não era sinônimo de segurança, muito menos de paz. Há pouco tempo a minha mãe havia se
juntado com um homem, e logo em seguida me deram uma irmã, depois veio um irmão e
pouco mais tarde outra irmãzinha, agora eu tinha companhia, isso ia ser incrível. Eu gostaria
de dizer que era tratada como filha, mas eu não era. O meu padrasto sempre teve uma arma
guardada no armário, e vira e mexe eu era colocada de castigo sem nem ao menos saber o
motivo. “Ela está muito respondona! Vocês todos podem ir pra casa da vovó. Ela vai ficar
aqui levando tijolos para cima comigo.” E então começava. E eu ouvia “Se você contar pra
alguém eu mato seus irmãos e sua mãe, isso não pode sair daqui.” Eu era tocada como uma
adulta, era olhada com olhos de desejos que eu nunca vira antes, e com uma arma na cabeça,
era obrigada a agir como uma mulher, quando na verdade eu deveria estar brincando como
uma criança. Eu ficava desesperada, mas ainda assim, sabia que ele podia ser capaz de
cumprir as promessas, então eu me calava. E os anos se passaram, a situação sempre se
repetia, ele sempre conseguia uma desculpa para ficar sozinho comigo. Quando estava no
ensino médio, eu tive a minha primeira paixãozinha, e como uma adolescente ingênua, contei
para minha mãe. E ela contou pra ele, então ele me bateu. “Você deve ir pra escola para
estudar” era supostamente o motivo pelo qual eu estava apanhando. Algumas vezes eu
tentava contar, mas não conseguia fazer nada além de afirmações vazias. “Você não sabe o
que eu sofro nesta casa.” eu dizia para a minha mãe. Mas ela nunca fez nada, nunca
desconfiou de nada, nunca achou essa possessão dele em relação a mim estranha, ou talvez,
apenas ignorava. Eu sofri abuso desde os meus seis anos, e ninguém nunca percebeu o meu
desespero, algumas vezes eu chorava, implorava. “Mãe, não deixe que ele me coloque de
castigo, eu não quero ficar aqui. Por favor, me leva com vocês.” e nada. Talvez eu merecesse
isso. Tudo o que eu mais temia era perder os meus irmãos, mas houve um momento em que
já não dava mais para pensar nos outros. Certo dia após a escola eu fui para a casa da minha
avó materna e desabei. Contei tudo o que podia e até o que não podia, e lá eu recebi tudo que
eu estava precisando desde os meus 6 anos de idade. Acolhimento. O meu avô me passou
segurança de que isso seria resolvido, e foi, doze anos depois. E nesse período eu perdi o
contato com a minha família, tudo aquilo que eu sofria para os proteger foi em vão. Eu os
perdi de qualquer forma. E hoje, tudo o que eu tenho são traumas. Como eu, uma criança de 6
anos poderia merecer coisa desse tipo? por que ninguém nunca desconfiou? por que só eu
quem ficava de castigo? Por que eu era ameaçada e sofria tudo aquilo tentando protegê-los,
mas não tinha ninguém protegendo a mim?
Alasca Young
Meu Deus. Essa crônica me pegou totalmente desprevenidx. Chorei. Você é maravilhosa e não merecia passar por isso. Seu texto tá de parabéns, não consigo ver nenhum ponto negativo, pelo contrário!!
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