu eu de novo.

As nuvens ja parecem mais esparças e a dor deu lugar a sorrisos.


Bem-te-vi. Bem-te-vi.

Por muito tempo te esperei, te buscando em outras pesssoas. Mas agora Bem-te-vi.


Esse teu cantar em sua mais pura liberdade num imenso mundo, bem-te-vi.


Bem-te-verei novamente, cantar. Bem-te-vi.


Light Yagami

Efeito sublime das minhas ações. Sublimação.



  “Quem combate monstruosidades deve cuidar para que não se torne um monstro. E, se você olhar longamente para um abismo, o abismo também olha para dentro de você.” 

                                                                                                                     - Nietzsche. 


  Não, esse não é um novo texto sobre sombras, na verdade, é uma nova introspecção. Por muito tempo eu me martirizei, seja por motivos que realmente eram importantes, ou por causas banais. Você que acompanha minhas crônicas deve saber como eu sempre explicitei minha intensidade em sentir demais tudo o que acontece comigo, e em minha volta. Terapia. Essa é a chave mestra para poder abrir a caixa de pandora benevolente que habita dentro de você e então se dar conta da preciosidade que você representa.


  Após algumas consultas eu pude perceber algo poderoso: eu não sou nada além do que eu. Negar a mim é negar a minha existência. Não posso controlar minha intensidade em sentir demais, mas posso fazer assim como na natureza, que nada se cria e nada se perde, mas tudo se transforma.


  Descobri que o poder das minhas ações pode mudar a forma que eu me sinto quanto a minhas angústias, lamentos e frustrações. Renegá-las para poder estender a mão para prestar suporte e apoio emocional a alguém que necessita tanto de ajuda quanto eu, é um sinal de altruísmo que irá me fazer bem por consequência. Quando fazemos o bem, o bem escolhe você de volta. A questão principal aqui pautada, é a empatia. 


  Entretanto, meu caro leitor, eu não quero que você me interprete equivocadamente, acreditando que eu só tenho empatia nos meus momentos de surto, desolação e crise existencial para eu me recuperar do tormento que é ser eu. Não. Gostaria que entendesse que o exercício de empatia me prova que nem tudo é sobre mim, que eu não sou o centro do universo e que existem outros problemas que precisam de mais atenção, de solução ou ao menos, a sensibilidade de se por em outro lugar: o do próximo. 


               - Apolo.gia.

vicioso / Melo.Dramático. / Estou tentando.




sonhou com o desespero, dez espadas encravadas em seu peito, o grito falhou e ajuda nunca chegou, descobriu uma nova jornada, mas recusou o chamado porque era o único personagem que conhecia, seu inimigo, pai e aluno viviam em seu coração, mas escolheu registrar, em sua falsa bíblia, o que escolheu que carregaria, deu o seu melhor, foi citado, chamou atenção, mas não sentiu nenhuma exaltação, se perguntava o motivo de ter chegado onde nunca imaginou, mas pensava que o motivo era a criação, ansioso, medo de como seria o próximo futuro, acelerado, como seria o novo lugar, seria uma nova pessoa, uma construção nova, mas não seria falsa? se arrependeria de quem se afastou, quem deixou de lado, de quem sabe que juntos poderiam ser algo, mas ele foi abandonado, buscou no silêncio a resposta, meditou sobre o passado, tentando encontrar uma base para o futuro, encontrou incerteza, medo, nenhum pingo de clareza, desejava tentar ser alguém diferente, mesmo gostando de quem é, sua missão era derrotar a instabilidade, se descobriu depois que o mundo parou, o interior se movimentou, começou a acreditar que já sabia o motivo. Já foi citado. chegou onde nunca imaginou. Isso já foi dito. ele se perguntou, mas recusou o chamado. De novo? ansioso em como seria o futuro, mas já morava naquilo que acreditou que não aconteceria, por isso não encontrava o presente, o que deveria fazer, sentia precisar fazer, como fazer, não era para fazer, não tinha nada para fazer, mas tudo era um grande ciclo,


 





