sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Bote da Víbora

Na minha infância viajei com minha família pela América Latina numa caravana de fanáticos religiosos.
Nessa seita, o sexo era tido como a maior manifestação do amor de Deus, assim, era comum que as
crianças fossem iniciadas nas práticas sexuais por volta dos 5 anos. Isso e a necessidade de prover para
ajudar a sustentar meus cinco irmãos mais novos, trabalhando como ator e músico de rua, me levou a
desenvolver um personagem do qual eu nunca mais sairia, e o vício era intrínseco a ele.
Para o mundo, eu era uma jovem estrela em ascensão em Hollywood. Bem sucedido, ético, vegano,
engajado em causas sociais, um modelo para os jovens da minha geração.
Fato é que já são oito da manhã e não consigo levantar da minha cama. Minha mente dói e meu corpo não
responde. Dormi sobre minha guitarra, na minha cama um corpo nu, desconhecido e ainda quente, a deixo
e vou cambaleando ao estúdio pra finalizar a gravação de meu ultimo filme.
Saindo de lá vou ao Covil da Víbora, uma boate que pertencia ao meu ídolo e astro de Hollywood. O
mesmo havia me convidado a tocar com sua banda naquela noite. Chegando lá meu amigo Mosca, um
baixista mundialmente reconhecido que também tocaria com a banda, me dissera que eu havia sido
cortado da banda, que eu não parecia bem e deveria descansar. Me sinto frustrado e sucumbo as drogas
novamente.
Meu peito dói, meu corpo treme, eu vomito. Dois de meus irmãos que foram me assistir tocar me
arrastam para fora e me deitam no cimento, posso sentir a vida se esvaindo de meu corpo, estou tendo
convulsões. Ouço pessoas gritando e chorando e também uma sirene, devem ser os paramédicos
chegando. Eu gostaria de poder dizer a todos que ficaria tudo bem, mas não há mais tempo, eu já estava
morto.

Não é Johnny

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