natural: a praia. Não, dessa vez faremos uma viagem em família para um destino
também ensolarado. Começamos pela visita a pontos turísticos e compras pelo centro da
cidade. O momento mais esperado pelas crianças chegou: parque aquático. O itinerário
ficava a escolha dos pequenos. Vamos nesse. Não, quero ir no outro. No entanto, os
adultos mantinham a palavra final. Vamos tomar sorvete, mas só depois do almoço.
Depois do descanso um novo brinquedo. Eu com espírito de leão - não pelos astros - por
vocação disse: vou primeiro. Subo correndo as escadas do toboágua. O instrutor explica
que o escorregador é fechado e cairia direto na água, estava explodindo em empolgação
para prestar atenção. Enquanto deslizo, planejo o impulso que daria ao tocar o fundo da
piscina e imagino a próxima atração. Tinha uma que parecia ser bem legal no caminho.
Estou submersa. Busco colocar os pés no piso. Não consigo alcançar. Paraliso. Escuto
meus batimentos como os de um bebê no ultrassom. Estendo os braços na tentativa de
chegar a superfície, afundo. A água vai entrando. Abro meus olhos. Tudo é azul e turvo.
Estava com tanto medo e tudo parou. De repente, vejo um borrão vermelho vindo na
minha direção. Isso é morrer: sem anjos ou luz branca para guiar? O que seria minha
prece final foi interrompida por uma enorme mão a me puxar. Do lado de fora, num
misto de embaraço e euforia, cresce a dor latente de água no nariz. O salva-vidas
pergunta se estou bem, balanço a cabeça e corro para os braços de minha mãe. Alguns
minutos depois do susto retomamos as atividades do dia. O tempo é tão diferente
quando se tem nove ou dez anos. Heráclito estava certo. Pela manhã, estava imersa mais
uma vez, só que agora apenas na minha cama.
Brás Cubas 171