A realidade avançava. O personagem não. Se sentia parado no tempo. Quase encontrou a morte. Aprendeu pela dor. Decidiu usar os pontos finais. Tentou abrir em seu interior um parêntese (mas é claro que foi uma catástrofe sentimental). Se encontra em uma quase conclusão. Uma grande foice passa em sua vida. A plenitude o assusta. Não está ligando muito para os erros gramaticais. Tem poucos anos. Que tanta é essa experiência que poderia ter. Esmurra a porta. Ainda não sabe o que fazer. Sabe que tem que fazer. O quê? Procura um sonho palpável. Não apenas ser. Aprendeu a se jogar. Já começou a pensar. Tem uma ideia de qual caminho traçar. Sem querer. Chama atenção. Sendo caótico. Fica grato. Sabe que faz o que está ao alcance. Está funcionando. Fica feliz por se superar. Tem a resposta. Ainda existe dor. Tristeza. Mas quer viver. Quer sair. Quer chegar longe. Ele sabe que pode. Quer parar de confiar no invisível. Porque sua fé o matou. Sua esperança se esgotou.


 




Minhas histórias não se concluem, idealizo que no futuro isso possa mudar. Tentei escrever algo melodramático, mas não consegui chegar naquele poço que, um dia, chegaria tão rápido. Essas músicas podem acrescentar algo na leitura, mas duvido que metade da turma leia isso, senão escute, não vale nota, é sempre sobre nota. Enfim, nada disso importa, foi tudo sobre esse caos, ou não, a interpretação é algo livre e de ninguém, mas sei que tenho comigo uma coisa, boa para alguns, catastrófica para outros. Algo que aprendi que posso controlar, é interno. Prometo que mesmo dentro de sistemas, números ou tarefas, isso nunca vai mudar.


 


Melodramático

Se quiser me encontrar, estou nas nuvens

Se a gente for no bar, vou colocar meu vestido vermelho novo. Não é novo né, mas por

causa da pandemia só usei duas vezes. Enfim, não sei qual acessório vou colocar.

Sempre fico em dúvida, queria mais opções douradas. Maldito álbum do Baco Exu do

Blues, tá difícil sair da minha fase de usar só prata. Lá vamos conversar sobre

faculdade, amigos, músicas, sonhos, vida. Não posso falar demais, acho que não tenho

tantos assuntos assim para as próximas vezes. Depois, vou ser convidada para entrar na

sua casa e a gente vai se beijar. Mas só isso, preciso ir embora pra casa. Me manda

mensagem, viu? Foi ótimo!

Vamos continuar saindo, porém não quero mais pensar em tantos lugares, tenho pouca

roupa para isso. E experiência, tenho pouca experiência com isso. 18 anos, nunca

namorar, beleza! Mas nunca ter tido um primeiro encontro? O que será que tem de

errado comigo? Não importa, não preciso pensar nisso enquanto fantasio outras coisas.

Deixa o pensamento quietinho ali no canto, não mexe, por favor. Valeu!

Gosto dos dias que sei que comigo não há nada tão errado assim. Acho que hoje não é

um desses, deixei a porta aberta e uma insegurança entrou. Pode ser meu corpo, minha

altura, meu cabelo, no fundo sinto que é o meu papo. Será que não sou charmosa o

suficiente? Será que é difícil se atrair por mim? Acho que não, tempos pré-pandemia

indicam o contrário. Como, então, é tão difícil para que eu me sinta querida? Diferente

de desejada. A resposta está na minha cara, mas é essa minha especialidade. Minha

sublimação. Criar cenários em que tudo acontece do jeito que eu quero e a realidade fica

pra depois. Tá bom, quase sempre tudo é diferente, mas posso imaginar que não.

Licença, pensamentos, não percebem que eu estou no mundo dos meus devaneios

agora?

Próxima cena.

Se a gente namorar, eu vou postar uma foto com algum verso de alguma música daquela

minha playlist para quando eu estiver amando e – será que as pessoas à minha volta

sonham acordadas tanto assim?

