sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Nervo Óptico

Talvez você me olhe de outra forma. Tantos olhares se colidem pelas ruas, cortando e dissecando
camadas superficiais da desilusão conspiratória de um mundo onde não há martelo a ser batido,
caminho certo a ser seguido. Mas de todos eles, o seu é o único que quebra as barreiras que
delimitam onde o meu começa e o seu termina.
Talvez esse olhar incomode. Sangre. Ou talvez a vida cicatrize e deixe se dissipar no ar. E se por
acaso se dissipa, e realmente nada se destrói e tudo se transforma, ele se tornou esse espectro que
assombra minha existência a cada passo errático que dou, a cada atitude desconcertada que tomo. E
toda forma de tentar mostrar ao mundo que tenho capacidade de ser algo além do que você era cai
por terra enquanto estamos a sós, e sua voz assustada me diz no pé do ouvido que não há como
escapar desse medo constante que é te sentir novamente.
Talvez seja seu olhar que assuste. E essa raiva que sentia de cada olhar que te estranhava seja culpa
sua. Ninguém é obrigado a suportar essa presença incerta, olhando de um lado pra outro, sem saber
pra onde vai, perdido em um universo de possibilidades intocáveis e amores impossíveis. Ah é, pois
não há como amar algo assim.
Mas, talvez seu olhar ainda seja o meu. Em cada espelho que olho e rezo pra que não volte, você
está lá. Nessa falta de confiança que me cega e me impede de impor minha própria visão nas
escolhas que tomo. Seu olhar corta e disseca todo o meu, e mesmo que você não esteja mais aqui
fisicamente e eu tente te apagar da minha história, quando fecho os olhos nós somos um só.
Talvez eu ainda te olhe da mesma forma.

Julian Castella

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