Vou perguntar ao meu marido se posso comprar
Vou falar com meu namorado se posso sair hoje
Meu pai não pode saber que a minha mãe está quem pagou aquela conta do dinheiro dela
Tenho diploma de jornalista, igual ao meu marido, mas nunca exerci para cuidar das crianças, enquanto ele é bem sucedido na carreira
Preciso ir preparar o jantar do meu marido
São essas e tantas outras frases que denotam ao falocentrismo das relações homem e mulher e também nas relações das mulheres em sociedade
que entristecem
Estou estafada
Faz tempo que me sinto assim
Meus dias precisariam de, no mínimo, o dobro de horas para que eu pudesse fazer com tranquilidade cada passo a passo prescrito no livro da minha rotina
No entanto
Essas e tantas outras frases me impulsionam a viver cada segundo
Feliz, alegre ou triste
para que
num futuro próximo - assim eu espero
Eu não precise escutar saindo da minha própria boca nenhuma dessas
Tudo isso, enquanto toca no Spotify versos em vozes femininas como
“Uma tigresa/ de unhas negras...”
“...E enfrentar o dia-a-dia/ Reaprender a sonhar…”
“Respeito muito minhas lágrimas/Mas ainda mais minha risada…”
“Se acaso me quiseres/ Sou dessas mulheres que só dizem sim/ Por uma coisa à toa, uma noitada boa/ Um cinema, um botequim…”
Gosto também de assistir e reassistir a um filme que encontrei, por um acaso, há uns anos atrás, quando baixava filme no torrent do wifi do vizinho para assistir quando estivesse em casa
O diário de Bridget Jones
Ele é a história de uma mulher que sofre amorosamente entre dois amores
Tem uma família doida
Uma vida bagunçada
Mas tem sua própria casa, sua própria vida e um emprego
É a materialização dos problemas que eu quero ter
Seria mais fácil se eu dissesse que preferiria não tem problemas
porém, como bem diz o senso comum: problemas todo mundo tem
Que os meus não sejam pautados em relações falocêntricas em que vou precisar viver os problemas de uma pessoa que não sou eu ou ter problemas por não poder viver os meus próprios problemas
Quero viver para mim e por mim
Ser o que eu quiser ser, quando eu quiser sim e se eu quiser ser
E se para isso eu preciso estar estafada
Que seja para que
Num futuro próximo
Eu possa me ouvir dizendo
Vou comprar
Vou sair hoje
Eu ganho para pagar aquela conta
Sou uma jornalista bem sucedida
Sou mãe
Sou mulher
Sou esposa, e daí?
Meu jantar está pronto?
Não sei por onde vou/ Não sei para onde vou/ Sei que não vou por aí! Obrigada, José Régio, por ter escrito esses versos que na voz de Bethânia me mostraram tantos significados ainda na adolescência.
--
Don't call me Madam.
' Prazer,
Perua.
Que incrível crônica, Perua!!! Gostei muito, muito! Eu acho esses desejos por liberdade, por autenticidade e por individualidade tão bonitos e verdadeiros. Acho que vai dar tudo certo! ps: mais um texto dessa semana que tem música. O que nós seriamos sem as nossas músicas?
ResponderExcluirMúsica é t u d o, né? Eu acho que eu não seria ninguém sem música e pelo visto todo mundo aqui pelo menos hahahahhahaha Obrigada, Asa. Nem te conheço mas ja considero pakas
ExcluirSó pude sorrir lendo. Muito bom!
ResponderExcluirNão queria dizer pois já está ficando repetitivo, mas de fato tive uma identificação, acho que por exemplos familiares sempre quis ter segurança a partir de mim mesma, sempre, desde criança me projetei tendo o que é meu a partir de mim.
ExcluirExatamente. Você ilustrou bem. Acho que essa coisa do exemplo familiar faz todo sentido. Legal. Bom que nos identificamos num denominador comum. Beijos Laranjenha
ExcluirIncrível, perua! Amei sua crônica.
ResponderExcluirQue bom que você gostou. Beijos, Eurídice minha querida. Que houve que essa semana nossas crônicas não estão postadas em seguida uma da outra? hahahahahah você ja reparou isso?
Excluirlindo, perua! amei muito os versos, os filmes e todos os seus pensamentos! arrasou como sempre ;)
ResponderExcluir