Ametista

Num futuro próximo

 Vou perguntar ao meu marido se posso comprar


Vou falar com meu namorado se posso sair hoje


Meu pai não pode saber que a minha mãe está quem pagou aquela conta do dinheiro dela


Tenho diploma de jornalista, igual ao meu marido, mas nunca exerci para cuidar das crianças, enquanto ele é bem sucedido na carreira


Preciso ir preparar o jantar do meu marido



São essas e tantas outras frases que denotam ao falocentrismo das relações homem e mulher e também nas relações das mulheres em sociedade


que entristecem



Estou estafada


Faz tempo que me sinto assim


Meus dias precisariam de, no mínimo, o dobro de horas para que eu pudesse fazer com tranquilidade cada passo a passo prescrito no livro da minha rotina


No entanto


Essas e tantas outras frases me impulsionam a viver cada segundo 


Feliz, alegre ou triste


para que 


num futuro próximo - assim eu espero


Eu não precise escutar saindo da minha própria boca nenhuma dessas


Tudo isso, enquanto toca no Spotify versos em vozes femininas como


“Uma tigresa/ de unhas negras...”


“...E enfrentar o dia-a-dia/ Reaprender a sonhar…”


“Respeito muito minhas lágrimas/Mas ainda mais minha risada…”


“Se acaso me quiseres/ Sou dessas mulheres que só dizem sim/ Por uma coisa à toa, uma noitada boa/ Um cinema, um botequim…”



Gosto também de assistir e reassistir a um filme que encontrei, por um acaso, há uns anos atrás, quando baixava filme no torrent do wifi do vizinho para assistir quando estivesse em casa


O diário de Bridget Jones


Ele é a história de uma mulher que sofre amorosamente entre dois amores


Tem uma família doida


Uma vida bagunçada


Mas tem sua própria casa, sua própria vida e um emprego 


É a materialização dos problemas que eu quero ter


Seria mais fácil se eu dissesse que preferiria não tem problemas


porém, como bem diz o senso comum: problemas todo mundo tem


Que os meus não sejam pautados em relações falocêntricas em que vou precisar viver os problemas de uma pessoa que não sou eu ou ter problemas por não poder viver os meus próprios problemas



Quero viver para mim e por mim


Ser o que eu quiser ser, quando eu quiser sim e se eu quiser ser


E se para isso eu preciso estar estafada


Que seja para que


Num futuro próximo


Eu possa me ouvir dizendo



Vou comprar


Vou sair hoje


Eu ganho para pagar aquela conta


Sou uma jornalista bem sucedida


Sou mãe


Sou mulher


Sou esposa, e daí?


Meu jantar está pronto?



Não sei por onde vou/ Não sei para onde vou/ Sei que não vou por aí! Obrigada, José Régio, por ter escrito esses versos que na voz de Bethânia me mostraram tantos significados ainda na adolescência. 



--

Don't call me Madam. 


'                               Prazer, 

                                                                               Perua. 

Válvula de escape

Há muito tempo a escrita tem sido uma verdadeira forma de escape. Minha imaginação conseguia me levar aos lugares onde eu queria estar, mas não chegava. Medos e inseguranças projetados pela minha própria lente de ficção. 


Ainda lembro de momentos em que alguém chamava minha atenção, porque eu estava pensando em algum outro cenário que havia criado. Hoje, as insatisfações com a realidade são transformadas em narrativas. As situações infelizes e as decepções são processadas pelas palavras.


Ninguém gosta de se sentir mal, fazendo com que os momentos felizes sejam tão curtos que parece que precisamos sempre reconquistá-los. Nunca foi fácil lidar com a angústia e a frustração, então, a escrita se torna uma forma de dramatizá-la. Para mim, há certa beleza em sublimar tristeza por meio dessa romantização. 


Afinal, é incrível ver que sentimentos que nos causam mal podem se tornar peças admiráveis. É difícil ter que reconstruir a realidade a partir da infelicidade, mas há algo bom em descobrir a capacidade da sua própria imaginação. Quem sabe a válvula de escape não se torna uma profissão? 


Tela Azul